Catolicismo Nº 59 - Novembro de 1955

 

AS NAÇÕES SE LEVANTARAM E A PROCLAMARAM BEM-AVENTURADA

 

 

Virgem em majestade: imagem do séc. XII na Basíli-ca de Saint Denis. Superposto em montagem: frag-mento do tímpano da igreja de la Lande-Cubzac, séc. XII.

Virgem em majestade: imagem do séc. XII na Basílica de Saint Denis. Superposto em montagem: fragmento do tímpano da igreja de la Lande-Cubzac, séc. XII.

Aproveitando a oportunidade do XXXVI Congresso Eucarístico Internacional, procuramos entrar em contato com alguns dos Eminentíssimos Cardeais, e dos Exmos. Arcebispos e Bispos que nos visitaram, a fim de obter para nossos leitores informações sobre a devoção a Nossa Senhora e sobre os santuários marianos nas várias partes do mundo.

Tendo alguns dos ilustres entre [os] visitados se [dignado] nos enviar novos dados pelo correio, que somente agora chegaram a nossas mãos, preferimos sustar a publicação até este numero, para pode apresentar este impressionante conjunto que permitirá aos nossos leitores sentir, como nós mesmos o sentimos, a universalidade da devoção que o povo católico consagra à Mãe de Deus.

"Pelo sofrimento se chegará à glória"

Um dos mais belos dentre os antigos e veneráveis ritos orientais é o dos armênios, que se deve aos Santos Sahac e Mesrop. Este povo, evangelizado e convertido por S. Gregório o Iluminado, nos fins do III século, foi depois atingido pelo cisma do Oriente; converteu-se porém novamente à fé católica, mantendo sua liturgia primitiva. O Patriarca de então, para testemunhar a sinceridade de sua união à Santa Sé, incorporou ao seu nome o de Pedro, e desde essa época todos os Patriarcas armênios católicos, seguindo o belo exemplo desse seu antecessor, usam o nome Pedro com o respectivo número de ordem na sucessão.

É o atual Patriarca da Cilicia dos Armênios Sua Eminência o Cardeal Gregório Pedro XV Agagianian, figura exponencial do Sacro Colégio, e Presidente da Pontifícia Comissão de Redação do Código de Direito Canônico Oriental. O egrégio Príncipe da Igreja esteve entre nós por ocasião do Congresso Eucarístico, e aproveitamos o ensejo para beijar-lhe a sagrada púrpura e pedir as informações que desejávamos.

Como sabem os nossos leitores, a Armênia está situada entre a Rússia, a Turquia e a Pérsia, a sudeste do Mar Negro. Nação independente durante séculos, atualmente - disse-nos Sua Eminência iniciando a entrevista - está subjugada pelos comunistas, e seu povo em grande parte disperso pelo mundo, sendo que as comunidades mais importantes se encontram no Oriente Próximo, sobretudo no Líbano, Egito, Síria e Palestina.

Lembramos que na Idade Média parte do povo armênio emigrou para a Cilicia, região montanhosa ao sul da Turquia, e ali fundou a Pequena Armênia, onde conservou sua vida e cultura próprias, até ser dizimada impiedosamente pelos maometanos turcos no século passado, em ódio à fé católica. Isso obrigou os sobreviventes a também se dispersarem pelo mundo. É justamente por esta razão, explicou-nos Sua Eminência, que a sede do Patriarcado Armênio Católico é Beyruth, capital do Líbano, - embora seu título seja a Cilicia. Naquele país gozam os católicos de toda a liberdade; coexistem ali populações de diferentes ritos, principalmente gregos, maronitas e armênios, todos com seus respectivos Ordinários. Dois desses sendo Cardeais, Beyruth é a única cidade do mundo, além de Roma, onde reside mais de um Purpurado. Há ali também muitos cismáticos e pagãos. A maioria da população contudo é cristã, e dentre os cristãos os católicos são os mais numerosos, razão por que o Líbano é a única nação do Oriente Próximo governada por um católico, o presidente Chamoun.

Sobre a devoção a Maria Santíssima, disse-nos o Cardeal Agagianian que é tão difundida que se pode dizer que todas as colinas do Líbano são santuários... Por toda a parte há igrejas, capelas, oratórios consagrados à Mãe de Deus sob os mais variados vocábulos: há "Nossas Senhoras", de todos os lugares praticamente, tantas são as invocações com que o povo libanês venera a Santíssima Virgem. Os santuários mais importantes são os de Nossa Senhora do Líbano, relativamente recente, e o de Nossa Senhora de Bzommar, consagrado a Nossa Senhora da Assunção. A imagem que se cultua neste último lhe foi doada há mais de 300 anos pelo Cardeal Caraffa, e é uma pintura da Escola de Rafael que representa uma Virgem Dolorosa: simbolismo profundo, frisou Sua Eminência, que nos mostra que é pelo sofrimento que se chegará à glória.

Perguntamos então acerca do movimento mariano em geral. O Emmo. Cardeal contou-nos que no ano passado realizou-se no território de sua jurisdição um Congresso Marial que foi um imenso triunfo da devoção à Virgem Santíssima. As associações consagradas a Nossa Senhora, Congregações Marianas e Filhas de Maria, acham-se florescentes. As grandes devoções populares são o rosário e os exercícios do mês de Maio; é comum ouvirem-se ao anoitecer, pelas aldeias e montes, as vozes das famílias reunidas em suas casas para recitar o terço.

Manifestamos nossa admiração pelo exemplo que o povo armênio tem dado ao mundo, de fidelidade à Igreja em meio às provações por que tem passado. Sua Eminência afirmou que, de fato, os católicos armênios têm sofrido perseguições cruéis e sangrentas através da história, mas encontram em sua firme adesão à Igreja um estímulo e um conforto em todas as provações.

Com estas palavras Sua Eminência o Cardeal Gregório Pedro XV Agagianian - o 15º Patriarca armênio desde a volta à comunhão com a Santa Sé - encerrou sua amável entrevista, sem deixar de exprimir sua admiração pelo Brasil e pelas cerimônias do XXXVI Congresso Eucarístico Internacional.

Os milagres no Santuário de Knock

A católica Irlanda, convertida por São Patrício, é representada no Sacro Colégio pelo Emmo. Sr. Cardeal John D'Alton, Arcebispo de Armagh. Estivemos com Sua Eminência após a procissão de encerramento do Congresso; embora bastante fatigado com as solenidades do dia, o ilustre Purpurado recebeu-nos afavelmente [e] nos deu as informações desejadas.

Disse-nos que o grande santuário mariano da Irlanda é o de Knock, onde Nossa Senhora apareceu a duas almas piedosas em 1879, acompanhada de São José e São João Evangelista. Durante muitos anos o local foi alvo apenas de pequenas romarias; em princípios deste século porém começou a se expandir essa devoção, que veio a se tornar nacional. Todos os anos realizam-se grandes peregrinações ao santuário.

Indagamos se ali têm-se operado milagres; Sua Eminência respondeu que muitas graças têm sido alcançadas pelos fiéis que invocam Nossa Senhora de Knock, e entre elas as curas são numerosas. A mais famosa foi a do Arcebispo Lynch, de Toronto, que ficou instantaneamente livre de uma moléstia pulmonar.

Quisemos também saber algo sobre a vida católica da população. O povo irlandês, informou o Cardeal, tradicionalmente católico, venera de muitos modos a Mãe de Deus. As "confraternities" eretas sob o patrocínio de Nossa Senhora são muito difundidas, bem como a recitação familiar do santo rosário.

Não querendo tomar mais tempo a Sua Eminência, agradecemos-lhe a atenção e nos despedimos, após recebermos sua bênção.

UMA CAPELA VISITADA POR LEGIÕES DE SANTOS

Lyon, a antiga Lugdunum, foi fundada pelos romanos e tem a glória de ter sido a sede do primeiro Bispado da Gália. Banhada pelo sangue dos mártires nas perseguições dos primeiros séculos, foi ela sempre um foco de vida católica e de devoção marial.

O Cardeal Pierre Gerlier, Arcebispo de Lyon e Primaz das Gálias, prestou-nos as seguintes interessantes declarações:

"Lyon se honra de ser a cidade da Virgem, e eu, antigo Bispo de Lourdes, orgulho-me de ser hoje o guardião do Santuário mariano de Fourvière.

"A devoção marial remonta às mais longínquas origens da Diocese. Diz-se que São Potino, seu primeiro Bispo, discípulo de São Policarpo, - que por sua vez foi discípulo de São João - para lá teria levado uma venerável imagem de Nossa Senhora. O que é certo é que no século XII os cônegos de Lyon se honram de terem defendido o privilegio da Imaculada Conceição.

"O recurso à Virgem aparece ligado a todos os grandes acontecimentos da vida lionesa. Votos célebres formulados repetidamente pelos "échevins" e pelos "recteurs de l’aumone" ( administradores dos hospitais ) imploraram o auxílio de Nossa Senhora de Fourvière por ocasião de grandes pestes que devastavam a cidade e cessaram logo depois.

"O santuário de Fourvière domina toda a cidade. Ao lado da grande Basílica, construída em 1870 em cumprimento de uma promessa, acha-se pequena e modesta capela, o verdadeiro centro do fervor da cidade, pela qual passaram legiões de Santos, notadamente Santa Teresa do Menino Jesus e o Santo Cura d’Ars, e na qual vários fundadores de Ordens religiosas receberam a inspiração de seus institutos.

"Não seria possível - concluiu o ilustre Primaz das Gálias - separar Lyon de Fourvière sem mutilar sua história e sem trair sua espiritualidade".

Ao despedirmo-nos de Sua Eminência, notamos que o lema de seu brasão é "Ad Jesum per Mariam".

O QUADRO PINTADO MIRACULOSAMENTE

Não tivemos oportunidade de visitar Sua Eminência o Cardeal Crisanto Luque, Arcebispo de Bogotá, mas entrevistamos o Exmo. Revmo. Monsenhor José Restrepo Posada, Chanceler da Arquidiocese, que acompanhava o ilustre membro do Sacro Colégio.

Disse-nos S. Excia., inicialmente, que em sua pátria a mais antiga e venerada imagem de Nossa Senhora é a da Virgem de Chiquinquirá padroeira da Colômbia. Seu nome é uma palavra indígena que significa vila úmida, devido ao fato de sua história ter decorrido às margens de um grande lago. Os espanhóis depois de conquistar a região, começaram a comerciar com os índios. Surgiram os "encomenderos", que percorriam as povoações indígenas à procura de metais preciosos - em troca de vestes e artigos religiosos.

Em Chiquinquirá um "encomendero" mandou pintar uma imagem da Virgem a um modesto artista local. Este fez suas tintas com sucos de ervas, e numa tela de fabricação indígena representou Nossa Senhora no centro, com Santo André de um lado e Santo Antonio de outro. A pintura logo escureceu; substituíram-na por outra. Mas no dia 26 de dezembro de 1588, milagrosamente, a imagem apareceu renovada, com cores vivas e muito bem pintada. Originou-se daí a devoção que se tornou nacional, tendo sido feito processo canônico do fato.

Agradecendo a S. Excia. Revma., tivemos a grata notícia de que o jornal católico mais importante da Colômbia chama-se também "Catolicismo", e se pública há mais de cem anos...

"POR SEREM TANTOS OS MILAGRES JÁ NEM SÃO REGISTRADOS"

O título de Primaz das Américas cabe ao Arcebispo de São Domingos, sucessor do primeiro Bispo de nosso continente. Sua Excia. Mons. Octavio Antonio Beras, Arcebispo Coadjutor, a quem fomos entrevistar, enviou-nos posteriormente por escrito as interessantes informações que aqui transcrevemos:

"A República Dominicana é eminentemente mariana. Assim o provam seu passado e seu presente. Todas as manifestações de piedade marial encontram ampla acolhida na devoção dos dominicanos.

"Já desde o tempo do descobrimento se iniciou o culto à Santíssima Virgem sob a invocação de Nossa Senhora das Mercês. Seu Santuário se ergue a 140 kms. de Cidade Trujillo, sobre uma graciosa elevação que acompanha o vale da Vega Real, na região denominada el Cibao.

"Os Padres Mercedários tiveram na Capital um grande Convento e uma igreja, e exerceram grande influência sobre o povo da ilha. O Convento desapareceu, mas permanece a belíssima igreja da Misericórdia, atualmente confiada aos Frades Capuchinhos. Nossa Senhora das Mercês foi declarada Padroeira da Ilha de São Domingos.

"Outra dentre as invocações marianas mais queridas é a de Nossa Senhora do Rosário. Seu culto nasceu também no período da colonização, com a chegada dos Padres Dominicanos. O templo mais antigo da cidade arquiepiscopal é o do Rosário. Também se poderia falar de muitas outras devoções marianas: os Remédios, Aguasanta ( Santuário antiqüíssimo ), a Caridade, a Candelária, Perpétuo Socorro, Maria Auxiliadora, Fátima, etc., etc.

"Mas a invocação marial mais querida deste povo desde os primeiros dias da colonização, é a de Nossa Senhora da Altagracia. É a devoção dos dominicanos.

"O documento mais antigo que se refere a esta venerável imagem de Maria SSma. é a Relación Sumaria de la Isla Española, do cronista Cônego D. Luis Gerónimo de Alcocer ( 1598-1665 ), na qual se lê:

"A imagem milagrosa de Nossa Senhora de Altagracia está na cidade de Higuey...; consta que foi trazida a esta ilha por dois fidalgos naturais de Placência na Extremadura, chamados Alonso e Antonio Trexo, que foram dos primeiros povoadores desta ilha, pessoas nobres como consta de uma cédula do Rei D. Felipe I no ano de 1526,... e lhes havendo feito alguns milagres, depositaram-na para maior veneração na Igreja Paroquial de Higuey... Está pintada num pano muito fino, de meia vara de largura, e a pintura é do Nascimento, e está Nossa Senhora com o Menino Jesus em sua frente e São José a seu lado...; vão em romaria a esta santa imagem de Nossa Senhora de Altagracia fiéis de toda a ilha, e das partes das Índias que estão mais perto, e cada dia se vêm muitos milagres, que por serem tantos já não são averiguados nem escritos".

"A festa litúrgica, que é de preceito, se celebra em 21 de janeiro. O venerável Quadro foi coroado canonicamente em 15 de agosto de 1922. Por iniciativa do Sr. Rafael Trujillo Molina, na ocasião Presidente da República, está sendo construído um grandioso Santuário sob essa invocação. Espera-se que sua inauguração seja em 1957.

"São inumeráveis as Paróquias, Igrejas, Capelas, de Nossa Senhora de Altagracia. Em quase todas as famílias há quem tenha o nome de Altagracia. A devoção mariana por excelência, na República Dominicana, é pois a de Nossa Senhora de Altagracia; é a devoção que sustentou e sustenta a fé deste povo".

A IMAGEM QUE É ESCURA COMO NOSSA SENHORA APARECIDA

Os recentes acontecimentos de Siracusa, onde uma imagem da Virgem verteu lágrimas, atraíram a atenção de todo o mundo católico para a piedade mariana do povo da Sicília. Nesta ilha, rica em templos consagrados a Nossa Senhora, um dos mais importantes centros de devoção marial é o Santuário de Tindari, a respeito do qual fomos entrevistar o Exmo. Revmo. Mons Angelo Ficarra, que governa a Diocese de Patti, ao norte da Sicília, desde 1937. S. Excia. nos fez interessante relato acerca do Santuário - que se situa em sua Diocese - e da piedade mariana do povo siciliano.

O Santuário da Madonna de Tindari, disse-nos o ilustre Prelado acha-se na localidade de mesmo nome, antiga cidade grega do norte da Sicília. A imagem da Virgem aí venerada tem a curiosa particularidade de ser escura, assemelhando-se à milagrosa da Padroeira do Brasil.

As origens do Santuário remontam ao século VIII, quando grassava no Oriente a heresia iconoclasta. Um barco que transportava a imagem de Nossa Senhora para furtá-la à sanha dos destruidores, ao passar por Tindari deteve-se e não conseguia mover-se dali. A imagem foi então transportada para a colina que se ergue junto ao mar e aí passou a ser venerada até nossos dias.

Perguntamos a S. Excia. Revma. pelos frutos espirituais desta devoção. Disse-nos que o número de peregrinos que anualmente visitam o Santuário é de cerca de 100.000 pessoas, muitas das quais caminham até 18 horas a pé para lá chegar. O afluxo dos fiéis é particularmente intenso por ocasião da festa da Madonna de Tindari, a 8 de setembro dia da Natividade de Nossa Senhora. Os peregrinos têm o hábito piedoso de acorrer à confissão e à comunhão durante a visita à "Bedda Matri", - que é o nome que Lhe dão e significa Mãe Formosa.

Falando de outras devoções do povo siciliano, Mons. Angelo Ficarra referiu-se a S. Benedetto, il Moro, originário da própria Sicília, - que é o mesmo S. Benedito tão venerado entre nós.

A ANTIQUÍSSIMA DEVOÇÃO À MADONNA DE CREA

A Itália venera a Madonna com extraordinária piedade, de norte a sul da península. Desde a Sicília, como vimos acima, até o Piemonte, como ouvimos de S. Excia. Revma. Mons. Giuseppe Angrisani, Bispo de Casale Monferrato.

Contou-nos S. Excia. que a principal imagem de sua Diocese é a da Madonna de Crea, de tamanho um pouco maior que a de Nossa Senhora Aparecida, e cujo Santuário se encontra na mais alta colina da região.

O início desta devoção remonta ao século IV. Santo Euzébio, Arcebispo de Vercele, foi preso e exilado de sua Diocese pela heresia ariana. Voltando mais tarde, trouxe consigo várias imagens, uma das quais é a da Madonna de Crea, que com o tempo se tornou objeto de culto tão difundido quanto fervoroso.

NOVA ORLEANS FOI SALVA POR NOSSA SENHORA

Vários Prelados norte-americanos vieram ao Brasil por motivo do Congresso Eucarístico. Tivemos ocasião de falar com o Exmo. Revmo. Mons. Joseph Francis Rummel, Arcebispo de Nova Orleans, que se dignou fornecer-nos as seguintes notas, escritas de seu próprio punho:

"Temos na Diocese de Nova Orleans um santuário celebre consagrado à Santíssima Virgem Maria sob a invocação de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. A imagem, que representa a Mãe de Deus tendo aos braços o Menino Jesus, foi trazida da França em 1810, e colocada na capela das Irmãs Ursulinas, onde tem sido objeto de constante veneração por parte de nosso povo católico.

"Muitos favores notáveis têm sido alcançados por intercessão de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro; mas o mais célebre deles foi a libertação da cidade de Nova Orleans, no dia 8 de Janeiro de 1815 do poder do exército inglês que a sitiava com forças muito superiores, sob o comando do General Packenham. O exército americano era menos numeroso e mais pobremente equipado, mas tinha a seu favor o poder espiritual da oração no Santuário de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, onde as mães e esposas dos soldados católicos passaram a noite inteira em súplices preces. As forças britânicas foram inteiramente derrotadas, e a cidade se viu libertada. O General Andrew Jackson, comandante americano, reconheceu que Nossa Senhora do Perpétuo Socorro lhe havia concedido a vitória atendendo às orações das mulheres católicas.

"Podemos compreender muito bem a confiança que os fiéis da cidade e da Arquidiocese de Nova Orleans têm incessantemente conservado na proteção de sua Padroeira. Esta confiança tem sido recompensada reiteradamente, por favores públicos e particulares com que Deus tem se dignado atender às preces feitas neste venerável Santuário".

O "BARANGAY" DE NOSSA SENHORA NAS FILIPINAS

Colocadas em meio às nações pagãs do Extremo Oriente, as Filipinas constituem um bastião da Igreja graças ao catolicismo profundo de seus habitantes. S. Excia. Revma. Mons. José Maria Cuenco, Arcebispo de Jaro, contou-nos fatos que confirmam quanto a Igreja pode esperar daquele nobre país.

As Filipinas, disse-nos o eminente Prelado, colonizadas pelos espanhóis, foram muito influenciadas pela catequese dominicana. Com isso se difundiu a devoção a Nossa Senhora do Rosário, até hoje profundamente arraigada entre o povo, contando assim quase cinco séculos de idade. Esta devoção foi particularmente acentuada por uma relação íntima com a história do país. Na luta dos espanhóis católicos contra os holandeses calvinistas, os primeiros se encontraram em certa ocasião diante de dificuldades insuperáveis. Foi quando, vendo esgotados todos os recursos humanos imploraram a intercessão de Nossa Senhora do Rosário - e com isto conseguiram vencer os hereges. Se estes tivessem levado a melhor, talvez as Filipinas não fossem hoje uma nação católica...

Perguntamos a S. Excia. Revma. quais as práticas de piedade marial mais correntes em sua pátria. Respondeu-nos Mons. José Maria Cuenco que no mês de outubro celebram-se em todo o território filipino grandes festas em louvor a Nossa Senhora do Rosário. A devoção a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, de outro lado, introduzida pelos Padres Redentoristas, cresceu muito, depois da segunda guerra mundial. Todas as quartas feiras cerca de quarenta mil pessoas visitam a Igreja de Baclaran, nos arredores de Manilha, consagrada sob esta invocação à Mãe de Deus.

Acrescentou que é particularmente interessante a devoção do "Barangay de Maria", típica da Arquidiocese de Jaro, e ali especialmente difundida: um determinado grupo de famílias propõe-se rezar quotidianamente o Rosário em comum e para isso se reúnem cada noite, na residência de um dos membros do grupo, todos os moradores dessa casa e um membro, pelo menos, de cada uma das outras famílias. Além da reza do Rosário, que é feita em comum e constitui a prática principal, o chefe da casa faz uma exortação piedosa aos presentes. Rezem pelas intenções do Santo Padre, pelos habitantes da casa onde estão reunidos e pelos enfermos. Logo após o fim das orações, cada qual se retira para sua residência.

Nosso entrevistado salientou também que estão muito difundidas nas Filipinas as devoções à Virgem de Antepolo, grande centro de peregrinação, de Panãfrancia, de Manao-ag, de la Regla, del Pilar, del Piat, e do Monte Carmelo.

Concluindo disse-nos S Excia., que as Filipinas não podem vir a ser comunistas, pois não o permitirá a grande devoção que seu povo tem por Nossa Senhora.