Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Pássaro na mão, pássaros no ar

 

 

 

 

Publicado numa rede de jornais dos Estados Unidos, Canadá e em vários países da América Latina, março e abril de 1975 (a partir de 30-3-1975)

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O rápido curso dos acontecimentos em Portugal, mostra ao mundo, no PC luso, a mesma imagem negativa que todos os PCs ostentavam há cerca de vinte anos atrás: radicais, violentos, cavilosos, afeitos a se imporem completamente e a qualquer preço, igualmente hostis aos adversários militantes do gênero salazarista como aos dulçurosos moderados do tipo socialista, demo-cristão ou “sapo”-filantrópico. Assim, qualquer convivência do comunismo com esquerdistas, ou filo esquerdistas do centro esquerda e do centro, era ostensivamente impossível naqueles remotos idos.

É compreensível o mal estar causado aos PCs europeus e americanos por esse quadro. Pois, precisamente nos últimos vinte anos, o melhor do progresso destes tem consistido em avançar desagregando a coesão entre os anticomunistas pela difusão, no centro esquerda e no centro, do mito da colaboração – quando conquistado eventualmente o poder – dos comunistas e não comunistas.

A restauração deste velho fácies pelo PC português levanta naturalmente uma questão: a distensão dos PCs das demais nações com a esquerda e o centro esquerda seria neles o resultados de uma mera mutação de superfície? Conquistado o poder, renasceria neles o mesmo espírito exclusivista e brutal que distinguia o PC há vinte anos?

Para alguns observadores mais desconfiados – eu diria mais sagazes – a pergunta se põe em termos diversos. – A mudança de fisionomia moral dos PCs nestes últimos anos não teria sido apenas um jogo para obter parceiros no centro e no centro esquerda? Nesse caso, os comunistas teriam desde já o plano de, conquistando o poder nos vários países da Europa e do mundo, fazer cessar o jogo dulçuroso e imolar implacavelmente os inocentes úteis?

*  *  *

Para evitar os efeitos ruinosos dessas perguntas, o comunismo internacional tem só um caminho: retroceder em Portugal para alcançar a vitória na Europa. Esse eventual retrocesso encheria de ânimo os inocentes úteis do velho continente, como, aliás, de outro lado, os enche de ânimo o vergonhoso desfecho da política de conciliação com os comunistas do Vietnã e do Cambodge.

Estará o Kremlin decidido a pagar este preço? – Sem dúvida interessa-lhe muito mais ter a Europa inteira do que somente Portugal. Mas Portugal é para ele um pássaro na mão, a Europa é como muitos pássaros no ar. Segundo o provérbio luso, “mais vale um pássaro na mão do que dois no ar”. Ou do que muitos no ar.

Para evitar a incômoda escolha, conviria ao Kremlin consentir em não pequenos sacrifícios.

Mas parece próprio a dispensá-lo de qualquer sacrifício o boato que corre insistentemente, segundo o qual os dirigentes supremos do comunismo na Rússia e no mundo inteiro estão estremecidos com os de Portugal, porque não concordam com o radicalismo, o exclusivismo e o açodamento de que estes dão mostras. Segregados, pelo menos aparentemente, da grei marxista, os comunistas lusos continuarão a dominar Portugal.

Se a opinião pública mundial der crédito a esse boato, tudo correrá de modo ideal para o comunismo internacional.

E, alentados pelos protestos contra a política e os métodos do PC português, emitidos pelos outros PCs de toda a Europa e da América, os centro esquerdistas e esquerdistas continuarão a apoiar, sorridentes e confiantes, a avançada comunista nos respectivos países.

*  *  *

Assim, sem sacrificar Portugal, isto é, o pássaro na mão, o comunismo internacional poderá continuar tranqüilamente a atrair (através dos respectivos inocentes úteis) os pássaros no ar, isto é, os outros países.

De tal maneira esse boato convém ao comunismo, que uma pergunta se impõe: não é ele lançado pela própria propaganda comunista?

Aviso aos inocentes úteis. Se é que algum aviso ainda lhes pode ser útil...


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