Plinio Corrêa de Oliveira

 

As Américas rumo ao 3º milênio:
convicções, apreensões e esperanças das TFPs do Continente

 

 

 

Folha de S. Paulo, 9 de dezembro de 1994

 

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Ao ensejo da realização da Cúpula das Américas, magno evento Cúpula das Américas que reúne todos os primeiros mandatários do Continente – com a merecida exceção cubana – as Sociedades de Defesa da Tradição, Família e Propriedade – TFPs das três Américas julgam oportuno emitir uma declaração conjunta manifestando suas convicções, apreensões e esperanças com relação ao presente e ao futuro do hemisfério.

As TFPs constituem um vasto conjunto de entidades coirmãs e autônomas existentes nos cinco continentes. Baseiam-se elas no ensinamento tradicional da Igreja. O fundador da TFP brasileira (1960) e inspirador das demais TFPs é o eminente pensador católico e homem de ação brasileiro Professor Plinio Corrêa de Oliveira, o qual, em mais de seis décadas de vida pública ilibada, vem combatendo doutrinariamente as múltiplas manifestações da Revolução anticristã na sociedade atual.

Assim, têm essas entidades direcionado sua atuação contra o comunismo, o esquerdismo na Igreja, as reformas de estrutura socialistas e confiscatórias e as novas formas de revolução cultural pós-comunistas, como também contra os "Kerenskys", isto é, os políticos centristas que pavimentam o caminho à Revolução anticristã.

A eficácia da luta ideológica das TFPs é reconhecida por apologistas e adversários. Mais de 500 livros publicados em todo o mundo – vários deles escritos por scholars de grande prestígio – documentam o papel pioneiro do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira no desmascaramento do progressismo dentro da Igreja, desde a década de 30 a nossos dias, bem como o papel decisivo que coube às TFPs para evitar a queda de importantes nações latino-americanas nas garras do comunismo.

As 26 TFPs e Bureaux-TFP têm estado empenhadas, desde 1993, na difusão da mais recente obra do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana, que conta com cartas laudatórias de três Cardeais da Cúria romana, bem como de teólogos e historiadores de fama mundial. Esta obra, com edições lançadas simultaneamente em português, espanhol, inglês, francês e italiano, constitui um verdadeiro programa positivo que o eminente Autor oferece para enfrentar os numerosos fatores de desagregação e caos da sociedade contemporânea; e contém um apelo às elites tradicionais, a que cumpram o seu papel histórico no reerguimento da civilização cristã.

Este autêntico capital de credibilidade autoriza as TFPs a apresentar a Vossas Excelências a seguinte Agenda de problemas continentais, sem cuja solução adequada se corre o risco de frustrar os legítimos anelos de concórdia e prosperidade manifestados em nosso Continente por todos os governantes e governados. Seria como edificar a "casa sobre terra sem fundamentos", de que nos fala o Evangelho, "contra a qual investiu a torrente, e logo caiu, e foi grande a sua ruína" (Lc. 6, 49).

A mencionada Agenda, de autoria do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Presidente do CN da TFP brasileira, foi referendada pela TFP brasileira assim como pelas demais TFPs coirmãs e autônomas existentes nas três Américas. 

Paulo Corrêa de Brito Filho

Diretor de Imprensa da Sociedade Brasileira de Defesa

da Tradição, Família e Propriedade – TFP

Aos preclaros participantes da Cúpula das Américas, reunidos em Miami de 9 a 11 de dezembro

As Américas rumo ao 3º milênio:

convicções, apreensões e esperanças das TFPs do Continente

 

Agenda de problemas continentais

As TFPs das três Américas

I – exprimem preocupação

* pela enigmática indiferença, moleza e até cumplicidade de certas esferas políticas, intelectuais, eclesiásticas, publicitárias e econômicas do Continente em relação ao mal sucedido regime comunista vigente na antiga "Pérola das Antilhas" e a seu velho inspirador e chefe Fidel Castro;

* pela incongruente política de dois pesos e duas medidas de vários organismos e governos da região em relação aos regimes do Haiti e de Cuba: agiram com o máximo rigor diplomático contra o primeiro, enquanto vêm fazendo, há décadas, concessões liberais e inclusive lisonjeiras em relação ao segundo;

* pela hábil metamorfose operada, após a queda do muro de Berlim, por numerosas figuras da extrema-esquerda: sem renegar seu passado e suas metas igualitárias, e apenas mudando de rótulos e métodos de ação, alcançaram importantes posições políticas;

* pela utilização do poder político que vem sendo feita por essas figuras, no sentido de promover uma verdadeira revolução cultural que anestesia as reações sadias da opinião pública, ao mesmo tempo que desfere golpes radicais contra os princípios básicos da civilização cristã;

* pelo potencial destrutivo e detonador de caos sócio-econômico que têm demonstrado na América Latina grupos terroristas e guerrilheiros apoiados em conexões internacionais;

* pela continuidade da crise que, no plano espiritual – porém com inevitáveis reflexos na ordem temporal – afeta a Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana, com o paralelo avanço de seitas ditas "cristãs", de religiões animistas e até de movimentos satanistas. 

II – deploram

* a arrogância com que movimentos homossexuais reivindicam, em diversos países americanos, pseudo-"direitos", tão radicalmente contrários à Lei de Deus e à ordem natural;

* as inconcebíveis pressões de alguns organismos internacionais e setores sociais das várias nações do Continente, em favor do aborto e do controle da natalidade (cfr. Conferência do Cairo); do divórcio, do concubinato, da eutanásia e de outras medidas que conduzem à extinção da família;

* as experiências de manipulação genética que envolvem embriões humanos, desconhecendo princípios religiosos e éticos elementares;

* o aumento do tráfico e consumo de drogas, e os tentames de despenalização desse consumo;

* a colaboração ominosa de importantes meios de comunicação social na difusão de antivalores que corroem a civilização cristã até os seus fundamentos. 

III – manifestam acentuadas reservas

* diante da precipitação com que alguns setores políticos desejam levar avante processos de integração hemisférica, com ritmos e condições que na prática poderão desgastar, se não abolir, as necessárias fronteiras nacionais, as características peculiares de cada país e até suas próprias soberanias;

* ante o desconhecimento, por parte desses setores, dos resultados tão discutíveis de experiências similares, como o Tratado de Maastricht, na Europa, contestado por milhões de europeus;

* ante as expectativas exageradas e até o verdadeiro fascínio, despertado no espírito das multidões por tantos órgãos da mídia, com referência ao desenvolvimento econômico, apresentado como se fosse uma panacéia para todos os problemas de nosso tempo; enquanto isso, fica relegada a segundo plano a profunda crise espiritual e moral que afeta de forma crescente o tecido social, em toda a América;

* ante as esperanças frenéticas com que alguns encaram o surgimento de uma pseudo-civilização cibernética, sem avaliar todos os riscos, nem os inconvenientes graves e certos de transformações psicológicas, morais e culturais que ela acarreta;

* ante a crescente influência, em matéria política, social e econômica, que vão assumindo determinadas organizações não-governamentais (ONGs), muitas das quais possuem programas nitidamente revolucionários (por exemplo, reivindicações propensas a favorecer um indigenismo retrógrado e contrário à civilização cristã), como ficou patente na ECO-92, realizada no Rio de Janeiro; e diante do volumoso financiamento internacional que esse tipo de ONGs vem recebendo;

* ante o processo de asfixia econômica e sucateamento de nobres Forças Armadas do hemisfério, com ilusório fundamento em novas realidades nacionais e internacionais;

* em relação àqueles que acusam algumas Forças Armadas de terem violado os direitos humanos dos guerrilheiros, enquanto se mostram suspeitamente omissos em denunciar os crimes que estes cometeram, e continuam cometendo em importantes países como a Colômbia e o Peru, contra populações urbanas e rurais. 

IV – apelam

* aos preclaros participantes da Cúpula de Miami para que abordem em profundidade, sem temor de discrepâncias e debates fecundos, estes e outros temas mais delicados e urgentes da realidade interamericana;

* aos líderes da Cúpula de Miami para que apresentem soluções efetivas aos mencionados problemas, em harmonia com as tradições cristãs do Continente, interpretando assim os legítimos anelos da opinião pública das três Américas;

* aos referidos participantes da Cúpula de Miami para que adotem, com a indispensável urgência, medidas políticas, econômicas e publicitárias próprias a viabilizar a imediata normalização da situação do povo cubano. 

V – vêem com esperança

* a saudável repulsa contra múltiplas formas de Revolução anticristã que vai despontando – notadamente nas camadas mais populares – em consideráveis parcelas da opinião pública interamericana;

* as justificadas e crescentes desconfianças com que essas parcelas da opinião continental vêem a ação de certos meios de comunicação social – em especial a TV – enquanto veículos de agressiva imoralidade, particularmente nociva para a infância e a juventude;

* o insucesso eleitoral de candidatos presidenciais ostensivamente esquerdistas em países como o Brasil, México, Colômbia, Peru, Argentina e El Salvador;

* o total descrédito, inclusive nos setores mais modestos da população, da assim chamada "teologia da libertação", e das comunidades eclesiais de base (CEBs) nesta inspiradas;

* o debilitamento da obsessão ideológica igualitária que impregnou durante décadas a mentalidade ocidental, em benefício do socialismo e do comunismo;

* as excelentes perspectivas de colaboração da América Latina com os Estados Unidos e o Canadá, em sólidas bases cristãs, que se abrem com os fenômenos descritos neste item. 

Concluindo

As TFPs das três Américas

* afirmam sua profunda convicção de que, quando os homens resolvem cooperar com a graça de Deus, o desenrolar da História gera maravilhas: é esta a lição que nos foi legada pela Europa pré-medieval e medieval, a qual, a partir de populações latinas decadentes e de hordas de invasores bárbaros, chegou, sob todos os pontos de vista, a um nível religioso, cultural e econômico sem precedentes;

* manifestam portanto a certeza de que, para além das tormentas morais, das dificuldades materiais e das ciladas de toda ordem que vão sendo preparadas no Continente pelos inimigos da Igreja e da civilização cristã, haverá nas Américas um ressurgir da Cristandade, de acordo com o previsto por Nossa Senhora em Fátima, em 1917, quando anunciou: Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará! 

São Paulo, 6 de dezembro de 1994

 

Plinio Corrêa de Oliveira

Presidente do Conselho Nacional da

Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade

Este comunicado também é subscrito pelos presidentes das Sociedades de Defesa da Tradição, Família e Propriedade – TFPs das três Américas, existentes na Argentina, Bolívia, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, Estados Unidos, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela.


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