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Plinio Corrêa de Oliveira AMBIENTES, COSTUMES, CIVILIZAÇÕES Fora de Cristo não se alcançará o equilíbrio entre o espírito ocidental e o oriental
"Catolicismo" Nº 203 - Novembro de 1967 |
À direita, no plano anterior, imaginar-se-ia à primeira vista um minarete deselegante e grosseiro. Mas essa impressão é desde logo desfeita, pois o "minarete" flutua no ar. Ou, por outra, ele parece apoiado em uma coluna de luzes e de chamas que promanam de dois focos potentes, postos em sua base. Tudo, aqui também, no gênero "science fiction". E o homem? Parece ausente, afugentado por um ambiente que ao mesmo tempo o repele pelo que tem de ciclópico na ordem material e pelo que tem de rebarbativo, e sombrio na ordem das significações psicológicas. Entretanto, o homem ali está, causa e, de algum modo, vítima desta cena, a qual não é uma ficção mas a representação de uma realidade histórica: o lançamento, no Cabo Kennedy, do primeiro foguete conduzindo dois cosmonautas. Foram homens que planejaram e executaram tudo isto. São homens que ocupam o fabuloso edifício e manejam os complicadíssimos elementos técnicos que ali se encontram. Por fim, o "minarete" contém dois homens que subirão aos espaços siderais. Expressão grandiosa do triunfo de uma civilização na qual o homem deitou todo o seu empenho em dominar a matéria para seu próprio proveito. Matéria... Sim. E o espírito? É tão pouco, tão falho, e por muitos aspectos tão negativo o que nesta ordem vemos em torno de nós, que se fica desolado. Tem-se a sensação de ar rarefeito. Essa babel material que edificamos para nossa comodidade parece esmagar-nos com seu peso. Pois, mais ainda do que a miséria, pesa sobre a humanidade o êxito de uma civilização materialista, a cuja sombra vegetam, minguam e ameaçam desfazer-se inteiramente os bens do espírito.
Comentando a seu modo, e dentro de sua perspectiva budística, essa diferença entre o Oriente e o Ocidente, e esse misto de sucesso e de insucesso da cultura de um e outro mundo, U THANT, Secretário Geral da ONU, teve há algum tempo palavras significativas, reproduzidas em telegrama da AFP: Depois de recordar as dificuldades da ONU, que tenta harmonizar as políticas e as idéias dos 117 países que a compõem, o Secretário Geral defendeu a idéia de um homem novo, no qual as faculdades intelectuais e espirituais se desenvolveriam paralelamente. Thant distinguiu a esse respeito os sistemas culturais do Ocidente e do Oriente: "Nos países desenvolvidos, como os Estados Unidos, os europeus e a URSS, se procura o desenvolvimento da inteligência, a formação de médicos, engenheiros e cientistas: pretende-se chegar à Lua, a Marte, a outras estrelas, mas se esquece o espiritual. Não sabemos nada de nós mesmos. No Oriente, em compensação, procura-se o conhecimento do ego, o conhecimento de nós próprios, enquanto tudo o que acontece fora de nós parece-nos sempre um tanto confuso".
As considerações desse ultra vedetístico personagem insinuam que da síntese de uma e outra coisa pode nascer, por meio de fórmulas meramente naturais, um equilíbrio perfeito. Concepção que, a ser assim, deixa ver um fermento hegeliano. Em cada uma das posições confrontantes haveria um misto de erro e de verdade a ser superado em uma síntese. Tal síntese, a História a produziria pela elaboração natural e estritamente científica do espírito humano impelido pela evolução universal e por sua vez impelindo-a para a frente. A essas considerações um espírito católico não pode deixar de redargüir lembrando o papel insubstituível de uma única fé verdadeira e sobrenatural, da Religião d’Aquele que disse de Si: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida" ( Jo. 14, 6 ), e acrescentou: "Sem Mim nada podeis fazer" ( Jo. 15, 5 ). Sem que o mundo conheça Jesus Cristo, e O aceite como pedra de ângulo de tudo quanto construir, a tão desejável harmonia entre o espírito do Ocidente, prevalentemente prático, e o espírito do Oriente, sobretudo contemplativo, não poderá ser alcançada. Não é de um cozinhar promíscuo de erros e verdades de cá e de lá, que resultará o equilíbrio. Não é com os meros recursos da natureza que o homem, concebido em pecado original, o alcançará. "Bonum ex integra causa": só quando todos os homens se inspirarem em Jesus Cristo, Sabedoria Eterna e Encarnada, e em sua única Esposa, a Santa Igreja Católica Apostólica Romana, só então é que o Oriente saberá purificar as suas contemplações de todo o peso das quimeras milenares que ali engendrou, e que o Ocidente saberá construir um progresso material capaz de servir e não de esmagar a alma humana. Dizemo-lo movidos pelo desejo de que a prece dos leitores, dirigida à Medianeira Excelsa de todas as graças, neste Ano de Fátima, obtenha quanto antes para o gênero humano o advento deste dia de sabedoria e de glória, de paz e de justiça, com a realização da promessa radiosa: "Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará". |