Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Cabe aos homens sustar o castigo iminente

 

 

 

 

 

 

Catolicismo Nº 77 - Maio de 1957

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Fátima é um tema já copiosamente tratado por esta folha. Entretanto, "de Maria nunquam satis". Ademais, neste mês de Nossa Senhora, realçado pelos festejos cheios de afeto filial e de entusiasmo, que marcam o 40° aniversário da sagração episcopal do Santo Padre Pio XII, gloriosamente reinante, também se celebra o 40° aniversário da primeira das aparições da Virgem na Cova da Iria. A coincidência é tão admirável, tão cheia de significação profunda, que não se pode realmente discorrer sobre o jubileu episcopal do Sumo Pontífice sem ao mesmo tempo lembrar as revelações de Fátima. E, assim, voltamos ao assunto, certos de corresponder ao desejo de nossos leitores.

Já que de nossa parte, em outras ocasiões, dissemos o que tínhamos a dizer sobre as aparições em si mesmas consideradas, pensamos dever abordar hoje o tema espinhoso das predições.

Sabe-se que Nossa Senhora, falando aos três pastorinhos em Fátima, e, mais tarde, manifestando-se à Irmã Lúcia, prenunciou terríveis castigos para a humanidade. Sabe-se que o Episcopado Português é depositário de um misterioso envelope com declarações da Irmã Lúcia, que só será aberto em 1960. E, segundo o autorizado Pe. De Marchi ("Era uma Senhora mais brilhante que o sol"), esse envelope contem a segunda parte, ainda não revelada, do segredo de Fátima. Acresce que os horizontes políticos se apresentam toldados no mundo inteiro. Então, a pergunta nasce espontânea, insofreável, insistente: cairão sobre a terra os castigos preditos por Nossa Senhora?

Não somos dos que acham ociosa uma tal indagação, pois que versa, não sobre revelações privadas de certo tipo corrente, em que uma grande margem de sugestão ou de engano pode existir, mas sobre fatos de cunho manifestamente sobrenatural, admitidos como tais pela piedade dos fiéis no mundo inteiro, que sem perder seu caráter de revelação privada são aprovados e bem vistos pela Santa Igreja, e se têm mostrado fecundos em frutos espirituais dos mais notórios e admiráveis.

Entretanto, não é propriamente a um estudo dessa natureza que nos queremos entregar hoje. Nosso objetivo é mais modesto e mais prático. Queremos simplesmente fazer ver que, de um lado, não é próprio perguntar se as predições de Fátima se vão realizar, pois elas já se estão realizando, e, de outro lado, depende em grande medida de nós, sustar, ainda a esta altura dos fatos, sua inteira realização.

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Nem podemos compreender como se possa duvidar de que as predições de Fátima se estão realizando. Pois o fato dominante de nossa vida política, o fato que enche todas as páginas dos jornais, e domina todas as preocupações dos estadistas, é precisamente que "a Rússia está espalhando seus erros" no mundo inteiro, trazendo-o com isto num sobressalto cada vez maior, e criando condições sempre mais propicias para a eclosão do mais terrível conflito da história.

É obvio que neste desassossego geral não cabe só à Rússia toda a culpa. Pois que, se Moscou consegue fazer circular por todo o orbe seus tóxicos ideológicos, é porque estes tóxicos encontram aceitação. Isto não obstante, não se pode negar que, se por culpa própria o mundo todo está em condições de combustibilidade, é na fogueira moscovita que os incendiários estão acendendo seus fachos, e é dela que saltam as fagulhas incontáveis que em todos os países vão ateando chamas perigosas.

Além disto, as condições presentes já permitem ver a plausibilidade da parte das previsões ainda não cumprida. O poder de ação da Rússia sobre todo o globo, para provocar uma crise universal profundíssima, e não apenas as crises mais ou menos superficiais e mais ou menos transitórias atuais, é patente. Que tudo isto terá de degenerar cedo ou tarde em perseguição ao Santo Padre e à Igreja, é patente também. Que nas convulsões de uma guerra provocada pela Rússia um cataclismo universal pode atingir a humanidade, também é incontestável.

A pergunta correta, sobre as predições, pois, só pode ser esta: se elas se consumarão, e se cairemos no ultimo horror do que elas fazem antever.

*   *   *

A respeito deste ponto, parece-nos que não se tem chamado suficientemente a atenção sobre o caráter condicional das revelações de Fátima. Nelas se diz com uma clareza solar que estas coisas sucederão se a humanidade não se emendar de seus pecados, e não fizer penitência. Assim, a toda a humanidade e a cada homem em particular cabe a possibilidade de suspender ainda agora o castigo que já está em vias de realização. É só abandonar o pecado e fazer penitência. Mas, também, se isto não for feito, não adiantarão festas religiosas, nem orações, nem ansiedades nem pânicos. O castigo virá.

É necessário, pois, que a parte preponderante dos pecadores, se não a mais numerosa, faça uma autêntica e séria reforma de vida. O que quer dizer esta expressão? Que, por amor de Deus, ou pelo menos por temor de sua justiça, os homens execrem o pecado, deixem de o apetecer e de o praticar, e passem a viver segundo os Mandamentos. Uma das condições essenciais para afastar os castigos é esta. Ela deve, pois, ser enunciada claramente, positivamente, sem arroubos inúteis de oratória, nem disfarces ou atenuações de uma falsa prudência humana.

E por isto quem quiser exercer um apostolado inteiramente no que se poderia chamar a "linha de Fátima", deve falar claramente contra o erro e o pecado, fazer tudo para que eles sejam odiados e repudiados, e incutir o temor da cólera de Deus em todos, especialmente naqueles a quem o amor não possa mover.

Todas as outras condições postas pela mensagem de Fátima não dependem inteiramente de nós. Mas esta indiscutivelmente depende. Se ela for preenchida, os castigos não se realizarão. Pois tudo leva a crer que Deus poupará o pecador penitente.

O que mais vale? Perguntar se os castigos virão, quando virão e como virão, ou trabalhar para que não venham? Trabalhemos, portanto. E caminhemos serenamente para o futuro, pois, assim, aconteça o que acontecer, seremos daqueles sobre os quais pousará a mão protetora da Rainha do Céu.

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Trabalhemos? Basta isto? Não. É preciso, além da reforma de vida, e do apostolado, também a oração e a penitência. Devemos mortificar-nos para expiar por nós e pelos outros. Devemos rezar, porque a prece move montanhas.

Com este espírito, e munidos de tais propósitos, poderemos cantar com alegria os louvores da Virgem de Fátima. Pois para nós sua mensagem não terá sido vã.


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