Catolicismo,
N° 358, Outubro de 1980 (www.catolicismo.com.br)
TFP:
bombas e abertura transviada
EM COMUNICADO de autoria do Prof. Plinio Corrêa de
Oliveira, Presidente do seu Conselho Nacional, a Sociedade Brasileira de Defesa
da Tradição, Família e Propriedade — TFP, emitiu, em 30 de agosto p.p., o
seguinte pronunciamento:
"DADO O CLIMA de crescente tensão, no qual vai
imergindo o País por efeito da sucessão delirante de atentados terroristas em
curso nos últimos dois meses, a TFP se acha no dever de dirigir um
pronunciamento a seus amigos e simpatizantes em todo o território nacional, e
à opinião pública em geral:
1. ENTIDADE com definidos objetivos ideológicos e apolíticos, e com métodos exclusivamente legais e pacíficos
(cfr. "Meio século de epopéia anticomunista", Editora Vera Cruz,
São Paulo, 1980, 464 pp.), tem-se a TFP abstido meticulosamente, ao longo de
seus vinte anos de atuação, de intervir em questões partidárias, alheias a seu
fim.
2. POR ESTA RAZÃO, não pediu ela a abertura política,
nem tampouco a combateu. Assim que, pelo curso dos acontecimentos, tal abertura
se tornou um fato, a TFP a aceitou. Em vários pronunciamentos públicos, feitos
aliás em nome individual, e não no da TFP (mas com geral consenso nas fileiras
desta), empenhei-me em colaborar com a nova ordem de coisas, apresentando
sugestões à vista dos riscos que — como tudo em matéria de vida pública — a
abertura trazia, e a vantagem que dela poderia auferir o País.
3. NESTA POSIÇÃO serena e imparcial, a TFP desdenha
desmentir uma ou outra afirmação, surgida em meio ao presente vozerio
publicitário nacional, de que ela teria participação nos aludidos atentados. O
Brasil inteiro conhece o caráter modelarmente
pacífico da atuação da entidade, comprovado aliás por mais de dois mil
atestados de autoridades policiais ou municipais dos vários locais em que tem
atuado. A essas acusações, explicavelmente caídas no vácuo, a TFP responde
apenas com o silêncio.
4. SEM ENTRAR de modo algum na indagação — de âmbito
todo policial — sobre o problema perfeitamente nebuloso da autoria desses
atentados, a TFP acentua que eles podem servir de ocasião para uma radical
metamorfose do processo de abertura, vantajosa para a expansão comunista em
nosso País.
5. COM EFEITO, o método rotineiro de difamação da
esquerda contra o anticomunismo consiste em:
a) confundir arbitrariamente com o nazismo toda e
qualquer forma de anticomunismo, como se desde meados do século XIX até nossos
dias não tivesse havido as mais variadas modalidades de anticomunismo,
anteriores, simultâneas e posteriores ao nazismo, muitas delas diversas, e até
opostas, a este último;
b) atribuir por este artifício, a todos os
anticomunistas, uma propensão incorrigível para o emprego costumeiro da
violência — entretanto característico tão-só do nazismo e de seus congêneres.
O grupo, ou os grupos, de direita que eventualmente
estejam agora espalhando bombas pelo Brasil, estariam dando enganosas
aparências de verdade a essa calúnia esquerdista. Calúnia que — convém
insistir — contunde com os dados mais primários da informação histórica. Tais
grupos direitistas fariam assim o jogo necessário para a expansão das
calúnias da esquerda.
6. DE SUA PARTE, a TFP faz notar ao público quanto a esquerda
tem tirado proveito dos atentados que, fundada ou infundadamente, esta última
atribui a certos adversários. Tumultuosa, reivindicante,
agressiva até o momento em que teve início a série desses atentados, a
esquerda pôs desde então mais ou menos em surdina suas farfalhantes agitações.
E passou a ostentar-se desenvoltamente como campeã da ordem e da lei. Campeã,
aliás, tão turbulenta e agressiva agora no terreno publicitário, quanto o era
no terreno da violência material, na época em que fomentava a desordem, agia
na ilegalidade... e bramia por liberdade. Com esse procedimento, a esquerda
procura habilmente atrair para si as simpatias de nosso público tão pacífico. Pari passu,
ela se empenha em transformarem suspeitos aos olhos do público todos os
anticomunistas, que até há pouco a apontavam como adversária da tranqüilidade
nacional.
Escapar do banco dos réus para nele fazer sentar seus
adversários é bom negócio...
7. MELHOR NEGÓCIO é ainda, para a esquerda, que com
esse curso de coisas o processo de abertura fique exposto a entrar gradualmente
em degenerescência. Pois continuará a ser "aberto" para ela, a neopacífica, a neolegal. E
passaria a ser repressivo do anticomunismo, que a exploração publicitária de
tão abstrusos atentados tende a empurrar para a condição ingrata de neodesordeiro, neo-subversivo, em
uma palavra, de neo-inimigo da tranqüilidade pública.
É para onde a ação talvez tão-só episodicamente
geminada terrorismo-esquerdismo poderá conduzir a
Nação, se não se levantarem múltiplas e autorizadas vozes para mostrar para
onde vamos assim caminhando. Isto é, para uma abertura transviada, cujo real
desfecho será a esquerdização do País."
[Para
formar uma visão panorâmica do assunto, vide “Um homem, um ideal, uma gesta – Homenagem das TFPs a Plinio Corrêa de
Oliveira”, Parte I, Capítulo IV, Bombas,
“estrondos” e Abertura transviada]