Correio do Povo, Porto Alegre, 4 de outubro de 1980

 

O DESMENTIDO CATEGÓRICO DA TFP

 

1. Em 1960, o Brasil se achava ameaçado por vários movimentos de opinião voltados, todos, para o desmantelamento parcial ou até total da ordem sócio-econômica vigente. E muito especialmente para a destruição dos três valores cristãos fundamentais: a tradição, a família e a propriedade.

Com o intuito de preservar esses valores, sem os quais nenhuma ordem pode ser qualificada de autenticamente cristã, idealistas abnegados - que já se haviam assinalado anteriormente em múltiplas atividades vanguardeiras, nas filas do laicato católico - fundaram então a SOCIEDADE BRASILEIRA DE DEFESA DA TRADIÇÃO, FAMILIA E PROPRIEDADE (TFP).

Segundo o estatuído quando da fundação, o campo de ação da novel entidade deveria ser essencialmente ideológico. E seus métodos exclusivamente os pacíficos.

2. No decurso destas duas décadas, a TFP se tornou conhecida em todo o País por sua ação doutrinária de alto nível, não só cortês em meio às mais árduas polêmicas, como pacífica mesmo ante as mais caluniosas difamações.

A TFP obteve êxitos notórios na defesa de propriedade rural contra a Reforma Agrária socialista e confiscatória, na preservação da indissolubilidade conjugal contra várias das campanhas em favor do divórcio, bem como no esclarecimento da opinião nacional acerca da infiltração esquerdista em largos meios católicos do País.

3. No término destes vinte anos, a TFP acaba de lançar e livro "Meio século de epopéia anticomunista" (Editora Vera Cruz, São Paulo, 1980, 464 pp.), em que historia todas as suas atividades. Da obra, que está recebendo do público lisonjeira acolhida, já se escoaram mais de vinte e dois mil exemplares. Sua terceira edição está em curso.

4. Enquanto assim veio lutando a TFP pela boa ordem e pela tranqüilidade da família brasileira, a agitação ideológica de fundo comunista, bem como a violência e a subversão continuaram a abalar de modo incessante o País. Deu isto ocasião a que se avolumassem as correntes subversivas, e numerosos militantes destas últimas fossem detidos para investigação, ou para cumprimento de pena.

5. Quase ao término destas duas décadas, generalizou-se no País, aliás com ardoroso apoio de esquerdistas de todos os moldes e graus, a convicção de que uma política de larga confiança e de perdão, visando a libertação tanto dos suspeitos como até dos culpados, abrandaria as tensões, pacificaria os espíritos e restabeleceria a paz no Brasil. Veio, então, a abertura.

6. E com a abertura veio a democratização, cuja característica é a instauração de liberdade para todos de difundirem suas idéias, no debate sereno e elevado, sem a qual a palavra democracia não passa de ficção.

7. Cessado para a esquerda e até para a extrema-esquerda o perigo de silenciamento pela repressão policial, eis que - em estranha contradição com tudo isto - dos meios da esquerda e do centro-esquerda, ontem ainda pregoeiros de impunidade, da subversão e da confiança na inocuidade dos subversivos, começa a surgir uma campanha visando a detração, e desprestigio e por fim o silenciamento dos lidadores ideológicos e pacíficos do anticomunismo, agrupados na TFP. Com o que fica desfigurado o debate doutrinário sereno e elevado indispensável para a democracia.

Vai assim tendo curso a difamação sistemática da TFP, através de órgãos da grande imprensa, como entidade suspeita de prática da violência e até da subversão. Ontem, eram veiculadas suspeitas de participação da TFP nos atentados contra as bancas de jornais. Mal haviam caído ao solo essas suspeitas, por inteira falta de provas ou indícios, ressurgem elas, igualmente infundadas, a propósito de episódios locais em Teófilo Ottoni (MG) e Santana do Livramento (RS).

Contra a TFP fica mais ou menos implícito que se devem voltar assim, desconfiados e sanhudos, os rigores da lei e da repressão policial. Isto é, precisamente os mesmos rigores cuja cessação, em favor da esquerda, era há meses atrás exigida como um postulado da democracia.

Liberdade assim para o comunismo e repressão para o anticomunismo, eis para onde deveria rumar a democracia brasileira, a qual "ipso facto" teria então deixado de ser genuinamente democrática, para se transformar em mero instrumento de libertação de quanto favorece o comunismo e de destruição de quanto a este se opõe. Ou seja, em um processo de sovietização de nosso País.

8. O exemplo mais recente disto é a repercussão que vai sendo dada em órgãos da grande imprensa diária a notícia de que segundo jornal local, o semanário “A Platéia”, impresso na simpática cidade de Santana do Livramento (RS), cooperadores de TFP teriam angariado há dias donativos para a compra de armas destinadas à luta  contra o comunismo.

A notícia do referido semanário, gotejando aliás também outras inverdades, veio desacompanhada de qualquer prova. O que não impediu que repercutisse ato contínuo em órgãos de grande imprensa de São Paulo, do Rio e até do Recife.

9. Quanto à notícia referente a cidade de Santana do Livramento e, ao que parece, também a outras localidades do Rio Grande do Sul, a TFP tem a dizer que:

a) Realmente dois cooperadores seus coletaram donativos naquela cidade para custear a atuação pacífica e legal, tão característica da entidade. Está no direito incontestável da TFP fazê-lo, como, aliás, de toda entidade idealista e desprovida de patrimônio.

b) É absolutamente falso que estes donativos tenham sido pedidos para a compra de armamentos. Como também é falso que a TFP possua acampamentos ou cogite de comprá-los. Sua luta contra o comunismo, como foi dito, é exclusivamente doutrinária e legal. Igualmente não tem o menor fundamento a afirmação de que a TFP tenha qualquer nexo ou colaboração com entidades que, segundo o jornal, se autointitulam “Falange Pátria Nova” etc;

c) Os detratores da TFP estão na obrigação de provar suas acusações sob pena de incidir sobre si mesmos, o descrédito que pretendem lançar contra ela.

10. Qualquer suspeita de que a TFP tenha caráter paramilitar rui ante as afirmações em contrário, de altas personalidades militares das áreas federal e  estadual, e oportunamente dadas a público. Entre estas cumpre lembrar a prova de confiança e amizade dada à TFP pelo falecido General Souza Mello, ex-comandante do II Exército, quando dias depois de deixar o cargo do Ministro-Chefe das Forças Armadas, inaugurou solenemente o Auditório da TFP; as declarações categóricas e decisivas do então Secretário de Segurança Pública do Rio Grande de Sul, o falecido Coronel Portinho; e análoga declaração do ex-Secretário da Segurança de São Paulo, deputado Erasmo Dias. Ademais possui a TFP em seu arquivo 2.100 atestados de autoridades policiais e municipais das mais diversas localidades do País, certificando o caráter inteiramente pacífico das campanhas efetuadas pela TFP.

11. Nada disto tem sido realçado por certos órgãos da imprensa diária, que agora pretendem sobressaltar o Brasil com o noticiário do jornal de Santana de Livramento.

13. A TFP, certa de que estas versões difamatórias por sua vez cairão no vazio, desde já alerta a opinião pública contra outras que presumivelmente lhes sucederão.

São Paulo, 2 de outubro de 1980

Paulo Corrêa de Brito Filho,

Diretor do Serviço de Imprensa