Catolicismo Nº 120 - Dezembro de 1960
Embora este artigo não seja diretamente da lavra do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, foi escrito sob sua inspiração e como se relaciona com a verdadeira epopéia que foi - e ainda é - a luta contra a Reforma Agrária confiscatória e socialista, optamos por transcrevê-lo, para dar ao visitante um quadro cronologicamente completo do desenvolvimento dessa luta ideológica.
Revolução e Contra Revolução em 30 dias
"Reforma Agrária-Questão de Consciência"
Plinio Vidigal Xavier da Silveira
O título desta seção pede que se trate da Revolução, antes de falar da Contra-Revolução. E é natural. Pois antes de se cogitar da reação cumpre estudar a ação.
Em virtude da magnitude e da atualidade do assunto, entretanto, começaremos hoje por falar da Contra-Revolução. O aspecto desta que iremos abordar é a acolhida que teve, da parte do público brasileiro, o lançamento do livro "Reforma Agrária – Questão de Consciência". O criador da seção, Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, estando sobrecarregado de ocupações em virtude da publicação dessa obra, encarregou destas notas outro colaborador desta folha.
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Pode-se afirmar que, antes mesmo de ser posto à venda, "Reforma Agrária – Questão de Consciência" já constitui um autêntico e indiscutível sucesso.
Com efeito, apenas teve início em torno dele uma campanha de folhetos, circulares e pequenos anúncios na imprensa, o "Palácio do Livro" ( Distribuidora Paulista de Jornais, Revistas e Livros Ltda. – D.P.J.R. ), de São Paulo, incumbido de sua distribuição, começou a receber dos mais diversos pontos do território nacional pedidos de livrarias e particulares. Ao mesmo tempo, dele começaram a se ocupar pela imprensa adversários e propugnadores da "Reforma Agrária". "O Estado de São Paulo", "A Gazeta", em São Paulo, o "Jornal do Comércio" e o "Correio da Manhã", do Rio, o "Diário da Noite" de Recife, o "Correio do Ceará" de Fortaleza, o "Santos-Jornal" de Santos, "A Tarde" de Juiz de Fora, "O Monitor Campista", de Campos, publicaram sobre o assunto importantes artigos ou entrevistas.
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Na Câmara Federal, o Deputado Carvalho Sobrinho, inteirado do conteúdo do livro, pronunciou sobre o mesmo um discurso que teve naquela Casa larga repercussão. E a Comissão de Economia da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo convidou os eminentes autores de "Reforma Agrária – Questão de Consciência" a comparecerem perante ela a fim de [se] manifestarem sobre o projeto de Revisão Agrária do governo Carvalho Pinto.
Na hora em que redigimos estas notas, esse pronunciamento está sendo aguardado com o mais vivo interesse.
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Funcionando em São Paulo a Editora Vera Cruz, a empresa distribuidora "Palácio do Livro" e a tipografia "Revista dos Tribunais", foi essa a cidade em que primeiramente o livro foi lançado, no dia 10 do mês próximo passado.
Todas as livrarias o expuseram simultaneamente, tendo a procura excedido à expectativa. Desde as primeiras horas, pessoas ligadas aos círculos intelectuais, Sacerdotes, políticos, agricultores o procuravam com interesse.
É difícil prever, na data em que escrevemos, que reação se fará à obra, que é sem dúvida o golpe mais forte que o agro-reformismo socialista e anticristão recebeu no País.
Em muitos ambientes se comenta que "Reforma Agrária – Questão de Consciência" poderá eventualmente atalhar no Brasil a marcha do triste processo que levou Cuba ao marxismo.
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Mons. Eduardo Boza Masvidal
Continua a cobrir-se de glória o Episcopado cubano, em sua luta contra o comunismo. E sobretudo avulta nesta matéria a figura do Exmo. Revmo. Mons. Eduardo Boza Masvidal, Bispo Auxiliar de Havana.
É da autoria do ilustre Prelado uma primorosa e desassombrada declaração, publicada na revista católica local "La Quincena", em que enumera seis razões pelas quais a "a revolução social que se está verificando em Cuba não é cristã". As seis razões foram assim resumidas pelas agências telegráficas: 1) A revolução não partiu do conceito-espiritualista, e começou riscando o nome de Deus da Constituição; 2) Fundamenta-se no ódio e na luta de classes, e não no amor do próximo; 3) Não reconhece a dignidade da pessoa humana, que autoriza o homem a pensar, escrever, falar e ter iniciativas, sem outras limitações que o direito alheio e a lei moral; 4) Não respeita o direito natural à propriedade, direito indispensável para o exercício da liberdade individual; 5) Atenta contra o respeito, boa fama e bom nome do próximo, com seu "sistema de desprestigiar o inimigo" para denegrir com isso sua reputação e fazer cair sobre ele insultos e infâmias, procedimento tipicamente comunista e totalmente contrário aos ensinamentos do Evangelho; 6) Ataca sistematicamente os Estados Unidos e as nações ocidentais e mantém uma "amizade muito íntima para ser casual, com a URSS e os países socialistas".
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Como é fácil observar, apresenta esse documento, em síntese, os princípios que em "Reforma Agrária – Questão de Consciência" tiveram um amplo e brilhante desenvolvimento. A identidade de pensamento entre os autores desta obra e o eminente Prelado cubano não pode deixar de confortar quantos, em nosso Brasil, lutam contra a socialização e, implicitamente, a descristianização do campo.
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No mesmo sentido, releva notar uma esplêndida Pastoral em que o Venerando Episcopado colombiano, inspirado em idênticos pensamentos, e manifestando-se cioso de uma urgente melhora das condições de vida do trabalhador rural, se ergue com uma impressionante firmeza de doutrina contra toda solução de espírito socialista ou socializante, que infrinja o sagrado princípio da propriedade, uma das bases da moral católica.
Tendo esse documento sido publicado na revista "CELAM", órgão da Conferência dos Bispos Latino-Americanos, adquire ele por isto mesmo merecida repercussão em toda a América Latina.
"Catolicismo" se propõe publicar oportunamente extratos ou, quiçá, o texto completo da importante Pastoral.
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Enquanto assim se fazem ouvir em vários países vozes de protesto contra as ignomínias do governo de Fidel Castro, este último continua a descer em suas vias de abominação;
À socialização do campo ( "Reforma Agrária" ) sucedeu a da indústria e comércio ( "Reforma Industrial e Comercial" ), e posteriormente o confisco da propriedade imobiliária urbana ( "Reforma Urbana" ). Faltava mais um passo, e esse está para ser dado: a "Reforma Educacional". Um recente projeto de lei determina o virtual fechamento das escolas mantidas por Ordens e Congregações religiosas, e estatui que doravante os pais ficarão privados do direito de escolher as escolas para seus filhos, atribuição esta que passará a ser exercida pelo Ministério da Educação.
Depois do desmoronamento da propriedade, vem o da influência da família e da Igreja na educação.
O que mais falta?
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Merecem a maior atenção dos nossos Poderes Públicos e de toda a opinião brasileira as declarações do presidente da república uruguaia, relativas à penetração do comunismo em seu país.
Segundo afirmou o primeiro magistrado da nação irmã, a representação diplomática soviética em Montevidéu, abusando de suas imunidades, introduz imensa quantidade de material de propaganda no Uruguai, e se serve daquele país como funil para disseminar grande parte do referido material pela América Latina.
É evidente que todo este esforço tem por objetivo preparar o terreno para que a Revolução cubana se alastre por todo o continente ibero-americano.
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E a este propósito cumpre perguntar se nossas autoridades policiais estão devidamente alertadas, no Rio de Janeiro, para a atividade das várias legações comunistas ali sediadas, entra as quais não haveria que omitir a Iugoslava.
É um ponto sobre o qual milhões de brasileiros gostariam de se sentir tranqüilizados.
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Com efeito, só um ingênuo pode crer na autonomia das nações satélites da URSS em relação ao Kremlin. Como só um ingênuo rematado pode se convencer de que as pendências entre Belgrado e Moscou são sinceras.
Nestes termos, como não recear que os diplomatas das repúblicas comunistas no Rio de Janeiro prestem serviços análogos aos prestados por seus colegas acreditados no Uruguai?
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Tem-se dito com certa freqüência, entre nós, que, para converter as massas, é preciso começar por lhes resolver os problemas materiais. Essa opinião faz da questão social essencialmente o que os alemães chamam uma "magenfrage", uma questão de estômago.
Ora, na realidade o que os Papas não se têm cansado de encarecer é que a questão social é essencialmente moral e, portanto, essencialmente religiosa.
Não há dúvida de que, por um grave dever de justiça e de caridade, cumpre fazer tudo para auxiliar os que padecem necessidade. Não há dúvida, ainda, de que a fiel observância desse dever é de alguma utilidade para distender as relações entre as classes, e contribui, pois, em alguma medida, para resolver a questão social mesmo em seus aspectos morais. Mas erraria rotundamente quem esperasse única ou principalmente da solução dos problemas materiais a solução da questão social.
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Disto deram um exemplo flagrante as últimas eleições italianas.
Pela malícia dos tempos e dos homens, pela pressão do surto revolucionário universal, os comunistas progrediram em certos lugares,e os demo-cristãos regrediram.
A este propósito, uma agência telegráfica internacional, perplexa e desolada, fez este comentário: "O lado negativo para o PDC nas eleições não é representado tanto pelas centenas de milhares de votos perdidos ou não, quanto pelo fato de o Partido comunista ter ganho votos em toda a Itália, na proporção global de cerca de um por cento do eleitorado. Em virtude disso, a Democracia Cristã continua perante o problema de como combater o comunismo. Os comunistas ganharam apesar de o desemprego estar em declínio, apesar de o país atravessar um período de alto nível de produção, e não obstante a aprovação, por iniciativa do governo democrata-cristão, de importantes leis sindicais que tornam válidos como se fossem uma lei do Estado os contratos de trabalho celebrados entre os empregadores e os sindicatos operários. Nem mesmo o lançamento de colossais obras públicas conseguiu impedir os comunistas de continuarem a alargar, de ano em ano, sua base. Pelo contrário, os seus êxitos foram desta vez particularmente sensíveis nas regiões de mais alto nível de vida, e eles ganharam, naturalmente, também no Sul, com exceção, contudo, da Sicília e dos Abruzzi-Molise, únicas regiões onde perderam terreno".
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Para a agência noticiosa, é possível que o problema seja insolúvel. Não porém para os verdadeiros cristãos, "demo" ou não.
Pois eles sabem que as armas de supremo alcance para combater o comunismo não são materiais, mas espirituais e sobrenaturais.
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Deixamos o melhor para o fim.
Nossos leitores terão ouvido muitos boatos concernentes a uma circular que o Exmo. Revmo. Sr. D. João Pereira Venâncio, Bispo de Leiria – a Diocese de Fátima – enviou a seus venerandos Irmãos do Episcopado do mundo inteiro.
A este propósito, o Exmo. Revmo. Sr. Bispo D. Antonio de Castro Mayer autorizou "Catolicismo" a publicar o texto integral do importante documento, diretamente transcrito do exemplar recebido por S. Excia. Revma.
São palavras de fé, de uma importância transcendental, que ecoarão por certo profundamente no coração de nossos leitores.
Reproduzimo-las abaixo.
UM APELO VINDO DE FÁTIMA
"Fátima, 17 de maio de 1960
Aniversário da consagração de Portugal aos Corações Santíssimos de Jesus e Maria.
Excelência Reverendíssima
Não é sem grande receio e dificuldade que o mais humilde dos irmãos no Episcopado se vem dirigir a Vossa Excelência Reverendíssima.
Bispo da pequena Diocese de Leiria, em Portugal, tenho à minha guarda o Santuário de Nossa Senhora da Fátima e é no desempenho deste encargo, bem pesado para mim, que ouso abrir o meu coração a Vossa Excelência Reverendíssima, na esperança de alcançar precioso auxílio.
A inquietação do mundo inteiro perante a fragilidade da paz que usufruímos e, muito mais ainda, a angústia que a todos confrange pela ameaça permanente do comunismo cada vez mais espalhado, explica suficientemente os numerosos apelos que recebo de toda a parte, para intensificar o movimento de oração e penitência que nasceu na Cova da Iria para alcançar de Deus as graças para uma vida cristã mais consciente, a conversão da Rússia e o dom da paz.
Debaixo ainda da profunda comoção produzida pelo espetáculo da imensa multidão penitente, que se reuniu na Fátima no dia 13 de maio corrente, e mais consciente que nunca das responsabilidades que Sua Eminência o Cardeal Lercaro lembrava na eloqüente homilia daquele dia a todos os peregrinos, perante a mensagem tão clara de há 43 anos, tomei a resolução de pedir aos meus diocesanos e outros peregrinos que vierem a Fátima, nos dias 12 e 13 de outubro próximo, um esforço particular de oração e penitência, para a total conversão a Deus.
É minha intenção pedir a todos os peregrinos, que o possam realmente fazer, que percorram a pé, em espírito de penitência, a última parte do trajeto, recitando o Terço do Rosário; e passem a noite de 12 para 13 em adoração contínua diante do Santíssimo Sacramento solenemente exposto, em reparação de tantos pecados que afligem o Coração Sacratíssimo de Jesus e o de sua Mãe Imaculada.
Mas como poderão estes peregrinos, por mais numerosos que venham a ser – e facilmente poderão atingir o milhão – vergados eles também ao peso das suas próprias misérias espirituais, contrabalançar o mal que avança, dir-se-ia, triunfante no mundo, e a indiferença entorpecedora de tantos cristãos, que teimam em dormir descuidados à beira do abismo e não recorrem ao Senhor nem à Mãe Santíssima?
Foi por isso que me veio o pensamento de solicitar a ajuda de meus Venerandos Irmãos no Episcopado e de me dirigir, neste sentido, a Vossa Excelência Reverendíssima.
Julgará Vossa Excelência Reverendíssima oportuno transmitir aos fiéis confiados ao seu zelo pastoral o meu pedido e humilde sugestão, propondo-lhes exercícios de oração e penitência semelhantes aos que tencionamos levar a efeito e os realizem, possivelmente em Santuários Diocesanos ou Nacionais, em união com todos os peregrinos da Fátima? Celebrar-se-ia assim, nos dias 12 e 13 de outubro próximo, verdadeira jornada mundial de oração e penitência pelo triunfo da Causa de Deus.
Neste lugar bendito, como o recordava o Eminentíssimo Cardeal Lercaro, a Virgem Santíssima, como que a coroar a história secular da sua bondade maternal, veio pedir se consagrasse a seu Coração Imaculado o mundo, malgrado a sua inveterada malícia, e particularmente a Rússia, que teima em espalhar, por toda a parte, erros funestos, e aflige, com perseguições atrozes, a Igreja Santa de Deus.
É lícito esperar que, unindo-nos todos – Bispos, Sacerdotes e fiéis do mundo inteiro, num só coração e com redobrado fervor, às consagrações já realizadas pelo Soberano Pontífice, nos seja dado contribuir para afastar de vez os obstáculos que impediram atos tão solenes de obter a paz e alcançar plena eficácia na conversão da Rússia, tão querida da Mãe de Deus.
Ficar-lhe-ia muito reconhecido se Vossa Excelência Reverendíssima, caso não visse nisso qualquer inconveniente, encarregasse alguém de me mandar, para comum edificação, um pequeno relatório do que, neste sentido, se fizesse na sua Diocese.
Digne-se vossa Excelência Reverendíssima perdoar a simplicidade e lhaneza com que deixei o coração ditar estas palavras, e queira aceitar a expressão do meu profundo respeito e inteira união nos Corações de Jesus e Maria.
De Vossa Excelência Reverendíssima servo humilde e mto. ded.º
+ João, Bispo de Leiria"