Plinio Corrêa de Oliveira
Efeitos maravilhosos que a devoção a Nossa Senhora produz numa alma que Lhe é fiel (São Luís Maria Grignion de Montfort)
Santo do Dia, 4 de abril de 1992, sábado |
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A D V E R T Ê N C I A Gravação de conferência do Prof. Plinio com sócios e cooperadores da TFP, não tendo sido revista pelo autor. Se Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
Devemos comentar hoje à noite um texto do "Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem". E é o capítulo VIII, que trata do seguinte: "Efeitos maravilhosos que esta devoção produz numa alma que lhe é fiel" – Artigo V "Comunicação da alma e do espírito de Maria." Quer dizer, como é que Nossa Senhora comunica a sua alma e o seu espírito a nós. É mais ou menos como seria que Nossa Senhora infunde a sua alma e o seu espírito em nós. É mais ou menos isso, não é bem exatamente isso, mas é mais ou menos isso. Então, o texto de São Luís Grignion a esse respeito é o seguinte: “A alma da Santíssima Virgem se comunicará a nós para glorificar o Senhor; seu espírito tomará o lugar vosso para regozijar-se em Deus, contanto que pratiqueis fielmente esta devoção”. Quer dizer, então está reafirmado o que eu disse há pouco: "A alma da Santíssima Virgem se comunicará a nós para glorificar o Senhor." O que é essa comunicação da alma? É o conhecimento que teremos da alma, mas uma como que infusão da compreensão e da vontade de Nossa Senhora, iluminando a nossa compreensão e movimentando a nossa vontade. E, portanto, é uma graça, é um favor altíssimo, porque nós recebermos de Nossa Senhora algo da compreensão e da inteligência dela, recebermos algo da força de vontade e da santidade dEla, é uma coisa inatingível, incompreensível para nós que somos apenas aquilo que somos. Se os senhores tomarem em consideração que Ele é a mais alta das criaturas, mais alta do que todos os anjos e do que todos os santos juntos, e inferior apenas a Nosso Senhor Jesus Cristo. Não há ninguém que seja da altura de Nossa Senhora, a fortiori não há ninguém que seja superior a Ela, a não ser o próprio Deus; e é esta alma, este espírito, que se comunica a nós. É a promessa que faz São Luís Grignion de Montfort. * Maria será estabelecida Senhora e Soberana dos corações “Ah! quando virá este tempo feliz em que Maria será estabelecida Senhora e Soberana dos corações...” Muito mais do que Senhora e Soberana da Terra. Senhora e Soberana da Terra é Senhora e Soberana de todas as nações da Terra. Mas mandar em todas as nações da Terra é muito pouca coisa, porque as nações se desfazem, as nações são como bolhas que aparecem na História e depois desaparecem. A gente tem muita noção disto viajando pela Europa: o que é uma nação, o que é que uma nação não é. Eu não posso me esquecer que viajando uma ocasião pela Espanha encontrei isto: uma ponte larga, que a gente via que era feita para atravessarem veículos pesados, etc.; e uma pontezinha mais frágil a uma certa distância. A ambas passavam por cima de um rio. Na ponte larga tinha escrito: "Estrada romana: caminhões"; na ponte estreita: "Estrada moderna: veículos comuns". Quer dizer, na ponte do tempo dos romanos passavam caminhões contemporâneos. Depois de milênios de existência essa ponte ainda continuava a carregar, e pesos cada vez maiores. Porque passar por cima de uma ponte uma legião romana com os homens com aquelas couraças, com aquelas lanças, com aqueles elmos, não era nada em comparação de passar, por exemplo, quatro ou cinco caminhões modernos desses pesados, carregados de mercadoria. Pois bem, por cima da ponte romana passavam os veículos pesados, e na ponte pequena, contemporânea, passavam os veículos novos. Quer dizer, em última análise, o que era antigo durava, o que era moderno não dura. Por outro lado, a gente chega num ponto onde se bifurca uma estrada, e a gente encontra umas ruínas. Mas umas ruínas de tal maneira descompostas, que a gente se pergunta por que aquilo não é derrubado [já que] não está fazendo nada. E as pessoas que estão viajando conosco, como aquilo é um lugar célebre, dizem: "Aqui nasceu a famosa família dos Duques de Alba". A família nasceu e o castelo foi pelos ares. A família também foi pelos ares... A última descendente dos Duques de Alba é casada com um padre jesuíta que recebeu da Santa Sé dispensa de votos de castidade, dispensa do estado religioso, para poder casar-se com ela... * Tudo quanto é meramente humano se desfaz, se liquefaz, não é nada! Mas o que é de Nossa Senhora fica É um desfazimento. São as coisas que vão. Tudo quanto é meramente humano se desfaz, se liqüefaz, não é nada. Mas o que é de Nossa Senhora fica. E nós, unindo-nos assim a Nossa Senhora, fazemos coisas que podem ficar por um tempo indeterminado, podem ficar até ao fim do mundo. Nós podemos ter a esperança de que, se nós praticarmos bem e fielmente essa devoção, acontecerá que Nossa Senhora poderá manter a TFP viva até o fim do mundo. E que os famosos apóstolos dos últimos tempos que vão combater contra o Anticristo, e que vão lutar até o fim, quando o mal estiver de tal maneira senhor da Terra, que o mundo não pode continuar, e que Deus manda o castigo, ainda estarão de pé, os filhos de Maria, os apóstolos dos últimos tempos. Quem sabe se daqui a quatro, ou cinco, ou oito, ou dez gerações, sei lá quanto, os que continuarem na TFP, morrerem na TFP, passam o estandarte para os outros, e quando chegarem esses dias gloriosos é o estandarte com o leão que se levanta: Tradição, Família, Propriedade! Até ao fim do mundo... É a durabilidade das coisas a quem Nossa Senhora comunica o seu espírito e comunica a sua alma. São os tais efeitos maravilhosos da fidelidade a Nossa Senhora na devoção que São Luís Maria Grignion ensina. Quer dizer, trata-se de antes de tudo e de mais nada de ser muito fiel a Nossa Senhora, mas fiel por meio da devoção da Sagrada Escravidão a Ela que ele ensina aqui como é, e que, tanto quanto eu saiba, é a mais perfeita forma de devoção a Nossa Senhora encontrada até agora. Não sei se os senhores conhecem um pouco a história de São Luís Grignion de Montfort... É melhor eu acabar de ler isto, depois eu conto um pouco da história de São Luís Grignion de Montfort. Bom, eu dizia isso, que Nossa Senhora ser rainha dos Estados é pouca coisa. Ela será Rainha dos corações. * Nossa Senhora será Rainha dos Corações. O que significa o coração? O que é que significa o coração? Nós homens temos a impressão de que nós pensamos com a cabeça, de tal maneira que quando conhecemos uma pessoa que tem muita facilidade de pensar, diz-se: "Ele tem muita cabeça". Mas nós sabemos que não se pensa com a cabeça. A alma anima o corpo inteiro, mas ela não está morando na cabeça. O cérebro que é o mais importante centro nervoso do corpo humano, esse está no crânio. Nós, então, por causa disso, sentimos muito a reação do nosso pensamento e temos a impressão de que nossa alma habita o nosso crânio. Mas isso não é verdade. Mas como linguagem comum pode se dizer "ele tem muito crânio" – uma expressão com a qual eu antipatizo, mas que se usa –, "Fulano é um crânio", etc. Os antigos admitiam que a alma é o centro do pensamento, mas que o coração é o centro da vontade; e que assim como um homem quer com a "cabeça", assim também o homem quer com o "coração". E Nossa Senhora ser Rainha de todos os corações, é ser rainha das vontades de todos os outros homens. E quem é rainha da vontade de todos os outros homens, é muito mais do que a rainha dos governos. Porque um governo pode sair, pode cair, um Estado pode ser dominado, pode ser conquistado etc. Mas o reino dEla sobre os outros homens, se os homens derem o seu consentimento firme, esse reino ninguém pode demolir. E se todos os homens se entregarem ao reinado dEla, os governos mais fortes do mundo não poderão contra Ela. * Quem reina sobre os corações é mais forte que qualquer governo. Exemplo do poder dos católicos no Império Romano Os senhores conhecem as perseguições que os romanos moveram contra os primeiros católicos, como eles eram levados ao Coliseu, ao circo, à arena, como eles eram entregues para serem devorados pelos animais ferozes, como eles eram queimados vivos etc., era uma coisa terrível. Mas, aconteceu o seguinte: os imperadores romanos naquele tempo eram aqueles sob cuja autoridade esses crimes eram executados. Eles eram, portanto, os responsáveis por isso. Mas os católicos se multiplicaram tanto no Império Romano, apesar das perseguições e, portanto, apesar de sofrerem os riscos que os senhores sabem eles eram tantos, os católicos, que um polemista católico dos últimos tempos antes de Constantino (Tertuliano, n.d.c.), escreveu uma carta ao imperador dizendo a ele o seguinte: "Vós perseguis os católicos, mas vós não sois imperador senão porque nós queremos. Porque nós somos tão numerosos que nós enchemos as legiões de vossos soldados, nós enchemos o fórum aonde estão os vossos juízes, nós enchemos o vosso próprio palácio e no vosso próprio palácio se todos os católicos saíssem vós ficaríeis vazio no vosso palácio. Vós que nos perseguis, vós só sois alguma coisa porque nós queremos; Jesus Cristo, no Império Romano, é tudo!" * A Igreja ganha liberdade e nenhum pagão ousa revoltar-se; é uma prova de que a Igreja reinava nos corações E realmente a coisa se passou assim: Constantino, filho de Santa Helena, um general romano candidato ao império, conseguiu fazer-se eleger imperador pelas tropas – naquele tempo se escolhiam os imperadores assim –, mas teve que enfrentar outros rivais que queriam também tomar conta do trono, e deu-se uma batalha, chamada da Ponte Milvia, entre ele e os rivais. E na véspera da batalha ele estava apreensivo com os resultados da batalha, ele olhou assim para o céu e viu uma cruz luminosa, e em baixo escritas as palavras: "In hoc signo vinces", "Tu vencerás com este sinal" – que era o sinal da cruz. Ele fez uma promessa – a mãe dele já era católica, era Santa Helena – de que ele se batizaria, portanto, se converteria, se ganhasse a batalha. Os outros foram estraçalhados. Ele voltou e decretou a liberdade para a Igreja Católica em todo o Império Romano. Cessaram, para sempre, as perseguições. Podia-se esperar que os pagãos – que tinham templos, tinham muitos sacerdotes, tinham riquezas, tinham tudo – se revoltassem. Mas os sacerdotes pagãos de tal maneira não reinavam nos corações, de tal maneira eles não tinham poder mais nenhum, porque Jesus Cristo se tornara rei dos corações, que em última análise não tentaram nada para se revoltar contra o imperador. O imperador, vendo isto, baixou outro decreto fechando o culto pagão em todo o Império Romano. Os sacerdotes pagãos simplesmente saíram dos seus templos, deixaram vazios, e foram exercer outros empregos. Um foi ser sapateiro, outro foi ser calceteiro, e outro foi ser alfaiate, e daí para fora, e não pensaram mais em exercer a sua função antiga. As igrejas pagãs ficaram vazias, e em muitas delas logo depois começou a funcionar o culto católico. O templo maior de Roma, que era dedicado a Júpiter, rei dos deuses, esse templo ficou vazio também e os católicos o ocuparam e até hoje existe em Roma. Esse templo, com todas as características de um templo romano antigo, esse templo parece que é muito pesado ou qualquer coisa que o solo afundou sob o peso do templo, e as casas construídas em torno do templo ficaram num nível mais alto do que o templo. A gente olha para as colunas, colunas de pedra, é inexplicável isso, tem a impressão que as colunas secaram. São colunas assim como gente muito velha quando fica muito, muito velha, começa a secar, ficam só os ossos de fora, assim a gente vê essas colunas do templo. Dentro reinava uma estátua de Júpiter antigamente, o rei dos deuses, estava escrito: "Deo Optimo Maximo", a Deus Ótimo e Máximo que era Júpiter – quer dizer que havia vários deuses.
O Panteon, aqui mencionado - Roma (foto de Paulo R. Campos) Tiraram tudo isso, e quando eu estive lá era uma das paróquias de Roma, a matriz de Roma era um templo antigo de Júpiter. E ali as velhotas iam rezar, iam sentir a bênção do Santíssimo Sacramento, os rapazes novos iam ouvir uma aula de catecismo, fazia-se missa etc., com um culto católico há perto de dois mil anos instalado ali, tranqüilamente. Era o templo que foi erguido a Júpiter! Por quê? Por que é que tudo aquilo desapareceu? Porque de dentro das almas saiu o poder de satanás e entrou o poder de Nosso Senhor Jesus Cristo. * Com a Revolução o demônio começou a ficar senhor das almas e tudo começou a cair Os senhores estudam na "R-CR" (livro “Revolução e Contra-Revolução”) – quero crer que alguns dos senhores já leram a "R-CR" – o que aconteceu com a Revolução. Foi uma série de pecados por onde o demônio começou a ficar senhor das almas, e porque ele ficou rei das almas, tudo começou a cair. Caíram os impérios, caíram as dinastias, caiu a nobreza, caiu grande parte do clero, em muitas nações entrou o protestantismo. Por que tudo isto aconteceu assim? Aconteceu porque as almas começaram a separar-se de Nosso Senhor por obra de um movimento chamado a Revolução. Por isso nós somos a Contra-Revolução! E sendo a Contra-Revolução, a nossa missão é fazer tudo para que o Reino de Maria se estabeleça nas almas. E São Luís Grignion de Montfort nos ensina o modo pelo qual o Reino de Maria começa por se estabelecer nas nossas almas, porque é só quando Nossa Senhora reina em nós que é possível nós A fazermos reinar nos outros. * Um membro da TFP que tenha o Reino de Maria dentro dele, segundo o método de São Luís Grignion, esse consegue fazer conquistas em quantidade O Reino de Maria é contagioso. Ele é contagiante. Um membro da TFP que tenha o Reino de Maria dentro dele, segundo o método de São Luís Grignion, esse consegue fazer conquistas em quantidade. Os senhores veem a TFP, por exemplo. A TFP graças a Nossa Senhora é numerosa. Mas por que é que a TFP consegue ser numerosa num ambiente de tal maneira hostil? De todos os lados partem críticas contra a TFP, máfias contra a TFP. A TFP vai indo para a frente... Faz-se tudo para que ninguém entre nela. E cada vez as nossas portas estão mais abertas e cada vez o nosso número é maior, cada vez existimos num número maior de países. Como é que se explica uma coisa dessas? Ainda ontem ou anteontem - um dia desses - eu recebi um grafonema da Índia. Um relatório que manda o Sr. Aloísio Torres, nosso apóstolo itinerante na Índia, a respeito de como estão as coisas na Índia. Ele vai contando com uma naturalidade que deixa espantado. A Índia é dividida em Estados, como o Brasil. Assim, como tem Estado de São Paulo, de Minas, do Rio etc., lá na Índia tem Estados com nomes diferentes. É Kerala, é uma série de nomes... alguns difíceis de pronunciar por nós. E ele vai contando com aquela naturalidade: "Relatório: Nosso apostolado vai muito bem em Bombaim..." É a capital da Índia Portuguesa antiga. Outrora aquilo era de Portugal e tem muitos hindus falando português lá por causa disso. Hindus católicos, porque ali se guarda os restos mortais de São Francisco Xavier, que foi o grande apóstolo da Índia. Então: "Aqui vai bem assim etc., etc. Vai melhor em tal outro Estado assim". Em cinco Estados da Índia já há núcleo da TFP. Ele, que está fazendo esse apostolado, não se dá conta da maravilha que isto significa. Mas como é que consegue isto? Quando se é um bom filho e escravo de Nossa Senhora segundo o método de São Luís Maria Grignion de Montfort! De maneira que quando os senhores quiserem fazer grandes coisas, comecem por fazer com que o espírito de Maria reine nos senhores, que Ela seja rainha do coração dos senhores. Quer dizer, da vontade dos senhores. Para ser rainha da vontade, Ela tem que ser rainha das mentes, porque a vontade quer o que a mente apresenta, e, portanto, Ela tem que ser rainha do homem inteiro. Que ela seja rainha dos corações é um modo de dizer que Ela é a rainha espiritual dos homens. Isto é conquistar o mundo! E nós esperamos que com a “Bagarre” (palavra francesa que significa quebra-quebra, caos, confusão com violência, no jargão utilizado na linguagem corrente da TFP para se referir à realização das promessas de Nossa Senhora em Fátima) e com o Reino de Maria, precedidos do “Grand Retour”, Nossa Senhora reinará ainda em nossos dias sobre o mundo inteiro. Ah! quando virá este tempo feliz em que Maria será estabelecida Senhora e Soberana nos corações, para submetê-los plenamente ao império de seu grande e único Jesus? É o único filho o seu grande filho Jesus. É claro, porque Jesus é totalmente rei dEla, e, portanto, Ela sendo rainha é através dEla que Jesus reina. Nós temos Cristo rei. Então diz aqui: * Quando chegará o dia em que as almas respirarão Maria, como o corpo respira o ar? O que é respirar Maria? “Quando chegará o dia em que as almas respirarão Maria, como o corpo respira o ar?” O que é que é “respirar Maria”? Por exemplo, neste auditório pode-se “respirar Maria”. O que é que quer dizer isto? Os senhores comparem qualquer ambiente aí fora com o ambiente dentro do auditório, os senhores compreendem que é um ambiente inteiramente diferente. E a alma sente isto mais ou menos como o corpo sente a respiração. Então, respirar Maria é estar num ambiente todo impregnado da presença de Maria, todo impregnado do espírito de Maria. É isto que as almas precisam ter, para ter depois aquela força para implantar o estandarte de Nossa Senhora no mundo inteiro. “Então, coisas maravilhosas acontecerão neste mundo, onde o Espírito Santo, encontrando sua querida Esposa como que reproduzida nas almas, a elas descerá abundantemente, enchendo-as de seus dons...” Aqui vem outro pensamento. Nossa Senhora, os senhores sabem que é a Esposa do Divino Espírito Santo. Quer dizer, Ela concebeu o Menino Jesus de uma ação do Espírito Santo. Quando o Anjo se apresentou a Ela e fez a anunciação, Ela disse que sim, que aceitava. No momento que aceitou, o Espírito Santo penetrou nEla e deu origem ao Menino Jesus. Nessas condições, Nossa Senhora tinha todos os recursos para, por meio do Espírito Santo, gerar Jesus nas almas. Quando nós pedimos "emitte Spiritum tuum et creabuntur, et renovabis faciem terrae", "mandai o vosso Espírito e todas as coisas serão criadas, e vós renovareis a face da Terra", quer dizer, mandai o vosso Espírito – que é o Divino Espírito Santo – e todas as coisas serão criadas. Quer dizer as almas serão restauradas, serão ressuscitadas, e vós renovareis a face da Terra. É uma renovação moral, uma renovação religiosa, é uma renovação das mentalidades; a face da Terra muda com um simples sopro do Espírito Santo! Hoje, se fala muito de bomba atômica, fala-se muito de guerra atômica. Os senhores já devem ter ouvido falar de guerra química que é uma forma de guerra pela qual se atiram bombas com gases venenosos por cima das cidades. A bomba cai, estoura e o gás venenoso se espalha e mata centenas, mata milhares de pessoas de uma cidade. Os senhores terão já ouvido falar também da guerra bacteriológica, pela qual se jogam bombas e elas caem em cima de uma cidade e arrebentam com frascos que têm dentro micróbios, então uma epidemia contagia toda uma cidade. São formas de guerra. Sobretudo a guerra atômica que é a mais devastadora de todas. Tudo isso é um perigo, mas tudo não é nada se contra tudo isso houver gente que tem o espírito de Maria, nas quais vem o Espírito Santo e se espalha por toda a Terra. É o que São Luís Maria Grignion de Montfort promete àqueles que seguirem o método que ele indica. Esse trecho que me pediram para ler hoje à noite não descreve essa devoção, ele dá os prêmios da devoção, para que a pessoa depois tenha vontade de estudar bem como é e de seguir essa devoção. Daí a natureza do texto que eu estou lendo aos senhores. * "Quando chegará o século de Maria, em que inúmeras almas escolhidas, perdendo-se no abismo de seu interior, se tornarão cópias vivas de Maria?" “... enchendo-as de seus dons, particularmente do dom da sabedoria, a fim de operar maravilhas da graça. Meu caro irmão, quando chegará esse tempo feliz, esse século de Maria, em que inúmeras almas escolhidas, perdendo-se no abismo de seu interior, se tornarão cópias vivas de Maria, para amar e glorificar Jesus Cristo?” Os senhores estão vendo que ele faz aqui uma profecia, mas uma profecia ao pé da letra, é uma profecia sob a forma de pergunta: "Meus caros irmãos, quando chegará o dia em que isto vai acontecer?" Como quem diz, esse dia acontecerá, não é certo quando é que chegará, mas oh! o dia quando chegar. O que é que vai acontecer nesse dia? Ele usa mais uma vez de uma metáfora: “... esse século de Maria, em que inúmeras almas escolhidas...” Portanto, não é uma alma de um qualquer, mas almas chamadas especialmente. “... perdendo-se no abismo de seu interior, se tornarão cópias vivas de Maria...” * O que significa "perder-se no abismo de seu interior", no interior de Maria O que quer dizer a gente “perder-se no abismo de seu interior”? É uma expressão muito bonita. Um pouco misteriosa para quem não conhece a doutrina católica, mas muito bonita. Cada alma tem interioridades, o interior de cada alma é um mundo, o interior de cada alma é um abismo. Quem conhece o que se passa na alma dos outros? São pouquíssimos, são aqueles a quem a graça proporciona o dom do discernimento dos espíritos... [Vira a fita] ... por outra forma, ninguém sabe o que se passa no interior de cada alma. Mas isto prova quanta coisa existe no interior de cada alma, quantas riquezas Deus pôs em cada alma, quantas capacidades de querer, de pensar, de sentir, de pulsar, cada coisa à sua maneira, cada alma é única. * No Juízo Final, vamos ter a noção de que Deus constituiu com todas as almas um mosaico, que forma um quadro lindo Não sei se os senhores têm em consideração que cada alma é única e que Deus não cria jamais duas almas iguais. Ele pode criar almas parecidas, almas iguais não há, cada alma é irrepetível. E todos os homens, quando chegar o dia do Juízo Final e que estivermos reunidos no Vale de Josafá para sermos julgados por Deus, nós vamos ter a noção curiosa de que Deus constituiu com todas as almas, desde Adão até às almas fiéis que vão ficar até ao fim e que não vão ser julgadas e que vão para o Céu sem morrer tal será a fidelidade deles nos últimos estertores da Igreja Católica e da Civilização Cristã, de ponta a ponta, cada alma foi meio diferente da outra, diferente da outra, mais ou menos como um mosaico que forma um quadro lindo. A gente vendo aquele mosaico compreende o que é o gênero humano. Não é cada alma, mas é esse quadro de conjunto esplendoroso que são os homens que Deus criou. E no qual cada um de nós é uma pedra, e essa pedra é única, e todas as pedras são diferentes, de maneira que isso constitui a maravilha das maravilhas de Deus nessa Terra. No Céu ele criou os Anjos, mas nessa Terra a maravilha são os homens. * É preciso habituar-se a um exame de si mesmo, para conhecer-se a si mesmo por dentro, e saber julgar-se a si próprio com severidade Pois bem, esses homens assim, porque cada um é único, cada um tem todo um universo único dentro da própria alma. E é preciso que a gente se habitue a examinar-se a si mesmo, conhecer-se a si mesmo por dentro, saber julgar-se a si próprio com severidade, de maneira a saber apontar a si mesmo o seu próprio defeito ou os seus próprios defeitos, saber combatê-los, de maneira a que ora o defeito avança ora a qualidade avança. No fim o defeito levou uma tal série de pancadas que ele está como um animal moribundo, e, pelo contrário, a virtude teve tantas vitórias que ela está como um general triunfante. Oxalá que isso se dê no momento em que a alma está para ser chamada por Deus, porque ela comparece diante de Deus esplendorosa. Ela acabou realizando um interior de si como Deus queria quando a criou. Deu-lhe graças, deu-lhe mestres, deu-lhe conselhos, deu-lhe tudo, ela disse “sim” a tudo e ela foi-se modelando como Deus queria. A alma inteiramente assim posta no abismo das suas coisas interiores ela fez essa obra-prima. Qual é essa obra-prima? Ela fez de si mesmo a escultura que Deus queria. A maior obra-prima de São Tomás de Aquino, por exemplo, que foi o maior pensador da Igreja Católica não comparável a nenhum outro, a maior obra-prima de São Tomás de Aquino não foram as coisas que ele escreveu por mais maravilhosas que tenham sido, a maior obra-prima dele foi ele, pelo qual ele foi um santo da Igreja Católica. Escreveu coisas maravilhosas, não tem dúvida nenhuma, mas é secundário, a obra-prima dele é São Tomás de Aquino. * Cada um de nós é chamado a ser a obra-prima de si próprio e, mais ainda, é chamado ajudar muitos outros a serem obras-primas Cada um de nós é chamado a ser a obra-prima de si próprio, e, mais ainda, é chamado ajudar muitos outros a serem obras-primas por sua vez. E é chamado pelo apostolado a ajudar o outro a esculpir-se a si próprio, pelos bons conselhos, pela ação boa que dá, pelas orações que fazem pelos outros etc., a esculpir-se de maneira a ser aquilo que Deus queria dele. Que glória para um de nós estando no Céu ver uma alma aparecer que entra radiosa também, e que se vê nela que em alguma coisa ela é o que ela é porque nós demos a ela um apoio numa hora decisiva. E que agradecimentos prestará a nós tudo quanto é alma que nós tenhamos ajudado a levar para o Céu, deste modo ou daquele modo, que agradecimento essas almas darão chegando no Céu àqueles que a ajudaram a ir para o Céu. Elas olham – porque do Céu se vê o Inferno – e veem o Inferno, e podem ver até o lugar do Inferno onde estava destinado a elas irem, se elas não cumprissem o seu dever. Mas olham também para o trono que está preparado para elas no Céu, para onde o Anjo da guarda está levando a elas num concerto de alegria de todo o Céu porque aquela alma se salvou, e a alma compreende: "Foi este, foi aquele, foi aquele que me ajudou"! Os senhores tomem o caso dos senhores Os senhores são muitos aqui, são algumas centenas nesse auditório. Se cada um dos senhores salvar mil almas, nós poderíamos ter mil centenas de almas salvas. E não é muito salvar mil almas, concorrer para salvar mil almas não é muito. Essas mil que são almas como [que] filhas dos senhores, elas por sua vez salvarão outras, que serão como netas dos senhores. No fim do mundo o que é que dá isso? Tudo isso serão coisas que se deverão agradecer ao que os senhores terão feito. Não sei se está claro isso? Mas aqui está São Luís Grignion de Montfort dizendo: "Para conseguirem isto não desanimem. Parece muito difícil, mas Nossa Senhora penetra em nós. Ela penetra em nós por sua santidade, Ela penetra em nós pelo seu coração, Ela nos renova e nós seremos capazes daquilo que não somos capazes agora. Para a frente, portanto!" Assim se arrancam ao demônio espaços enormes que estão no poder dele, mas que Nossa Senhora arrancará no dia em que Ela arrebentará com essa coisa e um Anjo proclamar no Céu: "Maria vence, Maria reina, Maria impera sobre os corações”. * Diz São Luís: "Esse tempo [em que Maria será Rainha dos Corações] só chegará, quando se conhecer e praticar a devoção que ensino" “Esse tempo só chegará quando se conhecer e praticar a devoção que ensino.” Vejam bem isso, hein? Enquanto não se conhecer e não praticar a devoção que ele ensina, esse tempo não chegará. Quando for conhecida e praticada, esse tempo chegará. Então o que é que nós temos que fazer? Em vez de dar suspiros porque a “Bagarre” não vem, ensinemos isso, abramos a porta! Se está abafado o ar, vamos abrir as janelas, vamos abrir as portas. Se a atmosfera de hoje é insuportável, abramos as portas do Reino de Maria para o interior de nossas almas e vamos para a frente, Ela fará o resto. “Esse tempo só chegará quando se conhecer e praticar a devoção que ensino.” E ele termina o trecho assim: "Ut adveniat regnum tuum, adveniat regnum Mariae". É uma súplica dirigida a Nosso Senhor Jesus Cristo: "Que chegue o vosso reino, chegue a nós o reino de Maria; porque onde Maria está, está tudo aberto para Vós e Vós reinais". * As perseguições e os maus tratos que recebia São Luís Grignion Para os senhores verem como é complicada essa história, como o demônio odeia isso, São Luís Grignion de Montfort foi um padre, simples sacerdote, muito pobre, que se ordenou num seminário da Bretanha, se não me engano, na França, e que resolveu pregar por toda a parte a devoção a Nossa Senhora. Ele era um pregador popular, ele não era desses grandes pregadores de auditório de gente muito inteligente, mente culta etc., ele era um orador popular. E aonde ele se dirigia, as massas de trabalhadores agrícolas vinham em quantidade ouvi-lo. Apesar de ele dizer coisas que pedem uma explicação, essas massas se juntavam em torno dele e tinham um verdadeiro entusiasmo por ele. Mas a França vivia no período de preparação da ignóbil Revolução Francesa que se estendeu sobre o mundo inteiro, e São Luís Grignion percebia que essa Revolução estava vindo. Em vários trechos do "Tratado da Verdadeira Devoção" ele fala disso, de uma enorme revolução que estava vindo, em conseqüência de uma verdadeira inundação de pecados que estava sobre a França e que estava sobre a Europa. Então, ele falava, pregava, mas o clero do tempo dele, em parte muito contaminado por esses erros, combatia a ele e desprezava a ele. Num convento onde uma vez ele esteve... Ele era muito pobre e naquele tempo havia muitos conventos, ele ia em geral aos conventos e pedia comida, e é um bonito hábito da Igreja Católica de todos os tempos, que num convento onde um padre qualquer toque a campainha e peça comida, não se pergunta quem ele é nem nada, dão comida para ele e deixam-no descansar um pouco etc., até ele retomar a caminhada dele. E assim faziam uns e outros com ele. Mas como ele era muito “mafiado” (caluniado), quando ele chegava a muitos conventos já tinham falado mal dele, e o tratavam com desprezo. Num convento que ele esteve tratavam-no com tanto desprezo, com tanto pouco caso, que no fim ele se retirou e perguntaram para ele, uma pessoa que assistiu isso perguntou para ele: – Mas o que é que o Sr. diz desse modo de tratá-lo? Ele disse com toda a calma, mas com toda a força, porque ele tinha uma alma de fogo, ele disse: – Eu só digo uma coisa, eu nunca pensei que fosse possível num convento tratar de tal maneira um sacerdote – foi e continuou a sua caminhada. * O governo manda destruir um Calvário que São Luís havia construído Ele tinha a intenção, para propagar essa devoção, de levantar na Bretanha creio eu, uma parte da França, um calvário ao ar livre. Um calvário quer dizer um monumento que representa o alto do Calvário no momento em que Nosso Senhor expirou. Então, Nosso Senhor crucificado na cruz, o bom ladrão, o mau ladrão, aos pés da cruz Nossa Senhora, São João Evangelista e às vezes representando também as Santas Mulheres. As Santas Mulheres chorando, São João profundamente impressionado e olhando para o Divino Mestre dele, e Nossa Senhora de pé olhando também, mas com uma firmeza que só tinha mais do que Ela Nosso Senhor pregado na cruz. Ele queria fazer daquilo um centro de peregrinação e de devoção extraordinário, pela França inteira. E de fato, já quando aquilo estava sendo construído, já estava vindo gente etc., etc. Em certo momento chega a tropa, decreto: "Ordem do rei: destruir o calvário". Destruíram e arrasaram o calvário que ele tinha levado muito tempo pedindo dinheiro, acumulando etc., depois obtendo artistas que construíssem etc., etc., a obra dele no chão. * Uma misteriosa mão faz desaparecer o “Tratado da Verdadeira Devoção” durante séculos Por outro lado, ele escreveu esse "Tratado da Verdadeira Devoção", que deveria ensinar essa devoção ao mundo inteiro. Ele não conseguiu espalhar esse livro largamente, e quando ele morreu uma mão criminosa qualquer – que não se sabe quem é – roubou esse livro e o escondeu num depósito de uma Ordem Religiosa que ele fundou, uma pequena Ordem Religiosa, escondeu-o num depósito. E aquilo sumiu. Ninguém nunca mais encontrou. Portanto, isso era um tesouro ignorado por todo o mundo. Ele morreu com essa obra assim... toda a vida dele parecia derrubada. Ele morreu em paz.
Até hoje se conserva na casa-mãe da Ordem Religiosa que ele fundou – o Sr. Fernando Antunez estava comigo quando estivemos visitando lá e vimos isso – a mesa em que ele escreveu uma grande parte desse tratado (vide foto acima), e que é uma mesa que a gente tem a vontade de trazer para cá para construir um altar não sei de que mármore e não sei com que ouro, que celebrasse suficientemente uma coisa dessas. Só no século passado é que, de repente, encontraram num baú, numa canastra, numa qualquer coisa, a obra dele. Então foi uma surpresa, foram verificar, a letra era dele, pôde-se comprovar completamente que era a obra dele. Mas, se não me engano, uma terça parte da obra dele tinha sido arrancada por alguém e sumiu não se sabe aonde. E nós não conhecemos o tratado completo, nós conhecemos só uma parte grande, a maior parte da obra dele, mas a parte inteira não. Eu ainda tenho esperança que antes da Bagarre essa parte venha ter em nossas mãos. Mas é evidentemente o inimigo oculto que foi dilacerando, escangalhando com isso, de todos os modos. * Como o "Tratado da Verdadeira Devoção" chegou às mãos do Prof. Plinio Como é que o "Tratado da Verdadeira Devoção" chegou às nossas mãos? Eu ainda era moço, tinha assim uns vinte e dois, vinte e três anos, uma coisa assim, ou menos um pouco, vinte e um, e eu tinha muita vontade que Nossa Senhora me desse uma coisa: que ela me desse dinheiro para eu não ter que trabalhar em nenhuma profissão, e ficar inteiramente à vontade para trabalhar pela causa católica; e ao mesmo tempo que eu queria muito isso, eu tinha muita vontade de encontrar um bom livro de vida espiritual. Eu tinha já lido vários livros, mas não me tinham satisfeito inteiramente, eu queria uma outra coisa. Eu, então, fiz uma promessa a Santa Teresinha do Menino Jesus, não me lembro mais o que é que eu prometi, mas fiz uma promessa... ah! bom, foi isso mesmo! Que se ela me fizesse tirar uma loteria... Eu comprei um bilhete de loteria, era um bilhete de loteria que rendia muito pouco, se rendesse o primeiro prêmio dava quatrocentos contos. É difícil calcular isso, mas dava para eu viver da renda daquilo, só, mais nada. Bem, quatrocentos contos e um livro. E não sabia que livro era. Rezei, fiz a promessa, fiz a novena a Santa Teresinha do Menino Jesus. E para comprar o livro eu fui a uma livraria que os padres do Coração de Maria tinham – e ainda têm hoje – e procurar o livro. Cheguei, entrei, examinei uma coisa ou outra etc., e dois livros retiveram especialmente a minha atenção. Um livro eu não me lembro qual era. E outro era o "Tratado da verdadeira Devoção" de São Luís Grignion de Montfort, que não era santo ainda, era só o Bem-aventurado Luís Maria Grignion de Montfort, e que eu não sabia quem era nem nada. Mas duas razões me moveram a comprar esse livro: em primeiro lugar, que dizia respeito a Nossa Senhora; e em segundo lugar, porque o modo de paginar e de arranjar era muito agradável, com muito bom gosto, e aquilo me atraiu e eu comprei. Quando eu cheguei em casa e comecei a ler, eu compreendi que tinha encontrado o livro de minha vida. Santa Teresinha atendeu a primeira parte do meu pedido. Ela não atendeu a segunda. Eu não tirei a loteria. E tive que trabalhar duramente, com prejuízo para o meu apostolado, para tocar para a frente a minha vida. Mas eu comecei a fazer a novena para ela e até hoje não parei. Vamos ver se ela me dá alguma coisa antes de chegar aos fins dos meus dias. Meus caros, no momento atual, nesse momento, não chegou o fim dos meus dias, mas chegou o fim do meu tempo. Eu vou para mais uma reunião, Salve Maria! |