Hoje trataremos mais especificamente da masculinização da mulher, fenômeno absolutamente tão deplorável e ridículo quanto seria a efeminação do homem.

Nossa primeira gravura representa duas senhoras, muito jovens, e uma menina, em um interior confortável de há cerca de cem anos atrás. O ambiente em que se movem é caracterizado por uma certa gravidade.

As cortinas são espessas, a cadeira é grande e nobre, o cachepot de linhas distintas e robustas tem decorações douradas, um belo tapete cobre todo o chão. Mas ao mesmo tempo os coloridos - que nosso clichê infelizmente não reproduz - são alegres. As cortinas são de um azul muito claro, quase água-marinha, a senhora sentada, que é evidentemente uma visitante, traja um belo vestido de um verde de folha nova na primavera européia, e seu casaco é branco. À cabeça, traz algumas rosas. A senhora de pé veste-se de seda lilás brilhante. A menina tem um vestido branco com listas vermelhas, ornado com fitas também vermelhas. São dessa mesma cor as fitas que lhe ornam o cabelo e lhe pendem das tranças. Este misto de gravidade e graça caracterizava bem o ambiente da vida de família de outrora. Nele, a mulher podia expandir em toda sua amplitude, as preciosas qualidades típicas de seu sexo, a doçura, a afabilidade, a graça, a bondade e a distinção. As fisionomias das três pessoas em nosso clichê estão distendidas, plácidas, e impregnadas de afetividade, indicando um convívio marcado a fundo pelo que tem de mais suave a delicadeza feminina. Elas parecem encontrar-se como no elemento próprio para a prática natural e como que instintiva dos deveres cristãos da esposa, da mãe e da filha.

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Mas pouco depois a masculinização começava, timidamente, embora. Nas duas jovens do segundo clichê, há um começo de audácia, de dureza, de atrevimento, que contrasta com o quadro anterior. Tem-se a impressão de que algo de muito profundo - se bem que ainda muito discreto - se desajustou dentro delas, relativamente à vida do lar. Esta lhes parece um tanto insípida. Há um gosto manifesto de viver na rua, enfrentando imprevistos, passando por peripécias, levando enfim uma vida que já não é inteiramente voltada para os prazeres castos da família, e em cujo teor os momentos mais agradáveis são os que se empregam passeando como anônimos na multidão. Um que de masculino nos chapéus, no corte dos vestidos, e sobretudo na fisionomia dos personagens o diz bem.

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Uma jovem moderna, num ambiente moderno. Não tivesse compridos os cabelos, e não seria fácil dizer-se-lhe à primeira vista o sexo. Ela respira por todos os poros o gosto da aventura, da luta dentro de uma vida que em nada se diferencia da de um homem, e que exige o cultivo de qualidades tipicamente masculinas. Um pouco mais, e a masculinização terá sido levada tão longe quanto possível.

Mas, dirá alguém, que mal há nisto?

É fácil responder. O mesmo mal que haveria em que os homens de hoje se penteassem, se vestissem e vivessem como as damas de nosso primeiro clichê.

Pura e simplesmente uma monstruosa subversão da ordem natural.