Catolicismo,
N° 334, Outubro de 1978 (www.catolicismo.com.br)
[A respeito da presente matéria, vide “Um homem, uma
obra, uma gesta – Homenagem das TFPs a Plinio Corrêa de Oliveira, Parte I, Cap.
3, Mobiliza-se contra
a TFP novo estrondo publicitário: o programa “Fantástico”, da TV Globo]
Sobre
um programa de TV: a TFP ao público brasileiro
A SOCIEDADE Brasileira de Defesa da Tradição, Família
e Propriedade (TFP), agradecendo as múltiplas manifestações de apoio que vem
recebendo ontem e hoje a respeito de um programa de televisão que a apresenta
implicitamente como organização exacerbadamente
direitista — conforme versão fantasiosa de quando em quando levantada pela
esquerda, e sempre retrucada com êxito pela entidade — comunica ao público
que:
1. ENTRE os vários reparos que merece a matéria posta
no ar, no domingo dia 3, pelo programa "Fantástico" da TV Globo, o
mais saliente diz respeito à ausência de caridade cristã, a combatividade
exagerada e até o rancor que a emissora atribui à mentalidade dos participantes
da TFP. Sentindo-se desta forma surpreendentemente mal interpretada, a TFP se
apressa em dirigir a presente palavra de esclarecimento ao público. Este
esclarecimento é oferecido em espírito de diálogo cordial com os que se tenham
deixado impressionar pelas alegações de "Fantástico".
2. ESTAMOS certos, aliás, de que a grande parte da
opinião pública nacional não se deixou impressionar por tal. Atuando nossa
entidade em praça pública, de norte a sul do País, há cerca de quinze anos,
todos os brasileiros conhecem a maneira exemplarmente legal e ordeira que lhe
caracteriza as campanhas. Comprovam esse estilo de ação 1973 ofícios que
possuímos de delegados, prefeitos e outras autoridades de todas as latitudes
do País, felicitando-nos por isto.
Nenhuma entidade possui, assim, mais antigo, firme e
generalizado conceito de legalidade de procedimento e de alto padrão de trato
com o público. O que, já de si, evidencia nos cooperadores dela um espírito bem
diverso do que imaginam alguns participantes do tele-programa de domingo.
3. POR CERTO, ao longo desses quinze anos de ação
pública — e à medida que o vêm exigindo os fatos — temos refutado as doutrinas
que o comunismo internacional tenta obstinadamente inocular no País. Porém, os
livros, artigos de jornal ou de revista, notas ou comunicados que em
considerável quantidade vimos publicando neste sentido, se têm caracterizado
por elevação e delicadeza invariáveis: o plano que nos situamos é
exclusivamente doutrinário, sem jamais descermos a acusações de caráter
pessoal. Isto ainda quando fomos alvo dos mais duros e estrepitosos ataques,
não só doutrinários, como pessoais.
A quem deseja certificar-se dessa afirmação bastará
consultar nossas publicações. Pelas muito consideráveis tiragens que têm
alcançado, estão elas às mãos de todos.
Porém, para maior facilidade, pomos cordialmente
nossas coleções ao alcance de quem as queira examinar.
E se alguém julgue encontrar algo que contrarie estas
assertivas, queira indicar-nos em que obra e em que página está o texto
incriminado.
4. POR TUDO isto, um dos nossos mais sensíveis pontos
de honra está em que se reconheça o caráter cristãmente legal, ordeiro e
cordial de nossa atuação, a qual — acrescente-se — sabemos, graças a Deus,
eficaz e bem sucedida.
5. DADA a unilateralidade da qual tantas vezes dá
mostra o espírito humano, é compreensível que essa mesma eficácia levante
contra nossa entidade ressentimentos e queixas infundadas, em setores de opinião
direta ou indiretamente influenciados pela campanha que, com implacável
obstinação, o comunismo vem realizando para destruir no Brasil a soberania
nacional e o que resta de civilização cristã. Entre comunistas professos, socialistas
e inocentes-úteis, mágoas e objeções não faltarão, portanto, contra nossa entidade.
Mas que tais objeções tenham chegado a influenciar brasileiros que, por
certo, não aceitariam de ser classificados em alguma dessas categorias
ideológicas, isso é o que nos desconcerta.
6. COM EFEITO, estávamos no direito de esperar
precisamente o contrário. Consagramos largamente à defesa do País contra a
infiltração doutrinária do comunismo, energias e tempo que poderíamos empregar
em proveito pessoal. Cumprimos assim um dever de consciência defendendo a
Pátria e a civilização cristã contra o mais radical, violento e implacável
adversário.
E ninguém pode duvidar da atualidade e premência do
perigo constituído por este. Pois tal perigo é notório. A ele estão expostos
todos os povos livres. Em razão dele, já mais de uma vez foi vertido sangue de
brasileiros. E, se provas fossem necessárias, temos colecionado 214
pronunciamentos de altas patentes das forças armadas, que nos últimos três anos
têm alertado contra ele a opinião pública.
Teríamos faltado com a caridade, defendendo o Brasil
contra esse adversário? Ou, pelo contrário, teríamos faltado com a justiça e a
caridade se tivéssemos cruzado os braços diante dele?
A Lei de Segurança Nacional preceitua, em seu art. 1.°:
"Toda pessoa natural ou jurídica é responsável pela segurança nacional,
nos limites definidos em lei". Teremos manifestado falta de espírito de
caridade, combatividade exagerada etc. simplesmente por havermos dado
cumprimento a esse preceito, na esfera privada, e dentro da mais escrupulosa
obediência aos ditames da boa ordem?
7. POR RAZÕES análogas às já expostas, é explicável
que elementos da chamada "esquerda católica" se portem conosco
animados pelos ressentimentos da unilateralidade. Dentro da Igreja, a
infiltração do comunismo se tem feito sentir de modo notório. Disso está tão
certa a opinião nacional que, já em 1968, 1.600.368 brasileiros subscreveram,
em 58 dias, a mensagem que enviamos a Paulo VI, pedindo medidas contra a infiltração
comunista nos meios católicos.
De então para cá, o perigo não fez senão crescer. E de
modo tão impressionante que, em 1977, dois Arcebispos, sem a menor vinculação
conosco, denunciaram à nação o perigo face ao qual, de nosso lado, já vimos
atuando.
No que está, perguntamos, a falta de caridade cristã?
Em apontar o perigo que ameaça a Igreja e alarma os bons católicos? Não está,
pelo contrário, em cruzar os braços diante dele?
8. COM AS presentes considerações, não queremos
alimentar polêmicas. Mas apenas esclarecer alguns brasileiros que não nos
compreendem. E’ abrir seus olhos para o que fazem.
A quem aproveita a manifestação das prevenções
apressadas e mal informadas deles, contra a maior entidade civil anticomunista
do País? E no que, cordial e atenciosamente, gostaríamos refletissem.
Não nos julguem sem nos conhecer: é só o que lhes
pedimos.
Não se lhes poderia pedir menos, nem mais afavelmente.
9. OUTRAS ponderações ainda caberia formular acerca da
matéria posta no ar, sobre a TFP, pela TV Globo. A falta de espaço não nos
permite fazê-lo. Sobre os assuntos ligados a Miracema e outras Paróquias da
Diocese de Campos — pelos quais o programa "Fantástico" nos
responsabiliza — aduzimos tão só o que segue:
D. Antonio de Castro Mayer, Bispo de Campos, dotado da
inteligência, cultura e personalidade que lhe valeram renome nacional e internacional,
obviamente não pode ser tido como mera "marionete" da TFP. Tem ele
seu Seminário, no qual forma seus Sacerdotes segundo o espírito e a doutrina da
Igreja. Sacerdotes dedicados e modelares, nos quais também é impossível ver
meras marionetes da TFP.
Sobre os fatos expostos pela TV Globo nesse e em
anteriores programas, a Cúria Diocesana de Campos deu a lume um Edital elevado,
sereno e amplamente explicativo, cujo texto fez entregar em mãos a essa
empresa publicitária no dia 31 de agosto p.p., com o pedido de que fosse
divulgado na íntegra. Continuamos a esperar que a empresa atenda o pedido.
Enquanto tal não acontece, a TFP tem, à disposição dos
interessados, esse documento memorável.
10. DE RESTO, essas e outras incompreensões não nos
demoverão de prosseguir com paciência cristã — isto é, com serenidade de ânimo
e de ação, com constância e inquebrantável coragem de alma — na defesa da
Igreja e da civilização cristã — "Alios vidi ventos, aliasque procelas",
escreveu Virgílio: a TFP já arrostou, impávida, outras tempestades. E continua
segura do êxito, em razão da promessa feita pelo Espírito Santo aos que são
cristã e varonilmente pacientes (Gal. 5, 22).