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Plinio Corrêa de Oliveira AMBIENTES, COSTUMES, CIVILIZAÇÕES Espertezas do tolo-risonho
"Catolicismo" Nº 155 - Novembro de 1963 |
O "New York Herald Tribune" apresentou esta "charge" sagaz de Mauldin, a propósito da "rivalidade" e até do "antagonismo" entre o comunismo soviético e o comunismo chinês. Um ocidental com a fisionomia estúrdia marcada por um largo sorriso otimista e ininteligente, se apronta para pisar com passo rápido na terrível armadilha que o cortará ao meio. Quem é esse ocidental? É o representante lidimo de toda uma família de almas que se vai tornando sempre mais numerosa no Ocidente: a família dos tolos-risonhos. O tolo-risonho tem uma filosofia da vida. Superficial, agitado, débil de alma, ele vive apenas no mundo das aparências. Detesta aprofundar-se, ir seriamente ao âmago dos problemas, reconhecer os perigos e preparar-se para os enfrentar. Por isto mesmo, ele criou para si o mito de que "tudo no fim se arranja", e que não vale a pena pensar, nem lutar, porque mesmo sem pensamento nem luta, tudo por fim dá certo. Naturalmente, para o tolo-risonho, tudo é como parece ser. Não há inimigos. E, se os há, são exatamente como parecem. De onde, quer eles se zanguem, quer sorriam, é preciso dar inteiro crédito a sua zanga ou a seu sorriso. E, quando parecem brigar entre si, é porque brigam mesmo. O indivíduo que não pense desse modo é um reacionário atrasado, de fígado doente e nervos à flor da pele. Só um indivíduo assim pode crer que em nosso século ainda haja cavalos de Tróia, Maquiáveis, etc. Somos o século da luz e do sorriso. E basta sorrir para atrair, comover e desarmar o adversário. O tolo-risonho, que não é hepático nem reacionário, sabe disto. E em conseqüência ele - superiormente diplomático, Maquiavel do sorriso e da credulidade - se prepara para explorar o antagonismo sino-russo. De que modo? De um modo terrivelmente inteligente: dando tudo à Rússia, para jogá-la contra a China. A começar pelo trigo, que a Rússia comunista terá a preço razoável, tanto quanto queira... Que golpe fino! Os soviéticos ficarão gratíssimos. Que força tem a gratidão na alma humana, pensa o tolo-risonho. O trigo norte-americano fará estremecer em suas bases o atual regime russo. E com isto, perdido de amor e de gratidão pelo Ocidente, o colosso soviético se sentirá cada vez mais distante da China... * * * Muita gente, lendo estas notas, dirá: mas não é assim mesmo? Não é generoso e cristão este modo de sentir? "Cristão"... quantos abusos se tem feito desta palavra! Ninguém pode ser mais cristão que o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo. Ora, o que nos ensina sua vida nesta matéria, senão que muitas e muitas vezes a maldade do homem fecha seu coração ao sentimento de gratidão, mesmo quando ele recebeu os maiores benefícios? Que fizeram nove dos dez leprosos que Ele curou ( cf. Luc. 17, 11-19 )? Que fez a Ele o povo eleito, que Deus cumulara com os maiores dons na ordem do espírito e na do corpo? * * * Essa triste família de almas, dos tolos-risonhos, é um estigma de degenerescência dos povos em que ela floresce. Tais foram em face dos bárbaros os Imperadores do Baixo Império, em face dos otomanos os Basileus bizantinos, em face da Pseudo-Reforma tantos católicos anteriores à Contra-Reforma, em face da Revolução Luis XVI e os nobres liberais. E assim os exemplos poderiam multiplicar-se até nossos dias. E assim o demônio não tem melhores instrumentos do que os tolos-risonhos. O bobo é cavalo do demônio, diz um velho adágio... * * * Ao encerrar estas linhas estamos a imaginar um tolo-risonho que nos lê, e que franze os sobrolhos quando vê que falamos do demônio. Demônio não, pensa ele, o termo é anacrônico. Não seria melhor, segundo o alvitre de uma revista holandesa, falar de "anjos separados"? |