Há muito
que desejamos tratar em "Catolicismo" um tema para o qual esperávamos
ocasião. Este tema é Portugal. A visita do Presidente Café Filho à nossa
antiga metrópole teria dado oportunidade a tal. Mas pareceu-nos mais
interessante aguardar que o Chefe de Estado luso viesse por sua vez ao
Brasil, para que nosso artigo tivesse como fundo de quadro, não só a
manifestação dos sentimentos de Portugal para conosco, como também os do
Brasil para com Portugal. Com efeito, desejaríamos abordar o assunto
Portugal sob um ângulo que não fosse nem exclusivamente histórico, nem
meramente afetivo ou cultural. Nosso tema seria outro. De que alcance
prático são para o presente e o futuro os vínculos e laços que unem as
duas pátrias? Ora, para responder a esta pergunta, seria preciso que os
sentimentos de ambos os povos se manifestassem, a fim de se ver em que
medida seria viva neles a consciência de suas afinidades
Apagaram-se os últimos fogos das festas com que o Brasil acolheu o General
Craveiro Lopes. Temos prazer em registrar que o Itamarati, fiel às suas
melhores tradições, conduziu com distinção e dignidade todo o curso da
visita presidencial. E que a acolhida dos brasileiros correspondeu às
melhores expectativas. Está patente que de um e outro lado do oceano a
comunidade de língua luso-brasileira tem consciência de todos os liames
que a conservam coesa, e os preza no mais alto grau. Mas... e daí? É a
esta pergunta que, à maneira de epílogo de tantas festas, gostaríamos de
responder.
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Políptico de
Nuno Gonçalves: Afonso V aos pés de São Vicente. O quadro traduz o
espírito de fé dos portugueses, e a expressão dos personagens,
grave, varonil, com um ligeiro fundo de serena e superior
melancolia, deixa ver a alma piedosa e heróica do povo luso. |
A Igreja
Católica constitui um imenso firmamento espiritual, todo um riquíssimo e
diferenciadíssimo universo de almas, em que as variedades mais profundas
se combinam harmoniosamente para compor uma unidade possante e majestosa.
Quem
quisesse ver a Igreja compendiada ou espelhada cabalmente no coração de
qualquer de seus Santos, Doutores ou Pontífices, erraria. Ela não se deixa
conter em nenhuma das múltiplas manifestações de sua fecundidade
sobrenatural. Seu espírito não está só no recolhimento dos anacoretas, na
sabedoria dos Doutores, na paciência dos mártires, na pureza das virgens,
na intrepidez dos cruzados, no ardor dos missionários, ou na suavidade dos
que se dedicam aos enfermos. Ele é tudo isto ao mesmo tempo. É só com
estas e outras justaposições que se pode ter noção da admirável perfeição
da Religião Católica.
Tempo
houve em que, a par da sociedade espiritual que é a Igreja de Deus, havia
uma sociedade temporal de Príncipes e povos cristãos - conseqüência
política lógica e admirável da realidade sobrenatural que é o Corpo
Místico de Cristo - à qual se chamou Cristandade.
Dessa
vasta e gloriosa família de nações marcadas na fronte pela Cruz do
Salvador, também não se pode ter uma visão completa considerando apenas um
dos povos que a integraram. Das margens risonhas do Tejo até os últimos
confins da grande planície polonesa, da bela Nápoles inundada de luz até
as províncias setentrionais da gélida Escandinávia ou da nobre e brumosa
Escócia, se estendiam nações profundamente diversas entre si, ufanas
dessas diversidades, mas ao mesmo tempo fortemente imbuídas da superior
unidade com que todas se encontravam em Jesus Cristo. Uma unidade que
era acima de tudo religiosa e mística, e decorria do convívio de todas
elas no grêmio da Igreja. Mas uma unidade, também, cultural e
psicológica, uma unidade humana - no sentido de uma humanidade batizada -
que fazia com que a Europa não fosse inteiramente o que era, se lhe
faltasse qualquer dos elementos que a integravam: o francês, cintilante de
graça e de coragem, lúcido, gentil e vivo; o alemão, de corpo hercúleo e
alma nobre, possante no pensar e no agir, terrível na guerra e cândido e
afetivo no convívio da paz; o inglês, síntese original, atraente e algum
tanto enigmática das qualidades do povo francês e do alemão, predestinado
a povoar de Santos o Céu e estender sua glória pelos rincões mais
longínquos da terra; o italiano, cujo gênio como que excessivamente
fecundo se multiplicava em incontáveis variantes que faziam de cada
pequeno Estado um sol de inteligência e cultura com características
próprias; a gente ibérica, cavalheiresca e supremamente grandiosa,
borbulhante de fé, calcando constantemente aos pés as riquezas da terra,
com os olhos postos apenas no heroísmo, na morte e no reino de glória com
Cristo. Enfim, poderíamos multiplicar os exemplos. Mas estes bastam
para que se compreenda que a Cristandade, semelhante em tudo à Igreja, sua
Mãe, tinha uma glória que lhe vinha toda "ab intus" ( Sl. 44, 14 ),
isto é, do espírito nacional dos povos que a compunham, esplendidamente
iluminado pela fé. E que ela se adornava com uma cultura e uma civilização
que eram como um magnífico "manto de cores variegadas" ( Sl. 44, 10
).
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Mencionamos juntos Portugal e Espanha, nessa enumeração. Foi de propósito.
Não se deve falar destas duas nações nos mesmos termos com que se fala de
Alemanha e da França, por exemplo. Mas antes como se falaria da Alemanha e
da Áustria, ou da Suécia e da Noruega. Os traços fundamentais de ambas são
comuns. Diferenciam-nas pormenores numerosos, interessantes, fecundos, mas
enfim pormenores.
Quais
estes traços comuns? Vemo-los principalmente no idealismo. Ambos os povos
mostraram ao mundo assombrado - quer nas guerras contra o mouro, quer na
expansão marítima, quer na colonização de três continentes, quer ainda no
florescimento literário e artístico de seus séculos de apogeu - que sabem
e podem vencer com extraordinário brilho nas lutas e nas fainas da vida
terrena. Para isto lhes sobra força, denodo, inteligência e realismo.
Insistimos no realismo, porque esta foi uma qualidade que com freqüência
se lhes quis negar. Sustentar contra os mouros uma guerra vitoriosa de
oito séculos, não é coisa que se consiga quando se tem a alma sonhadora e
pusilânime de um idealista oco. Pois o tempo, as adversidades, o cansaço
desgastam todos os sonhos. As guerras não se ganham olhando para as
nuvens, nem combatendo apenas em campo raso, mas também fazendo emboscadas
e descobrindo as do adversário, e mantendo no tabuleiro incerto da
política uma ação contínua, muitas vezes tão importante quanto a do
momento da batalha. Ora, tudo isto supõe um raro senso da realidade. O
mesmo se poderia dizer da epopéia das navegações, das lutas ásperas e
terríveis da colonização, e das dificuldades extenuantes, e tantas vezes
prosaicas, inseparáveis de toda produção intelectual. Mas a despeito de
tudo isto, a gente ibérica tem um indisfarçável desprezo pelo que é
terreno. Ou, em termos mais exatos, tem um senso admirável da
autenticidade e da preeminência de tudo quanto é extraterreno, espiritual,
imortal.
Disto, dá
uma prova excelente a atitude de portugueses e espanhóis ante as riquezas
que lhes passaram pelas mãos nos tempos de prosperidade. Com elas
construíram vivendas esplêndidas, palácios suntuosos, mas sobretudo
igrejas e conventos. Com elas desenvolveram admiravelmente a arte, e tudo
quanto diz respeito ao decoro e à nobreza da vida. Mas ornaram mais
magnificamente as imagens dos seus Santos do que a si próprios. Ao
contrário do que tantas vezes tem acontecido a outras nações na história,
a quem as riquezas amolecem e as glórias tornam fátuas, Portugal e Espanha
não conheceram os excessos degradantes a que se entregam tão facilmente os
ricos e os poderosos. E por isto, quando a glória do poder político e as
larguezas os abandonaram, a atitude profunda desses povos em face do
acontecimento, se teve um tanto de indolência, também exprimiu bem claro a
convicção de que não foi para estas coisas que Deus fez o homem, nem
consiste nelas a dignidade e a alegria da vida.
Falamos de
indolência. Tocamos assim num ponto delicado. É a questão dos séculos de
decadência. Em que medida essa decadência reflete um declínio na têmpera
dos homens, de sua piedade, de seus costumes? Em que medida exprime, de
outro lado, a extenuação de povos que se tinham excedido a si próprios na
realização de obras que assombraram o universo, e depois recompunham suas
forças num suave letargo, à espera de outras oportunidades para outros
feitos? Em que medida, por fim, essa decadência foi das equipes
dirigentes, e em que medida foi dos povos? Seria preciso todo um artigo
para expor nossas impressões sobre o assunto. E, para começar, haveria a
distinguir entre decadência e decadência, pois poucos vocábulos são mais
traiçoeiros e cheios de conformes do que este. Muito resumidamente,
podemos dizer que a passagem da monarquia orgânica medieval para o
absolutismo foi, a nosso ver, um fenômeno de decadência do suco vital de
todos os povos europeus, fenômeno este provocado em última análise por
causas religiosas e morais profundíssimas. A França e a Inglaterra tiveram
nesse período, como também a Prússia, equipes dirigentes de grande valor.
De onde os Estados continuaram a se desenvolver. Espanha e Portugal, como
também de algum modo a Áustria, não tiveram essas equipes, e o Estado
nesses países começou a fenecer. Assim, em fins do século XVIII a
desproporção entre as duas monarquias ibéricas e a Inglaterra e a Prússia
já é flagrante. Entretanto, tratava-se de uma decadência de povos? Se
decadência havia, era menor do que a de quase todo o resto da Europa. Pois
não se pode dizer que está em decadência quem recebe Napoleão como ele foi
recebido na Península apesar da pavorosa defecção de tantos elementos
dirigentes.
Assim, no
complexo de fatos espirituais, morais, sociais, políticos e econômicos que
caracterizam os séculos ditos de decadência, se discerne um real declínio.
Este declínio se exprime por sintomas excessivos em sua aparência, que
facilmente nos levariam a subestimar as forças latentes, admiravelmente
vivas, que ficaram dormindo nos corações ibéricos, despertadas apenas de
quando em quando por algum sobressalto magnífico, e reservadas pela
Providência para alguma nova missão histórica a cumprir.
Em linhas
muito rápidas, chegamos quase até nossos dias. Esse traço de elevação de
espírito, de justa estima do que é realmente superior, e de rejeição de
toda concepção exclusiva ou prevalentemente utilitária da vida, Portugal e
Espanha o transmitiram às nações que plasmaram na América. Também nós
progredimos, também nós organizamos decorosamente nossa existência. Mas
como não pusemos nas riquezas todo o nosso coração, nosso progresso foi
menos rápido do que o de outros povos e nada teve de inebriante,
sensacional, vertiginoso. Somos decadentes? Ninguém o afirma. Somos
atrasados? Todos o dizem. Mas este atraso - daqui a pouco o mostraremos -
é para nós uma bênção, e nos abre de par em par as portas do futuro.
* * *
Essa justa
hierarquia de valores, pela qual o espiritual se antepõe ao material, o
eterno ao passageiro, o absoluto ao relativo, o celeste ao terrestre,
conduz antes de tudo ao heroísmo. Em seguida, a um feitio de espírito em
que a teologia é mais do que a filosofia, e esta por sua vez dirige todas
as ciências. Este feitio mental gera um feitio de vida em que se procura
mais a nobreza do que o luxo, os prazeres sóbrios do comércio dos
espíritos e da vida de família, do que os regalos de um conforto
escancaradamente físico. No modo de ver as vicissitudes da vida, há uma
atração para considerar de frente a dor, a luta, a própria morte, como
valores dos mais grandiosos que Deus nos tenha dado para fazer frutificar
neste vale de lágrimas para a eternidade. Daí uma naturalidade ante o
perigo, uma força na adversidade, uma serenidade no sofrimento, que
desnorteia outros povos. Há por exemplo certo otimismo nórdico falso, que
procura fechar os olhos à dor e à morte, fazendo silêncio sobre elas, e
chega a pintar os cadáveres como se estivessem vivos, para dar até a
sepultura a idéia de que a morte não veio... De uma tal trivialidade está
longe, bem longe, qualquer coração ibérico ou ibero-americano.
Aí está a
razão secreta da fundamental nobreza de alma e do heroísmo profundo da
gente ibérica de aquém e além-Oceano. Mas que tonalidades especiais tomam
esses predicados, em solo português?
* * *
A história
espanhola se afigura um desses rios que correm cristalinos e borbulhantes,
num leito acidentado, onde as águas se jogam por despenhadeiros e abismos
trágicos, brilhando à luz do sol com toda a alvura das grandes cataratas.
Pelo contrário, a história lusa parece um curso de águas profundo,
impetuoso, mas sempre sereno, que vai em linha reta diante de si mesmo,
destruindo os obstáculos, com uma força invencível, mas conservando uma
placidez, uma doçura, uma nobre simplicidade, até mesmo quando em sua
superfície se espelham os mais belos aspectos do céu e da terra. O
espanhol está sempre heroicamente mobilizado para a luta. O português não
dá esta impressão. Ele é risonho, singelo, meigo. O espanhol está sempre
pronto para enfrentar a tragédia. Dir-se-ia que os lados sublimes da
existência não impressionam o português, todo afeito à consideração das
doçuras de sua vida de família, na suavidade de seus campos, no encanto de
suas vilas, na formosura de suas cidades. Mas se um grande ideal solicita
a dedicação da alma portuguesa, se uma grave ofensa lhe faz ferver o senso
da dignidade, o luso se levanta como um herói. E luta com toda a rijeza
indomável da fibra ibérica, enfrenta o perigo, calca aos pés o risco, e
aceita a morte com uma sobranceria que a ninguém foi dado exceder.
Este
habitual estado de alma do português, afetivo, sereno, despretensioso, se
colore de uma ligeira tinta de melancolia. Uma melancolia muito suave, que
tem todas as luzes da resignação cristã, mas uma melancolia que é a nosso
ver, o cunho próprio de Portugal. É a melancolia que lhe vem de saber que
na terra a alegria perfeita é impossível e estamos nas agruras do exílio.
A melancolia de que lhe nasce a poesia, a compaixão e a bondade. A
melancolia que dele faz algo de incomensuravelmente superior ao "play-boy"
contemporâneo.
Melancolia
lusa, doçura lusa, encanto luso... tanto faria dizer-se melancolia
brasileira, doçura brasileira, encanto brasileiro. Pois são precisamente
estes traços, herdados de nossos maiores portugueses, que constituem, com
variantes importantes em nosso solo pátrio, os elementos típicos da alma
brasileira.
* * *
Não é este
o momento de falarmos do brasileiro, nem de o descrevermos com pormenores.
Neste país, sobre o qual se despejaram, muitas vezes sem discernimento nem
critério, as riquezas étnicas e culturais de correntes imigratórias
provenientes do mundo inteiro, é entretanto preciso lembrar alto e bom som
que a nota dominante, largamente dominante, foi, é e terá de ser sempre a
tradição lusa.
Mais do
que ninguém "Catolicismo" tem acentuado o papel da França na vida
de alma das nações cristãs. Mais do que ninguém, temos elogiado nestas
colunas as grandezas de outros povos. Não somos exclusivistas, e
compreendemos bem que temos de conservar o espírito aberto para todas as
boas influências culturais. Por isto mesmo, achamos que a contribuição
do italiano, do espanhol, do alemão, do africano ou do asiático é
susceptível de ser assimilada com vantagem na vida cultural brasileira.
Mas essa assimilação tem de ser feita em base de lusitanidade. Pois um
Brasil que renunciasse ao que tem de herança lusa deixaria de ser Brasil.
* * *
Depois
deste longo itinerário de pensamentos e de evocações históricas, chegamos
aos tempos atuais. Abram-se as páginas dos jornais. Pouco se fala nelas do
mundo ibero-americano. O centro da cena é ocupado por outros povos. Mas o
que fazem? Preparam-se para a maior chacina da história. Passam pelas
contorções das crises mais horripilantes. E para evitar a chacina e a
crise, em cada um deles importantes partidos políticos nos acenam com uma
socialização total da vida, que seria pior do que os estragos da bomba de
hidrogênio.
Todo
edifício que se construir com base na cobiça dos prazeres e dos bens da
terra tem de arruinar-se por esta forma. O senso do ideal, do espiritual,
do celeste, apagou-se em tantos e tantos povos quase completamente! Sua
torre de Babel, que se erguera orgulhosamente ao lado da velha mansão
paterna do mundo ibérico, deita chamas por todas as janelas, estremece em
todos os alicerces, e de dentro dela partem vozes de discórdia e gritos de
dor. Não temos esta riqueza, mas também não temos esta maldição.
Construímos menos, e por isto acumulamos menos erros nas áreas de cultura
e de terra que nos pertencem. E, em toda esta tragédia universal, o mundo
ibérico, no qual Portugal e Brasil ocupam um lugar de importância
inexcedida, conserva para o dia de amanhã riquezas imensas, de alma, de
cultura, de bens materiais, que ainda estão intocados. Em uma palavra,
nosso é o futuro.
* * *
Depois do
ouro e do incenso, a mirra.
Quer tudo
isto dizer que não cometemos, também nós, graves pecados? Infelizmente,
não podemos pretender que tenhamos conservado intacto nosso patrimônio
espiritual, e que seja perfeito tudo quanto fizemos no campo material.
Muitas
vezes, deslumbrados pelo crescimento da Babel moderna, abrimos nossas
janelas para o seu lado, deixando que nossas almas se envenenassem pelas
harmonias e pelos perfumes que de lá nos vinham. Adaptamos nossa velha
mansão, em muitos e muitos pontos, segundo as modas de Babel. Vestimos os
trajes de seus habitantes, e nos nutrimos de suas iguarias. Os que entre
nós eram os admiradores desta Babel, com demasiada freqüência empunharam o
leme, e indolentemente os deixamos fazer. Há em nós mesmos todo um
trabalho de restauração a cumprir.
Mas este
trabalho, a Providência o deseja e o abençoará. Não tem outro sentido o
fato de que a Mãe de Deus tenha querido falar de Fátima ao mundo inteiro.
Sua mensagem se dirige a todos os homens. Mas é bem de ver que seu objeto
imediato é o povo português, e os que a Portugal são mais próximos pelo
sangue e pela história.
Nós, povos
ibéricos e ibero-americanos, sofremos, em medida não pequena, do mal de
toda a humanidade hodierna. É esta uma verdade que precisa ser proclamada
inteiramente, e com toda a coragem. Não nos libertaremos deste mal, nem
recuperaremos as virtudes ancestrais, sem um profundo revigoramento
religioso. Com efeito, assim como nenhum homem se pode dizer virtuoso no
sentido real da palavra sem a graça de Deus, nenhum povo se pode dizer
verdadeiramente virtuoso nem verdadeiramente grande sem a graça. Não é
nossa natureza a fonte de nossa grandeza moral, senão na medida em que a
graça eleva e santifica nossa alma.
Em
conseqüência, para que a missão histórica que nos aguarda seja realmente
cumprida, é mister uma urgente e completa reação religiosa.
A grandeza de
Portugal, do Brasil, da Espanha e da América espanhola é uma grandeza
cristã. E para que a alcancemos, é necessário que atendamos plenamente à
mensagem de Fátima.
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Encerrando
este artigo, temos um pensamento afetuoso que de Portugal se estende para
todas as suas províncias da Ásia e da África, que vivem da mesma tradição,
para a mesma missão. Possuem todas elas, em grau maior ou menor,
condicionadas por influências locais diversas, as características do mundo
luso. Essas características vivem nada menos que em sessenta milhões de
brasileiros e em vinte milhões de portugueses da metrópole, da África e da
Ásia. Imponente total em que o contributo dos mais variados povos e das
mais diversas culturas não rompe uma homogeneidade que o tempo parece
acentuar e consolidar a cada instante.
Como se
vê, formamos um vasto potencial de fé, cultura e riqueza, que tem por
missão fazer sobreviver na terra o ideal de uma civilização voltada para o
Céu.
A
consciência deste fato, a esperança de que neste mundo em transformação
esta comunidade brilhe em formas novas, eis o que a visita dos dois
Presidentes veio revigorar, em meio às manifestações de júbilo dos povos
irmãos.
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