Plinio Corrêa de Oliveira

AMBIENTES, COSTUMES, CIVILIZAÇÕES

Os séculos de fé não conheceram o zelo

pela situação das classes populares?

 

"Catolicismo" Nº 168 - Dezembro de 1964

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Duas salas.

A primeira pertence a um prédio de grossas paredes, com facilmente se percebe no emolduramento das duas janelas. Vidros grossos, em fundo de garrafa, deixam entrar a luz, mas protegem contra o frio. Um forte revestimento de madeira, esculpido num ou noutro lugar, e as traves trabalhadas do teto, dão uma impressão de conjunto em que o conforto, a solidez e o bom gosto proporcionam o aconchego  de uma intimidade doméstica despretensiosa porém muito digna. Os móveis sólidos mas aprazíveis acentuam essa nota.

A outra sala, cujo ambiente é marcado pela grande lareira e por um quadro religioso, faz sentir idêntica atmosfera. O bercinho de madeira entalhada, os espaldares elegantemente elaborados das três cadeiras que se vêem no primeiro plano constituem verdadeiros objetos de arte.

Estas duas salas se encontram no Tirol. Basta dizer isto para que o leitor imagine ter diante dos olhos um albergue de recreio, perdido nas neves, para uso de turistas riquíssimos.

Puro engano. As fotos apresentam os revestimentos de madeira e os móveis de habitações camponesas austríacas do século XVI ou XVII. Estão conservadas no Museu de Arte Popular Tirolesa, de Innsbruck, Áustria.

Comparadas a tudo quanto estes ambientes têm de propício à vida de alma e às conveniências de saúde e conforto dos camponeses, a que distância ficam tantas pretensiosas, frias e rebarbativas favelas de cimento, construídas aqui e acolá por entidades, que desdenhosas de qualquer tradição, se ufanam de supermodernas! Basta andar pelos arrabaldes de várias grandes cidades de hoje, para ver tais edifícios: o transeunte passa perto deles e tem horror a lhes transpor as portas.

A comparação diz muito. Ela mostra quanto de errado há em imaginar que os séculos de civilização cristã não conheceram o zelo pelas classes populares.


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