Plinio Corrêa de Oliveira

TFP PEDE MEDIDAS

CONTRA PADRE SUBVERSIVO

"Catolicismo" Nº 211 - Julho de 1968

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Texto da carta da TFP ao Exmo. Arcebispo de Olinda e Recife

O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Presidente do Conselho Nacional da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, enviou no dia 21 de junho p. p. a S. Excia. Revma. o Sr. D. Helder Câmara, Arcebispo Metropolitano de Olinda e Recife uma carta em que denuncia como subversivas em seus fins e em seus métodos as medidas propostas pelo Revmo. Pe. Joseph Comblin, professor do Instituto Teológico de Recife, para solução dos problemas brasileiros.

Eis a íntegra do documento:

 

"A SOCIEDADE BRASILEIRA DE DEFESA DA TRADIÇÃO, FAMÍLIA E PROPRIEDADE, apresentando a V. Excia. seus respeitosos cumprimentos, pede toda a atenção de V. Excia. para o conteúdo do parecer concernente ao relatório destinado ao Conselho Episcopal Latino-Americano, parecer este de autoria do Revmo. Pe. Joseph Comblin, professor do Instituto Teológico de Recife.

A pesar de volumoso e difuso, o documento é meridianamente claro quanto aos objetivos de seu autor, e aos métodos por ele preconizados.

Contra arrendadores e acionistas

O parecer do Revmo Pe. Comblin visa implantar no Brasil a tríplice reforma urbana, agrária e empresarial, partindo do conceito de que o arrendamento de imóveis urbanos e rurais, bem como a aplicação de capitais sob a forma de cotas ou ações de empresas comerciais, são anti-sociais e injustos. A conseqüência lógica desta asserção do Sacerdote belga é que tais aplicações de capital e arrendamentos devem ser proibidos por lei.

Elogio do comunismo cubano

Concebendo um dos principais fins do desenvolvimento como a implantação do nivelamento de classes absoluto, o Pe. Comblin faz o elogio - como altamente propícias ao desenvolvimento - da revolução comunista eclodida nas primeiras décadas deste século no México, bem como da revolução de Fidel Castro.

Necessário garrotear a maioria

Para realizar as reformas de espírito marcadamente comunista que deseja para o Brasil, o Pe. Comblin afirma ser impossível persuadir da utilidade delas a maioria do País, a qual ele acusa de indolente e infensa a medidas revolucionárias.

Por isto, o professor do Instituto fundado por V. Excia. planeja duas revoluções, uma no Estado e outra na Igreja.

Revolução político-social

A revolução no Estado consiste em derrubar o governo pela agitação de grupos de pressão fanatizados, que manobrem habilmente a opinião pública.

Obtido esse resultado, o Pe. Comblin deseja que os líderes dessa minoria de agitadores estabeleçam sobre o País uma ditadura férrea, que leve a cabo reformas de base confiscatórias e igualitárias, análogos às que Fidel Castro efetuou em Cuba.

Revolução na Igreja

A fim de dar a esta ditadura minoritária um apoio que reputa indispensável, o Pe. Comblin - que qualifica nosso Episcopado e nosso Clero de indolentes e acumpliciados com os mil abusos por ele atribuídos às elites dominantes - propõe a virtual anulação da autoridade dos Bispos, sujeitando-os à ditadura de um órgão que se entrevê ser um verdadeiro politburo eclesiástico. Segundo parece, o Pe. Comblin tem a esperança de que os membros desse órgão constituam uma camarilha de Bispos extremistas, a dominar a Igreja no Brasil.

O Pe. Comblin quer ainda a abolição de todas as Ordens religiosas, fundidas numa só instituição anorgânica e totalitária, posta a serviço do seu sonhado politburo epíscopo-extremista. Ele pede também que se proíba que do Exterior continuem a vir os Padres, que demandam abnegadamente o Brasil a fim de suprir a deficiência numérica do Clero nacional.

Liquidação das Forças Armadas

Para chegar à realização de todos esses fins, o professor do Instituto Teológico de Recife pleiteia como medida eventualmente necessária, além da desmoralização do Governo, e das Forças Armadas, a dissolução do Exército Nacional e a distribuição de armas ao povo.

Censura da imprensa, rádio e TV

De outro lado, pede o Pe. Comblin que uma enérgica censura de imprensa, rádio e televisão reduza ao silêncio os descontentes. As elites que não se conformarem com essa política, deseja o Pe. Comblin que abandonem o País.

Tribunais de exceção

Acusando o Poder Judiciário de corrompido pela burguesia e pelo Clero, o Pe. Comblin reclama a instituição de tribunais de exceção, para julgar rapidamente quantos se oponham a essa ditadura comuno-reformista.

Elogio da revolução violenta

Caso esses processos não dêem resultado, o Pe. Comblin considera legítimo o emprego da violência a fim de chegar à implantação do regime por ele sonhado.

Este o aspecto sinistro do parecer do Sacerdote belga.

Impostura grosseira e ridícula

O referido parecer tem também um caráter de ridícula impostura. Ele qualifica a estrutura social hodierna do Brasil e da América Latina como "uma das mais aristocráticas que jamais houve na História". Ela se constituiria de duas classes, uma de brancos opressores e exploradores, e outra de índios, negros e mestiços explorados e oprimidos. Qualquer brasileiro sabe a que ponto nesse quadro não existe nem uma imagem da realidade, nem sequer uma caricatura dela, mas uma invenção de todo em todo gratuita: uma inverdade integral que é impossível não qualificar de grosseira impostura.

Essa a síntese do extenso e massudo parecer publicado largamente pela imprensa.

O documento é autêntico

O Pe. Comblin - em declarações à imprensa - não negou a autenticidade do texto que lhe é atribuído. Limitou-se a alegar que este era um mero rascunho. Nada porém pode justificar esse pretenso "rascunho" em que ao apelo à subversão no País, à revolução na Igreja, se juntam a calúnia contra o Poder Civil, a Hierarquia Eclesiástica, as Forças Armadas e a Magistratura e a configuração de um quadro grosseiramente falsificado da realidade nacional.

Um Sacerdote a planejar isto?

A opinião pública brasileira se acha estarrecida diante da idéia de que um Sacerdote pense, diga e planeje coisas tais. Ela se encontra perplexa e apreensiva diante do fato de que este Sacerdote, sendo estrangeiro, se atreva a intervir de tal maneira nos assuntos brasileiros.

A Nação se sente alarmada e indignada vendo que um tal agitador tenha podido esgueirar-se no corpo docente do Instituto Teológico que V. Excia. fundou precisamente para estudar a realidade brasileira e mobilizar o povo para a ação cívica e política.

Medidas contra são indispensáveis

Assim, a SOCIEDADE BRASILEIRA DE DEFESA DA TRADIÇÃO, FAMÍLIA E PROPRIEDADE está certa de interpretar os anseios de milhões de brasileiros, pedindo a V. Excia que expulse do Instituto Teológico de Recife, e da ilustre Arquidiocese em que ainda refulge a gloriosa recordação de Dom Vital, o agitador que se aproveita do sacerdócio para apunhalar a Igreja, e abusa da hospitalidade brasileira para pregar o comunismo, a ditadura e a violência no Brasil.

Essas medidas, Sr. Arcebispo, são as únicas que podem desafrontar a Nação.

A atitude da Igreja, punindo e repelindo severamente o Sacerdote subversivo, fará ver que Ela apóia desde já as medidas que a autoridade civil tomará, por certo, para resguardar contra os manejos do Pe. Comblin a segurança nacional.

Levando ao conhecimento de V. Excia. isto que é, quase diríamos, uma reivindicação de todos quantos amam a tradição brasileira e a família brasileira, e vêem no exercício da dupla função da propriedade - individual e social - um imperativo de justiça e uma condição de prosperidade nacional, pedimos a favorável acolhida de V. Excia.

Com as expressões de toda a consideração que tributamos à alta dignidade eclesiástica de que está V. Excia. revestido na Igreja de Deus, subscrevo-me

Atenciosamente             

Plinio Corrêa de Oliveira       

Presidente do Conselho Nacional".


Ampla divulgação em todo o País

A carta do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira ao Exmo. D. Helder Camara foi publicada na íntegra pelos seguintes jornais: "Diário de Pernambuco", "Diário da Manhã" e "Diário da Noite", de Recife; "A Tarde, de Salvador; "O Povo" e "Correio do Ceará", de Fortaleza; "Folha de São Paulo" e "O Estado de São Paulo", da Capital paulista ( este último em seção livre ); "O Globo", do Rio de Janeiro ( edições local e nacional ); "Correio Brasiliense", da Capital Federal; "Correio do Povo", de Porto Alegre; "Diário do Paraná" e "Jornal de Curitiba", da Capital paranaense; "Estado de Minas Gerais", de Belo Horizonte; "Diário Fluminense", de Niterói; "Diário dos Campos", de Ponta Grossa. O documento foi ainda apresentado em resumo pelo "Jornal do Comércio", de Recife, "Diário de Notícias", de Salvador; "Notícias Populares" e "Diário Comércio e Indústria", de São Paulo, "Última Hora", de Belo Horizonte, e "Diário Popular", de Curitiba, tendo recebido referências elogiosas por parte de diversos órgãos de imprensa, entre os quais o "Jornal do Comércio", do Rio de Janeiro, na seção "Vida Católica".

O pronunciamento da TFP foi comentado da tribuna da Câmara Federal, na sessão de 25 de junho, pelo Sr. Cunha Bueno. Lendo trechos da carta do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira ao Arcebispo de Olinda e Recife, o parlamentar paulista manifestou-se "estarrecido" com a atitude do Pe. Comblin, que qualificou de "episódio sem precedentes na história da Igreja e na história de nosso próprio País". O Deputado Cunha Bueno declarou endossar o pensamento expresso na carta e estar integralmente solidário com ela.

Até o momento de encerrarmos esta edição a TFP havia feito imprimir 200 mil volantes contendo o texto da carta, os quais estão sendo distribuídos diretamente à população, na via pública – encontrando calorosa acolhida por parte da grande maioria – nas cidades de São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Fortaleza, Barbacena, Juiz de Fora, Montes Claros, Ouro Preto, Americana, Barretos, Guaratinguetá, Pindamonhangaba, Santo André, São Bernardo do Campo, São José do Rio Preto, Porto Alegre, Recife, Salvador, Brasília, Cons. Lafaiete, Sabará, Contagem, Nova Lima, Londrina e Blumenau.

Entrementes, jornais de Fortaleza e do Rio informavam que o Exmo. Revmo. Sr. D. Helder Camara declarou que não responderá à Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, acrescentando que, "afinal, todos têm direito de fazer críticas, e eu simplesmente as ouço, respondendo-as quando necessário".