Transeuntes
numa cidade de nossos dias. Fotografia de um grupo de populares que
esperam a permissão de passar numa esquina de Louisville, EEUU. Grupos
como estes se vêm em todo o mundo contemporâneo: pessoas dos dois sexos,
das mais variadas idades e condições sociais, formando aglomerados maiores
ou menores, à espera de um sinal luminoso, de um veículo, da abertura de
uma repartição ou escritório, etc. Em suma, é um dos aspectos mais comuns
da vida quotidiana.
Por isto, a fotografia se presta a
uma pergunta: neste quadro, do qual tão freqüentemente nós mesmos fazemos
parte, qual a atmosfera moral? Há despreocupação, bem estar, alegria: há,
em uma palavra, aquilo que Talleyrand chamava a "douceur de vivre"?
A resposta é forçosamente
negativa. Dir-se-ia que cada um traz dentro de si um horizonte de brumas
pesadas e cor de chumbo. Ninguém presta atenção no vizinho, ou em qualquer
coisa que lhe esteja diante dos olhos. Todos - até crianças - fitam
preocupadamente um ponto que está pairando menos no ar do que na mente de
cada qual. São os problemas da vida quotidiana incerta, dura, difícil, que
as condições do mundo contemporâneo impõem a cada um. Por isto, a atitude
psíquica de quase todos é de quem está andando de encontro a um problema.
E, com efeito, o que não é problema em nossos dias?
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A vida moderna é sombria e
nervosa. Seus prazeres são desordenados, frenéticos, fatigantes e fugazes.
São em via de regra momentos passageiros numa existência feita de luta
áspera, de preocupação constante, de uma tensão que sentimos até dormindo.
Entretanto, o homem parece não ter sido jamais tão sôfrego de prazeres.
Como explicar isto?
Pode-se dizer da alegria o que S.
Bernardo dizia da glória, que é como uma sombra: se corremos atrás dela,
foge-nos; e se dela fugimos, corre-nos atrás. Não há verdadeira alegria a
não ser em Nosso Senhor Jesus Cristo, isto é, à sombra da Cruz. Quanto
mais o homem é mortificado, tanto mais alegre. Quanto mais procura os
prazeres, tanto mais é triste.
Por isto, nos séculos de apogeu da
civilização cristã, ele era alegre: basta pensar na Idade Média. E quanto
mais se vai "descatolicizando", tanto mais vai ficando tristonho.
De geração em geração, esta
mudança vai se acentuando. O homem do século XIX, por exemplo, não tinha
mais a deliciosa "douceur de vivre" do homem do século XVIII. Entretanto,
como era ainda mais rico em paz e bem estar interior que o de hoje!
Quantos de nossos leitores se
lembrarão da fartura, da tranqüilidade, da cordialidade de relações, da
amenidade de vida que caracterizava o ambiente brasileiro ainda há vinte
anos atrás. Carestia, inflação, filas, crise, quem falava nisto? E assim
mesmo os velhos diziam que por volta de 1890 tudo era melhor!
Banalidade, dirá algum leitor.
Todos os velhos julgam melhores os tempos de sua mocidade. E por isto o
passado parece sempre melhor do que o presente.
Este fenômeno existe sem dúvida.
Mas quanta superficialidade há em reduzir tudo a esta ilusão ótica.Neste
sentido, a fotografia traz um concurso decisivo para a elucidação do
assunto. Há inúmeras fotografias de populares de há cinqüenta anos atrás.
A diferença entre seu estado de espírito e o nosso é chocante.
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Tomemos
- de uma volumosa coleção - apenas um exemplo. Em Paris, por volta de
1900, proprietários e garçons de um pequeno restaurant que fornece ostras
aguardam a chegada dos primeiros fregueses. Todos são calmos, sadios,
normais. Os rostos estão desanuviados. Não há outros problemas para
resolver senão os de uma rotina diária leve. Mas trata-se de gente
integrada habitualmente em um ambiente de trabalho e vida de família, sem
sonhar com grandezas alucinantes, nem prazeres extasiantes, nem
catástrofes aterrorizantes; sem correr a 150 à hora pelas estradas, sem
fazer filas, sem temer a falência para o dia seguinte, nem um desastre de
automóvel para daí a 15 minutos. Temperança, sobriedade, normalidade, paz,
equilíbrio, valores de alma inestimáveis que o neopaganismo está acabando
da eliminar da face da terra!
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