Catolicismo,
N° 338, Fevereiro de 1979 (www.catolicismo.com.br)
A
TFP, PERSEGUIDORA DE PRELADOS CATÓLICOS?
COM REFERENCIA ao extenso documento “Repressão na Igreja
no Brasil, Reflexo de uma Situação de Opressão” (1968‑1978), de autoria
do Centro Ecumênico de Documentação e Informação (CEDI), publicado em largo resumo pelo semanário
"O São Paulo" de 20 a 26 do corrente, órgão oficioso da Arquidiocese paulopolitana, e estampado na íntegra pela "Folha de
S. Paulo" (23-1-79), a TFP torna públicas as seguintes considerações:
1. É objetivo patente do aludido texto nimbar aos
olhos do grande público, com a auréola de heroísmo, certas personalidades
eclesiásticas que apresenta como duramente perseguidas, notadamente por
organismos do Poder Temporal. Das várias personalidades da Sagrada Hierarquia
citadas no documento, a mais destacada é o Sr. Cardeal-Arcebispo D. Paulo Evaristo Arns.
2. Entre os atos persecutórios denunciados, figuram
três pronunciamentos da TFP, indigitada assim como uma das co-autoras da perseguição
a Pastores da Santa Igreja.
3. Esta entidade, de caráter cívico e de inspiração
doutrinária cristã, não pode deixar passar sem algumas retificações essenciais
o enfoque em que, desse modo, procura apresentá-la o documento do CEDI.
4. Cumpre assinalar, antes de tudo, o incompleto da
enumeração apresentada pelo CEDI, das publicações que a TFP distribuiu diretamente
ao grande público, ou em que externou através da imprensa sua discrepância com
atitudes de personalidades ou órgãos eclesiásticos em face do esquerdismo de
vários matizes — entre os quais até o comunismo — que lavra no País. O número
dessas publicações, só nos anos 1968-1978 (o período abrangido pelo documento
do CEDI), ascende a 38. Dentre estas, são particularmente dignas de nota, sem
dúvida, os dois livros mais recentes do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, "A
Igreja ante a escalada da ameaça comunista — Apelo aos Bispos Silenciosos"
(Editora Vera Cruz, São Paulo, 1976, quatro edições, 51 mil exemplares) e
"Tribalismo índigena, ideal comuno-missionário para o Brasil no século XXI"
(Editora Vera Cruz, São Paulo, 1977, cinco edições, 56 mil exemplares). A
omissão dessas obras de larga circulação causa surpresa, tanto mais que a
primeira delas teve repercussão particularmente intensa nos meios
eclesiásticos como no público em geral, a ponto de dar ocasião a dois comunicados
de protesto (não de refutação, note-se) assinados pelo Antístite paulopolitano, o primeiro juntamente com seus oito Bispos
Auxiliares (em 29-7-76), o segundo com os demais Bispos da Província Eclesiástica
de São Paulo (em 30-9-76), bem como a análogos pronunciamentos de D. Ivo Lorscheiter, Bispo de Santa
Maria e Secretário-Geral da CNBB (em 11-8-76), do
próprio Secretariado-Geral da CNBB (em 13-8-76), e da
Arquidiocese de Olinda e Recife, da qual é titular
D. Helder Câmara (em 13-8-76 e 1°-10-76).
5. Em todas as publicações, a TFP manifestou, em
linguagem serena e reverente, o seu desacordo em relação às citadas atitudes
de múltiplos e qualificados eclesiásticos. E se fundou sempre em fatos escrupulosamente
documentados, cuja análise fez à luz da doutrina tradicional da Igreja.
Esse procedimento da TFP é inteiramente conforme à
liberdade que o Direito Canônico concede aos fiéis.
E, em conseqüência, de nenhum modo pode ser
qualificado pelo CEDI como persecutório da própria Igreja. Este ponto, a TFP
timbra em acentuá-lo, pois não deseja que a tal respeito qualquer sombra paire,
quer sobre seu passado, quer sobre obras eventuais, relativas ao mesmo assunto,
e com documentação largamente mais copiosa, que as circunstâncias talvez exijam
que esta entidade ponha em circulação, a prazo próximo ou médio.
6. A TFP registra com pesar que, a seus vários
pronunciamentos acerca da aludida matéria, não apresentaram as Autoridades
eclesiásticas competentes qualquer refutação, nem no terreno dos fatos nem no
da doutrina. Limitaram-se a manifestar seu desacordo em termos vagos, não raras
vezes amargurados. O que contrasta com o relacionamento descontraído e
"ecumênico" por elas entabolado com as mais
variadas seitas religiosas e correntes sócio-econômicas.
E isto a ponto de ser incluído na lista das
perseguições à Igreja o entretanto inevitável processo judicial contra os
jovens religiosos dominicanos tão tristemente relacionados com o "affaire" Marighela.
Na mesma linha, a TFP não tem conhecimento de uma só
providência eclesiástica destinada a pôr cobro a atitudes censuráveis de
certos Bispos ou Sacerdotes, como a circulação das poesias claramente pró-comunistas de D. Pedro Casaldáliga,
Bispo de São Félix do Araguaia, editadas
originalmente em idioma castelhano na Espanha e na Argentina, e pela primeira
vez publicadas em vernáculo (com a necessária refutação) no citado livro
"A Igreja ante a escalada da ameaça comunista", pp. 13 a 20.
Assim — com quanta dor — a TFP não pode deixar de
registrar que, em relação a elas altas figuras da Sagrada Hierarquia têm
exercido nesta matéria uma repressão espiritual incompreensível, enquanto em
relação aos eclesiásticos — como aliás também a leigos católicos de relevo —
que tanto desconcerto têm causado no Brasil por suas atitudes esquerdistas, as
mesmas figuras assumem uma posição inexplicada.
É em legítima defesa que a TFP publica a presente
nota, que encerra rejeitando ainda uma vez o caráter persecutório que o
documento do CEDI quis atribuir à conduta, estritamente conforme às leis canônicas
e civis, desta entidade, e marcada pelo respeito devido, mesmo em
circunstâncias muito difíceis, à Autoridade eclesiástica.
São Paulo, 26 de janeiro de 1979.