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Plinio Corrêa de Oliveira AMBIENTES, COSTUMES, CIVILIZAÇÕES
ARTE SACRA, ESPÍRITO NATURALISTA
"Catolicismo" Nº 25 - Janeiro de 1953 |
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Quando se entra na galeria dos espelhos, em Versalhes, a primeira impressão que se tem é de vastidão. Imenso é o soalho, em cuja superfície polida a luz que entra de várias partes parece encontrar campo aberto e livre para seus jogos multiformes. O comprimento e a altura das paredes são acentuados pelos arcos altos e estreitos que de um lado dão vista para as vastidões do parque, e do outro estão guarnecidos de espelhos cujos reflexos ampliam ainda mais as perspectivas. O teto abaulado, na riqueza exuberante de sua policromia ostenta tal número de figuras alegóricas que faz ressaltar ainda mais a vastidão do conjunto. Mas a esta primeira impressão se sobrepõe logo outra: a de proporção. Proporção admiravelmente harmoniosa entre a altura, a largura e o comprimento da sala. Proporção igualmente harmoniosa entre os vários elementos decorativos da parede que se vê ao fundo: o arco está numa relação perfeita com o abaulado do teto, com a largura e a altura da sala. Os painéis de um e outro lado do arco estão exatamente proporcionados entre si e com as respectivas paredes. Os jarrões não podiam ser senão o que são. O lustre da sala contígua, que se entrevê ao fundo, tem precisamente o tamanho necessário para ser visto através do arco. Observações iguais poderiam ser feitas acerca de cada um dos múltiplos elementos decorativos que guarnecem a galeria. Uma mesma harmonia forte, quase se diria inflexível, penetra, ordena, triunfa em tudo, sujeitando todas as formas, todas as linhas, todas as cores, ao domínio de um grande pensamento central, que reina e refulge até nos mais insignificantes pormenores. É um pensamento cheio de grandeza, de coerência, de força, de graça e de amenidade, imagem fiel da idéia que o absolutismo fazia da ordem temporal: uma relação harmônica de todas as coisas, constituída e mantida pelo império da vontade forte, esclarecida, paternal, e sempre invencível do Rei. Esta harmonia tem um que, não só de triunfante, mas de festivo. A sala é feita para a glória e o prazer. Ela traz em si a fisionomia de uma sociedade que julgava ter adquirido sua estabilidade perfeita repousando na vontade do Rei como em seu centro de gravidade normal. E com a estabilidade a despreocupação, a fartura, o bem estar perfeito da vida terrena. Bem estar terreno – faça-se justiça – que é espiritual no mais alto grau. Todo o prazer que esta sala pode dar dirige-se antes de tudo ao deleite da alma e nesta procura, desperta, nutre o que há de mais nobre. O ambiente dignifica e faz com que o homem se sinta o que realmente é: o rei da natureza. * * *
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