Catolicismo Nº 124 - Abril de 1961

 

REVOLUÇÃO E CONTRA-REVOLUÇÃO EM 30 DIAS

 

A luta entre a Revolução e a Contra-Revolução se está desenvolvendo, na Inglaterra, em um plano particularmente interessante.

Se bem que essencialmente protestante, a igreja anglicana se caracterizou desde seus primórdios nos século XVI por uma tendência a constituir um como que meio-termo entre o protestantismo e a Religião Católica. Assim, negando embora a autoridade do Papa, muitos de seus membros atribuem ao Bispo de Roma um primado honorífico, e, além de professar alguns dos artigos de Fé negados pelas demais seitas protestantes, ela conserva uma liturgia mito semelhante à católica.

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Como sempre acontece quando se procura ficar a meio termo entre a Revolução e a Igreja, o anglicanismo, em razão da própria situação "intermediária", foi sempre dilacerado pela atração dos dois pólos opostos. De um lado, não têm faltado em suas fileiras elementos tendentes à volta à unidade romana; ao mesmo tempo, outros há que manifestam propensão para as formas mais igualitárias e extremadas do protestantismo, e até mesmo para um simples e vago deísmo, de sentido panteísta.

Se bem que ao longo dos séculos essas tendências tenham mudado muito de matiz, ainda hoje pode-se dizer que elas constituem as linhas de força essenciais, e opostas, em que se divide a igreja anglicana.

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Até aqui, o equilíbrio entre essas linhas de força era mantido artificialmente, e contra toda coerência, pela Coroa britânica, considerada menos nas tendências pessoais dos sucessivos monarcas que a têm cingido, do que como instituição.

A chefia da igreja anglicana cabe ao soberano. Este, como todo o ascendente temporal que lhe vinha não só da dignidade régia como do poderio mundial da Inglaterra, ao mesmo tempo que se opunha por interesse próprio a restituir ao Papa a supremacia espiritual que a realeza há séculos usurpara no país, criava em conseqüência do próprio ambiente monárquico, um clima pouco propício a toda forma de igualitarismo, inclusive portanto o igualitarismo religioso da ala esquerda anglicana.

Acontece, porém, que a estabilidade desta situação vem sendo comprometida pela própria Revolução.

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Com efeito, o papel da monarquia britânica de há muito se tornou sobretudo representativo. E, máxime depois da segunda guerra mundial, os hábitos e a mentalidade inglesa, em virtude dos progressos da Revolução, se vêm de tal maneira tornando alheios ao aparato monárquico, que este último vai perdendo o caráter de uma tradição afim com o presente para assumir o aspecto de um anacronismo de interesse quase arqueológico e turístico. Isto, apesar da ação pessoal de uma jovem soberana que é uma verdadeira obra-prima de nobreza tradicional e sadia "hodiernidade" ( empregamos a palavra "hodiernidade" para evitar "modernidade", pois esta – em muitos ambientes – soa como sinônimo de filo-revolucionário ).

governo. Assim, a Índia já há alguns anos é uma república, e a antiga Costa do Ouro, hoje Ghana, em plebiscito, votou também pela abolição da monarquia.

Isto tudo vai contribuindo para enfraquecer a coroa e, por via de conseqüência, para tornar precária a estabilidade desta contradição viva que é a igreja oficial da Inglaterra.

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Essas considerações auxiliam a explicar que ambas as tendências, isto é, a "catolicizante" e a protestante radical , vão se afirmando cada vez mais nas fileiras dessa igreja, e criando nelas uma atmosfera de descontentamento e quase diríamos de tumulto, que culminou com o fato bastante insólito, da demissão do Dr. Geoffrey Fisher, arcebispo anglicano de Canterbury.

No sentido "catolicizante" teve muita significação a visita que a mais alta personalidade eclesiástica anglicana fez ao Papa João XXIII. O significado desta visita foi atenuado pelo fato de que o Dr. Fisher visitou também o arcebispo cismático de Atenas. Não obstante, ela irritou de tal maneira a tendência radical protestante do anglicanismo, já exacerbada por outras circunstâncias, que daí nasceram polêmicas as quais o velho primaz não quis suportar. Mas a demissão desse "gentleman" eclesiástico não paralisou, nas fileiras anglicanas, o movimento de simpatia para com a Igreja Católica. A próxima visita da Rainha da Inglaterra ao Papa é um acontecimento que deve ser encarado com viva simpatia, pois afirmará que continua a mover-se nas entranhas do anglicanismo algo que aspira a voltar ao único redil do único Pastor.

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Entretanto, de seu lado, a Revolução também conseguiu uma vitória. O novo catecismo da igreja oficial da Inglaterra, pela primeira vez na história, deixa de mencionar em 1961 o demônio. O liberalismo sempre implicou com a crença no anjo decaído. Para ele o mal não existe, todas as criaturas são boas, toda pena é antipática. Pode-se calcular quanto lhe é infensa a idéia de um inferno povoado de seres totalmente inimigos de Deus, absolutamente maléficos e condenados a uma infelicidade completa e sem fim. Ademais, o evolucionismo, que é um dos aspectos mais modernos da Revolução, não pode admitir esta forma acentuada de fixismo, que é a permanência na dor, na hediondez e no mal, de criaturas que nunca, jamais, qualquer evolução tirará deste estado.

Este golpe desferido contra a crença no demônio não é por certo um golpe no demônio. Pois, príncipe das trevas e pai da mentira, ele tem todo o empenho em ocultar que existe, para a massa dos homens. Assim como a Igreja tem todo o empenho em ensinar que ele existe. Ensinando-o, a Igreja combate as trevas do inferno. Omitindo-o, o anglicanismo as favorece.

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Muito significativo do espírito revolucionário é que ao mesmo tempo saiu daquele catecismo a palavra "castidade". Explicou o arcebispo protestante de Bradford que os jovens de hoje "não conhecem bem o termo e poderia o mesmo representar uma fonte de mal-entendidos". Isto é, em vez de ensinar o sentido desta palavra, prefere-se ocultá-la.

Depois de renunciar à palavra, ficará mais fácil renunciar à própria coisa.

Para isto, deu um passo avantajado o bispo anglicano de Woolwich, ao tomar a defesa da novela imoral, "O amante de Lady Chatterley", diante de um júri escandalizado, que deveria decidir se essa obra continuaria proibida pela polícia. Em conseqüência das palavras do prelado de Woolwich, os jurados permitiram a difusão do livro e a editora lançou imediatamente no Reino Unido uma enorme edição da censurável novela.

Por aí se vê a que tendências profundas corresponde a abolição das palavras "diabo" e "castidade" no catecismo anglicano.

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Merece ser consignado com tristeza que o Presidente Kennedy, dando interpretação nova à constituição dos EUA, fez declarações contrárias à adjudicação de subvenções federais aos estabelecimentos de ensino mantidos por organizações religiosas, seja qual for o credo delas.

O primeiro Presidente católico dos EUA toma assim a iniciativa de reforçar o neutralismo religioso norte-americano, fazendo-o recuar da posição – em si mesmo já errada – de uma igual simpatia por todas as religiões, para uma posição ainda pior, ou seja, para a indiferença oficial em relação a todas elas.

Mais um passo que se dê neste caminho, e ter-se-á chegado à posição soviética de igual hostilidade para com toda e qualquer religião.

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Não cremos que o Presidente Kennedy seja comunista. Seria isto até um disparate. Mas, a obra-prima da Revolução consiste precisamente em fazer caminhar freqüentemente o mundo para as metas dela, por meio de homens que a ignoram, ou que pensam até combatê-la.

Compreende-se que, segundo noticiou o "New York Times", numa reunião de que participaram os cinco Cardeais e mais de dez Bispos norte-americanos se haja delineado um plano de campanha contra o fato de que, daqui por diante, só as escolas laicas receberão auxílio federal.

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Sobretudo, a decisão do Presidente faz pensar na declaração do sociólogo "yankee" P. Sorokin, feita há meses num congresso de sociologia realizado no México, de que, por etapas, vão desaparecendo as diferenças entre os EUA e a URSS ( cf. "O Estado de São Paulo" de 7-IX-60 ).

É a marcha gradual e pacífica, e geralmente tão despercebida, da Revolução.

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Tal é a força de desagregação que emana do doloroso fenômeno chamado "esquerdismo católico", que no próprio exército da França vem ele produzindo vivas preocupações.

Assim, [n]o número de janeiro da "Revue Militaire d’Information", publicada sob o patrocínio do Ministério da Guerra francês, apareceu um longo estudo do Sr. Brauchamp sobre a matéria. Nesse estudo, a cujo autor falta em alguns pontos o necessário enfronhamento no assunto ( ele confunde com manifestações do esquerdismo católico fatos que não merecem censura e decorrem de outras influências ), fica particularmente posta em evidência a lamentável cooperação que, com colorido católico, recebe na França e até no exército francês a demagogia comunista.

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O ex-ministro da Justiça, Sr. Adroaldo Mesquita da Costa, publicou no "Correio do Povo", de Porto Alegre, um lúcido comentário sobre o opúsculo "Il [?] moins cinq" de Suzanne Labin ( Editions Berger-Levrault, Paris ). Nesse artigo o Sr. Adroaldo Mesquita da Costa cita, no tocante à infiltração comunista nos ambientes religiosos, católicos, protestantes e outros, o seguinte tópico do livro : "Em França, cerca de 50% dos órgãos da imprensa católica, cujo hebdomadário de maior tiragem é o Témoignage Chrétien, tornaram-se veículos das teses filo-soviéticas ( ... ). Em 1955 um ex-membro do secretariado do Partido Comunista Francês, Albert Vassart, revelou que, em 193[?] Moscou deu ordem para que membros de confiança e bem selecionados das Juventudes Comunistas ingressassem nos seminários ( ... )".

Evidentemente, nos meios protestantes a resistência a tais infiltrações é menor. Assim, informa a Sra. Suzanne Labin, "nos EUA o primeiro grande manifesto em favor do reconhecimento do governo comunista de Pequim partiu da Associação das Igrejas Protestantes, que agrupa oito mil pastores e trinta milhões de fiéis". Esta Associação emprega "numerosos auxiliares que organizaram, para seus adeptos, diversas viagens a Moscou e a Pequim".

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O mesmo problema se refletiu recentemente na verdadeira tempestade que soprou nas fileiras democratas-cristãs italianas a propósito das chamadas "comunas difíceis". Tratava-se em suma de saber se, para prover ao andamento da administração em certos municípios em que a Democracia Cristã não alcançara maioria suficiente, seria lícito a esta aceitar o apoio de elementos do socialismo extremista denominado "nenniano". A questão tomava especial acuidade na hipótese de o PDC dever escolher entre o apoio dos partidários de Nenni, genuínos comunistas, dissidentes de Moscou ( em que medida será autêntica essa dissidência? ), e o da direita formada por monarquistas ou fascistas. Por cima do problema administrativo e local, aparecia uma questão que não se identificava inteiramente com ele, e que é a da "apertura a sinistra". Entre o comunismo e certos partidos que, bons ou maus, não são comunistas, o que escolher? O espantoso é que um forte setor da DC, nos debates que a esse propósito se travaram, manifestou a convicção de que seria melhor apoiar o comunismo.

"Espantoso", dizemo-lo com o maior desembaraço. O autor destas linhas, enfrentando críticas e oposições das mais desagradáveis, se afirmou no antigo semanário "Legionário", de São Paulo, como um dos mais categóricos batalhadores contra o nazismo e o fascismo nas fileiras católicas. Por isto, pode ele dizer, sem o mínimo receio de ser suspeito de fascista, que preferir nestes dias o comunismo ao fascismo é o mesmo que preferir uma tuberculose galopante a uma forte gripe.

Quanto à monarquia, se a Igreja, que condena com todas as veras o comunismo, não tem oposição a fazer à realeza, é difícil compreender como, com base em princípios católicos, possa alguém sentir-se mais à vontade ao lado dos marxistas do que ao lado dos monarquistas.

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A valorosa revista "Avanzar", de Madrid, órgão da Obra de Cooperação Paroquial de Cristo Rei, publicou há pouco uma nota sobre a perseguição religiosa que se vai desencadeando no Camerun.

Narra a revista que naquele novel Estado se generalizou um movimento de terrorismo à maneira dos mau-mau de Kenia.

Supunha-se a princípio que esse movimento visasse as autoridades coloniais francesas. Assim, esperava-se que com a proclamação da independência do Camerun, ocorrida a 1º de janeiro de 1960, os atos de violência cessassem em pouco tempo. Sucedeu precisamente o contrário. Com a retirada dos franceses, os bandos terroristas se desenvolveram, chegando a contar com vinte ou trinta mil membros, os quais dominam amplas regiões e várias cidades do país.

A hostilidade desses bandidos contra as missões católicas é terrível. Entrevê-se o momento em que os católicos do Camerun passarão a formar parte da Igreja do Silêncio.

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Nada disto foi publicado nem, muito menos, deplorado pelas agências noticiosas a serviço da Revolução. Pelo contrário, estas vítimas foram sepultadas com a mais completa ignorância da opinião mundial.

Em comparação, que pranto universal pela morte de Lumumba! Que participação na dor das três viúvas que ele deixou ( uma católica, outra protestante, outra pagã )! Dir-se-ia que todos os sentimentos de compaixão de que o coração humano é capaz seriam insuficientes para chorar a perda do demiurgo congolês. É bem assim a Revolução, que se blasona de imparcial e na realidade só tem entranhas de piedade para seus próprios filhos...

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Ao mesmo tempo, passou inteiramente despercebido da opinião mundial um artigo impressionante do Sr. Vero Roberti, publicado no conceituadíssimo diário "Corriere della Sera", de Milão, no dia 15 de fevereiro p.p.

Sem tomar como verdade de fé tudo quanto diz o jornalista, é preciso reconhecer que seu estudo apresenta qualidades de seriedade e objetividade que estariam a exigir pelo menos um largo inquérito para apurar suas asserções.

Sustenta, com efeito, o Sr. Roberti que, diante de qualquer tribunal, seria fácil aos dirigentes de Katanga provar a sujeição de Lumumba aos agentes diplomáticos tcheco-eslovacos e soviéticos que operam no Congo. O assassínio do líder negro não era pois do interesse do governo de Moisés Tshombe.

Sobre a personalidade de Lumumba, o artigo faz afirmações dignas de nota. Ele só falaria em público sob a ação de drogas estimulantes, o que explicaria a fulminante vitalidade que apresentava nessas ocasiões. Na realidade, teria uma personalidade débil, jugulada por seus "lugares-tenentes" Gizenka e Kashamura, agitadores formados em Praga e postos a serviço de Moscou. A carreira de Lumumba ter-se-ia iniciado com um desfalque de 126.000 francos congoleses, em julho de 1957, quando ele era empregado nos correios de Stanleyville.

Como é natural, não convém à Revolução abrir discussão sobre estes pontos, pois assim lhe ficaria muito difícil transformar, por meio de larga propaganda, esse seu agente em ídolo.

Com tudo isto consegue ela restringir singularmente o campo de visão da opinião pública a respeito dos problemas africanos. Dir-se-ia que estes se reduzem à luta contra o colonialismo. Porém é fácil perceber que o anticolonialismo traz consigo, por via de conexões fortuitas mas vigorosas, muitas outras questões, como a da permeabilidade das antigas colônias à influência comunista, e a ressurreição de um paganismo agressivo e exacerbado, num continente onde a ação missionária da Igreja começa apenas a deitar raízes.

Seja dito isto em função do problema da emancipação dos territórios ultramarinos de Portugal. É muito fácil desempenhar um papel simpático aos olhos da multidão, pleiteando a independência para essas regiões. Todavia, a questão não pode ser tratada como se não existisse o risco grave de que toda a África portuguesa, entregue a si mesma, venha a ser objeto da mesma fermentação que constitui a desgraça do Congo e do Camerun...

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Há tempo, vozes das mais autorizadas se têm feito ouvir relativamente ao perigo da infiltração comunista na América Latina. Entre outras merece ser lembrada a do Emmo. Cardeal Caggiano, Arcebispo de Buenos Aires, que afirmou em fins do ano passado que "até em colégios religiosos" se fazia sentir esse perigo. De um quadrante bem diverso, mas que cabe mencionar nesta matéria porque habitualmente bem informado do que ocorre em todo o mundo, veio também, em setembro do ano findo, um brado de alarme. Segundo revelou o "Boletim", publicação oficial do governo de Bonn, a reunião de diplomatas alemães acreditados junto aos países ibero-americanos, que se realizou no Rio, em setembro, sob a presidência do respectivo ministro do Exterior, Sr. Von Brentano, teve por tema principal "o perigo da infiltração comunista na América Latina". Comentou aquela autorizada publicação que "o centro de gravidade da infiltração do bloco oriental se acha situado, nestes últimos anos, no Oriente Médio. Depois passou também para a África, mas, ao mesmo tempo, o Cremlin havia decidido colocar a América Latina em uma terceira posição".

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Seis meses depois, a procedência dessas apreensões se revela com clareza solar... Assim, em um país irmão de indiscutível influência na América luso-espanhola, a Colômbia, o senador Livardo Ospina denunciou que através do rio Atrato, perto da fronteira do Panamá, e por meio de aeroportos clandestinos, têm saído do país agitadores comunistas que se adestram em cuba, na China Popular e na URSS, para depois voltar "a fim de cumprir suas instruções". O mesmo senador apontou infiltrações no exército e no serviço secreto colombianos. Disse ele que na região de Sumpaz têm sido encontrados armamentos surpreendentes, como fuzis, metralhadoras e até pequenos canhões.

Em sentido análogo, dirigentes de associações econômicas e representantes de sindicatos operários denunciaram ao Presidente Lleras Camargo a generalização de um ambiente de desassossego no país e uma onda de crimes no campo, "que obedecem a planos sinistros, calculados, executados fielmente e destinados ( ... ) a semear o terror e a anarquia".

Com vista a nós, brasileiros: será só na Colômbia que os agitadores marxistas pretendem entrar?

Consideramos com simpatia a iniciativa dos comerciantes de Goiânia que, para manifestar sua repulsa aos métodos de Kruchev, especialmente seu famoso gesto de tirar o sapato na ONU, lhe estão enviando sapatos só para o pé... esquerdo!

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A Revolução declama tanto contra o luxo. Não porém quando ele é usado em sentido revolucionário. Assim, não parece terem suscitado a merecida estranheza os gastos excepcionais realizados com o principal baile carnavalesco do Teatro Municipal do Rio. A revista "O Cruzeiro" dá informações acerca do assunto. Uma das fantasias foi segurada em 5 milhões de cruzeiros. O primeiro prêmio de originalidade feminina foi atribuído a uma vestimenta com quarenta quilos de plumas e pedrarias, que custou 700 mil cruzeiros. O segundo prêmio coube a uma fantasia com uma capa de nylon e duzentas plumas, cujo preço foi de 200 mil cruzeiros. Outra custou 700 mil cruzeiros e levou dez metros de veludo. A fantasia do segundo prêmio de luxo feminino custou 900 mil cruzeiros. Conforme noticiaram os jornais, a frisa presidencial não tendo sido ocupada, foi vendida por 500 mil cruzeiros. A nosso ver, constitui isso luxo no pior sentido da palavra. Mas contra isso ninguém fala...

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Nosso Brasil têm coisas notáveis. No "Diário da Justiça" de São Paulo, edição de 21 de fevereiro p.p., lemos que o Dr. Antonio Carlos Alves Braga, Juiz de Direito de Campinas, "considerando ter chegado ao seu conhecimento que tabeliães da comarca vêm lavrando em suas notas os chamados casamentos por contrato, que sob a forma de sociedades universais, quer sob a forma de comunhão e locação de serviços, em que um homem e uma mulher ( ... ) se obrigam a viver juntos e em comum", tomou enérgicas medidas para coibir o abuso.

Felicitamos o magistrado pela sua decisão.

Atos ilegais como este, se não são punidos, vão habituando o País a não tomar na menor conta o casamento, e portanto também não a família. Mais um modo de deslizar lentamente para o comunismo...

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Ao cabo da leitura destas notas, dirá eventualmente alguém que quase só tratamos de problemas graves e que preocupam muito. "Catolicismo" não pretende ser uma revista de amenidades. Ao selecionarmos nossos assuntos, lembramo-nos sempre de uma afirmação de Pio XI. Dizia o pranteado Pontífice que não gostava de pessoas que ocupam seu tempo falando do que vai bem. Pelo contrário, entendia que os homens sérios só tratam do que vai mal. Quanto ao que vai bem, não há que cogitar, pois que anda por si.

Esse pensamento não se referia ao jornalismo. Porém ele se aplica em alguma medida, máxime em época conturbada, também às folhas católicas.