Plinio Corrêa de Oliveira

AMBIENTES, COSTUMES, CIVILIZAÇÕES

Desprezo pagão pela velha que reza

 

"Catolicismo" Nº 172 - Abril de 1965

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Em nossa época, toda impregnada de modernismo, de progressismo, de evolucionismo, é dura a condição dos velhos.

Falamos aqui dos velhos sem "maquillage", que não se pejam de mostrar suas rugas e seus cabelos brancos, que não escondem nem sua idade, nem as devastações que o tempo inclemente tenha feito em seu corpo ou mesmo em alguma faculdade de seu espírito. Falamos sobretudo dos velhos que compreendem que uma de suas mais altas missões na vida é representar a tradição, e que por isto mesmo, nem enrubescem do passado de que são genuínas relíquias, nem se sentem diminuídos por não acertar o passo com o presente.

De nossos comentários está pois excluído o velho deteriorado, que procura fingir de moço, que na sua própria ancianidade só vê vergonha e decrepitude... o velho ou a velha que por meio de tinturas, operações plásticas, ditos, risos e porte de jovens, não consegue ocultar a idade, e parece um incentivo vivo a que os moços desprezem a velhice. Pois se o velho não respeita suas cãs, como as respeitará nele o moço?

O velho do tipo tradicional, dizíamos, não é mais cercado hoje em dia pela veneração de outrora. Evitam sua conversa, porque inclui referências a um passado que se vê com maus olhos. Evitam até sua presença, pois lembra a fraqueza, a dor, e, horror supremo, a morte! Nas ocasiões inevitáveis em que ele está presente, evita-se de lhe dar oportunidade de fazer-se ouvir. A conversa geral é tão rápida, tão ágil, tão cheia de neologismos, que ele nem a consegue acompanhar bem. E... é normal isto para um progressista. Pois tudo quanto representa o passado não é senão um detrito que está durando demais.

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Esta atitude perfeitamente pagã para com os velhos, quem ousaria imaginá-lo, se esgueirou até nos meios católicos. Ela se reveste do aspecto de desprezo, agressivo e amargo, ao velho que reza, e mais especialmente à velha. Nesta época em que a Igreja é como uma imensa cidadela atacada por incontáveis inimigos de dentro e de fora, tem-se a impressão, ao se ouvir a este ou aquele, que o grande perigo está na beata. Sim, na beata, essa pobre velhota sem pretensões nem aspirações mundanas, que se veste com trajes pobres, decentes mas apagados, que constituem como que o uniforme da resignação, da renúncia e da fé. Sim, velhotas como estas de nosso clichê, que põem todo a sua alegria em expandir junto ao Sacrário ou ao altar de Nossa Senhora as aflições do isolamento em que vivem e da pobreza que carregam, ou a esperança do Céu, que as sustenta.

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Como reação contra essa deplorável fobia aos velhos, dentro, até, do recinto sagrado que é o limiar da eternidade, nossos confrades de "Nouvelles de Chrétienté" ( nº 427, de 14 de janeiro p.p. ) publicaram uma rápida mas piedosa e brilhante página sobre o papel dos velhos por ocasião do nascimento do Messias.

Ei-la:

Qui est venu vers l’Enfant divin? Les bergers, tout le monde le sait. Il a même fallu que les anges s’en mêlent et peut-être les bergers sont-ils venus d’abord en curieux. Les mages, on le sait aussi; et pour cela il a fallu une étoile insolite et merveilleuse... Mais on oublie une troisième catégorie: les vieillards, ceux qui représentaient la tradition d’Israël et qui faisaient partie du petit reste. Les bergers sont venus à la crèche, les mages à la maison où Marie se logeait, les vieillards ont rencontré le Christ au temple... C’est Siméon à qui Dieu avait promis qu’il ne mourrait pas sans l’avoir vu de ses yeux; il était casanier, les jeunes vagues ne faisaient pas attention à ce débris du temps passé: et voilà que le Saint-Esprit, qui est sur lui, l’amène au temple. Il reconnaît, sans miracle, son Maître et Sauveur. Il le chante avec amour. Cela fait tellement plaisir à Marie émerveillée qu’elle remet son Fils chéri entre ses bras... On ne dit pas qu’elle ait fait cette grâce aux bergers ni aux anges... Elle le pose dans les bras, tremblants d’émotion, du vieillard Siméon et alors c’est comme la vielle tradition d’Israël sur son déclin qui porte la Nouveauté divine!... Et peu-être aussi Marie a-t-elle mis Jésus dans les bras de cette vielle veuve, Anne, qui avait quatre-vingt-quatre ans, qui était de la tribu d’Azer, qui passait ses journées dans le parvis du temple. En avait-elle vu de ces petits que l’on amenait au temple! Oui, ils sont bien gentils... mais quand ils grandiront, ce seront peut-être des petits garnements de plus..., de ceux qui ne font pas attention à elle, à sa vieille espérance tenace, à son traditionalisme obstiné de vieille femme. Mais Marie dont saint Luc recueille les souvenirs avait vécu au temple, elle avait dû voir cette vieille femme: tant de détails sont donnés sur elle que Marie avait dû l’interroger, la regarder avec respect, l’écouter avec amour. Et voici qu’Anne est là quand elle apporte son Fils divin, quarante jours après la naissance. Et voici que l’Esprit la saisit, qu’elle reconnaît la Fleur qui sort du vieux tronc de Jessé, l’accomplissement de tous les espoirs des pieux et des justes de l’Ancien Testament! Qu’elle est émouvante cette page de l’évangile! Quel éloge des vieillards fidèles et pieux, de la vieille tradition, dans les bras de qui Jésus veut être dèposé! On représente souvent les traditionalistes d’Israël sous l’image du pharisien. Ce n’est pas exact. Les traditionalistes d’Israël, les voilà, ce sont Siméon et Anne, c’est aussi la vieille Elisabeth qui reconaît le Christ dans le sein même de sa mère... Les voilà, ceux qui ont reçu le Christ, ceux qu’il aime... en compagnie des simples, "les bergers", des mages, les savants sans orgueil, les moines et ascètes des bords du Jourdain, parmi lesquels fut formé Jean-Baptiste... Si Jésus revenait au monde, on aurait peut-être quelques surprises de ce genre. Ce ne sont pas ceux qui tiennent le devant de la scène qui le recevraient et le reconnaîtraient...


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