Catolicismo, 244, Ano XXI, abril de 1971, pag. 4 (www.catolicismo.com.br)

"Baldeação Ideológica Inadvertida e Diálogo"

Também repercute além da Cortina de Ferro

Nossos leitores se lembrarão, por certo, da polêmica que se travou em torno do ensaio "A LIBERDADE DA IGREJA NO ESTADO COMUNISTA" entre seu Autor, Prof. PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA, e o Sr. ZBIGNIEW CZAJKOWSKI, diretor do jornal "Kierunki", de Varsóvia. Nela intervieram também, do lado do Presidente do Conselho Nacional da TFP o Sr. Henri Carton, de "L’Homme Nouveau", e do lado do jornalista polonês o Sr. A. V., de "Témoignage Chrétien", ambos de Paris. Dessa polêmica demos amplo noticiário em vários números desta folha, em 1964-1965 (1).

Essa não foi, porém, a única obra do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a repercutir além da cortina de ferro e a provocar reação por parte do mesmo Sr. Czajkowski.

Com os compreensíveis e inevitáveis atrasos, chegou-nos às mãos um exemplar do número de janeiro de 1968 de LA VIE CATHOLIQUE- POLOGNE / REVUE DE LA PRESSE POLONAISE", editada em Varsóvia pela Associação "Pax" - a conhecida organização "católica" de fachada do regime comunista polonês (2). A revista parece destinada a informar o público ocidental sobre a vida religiosa naquele país e, particularmente, sobre as atividades do grupo "Pax".

Esse número de "La Vie Catholique en Pologne" dedica sete páginas da secção "Resenha do mês" a noticiar os ataques feitos em duas edições sucessivas do semanário "Kierunki" (n.ºs 51-52 e 53, de 1967) pelo Sr. Zbigniew Czajkowski, redator-chefe de "Zycie i Mysl", ao ensaio "Baldeação Ideológica Inadvertida e Diálogo", do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Pela mesma revista ficamos sabendo que "Zycie i Mysl" é um "mensário filosófico e social", enquanto "Kierunki" é um semanário "destinado aos círculo da intelligentsia" polonesa (pp. 7-8), sendo ambos editados igualmente pela Associação "Pax".

Polêmica ou monólogo?

Da outra vez o Sr. Z. Czajkowski enviou ao Prof. Plinio Corrêa de Oliveira um exemplar do jornal no qual o atacava, acompanhado da respectiva tradução francesa. Ademais, para evitar extravio, remeteu idêntico material ao Exmo. Revmo. Sr. D. Antônio de Castro Mayer, pedindo-lhe que o encaminhasse ao escritor brasileiro. Vê-se bem que o colaborador de "Kierunki" tinha então empenho em que suas críticas chegassem ao conhecimento de quem elas visavam. Desta feita, porém, nada recebeu o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira da parte do Sr. Czajkowski.

Assim, é bem de ver que jamais poderia o Sr. Z. C. intitular este seu novo artigo de "No círculo de uma mistificação psicológica, ou seja, de uma polêmica com o Prof. Plinio de Oliveira - continuação", uma vez que a outra parte na pretensa polêmica só por acaso e muito tardiamente viria a ficar sabendo dos ataques de que era objeto. Quanto à palavra "mistificação", calha bem ao texto do próprio Sr. Czajkowski. Os leitores verão como o colaborador de "Zycie i Mysl" não se preocupa em refutar a argumentação do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, mas limita-se a transcrever, de modo escandalosamente deturpado e truncado, trechos do trabalho deste e a dirigir-lhe insultos pessoais, - o que não é de se estranhar por parte de um comunista, para quem os fins justificam os meios.

Daremos apenas algumas amostras dessa "técnica".

Deturpações escandalosas

À página 4 da 4.a edição brasileira de "Baldeação Ideológica Inadvertida e Diálogo" (Editora Vera Cruz, São Paulo, abril de 1966), escreve o ilustre pensador brasileiro: "A causa da insanável inviabilidade da vitória comunista através das urnas está também, em alguma medida, na resistência que ao marxismo opõe o fundo de bom senso natural que constitui o patrimônio milenar e comum da humanidade. Este bom senso se choca com o caráter essencialmente anti-natural que se mostra em todos as aspectos do comunismo".

Pois bem. Estas linhas tão claras e inequívocas, assim as "leu" - e apresenta entre aspas, como transcrição literal - o jornalista do grupo "Pax": "As vitórias alcançadas nas urnas pelos comunistas são parcialmente devidas a exigências malsãs e exageradas (as dos capitalistas e da burguesia, Z. C.) e parcialmente ao fato de que o marxismo se baseia no bom senso que é uma conquista secular comum a toda a humanidade" ("La Vie Catholique...", p 63).

Não é escandaloso? Mas há mais ainda. Adiante escreve o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira: "Ganhou ele [o comunismo], é verdade, a eleição polonesa de 1957, mas esta eleição, é evidente, careceu de liberdade. Os católicos sabiam que se derrotassem Gomulka, exporiam sua pátria a uma repressão russa no estilo da que sofrera a gloriosa e infeliz Hungria. Por isto, embora constituindo na Polônia maioria decisiva, optaram eles pelo que se lhes afigurou o mal menor, elegendo deputados "gomulkianos". Não nos pronunciamos aqui sobre a liceidade dessa manobra, nem sobre o seu acerto do ponto de vista estritamente político. Sublinhamos, entretanto, que de nenhum modo se pode afirmar ter sido eleito livremente pelo ínclito povo polonês um congresso majoritariamente comunista. A maioria comunista existente no parlamento da Polônia não constitui, pois, argumento contra o que acabamos de afirmar" (ed. cit., p. 4).

Eis como o jornalista polonês "transcreve" - e sempre entre aspas - esta passagem: "E’ verdade que os comunistas poloneses ganharam as eleições de 1957, assim como é verdade que essas eleições transcorreram em uma atmosfera de liberdade (...). Sublinhamos que o parlamento comunista polonês foi eleito em eleições livres pela grande maioria dessa magnífica nação. E’ por isso que a existência de uma grande maioria comunista no parlamento polonês não constitui tampouco um argumento contra nossa tese" ("La Vie Catholique...", p. 63).

Não é possível ser mais desleal ao fazer citação de um Autor que se pretende refutar.

Depois de passar por alto sobre a introdução e o primeiro capítulo da obra, o redator-chefe de "Zycie i Mysl" salta todo o capítulo II, sobre "A baldeação ideológica inadvertida", o III, intitulado "A palavra-talismã, estratagema da baldeação ideológica inadvertida", fala muito ligeiramente a respeito dos sentidos talismânicos da palavra "diálogo", que são objeto do capítulo IV, o mais longo do livro - e o mais importante para se compreender o seu contexto - e passa logo à Conclusão, apresentando truncada uma passagem na qual o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira aponta, apenas a título de exemplo, como os do grupo "Pax" encaram o diálogo de modo relativista e admitem uma evolução no pensamento social da Igreja, capaz de torná-lo flexível a ponto de aceitar o marxismo.

A esse respeito afirma o Sr. Czajkowski: "Não é "Pax" quem "insinua", Sr. Professor, que o pensamento social evolui e, como o Sr. escreve, dá mostras de flexibilidade em relação ao socialismo; esta tendência é confirmada pelos decretos do Vaticano II tal como pelas Encíclicas sociais de João XXIII e Paulo VI" ("La Vie Catholique... " p. 67).

Depois de tudo isso, o jornalista de "Pax" atreve-se ainda a dizer que o livro do pensador brasileiro ignora "todas as leis da lógica" e tende "a falsear e a confundir os fatos, os acontecimentos e as conclusões", não passando de um "amontoado de verdades e contra-verdades" (revista citada, p. 63).

O que mais importa

O que importa destas notas não é tanto ver como os comunistas se servem dos métodos mais desleais para combaterem os que se opõem aos seus desígnios sinistros. O importante é o fato de que um elemento qualificado dentro da Associação "Pax", a qual constitui dócil instrumento do governo comunista polonês, tenha julgado oportuno alertar os círculos intelectuais de seu país contra mais este trabalho do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Isso é sinal de que o comunismo receia que "Baldeação Ideológica Inadvertida e Diálogo" lhe acarrete sério dano em seus próprios domínios de além cortina de ferro.

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1) Ver: "Atrás da cortina de ferro", em "Catolicismo", n.º 161, de maio de 1964; "Carta aberta para além da cortina de ferro", por Plinio Corrêa de Oliveira, n.º 162, de junho de 1964; "Jornal católico francês responde à carta aberta publicada em Kierunki", n.º 165, de setembro de 1964; "Continua acesa a polêmica em torno de A liberdade da Igreja no Estado Comunista", n.º 166, de outubro de 1964; "Resposta à carta aberta do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira / 2.a carta aberta do Sr. Zbigniew Czajkowski, publicada nos periódicos Kierunki e Zycie i Mysl, de Varsóvia"; e "Diálogo, coexistência e hecatombe termonuclear / 2.a carta aberta para além da cortina de ferro", por Plinio Corrêa de Oliveira, n.º 170, de fevereiro de 1965.

2) Ver "O grupo Pax e Informations Catholiques Internationales", por Cunha Alvarenga - "Catolicismo", n.º 164, de agosto de 1964.