Plinio Corrêa de Oliveira
O que será, de futuro, esse menino?
Catolicismo, N° 586, Outubro de 1999 |
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O que será, de futuro, esse menino?
Essa pergunta, ao longo da História, pais e mestres a fizeram a respeito de seus filhos e alunos; há quase oito décadas, ela poderia ter sido formulada também em relação a um menino de 12 anos... Quando se admira a beleza de uma frondosa árvore florida ou então toda carregada de frutos, experimenta-se um gáudio. Não deixa de ser também aprazível ao espírito admirar a arvorezinha que há pouco germinou e indagar: O que será dessa pequenina árvore? Será frondosa, ou estéril e raquítica? Dará abundantes frutos e flores? Se no reino vegetal tal consideração é cheia de propósito, muito mais o é ao observarmos uma criancinha e imaginarmos o que ela virá a ser quando chegar à idade adulta ou mesmo à ancianidade. Este quarto aniversário de falecimento do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira é ocasião propícia para admirarmos sua grandiosa obra, com reflexos nos cinco continentes, e nos perguntarmos: Este varão, que até seus últimos dias, aos 87 anos, incansavelmente pugnou em prol da Santa Igreja e da Civilização Cristã, como era ele quando criança? Poderíamos preparar mais de uma edição especial de Catolicismo apenas historiando aspectos da inocente infância de Plinio Corrêa de Oliveira. Dessa infância oferecemos hoje a nossos leitores ao menos um dos "frutos", que sua extremosa mãe, Da. Lucilia, guardou carinhosamente, durante décadas, em suas gavetas. "Saboreando-o", já naquela época poder-se-ia ter uma primeira idéia da frondosa árvore que a partir dali se desenvolveria: o fundador da TFP. A que "fruto" nos referimos? A uma eloqüente redação de português, escrita por ele em 1921, nos bancos do Colégio São Luiz, dos Padres jesuítas da capital paulista, quando tinha apenas 12 anos. Lendo a breve composição abaixo, é possível que professores do jovem ginasiano se perguntassem: "O que será, de futuro, esse menino?" E por ela poderemos considerar o estudante que, já nos tenros anos, tinha potencialmente o que ele depois nos legou, bem como, em germe, a concepção da luta contra-revolucionária e a gesta que empreenderia mais tarde. Em última análise, vemos o dedo de Deus que modelava sua inocente alma, para que viesse a ser o infatigável varão combatente, defensor dos interesses da Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana e da Civilização Cristã.
[sem título] O famoso rei dos montes estava cercando uma cidadela pouco fortificada, mas que a resistência heróica dos habitantes tinha tornado inexpugnável. Acostumado de vencer todos, estava furioso de ver que os seus esforços e as espertezas e astúcias dos seus generais não tinham feito capitular a heróica cidade. O mais valente dos generais do rei, o confidente do monarca pediu-lhe audiência e expôs-lhe o seguinte plano: os arautos deviam jogar na cidade papéis nos quais o soberano inimigo prometia 4.000.000 de piastras a quem lhe entregasse as chaves da porta da cidade. Este plano apesar de não agradar ao rei foi posto em execução, e de noite um miserável aproximou-se da tenda do soberano e desejou falar-lhe sendo logo recebido. Aproximando-se do trono o desconhecido disse: "grande rei eis as chaves da porta da cidade, e vamos ao cobre agora". O rei deu à sua visita a prometida recompensa e expulsou-a indignamente do acampamento depois de ter feito jogar as chaves de novo pelo muro e dizendo: "resolvi capitular, pois quando tinha um traidor na praça não vencemos; como venceremos agora que não temos senão adversários heróis?" O nosso miserável caminhava porém satisfeitíssimo da vida com uma tamanha soma em suas mãos. Mas depois das emoções, sobretudo quando são bem sucedidas, o sono é agradável e foi esta a sensação que invadiu o nosso malfeitor. Mas não gozou muito do sono porque teve tremendos pesadelos. Via as ruas de sua cidade com muito sangue e ao passar pelo cemitério viu abrirem-se os túmulos e vários espectros perseguirem um outro, no qual reconheceu sua mãe, e as outras caveiras berravam furiosas: "Vá ao diabo maldita mulher, tu que geraste um diabo, e pior que diabo, um mísero traidor que inunda de sangue a cidade natal que amamos e nossos filhos amam". Isto fez sobressaltar o traidor que quis beber água para acalmar o susto, mas esta soube-lhe sangue, e o mesmo sucedeu com o vinho. Avistando ao longe um pomar quis por força comer as suas frutas, mas a primeira teve o gosto de cinza, a segunda de carne humana e a terceira de metal com zinabre. Chegando na cidade que tinha escolhido para residir, foi deitar-se na sua antecâmara onde tinha moldurando o teto uma porção de ninfas dançando, e quando as enxergou viu a mesma cena do cemitério passar ante sua vista e então louco de remorso foi à corte do rei dos montes para reentregar-lhe o dinheiro de tão mal aquisição, mas o soberano não quis vê-lo e mandou dizer aos soldados que o expulsassem com tudo que era seu para fora de suas propriedades dizendo: "Não quero dinheiro que foi entre mãos de traidor". Plinio Corrêa de Oliveira 28-III-1921
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O mendigo Avistava-se numa das colinas verdejantes que cercam a cidade de Caldas um pobre velhinho que com custo a subia. Chegado bem ao alto procurou avistar à esquerda sua aldeia natal. Com tristeza apoiou a fronte sobre uma pedra, recordando o passado. Fora rico, tivera inúmeros amigos porém, apenas perdera a fortuna, estes se afastaram. Pobre e doente levava uma vida errante e miserável. Sentindo a sua hora derradeira chegar, quis morrer contemplando o seu torrão natal; e expirou recomendando sua alma a Deus. Plinio Corrêa de Oliveira 12-IV-1920
A Pátria Ó Pátria amada, que de tua glória resta? As ondas do mar contam-me, quantas vezes teus navios sulcaram sua tona carregados de louros. Choraram teu manto de rainha o Ganges, o Tigre. Tão temida outrora, e hoje ninguém te receia! Adormecida sobre as tuas passadas glórias, só um monumento resta que as atesta: Os Lusíadas! Dizem em vão os lisboetas que, quem não viu Lisboa não viu cousa boa. Em 1500 estendeu os seus braços imensos a uma vastíssima região que denominou: Vera Cruz (mais tarde Brasil). Ó Pátria amada onde está essa glória? Plinio Corrêa de Oliveira 20-IV-1920
O filho pródigo No ano de 517 vivia perto de Belém um rico gentil-homem no seu belo palácio cercado de campos também de sua propriedade. Casara-se com uma jovem nobre; porém esta logo morreu ficando ele viúvo e tendo dois filhos, José e Jacob. Numa bela tarde Jacob pôs-se a pensar: "meu pai é rico e tem um bom nome; minha mãe era abastada e sua herança nos deve caber; somos pois ricos". Então chegando-se ao pai disse-lhe: "pai querido, quando morrerdes me deixareis grande fortuna e um dos vossos palácios; não posso esperar este momento e me deis a parte que me cabe". O pai sempre bondoso fez as partilhas e deu a Jacob a parte que lhe cabia; e este, poucos dias depois, fez sua trouxa e partiu. Lá bem, bem longe, gastara sua fortuna e em farrapos, resolveu voltar à casa paterna. Apenas o pai o avistara fez matar um vitelo e preparou um banquete no qual o filho pródigo só pensava na bondade do pai e cada vez mais se arrependia do seu pecado. Sucedeu chegar do seu trabalho José, o qual vendo o festim que preparava o pai, ficou agastado e disse: "papai fez esta festa pela volta do mau filho, e para mim que sempre lhe fui obediente nunca sequer fez preparar um frango em minha honra, não tomo parte na festa". O pai porém disse: "este meu filho morreu e reviveu, perdi-o e tornei a achá-lo e por isso faço a festa, considerando que sem ele nunca tive alegria; divirtamo-nos". Plinio Corrêa de Oliveira 18-V-1920
José Vivia em Hebron um ancião chamado Jacob e tinha dois filhos. O caçula da casa de nome José, era tratado com muito carinho e afeto. Esta predileção causava inveja aos irmãos que não lhe demonstravam o mesmo amor. José teve um sonho que contou a seus irmãos dizendo-lhes: ouçam o que sonhei. Estava convosco num campo atando feixes; o meu conservava-se em pé, enquanto os vossos se prostravam diante do meu. Ficaram os irmãos muito irados e resolveram vingar-se. Outro sonho teve José. Estava em cima duma nuvem, e o sol, a lua e onze estrelas se prostraram até o chão diante dele. Ainda cresceu mais o rancor dos irmãos. Exceto José, estavam todos os filhos de Jacob reunidos num campo, longe da casa paterna. O pai lhe disse: "vá ver o que fazem teus irmãos"; partindo este sem detença. Chegado lá, os irmãos o puseram numa cisterna, e passando ricos egípcios venderam José por vinte talentos. Então matando um dos cordeiros, ensangüentaram a túnica com seu sangue e mandaram-na a Jacob, o qual não se pode consolar. José no Egito teve todos os postos, desde intendente da casa de Putiphar até o de vice-rei do Egito. Mandou chamar Jacob e seus filhos junto com Benjamim, irmão que tinha nascido neste espaço de tempo. Desde então todos levaram uma vida feliz.
O sabiá Em miserável taverna situada numa das mais feias ruas duma aldeia do sertão, um sabiá melancólico pulava desesperado, prisioneiro dentro da gaiola dependurada na janela. Lembrava-se dos cânticos alegres que entoava nas matas virgens apreciando o jogo brilhante do sol sobre uma laranjeira predileta cujas ramas eram ornadas de flores cheirosas freqüentemente visitadas por abelhinhas. Oh! que belas recordações. O dia abrasador dera um sono ao nosso sabiá que repentinamente fechara os olhos. Sonhou que estava voando sobre um deserto quente, ardentíssimo. Avistava ao longe, perto duma cascata, uma mata colossal; sua entrada era ornada com flores, belas como num conto de fadas. Aí se colocava pensando no dia seguinte, em que comeria as mais suculentas laranjas do lugar. Com tudo isso o nosso sabiá cantava admiravelmente em sua gaiola; coisa que nunca fazia por querer amolar o dono da taverna. O sabiá acordou vendo diante de si o taverneiro arrebatado por seu lindo canto e dizendo: "canta otimamente". Desde então a bodega ficou com um habitante de menos porque o sabiá conseguiu fugir, levando no sertão uma vida feliz e alegre.
[Redação de] Português [sem título] Monótono e imenso, o deserto do Saara só é entrecortado por pequenos rios, e também lá existem os oásis, único refúgio do viajante contra sede e fome. O poderoso monarca da Abissínia atravessava um desses extensos areais, e de repente, viu uma palmeira, em cujas folhas resplandecia o orvalho, brilhante da natureza, e o rei disse: vinde ó gota adornar meu turbante, mas a gota não veio. Tempos depois, passava um cavaleiro, era cruzado, e ia defender os cristãos, e o cavaleiro, morto de sede, viu a gota, chamou-a e ela caiu-lhe, a refrescá-lo, nos seus lábios. Caiu porque era aquele, que ia defender a religião de um Ente Supremo que muitos homens não conhecem, mas cuja glória a natureza canta. Plinio Corrêa de Oliveira [sem data]
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Uma batalha
A corneta dá o alarme e 2 mortais exércitos um diante do outro, palpitam num só coração e cada qual, doido de amor pela pátria, contempla o seu estandarte que garbosa e galhardamente parece querer com o seu tecido cobrir maternalmente aqueles que por sua honra morrem. Mas, ó dissonância, de um lado flutua, erguido pela brisa, um estandarte que ostenta a Coroa, e do outro, um símbolo de igualdade e fraternidade que apenas sendo um ideal, e que as massas humanas, querendo realizar, mostraram todos a negra ladroeira que estas palavras encerram. De um lado, toda fieldade ao legítimo soberano, à legítima autoridade, sentimento que embriaga por assim dizer a alma sensível que o sente. De outro, uma tropa maior, mas composta em pequeno número, de ladrões, que querendo tornar-se célebres, não podendo, pelo caminho da honestidão, sendo realmente difícil de trilhar, ganhar a fortuna mistificam com belas palavras a maior parte de homens que pensam, com seu sangue abrir as portas do caminho da felicidade, da humanidade, sentimento belo mas falso, e que por isso deve ser rejeitado. O primeiro golpe de canhão desferido dá o sinal da mortandade, e imediatamente os dois exércitos jogando-se um sobre o outro, tornam tudo numa confusão enorme, dos montes circunvizinhos outras legiões mortais vêm reforçar as fileiras já enfraquecidas. Aqui, um amigo levanta o corpo inerte de seu companheiro, e, morto com este nobre fardo, cai abraçado com um cadáver, e não sente a bala que o torna um morto. Ali, cai dum espumante corcel um jovem cavaleiro, toda audácia e valor, toda coragem e ardor, a crina que seu casco importa, que antes, elevava-se garbosamente nos ares tinge-se agora em contato com o seu sangue, dum vermelho sinistro. Mais além, um velho general, figura da batalha em pessoa, calmo no perigo, sublime na morte, continua, banhado em seu sangue, a comandar as suas tropas, e, tendo perdido o seu braço direito que sustentava sua nobre espada, a torna a pegar com a mão esquerda e com ela ainda desfere um derradeiro golpe. Plinio Corrêa de Oliveira [sem data]
[Redação de] Português [sem título] Verdes mares bravios da minha terra natal, Onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba! Verdes mares que brilhais como líquida esmeralda Aos raios do sol nascente perlongando as alvas praias Ensombradas de coqueiros! Serenai, verdes mares, e alisai docemente a vaga impetuosa Para que o barco aventureiro manso resvale à flor das águas. Ó belos mares! cujas ondas imensas vão bater nas alvas praias da minha terra natal! Não há coisa mais linda, do que vendo as águas azuis e verdes bater nas areias da costa cearense e apreciando o canto da jandaia, pousada nas frondes da carnaúba. E o sol ainda nascente com seus belos reflexos embelezando o magnífico espetáculo. Ó Todo Poderoso amansai como vosso Filho quando ainda estava entre os homens o mar, para que aquele astucioso navegante possa conservar seu barco à flor d'água, afim de que não sucumba. Plinio (continua) 2ª parte Sobre o mar verde e azulado reflete o sol vermelho, na aurora, seus raios luminosos aos belos mares e as alvas areias colore; e as graciosas palmeiras, que perlongam a costa cearense deixam cair elegantemente seus ramos verdes como o mar. Lá ao longo onde a abóbada celeste parece reunir-se com o mar, uma jangada guiada por um destemido navegante busca o rochedo pátrio aonde seu dono costuma pescar. Também um pouco longe um grumete faz navegar seu barco. Ó Netuno alisa as ondas de teu domínio para que o barco não vá a pique. Plinio [sem data] |