Nossos leitores se
lembrarão, por certo, da polêmica que se travou em torno do ensaio “A
LIBERDADE DA IGREJA NO ESTADO COMUNISTA”, entre seu Autor,
Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, e o Sr. Zbigniew Czajkowski, diretor do
jornal “Kierunki”, de Varsóvia. Nela intervieram também, do lado do
Presidente do Conselho Nacional da TFP o Sr. Henri Carton, de “L'Homme
Nouveau”, e do lado do jornalista polonês o Sr. A. V., de “Témoignage
Chrétien”, ambos de Paris. Dessa polêmica demos amplo noticiário em vários
números desta folha, em 1964-1965.
Essa não foi, porém, a
única obra do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a repercutir além da cortina
de ferro e a provocar reação por parte do mesmo Sr. Czajkowski.
Com os compreensíveis e
inevitáveis atrasos, chegou-nos às mãos um exemplar do número de janeiro
de 1968 de “La Vie Catholique en Pologne / Revue de la presse
polonaise”, editada em Varsóvia pela Associação “Pax” — a
conhecida organização “católica” de fachada do regime comunista polonês
. A revista parece destinada a informar o público ocidental sobre a vida
religiosa naquele país e, particularmente, sobre as atividades do grupo “Pax”.
Esse número de “La Vie
Catholique en Pologne” dedica sete páginas da secção “Resenha do mês” a
noticiar os ataques feitos em duas edições sucessivas do semanário
“Kierunki” (nos 51-52 e 53, de 1967) pelo Sr. Zbigniew
Czajkowski, redator-chefe de “Zycie i Mysl”, ao ensaio “Baldeação
Ideológica Inadvertida e Diálogo”, do Prof. Plinio Corrêa de
Oliveira. Pela mesma revista ficamos sabendo que “Zycie i Mysl” é um “mensário
filosófico e social”, enquanto “Kierunki” é um semanário “destinado
aos círculos da intelligentsia” polonesa (pp. 7-8), sendo ambos
editados igualmente pela Associação “Pax”.
Polêmica ou monólogo?
Da outra vez o Sr. Z.
Czajkowski enviou ao Prof. Plinio Corrêa de Oliveira um exemplar do jornal
no qual o atacava, acompanhado da respectiva tradução francesa. Ademais,
para evitar extravio, remeteu idêntico material ao Exmo. Revmo. Sr. D.
Antonio de Castro Mayer, pedindo-lhe que o encaminhasse ao escritor
brasileiro. Vê-se bem que o colaborador de “Kierunki” tinha então empenho
em que suas críticas chegassem ao conhecimento de quem elas visavam. Desta
feita, porém, nada recebeu o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira da parte do
Sr. Czajkowski.
Assim, é bem de ver que
jamais poderia o Sr. Z. C. intitular este seu novo artigo de “No
círculo de uma mistificação psicológica, ou seja, de uma polêmica com o
Prof. Plinio de Oliveira — continuação”, uma vez que a outra parte na
pretensa polêmica só por acaso e muito tardiamente viria a ficar sabendo
dos ataques de que era objeto. Quanto à palavra “mistificação”,
calha bem ao texto do próprio Sr. Czajkowski. Os leitores verão como o
colaborador de “Zycie i Mysl” não se preocupa em refutar a argumentação do
Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, mas limita-se a transcrever, de modo
escandalosamente deturpado e truncado, trechos do trabalho deste e a
dirigir-lhe insultos pessoais, — o que não é de se estranhar por parte de
um comunista, para quem os fins justificam os meios.
Daremos apenas algumas
amostras dessa “técnica”.
Deturpações escandalosas
À página 4 da 4ª edição
brasileira de “Baldeação Ideológica Inadvertida e Diálogo”
(Editora Vera Cruz, São Paulo, abril de 1966), escreve o ilustre pensador
brasileiro: “A causa da insanável inviabilidade da vitória comunista
através das urnas está também, em alguma medida, na resistência que ao
marxismo opõe o fundo de bom senso natural que constitui o patrimônio
milenar e comum da humanidade. Este bom senso se choca com o caráter
essencialmente antinatural que se mostra em todos os aspectos do
comunismo”.
Pois bem. Estas linhas tão
claras e inequívocas, assim as “leu” — e apresenta entre aspas, como
transcrição literal — o jornalista do grupo “Pax”: “As vitórias
alcançadas nas urnas pelos comunistas são parcialmente devidas a
exigências malsãs e exageradas (as dos capitalistas e da burguesia, Z. C.)
e parcialmente ao fato de que o marxismo se baseia no bom senso que é uma
conquista secular comum a toda a humanidade” (“La Vie Catholique ...
“, p. 63).
Não é escandaloso? Mas há
mais ainda. Adiante escreve o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira: “Ganhou
ele [o comunismo], é verdade, a eleição polonesa de 1957, mas esta
eleição, é evidente, careceu de liberdade. Os católicos sabiam que se
derrotassem Gomulka, exporiam sua pátria a uma repressão russa no estilo
da que sofrera a gloriosa e infeliz Hungria. Por isto, embora constituindo
na Polônia maioria decisiva, optaram eles pelo que se lhes afigurou o mal
menor, elegendo deputados “gomulkianos”. Não nos pronunciamos aqui sobre a
liceidade dessa manobra, nem sobre o seu acerto do ponto de vista
estritamente político. Sublinhamos, entretanto, que de nenhum modo se pode
afirmar ter sido eleito livremente pelo ínclito povo polonês um congresso
majoritariamente comunista. A maioria comunista existente no parlamento da
Polônia não constitui, pois, argumento contra o que acabamos de afirmar”
(ed. cit., p. 4).
Eis como o jornalista
polonês “transcreve” — e sempre entre aspas — esta passagem: “É verdade
que os comunistas poloneses ganharam as eleições de 1957, assim como é
verdade que essas eleições transcorreram em uma atmosfera de liberdade
(... ). Sublinhamos que o parlamento comunista polonês foi eleito em
eleições livres pela grande maioria dessa magnífica nação. É por isso que
a existência de uma grande maioria comunista no parlamento polonês não
constitui tampouco um argumento contra nossa tese” (“La Vie Catholique
... “, p. 63) .
Não é possível ser mais
desleal ao fazer citação de um Autor que se pretende refutar.
Depois de passar por alto
sobre a introdução e o primeiro capítulo da obra, o redator-chefe de
“Zycie i Mysl” salta todo o capítulo II, sobre “A baldeação ideológica
inadvertida”, o III, intitulado “A palavra-talismã, estratagema da
baldeação ideológica inadvertida”, fala muito ligeiramente a respeito
dos sentidos talismânicos da palavra “diálogo”, que são objeto do capítulo
IV, o mais longo do livro — e o mais importante para se compreender o seu
contexto — e passa logo à Conclusão, apresentando truncada uma passagem na
qual o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira aponta, apenas a título de exemplo,
como os do grupo “Pax” encaram o diálogo de modo relativista e admitem uma
evolução no pensamento social da Igreja, capaz de torná-lo flexível a
ponto de aceitar o marxismo.
A esse respeito afirma o
Sr. Czajkowski: “Não é “Pax” quem “insinua”, Sr. Professor, que o
pensamento social evolui e, como o Sr. escreve, dá mostras de
flexibilidade em relação ao socialismo; esta tendência é confirmada pelos
decretos do Vaticano II, tal como pelas Encíclicas sociais de João XXIII e
Paulo VI” (“La Vie Catholique...”, p. 67).
Depois de tudo isso, o
jornalista de “Pax” atreve-se ainda a dizer que o livro do pensador
brasileiro ignora “todas as leis da lógica” e tende “a falsear e
a confundir os fatos, os acontecimentos e as conclusões”, não passando
de um “amontoado de verdades e contraverdades” (revista citada, p.
63).
O que mais importa
O que importa destas notas
não é tanto ver como os comunistas se servem dos métodos mais desleais
para combaterem os que se opõem aos seus desígnios sinistros. O importante
é o fato de que um elemento qualificado dentro da Associação “Pax”, a qual
constitui dócil instrumento do governo comunista polonês, tenha julgado
oportuno alertar os círculos intelectuais de seu país contra mais este
trabalho do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. Isso é sinal de que o
comunismo receia que “Baldeação Ideológica Inadvertida e Diálogo”
lhe acarrete sério dano em seus próprios domínios de além cortina de
ferro.
NOTAS
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