"O A.U.C.", Ano VI (nova série), nº 16, julho de 1935 (p. 16)

 

Uma sugestão

Plinio Corrêa de Oliveira

 

Indiscutivelmente, a AUC está passando por uma fase de renovação que promete os mais assinalados triunfos.

A última reunião que realizou em sua sede, no Palácio das Arcadas, me convenceu plenamente disto. E é exatamente para auxiliar os esforços que se vão empregando com tanta generosidade e proveito que venho trazer meu depoimento de velho batalhador das lides católicas sobre um dos problemas fundamentais da AUC.

A AUC seria uma dais mais pujantes associações da juventude masculina de São Paulo se fôssemos atender ao número e à qualidade dos congregados marianos que se acham inscritos em nossa Universidade, entre os quais se encontram elementos de escol, como sejam diversos presidentes ou membros de diretoria das congregações.

A realidade, porém, nos mostra que a AUC tem tido a simpatia de todos os marianos e de todos os católicos das escolas superiores, mas que, em casos por demais freqüentes, estas simpatias não têm transposto os limites de mero sentimento, em lugar de se concretizar em fecunda colaboração.

Quem indagar, no entanto, das atividades que estes elementos desenvolvem em suas respectivas Congregações, nem por um momento sequer deverá acoimá-los de indiferentes à causa da Igreja.

Como então explicar tal inação?

A meu ver, o enigma se explica da seguinte maneira: não foi exposta ainda, aos olhos do AUCISTA, com toda a evidência, a magnitude e fecundidade do apostolado universitário. Se se empreender uma campanha sistemática neste sentido, estou certo de que, em breve, as hostes da AUC se tornarão ainda mais aguerridas e eficientes.

Dentro da estreiteza de um artigo, não me seria possível abordar o problema do apostolado universitário em toda a sua complexidade. Passarei, no entanto, a estabelecer algumas verdades que contribuirão para o esclarecimento do assunto.

Lembremos, primeiramente, que é pela inteligência, principalmente, que se governa um povo. Se estudarmos as causas profundas da maior parte dos acontecimentos políticos ou sociais que a História registra, encontraremos sempre, na sua origem, um movimento filosófico ou religioso, desenvolvido nos meios intelectuais, e que transborda desta esfera restrita, mas elevada, para todos os outros terrenos da vida social.

A República, por exemplo, não deve sua existência, no Brasil, ao Marechal Deodoro, mas ao movimento de idéias liberais que se desenvolveu em todas as escolas superiores do Império, e que haveria de prostrar por terra, dia mais dia menos, o trono dos Braganças.

Os movimentos revolucionários que depuseram a maior parte das monarquias européias, e que tão violentamente impulsionaram o mundo para a esquerda, têm idêntica causa.

E, por sua vez, os modernos movimentos da direita, de todos os matizes, não seriam possíveis se, antes de se manifestarem eles na esfera da ação, não se tivesse desdobrado, na esfera do pensamento, uma forte reação contra os desmandos da democracia e dos princípios de 1789.

Contribuir, portanto, para orientar o curso do pensamento universitário é preparar o futuro do País.

Compreenderam-no perfeitamente os adversários da Igreja, tanto os da esquerda quanto os do centro e os da direita. E, por este motivo, a propaganda nas universidades constituiu sempre uma de suas mais sérias e constantes preocupações.

O mesmo devem fazer os católicos, com redobrada energia e dedicação.

Se a mocidade católica brasileira se empenha, com tão magnífico entusiasmo, em recristianizar (ou, para falar em linguagem mais precisa, em "recatolicizar", pois a palavra Cristianismo, embora nos pertença como a ninguém, tem sido objeto de tantos abusos que, na linguagem vulgar, perdeu algo de sua precisão) o Brasil, tudo indica que ela nunca atingirá este fim, se não desenvolver um ardente apostolado universitário.

Ora, o apostolado universitário -- di-lo-ia La Palisse -- só pelos universitários pode ser desenvolvido.

A nenhum católico, e máxime a nenhum congregado mariano, portanto, é lícito desinteressar-se das pugnas da AUC, sob pena de desertar de um campo de honra em que o colocou a Providência, e no qual deve empenhar o melhor do seu esforço, o mais precioso de sua dedicação.

Se a AUC se empenhasse em pôr em relevo esta verdade fundamental, se ela salientasse, principalmente, o incomparável valor do apostolado individual, na vida universitária, estou certo de que caminharia com passo de gigante, na estrada que já vem trilhando galhardamente, na sua nova fase de reorganização. E, para atingir plenamente tal objetivo, bastar-lhe-ia promover uma propaganda inteligente desta grande verdade fundamental, por meio de uma série de conferências em que se devesse ouvir a voz dos apóstolos leigos, a par das autoridades eclesiásticas, e uma série moderna e viva de tracts capaz de pôr em relevo considerações de tal monta para o êxito de sua missão.

* * *

Já está preenchido o espaço de que eu dispunha para o meu artigo. E não posso estender-me em maiores considerações.

Aí fica, porém, a sugestão que faço a todos os "aucistas" que me lerem, e que, estou certo, encontrará bom terreno nos seus corações generosos.

Sem ser um batalhador velho, já sou um velho batalhador da Ação Católica, pelo número de lides de que participei. Nunca, porém, a despeito de tantas preocupações, perdi de vista a AUC, que me pareceu sempre um dos "pontos nevrálgicos" da ação católica. E meu olhar, cheio de afeto e entusiasmo, sempre acompanhou a ação corajosa da AUC.

É no simples caráter de manifestação deste velho afeto que lhes faço esta sugestão, que confio a seu exame inteligente.