Catolicismo,
N.° 463, Julho de 1989 (www.catolicismo.com.br)
O
QUE A TFP PENSA DO PRESENTE QUADRO ELEITORAL?
Numerosos assinantes de nossa revista têm solicitado
uma palavra de orientação dela a respeito das próximas eleições presidenciais.
Em vista disso, a direção de “Catolicismo” pediu ao Prof.
Plinio Corrêa de Oliveira, Presidente do Conselho Nacional da TFP, que
fizesse declarações sobre esse tema.
Apresentamos a seguir as clarividentes e oportunas
observações do insigne pensador católico. O título e os subtítulos são nossos.
Retrocesso
de Caiado, o fim de um mito
De abril a maio, houve considerável retrocesso de
alguns candidatos presidenciáveis. Outras candidaturas, pelo contrário,
avançaram.
O retrocesso mais considerável foi o do Sr. Ronaldo
Caiado.
Parece que, afinal, a classe dos fazendeiros abriu os
olhos e compreendeu que o Sr. Ronaldo Caiado não é pessoa adequada, nem para
representá-la nos grandes foros do País, nem para representar a totalidade da
nação na direção do Brasil e nos contatos internacionais.
* * *
Segundo as pesquisas de opinião, o Sr. Caiado está
colocado nos últimos lugares. E as duplas de propagandistas da TFP, que
percorrem o interior do País, confirmam tal retrocesso, através dos contatos
mantidos no próprio meio de onde se podia esperar que lhe viesse maior apoio,
isto é, o ruralista.
Nessas condições, no presente momento ele — que
chegou a declarar que bastaria se apresentar como candidato à Presidência do
País, que os partidos viriam correndo disputá-lo como candidato — se encontra
reduzido a disputar palmo a palmo a aceitação de sua candidatura no Partido
Democrata Cristão. E nenhum outro partido se mostra apetente de tê-lo em seus
quadros.
O mito, a aura de invencibilidade jovem, jubilosa e
irreversivelmente triunfante que se havia constituído em torno dele,
encontra-se dessa forma desfeita pelos fatos.
O
papel da TFP no desestufamento desse mito
A TFP está certa de que seus numerosos alertas (sem
réplica da parte do Sr. Caiado), a respeito da política suicida do "ceder
para não perder" adotada pelo então presidente da UDR, contribuiu em
larga medida para o desestufamento desse mito, que ia conduzindo a classe
rural, talvez irreversivelmente, e com ares de vitória, abismo abaixo.
Lula,
outra candidatura seriamente abalada
Sr. Ronaldo Caiado foi, durante bom tempo, um
"favorito", um campeão para o Grande Prêmio Presidência da República,
senão de toda a mídia, pelo menos de grande parte dela.
Já antes dele, ao mesmo tempo que ele e
posteriormente, foi do mesmo modo "favorito" cavalo de corrida nesse
páreo do primeiro prêmio presidencial, seu concorrente, Luís Ignácio Lula da
Silva.
Mas também Lula vem experimentando considerável
retração, ainda que não tão grande quanto a do Sr. Ronaldo Caiado.
Tal retração deveu-se principalmente ao desagrado da
opinião pública diante das conseqüências da greve "geral" de março
passado e do surto grevista posterior, evidentemente impulsionado pela CUT,
tão ligada a ele e ao partido que dirige, o PT.
Segundo a revista "Veja" (17-5-89), desde o
início de tal surto, o nome de Lula vem caindo nas pesquisas. "Reconhecemos
que a opinião pública está irritada com as greves", afirma o deputado
Paulo Delgado (PT-MG), "mas não podemos frustrar o movimento sindical".
* * *
Também contribuiu para o desprestígio de Lula o
noticiário jornalístico a respeito da reação decepcionada e ao mesmo tempo
irônica de muitos elementos dos altos meios financeiros norte-americanos, em
relação à exposição que ele fez em Nova York, no Hotel Waldorf
Astoria. "A grande maioria não gostou do que
ouviu. Muitos riam nas horas mais sérias" ("O Estado de S.
Paulo", 3-5-89).
Em proporção menor, mas ponderável, pesaram contra a
candidatura de Lula algumas atitudes da prefeita Da. Erundina, como por exemplo
o tombamento da residência Matarazzo, situada na
Av. Paulista, para construir a chamada "Casa do Trabalhador", que
repercutiu muito mal em amplos setores da opinião pública paulista.
Esses e outros fatos alertaram muita gente que dormia
por aí afora, embalada pela falsa segurança de que poderia conseguir os
melhores resultados da política de concessões feitas em relação à esquerda...
No
ocaso dos "favoritos", surge uma candidatura nova: Collor
Nesse clima de ocaso de "favoritos",
desponta uma figura que se apresenta ao público brasileiro como solução:
Fernando Collor de Mello.
Uma vez mais, grande parte da mídia toma essa figura
e a apresenta como se fosse outro campeão de corrida que entrou no páreo
eleitoral.
Campeão de corrida que, ao contrário de Lula, Covas
ou Brizola — os quais, na medida em que vencessem,
representariam uma capitulação acovardada da burguesia ante opções radicalmente
esquerdistas —, implicitamente oferece às classes dirigentes, em seu "discorso", uma perspectiva menos sombria que a apresentada
pelos três candidatos da esquerda.
A
"mídia" cerca Fernando Collor com propaganda parecida à que favoreceu
Caiado
Neto de Lindolfo Collor, político gaúcho muito
saliente na era getuliana, ligado por vínculos
familiares mais ou menos desfeitos, como por vínculos familiares atuais, ao
grande capitalismo, ele próprio um capitalista de considerável fortuna, o
nome de Fernando Collor desperta em certos setores brasileiros a esperança de
que venha a representar uma solução centrista, com alguma tendência à direita,
para a solução da situação caótica que submerge o País.
Começa a cercá-lo uma aura parecida com a que outrora
favorecia Caiado. E a mídia vai projetando dele a imagem de pessoa resplandecente
de otimismo, de êxitos passados e de esperanças para o futuro. E que traz em
si uma como que promessa "evidente" de vitória.
* * *
Não é nossa intenção, nestes comentários, impugnar a
atitude dos que consideram a presença de Collor, na lista dos mais cotados
presidenciáveis, como representando certa distensão e certo alívio quanto à
pressão das esquerdas.
Atitude
"consensualista" da "mídia" priva o público dos critérios de
análise
Mas é preciso tomar cuidado.
Uma análise dessa série de nomes que recentemente têm
subido e descido ao sopro da publicidade (lembremos aqui, de passagem, um
nome que já vai afundando nas sombras da história: o de Tancredo Neves)
leva-nos à conclusão de que, nos últimos dez anos, os meios de comunicação
social do Brasil vêm usando e abusando de certa atitude consensual, uns em relação
aos outros. Sintoma dessa "consensualidade" é o fato de quase não haver
mais polêmicas sérias e de conteúdo doutrinário entre eles.
Em conseqüência, quando um desses órgãos apoia certo
nome ou candidato, é lançado sobre este uma tal carga publicitária, e tão
unânime por parte dos demais órgãos, que acaba privando o público dos
critérios de análise.
TFP
recomenda: atitude de análise, sem confianças cegas nem incondicionalismos
festivos
Collor parece ser um candidato preferível aos outros.
Mas, daí a depositar nele — como se fosse um candidato
talismânico — a confiança cega, presente em certas formas de entusiasmo
sugeridas por elementos das comunicações sociais, isso se nos afigura
excessivo.
É necessário acompanhar com atenção o que ele diz,
para ter idéia exata do voto que se vai dar.
* * *
Alguém dirá: "Bom, mas afinal das contas, não há
em quem votar, senão ele".
— Está bem, respondemos nós, mas é indispensável
rechaçar o incondicionalismo utópico e festivo que certa
mídia tem o vício de criar em torno de alguns candidatos.
Esse utopismo otimista é que vai marcar a atmosfera do
primeiro período de governo. E acaba beneficiando prematuramente um novo
Presidente de República com uma carga de confiança que ele talvez mereça...
mas que talvez não mereça.
* * *
Esses não são comentários anti-Collor.
São comentários pró-Brasil. Comentários que convidam à vigilância e à atenção.
Eles não desviam votos de Collor. Apenas procuram
atenuar fanatismos que facilmente se podem tornar excessivos.
Talvez se pudesse dizer que não faltariam motivos
para essa vigilância, na conduta passada e atual do Sr. Collor. Mas esta seria
matéria extensa demais para ser, por nós, aqui analisada.