Catolicismo Nº 193 - Janeiro de 1967
A pesquisa que provou demais
Plinio Corrêa de Oliveira
O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Presidente do Conselho Nacional da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, comentando em entrevista distribuída pela ABIM o levantamento estatístico publicado pela revista "Realidade" a respeito do divórcio, afirmou parecer "de todo inadmissível que corresponda à verdade dos fatos a conclusão a que chegou o inquérito, de que 79% dos brasileiros são a favor do divórcio e apenas 21% contra".
Além de observar que o trabalho em apreço "não oferece condições que permitam tirar qualquer conclusão consistente", e que o próprio modo de apresentar os resultados "revela certa parcialidade", o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira manifestou surpresa diante da afirmação da revista, de ter sido dela a "iniciativa de ouvir, pela primeira vez, o grande público", como se se pudesse ignorar o abaixo assinado promovido pela TFP contra o divórcio, "do qual todo o Brasil tomou conhecimento".
Torcedores
"Em seu nº 4, de julho p.p. – argumenta o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira – "Realidade" afirma que tirou 450 mil exemplares. É precisamente a edição que lançou o inquérito. Ora, no nº 8, a revista informa que quase 15 mil pessoas responderam. Logo, as respostas obtidas representam uma pequena minoria dos leitores: exatamente um trigésimo, a admitir-se a média, muito baixa, de um leitor por exemplar.
"Esta minoria exprime o pensamento da maioria que se desinteressou de pronunciar-se sobre o inquérito? A pergunta exige como resposta algo mais que uma mera suposição. São necessárias provas, e estas, "Realidade" não as fornece.
"Analisando as coisas a frio, só há razões para supor que os leitores que responderam não representam os leitores que se calaram. Nosso povo é cético quanto a inquéritos desse tipo, aos quais, em geral, respondem principalmente minorias de torcedores. Está na psicologia do torcedor organizar-se para que o maior número possível de pessoas que pensam como ele influenciem o resultado dos inquéritos, comprando exemplares que contém a cédula de voto, etc. Assim, é muito fácil acontecer que as estatísticas decorrentes de inquéritos reflitam principalmente a intensidade da torcida de um ou de outro lado.
"Assim, ainda que os que lêem "Realidade" representassem a média dos brasileiros, a "enquête" por ela organizada não seria concludente.
"Acresce que não se pode afirmar que os seus leitores constituam a média dos brasileiros, e isso quer pelo preço da revista, quer pela natureza da matéria que ela publica".
Surpresa
"Resta, finalmente, observar que no próprio modo de apresentar os resultados do inquérito, "Realidade" revela certa parcialidade. Depois do abaixo-assinado promovido pela Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade contra o divórcio, do qual todo o Brasil tomou conhecimento, causa surpresa a afirmação do magazine, de que foi dele a ‘iniciativa de ouvir pela primeira vez o grande público’ a respeito.
"Também surpreende que "Realidade", ao fazer estatística dos partidários ou adversários do divórcio segundo sua profissão, tenha colocado na mesma rubrica Padres católicos, antidivorcistas por definição, e pastores protestantes, geralmente divorcistas, para concluir que essa categoria apresenta 49 pessoas a favor do divórcio, 18 a favor do desquite e 33 contra o divórcio e o desquite. Não quero crer que um só eclesiástico católico se tenha manifestado a favor da dissolubilidade do matrimônio. A menos que a revista tenha aceito como de autênticos Padres católicos votos anônimos, como o que ela cita na página 102 de seu nº 8".
Inverossímil
"E, já que se fala em religião, cabe um último argumento. Uma vez que a imensa maioria do povo brasileiro é católica, e que o divórcio é categoricamente proibido pela Igreja, parece de todo inadmissível que corresponda à verdade dos fatos a conclusão a que chegou o inquérito em questão, de que 79% dos brasileiros são a favor do divórcio e apenas 21% contra. Ainda que se desconte do total dos católicos o número de votos divorcistas que possa derivar da ignorância ou do relaxamento religioso, parece-me evidente que a cifra de 79% é fortemente exagerada.
"Isso importa em observar – concluiu o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira – que, como se diz em filosofia, o inquérito de "Realidade" provou demais, ou seja, nada provou"