Catolicismo, N° 282, junho de 1974 (www.catolicismo.com.br)

Mons. Casaroli deu novo fundamento à declaração da TFP

O DESMENTIDO de Mons. Agostinho Casaroli, a propósito de suas declarações de que "os católicos e em geral o povo cubano são felizes sob o regime socialista", dá novo fundamento ao documento em que a TFP define seu estado de resistência em face da política de aproximação com os regimes comunistas, desenvolvida pela Santa Sé. Foi o que declarou a entidade em comunicado distribuído à imprensa no dia 18 de maio.

Eis a íntegra do comunicado da TFP:

"O Sr. F. Alessandini, porta-voz do Vaticano, em entrevista à imprensa internacional, pôs expressamente em causa a Declaração A política de distensão do Vaticano com os governos comunistas / Para a TFP: omitir-se? ou resistir?, publicada em São Paulo no dia 10 de abril, e depois, sucessivamente, na Argentina, no Uruguai e demais nações sul-americanas. Dada a impressão inexata que as asserções do Sr. Alessandrini podem causar no público, vemo-nos na contingência de divulgar desde logo, sobre a matéria, algumas considerações.

Para tanto, tomamos como base o resumo da entrevista do porta-voz do Vaticano publicado sexta-feira em matutinos de São Paulo e da Guanabara. Entrementes, telegrafamos ao Sr. Alessandrini, pedindo que nos envie o texto integral de suas afirmações. Recebido este, voltaremos eventualmente ao assunto.

Em síntese, nossa Declaração de 10 de abril manifesta respeitoso mas profundo desacordo em relação à política de aproximação do Vaticano com os regimes comunistas, e afirma o propósito que nos move, de resistir a essa política, no espírito com que São Paulo resistiu a São Pedro.

A fim de documentar e caracterizar tal política, nossa Declaração mencionou vários fatos da mais alta importância, que não é possível deixar de atribuir à augusta Pessoa do Pontífice, e além destes uma entrevista de imprensa de Mons. Casaroli sobre sua visita a Cuba.

De toda essa massa de fatos, Mons. Casaroli só desmentiu duas das afirmações que fez relativamente a Cuba. Como se vê, em matéria de desmentido dificilmente poderia ser menos.

Além disto, o próprio desmentido de S. Excia. dá novo fundamento à Declaração das TFPs.

Com efeito, S. Excia. negou haver dito que "os católicos e em geral o povo cubano são felizes sob o regime socialista". Quando todo o mundo sabe que eles lá são infelizes, atrozmente infelizes, o alto dignitário vaticano, em lugar de protestar contra essa situação, parece comprazer-se em afirmar aos olhos do mundo que absolutamente não a denunciou. Por que? Obviamente para não desagradar a Castro, embora com isto deixe entregues à sua sorte as desditosas ovelhas do Bom Pastor.

Ainda asseverou S. Excia. não ter dito que "os católicos e em geral o povo cubano não têm nenhum problema com o governo socialista". Ora, o normal era que S. Excia., ao sair da Ilha concentracionária, protestasse aos olhos do mundo pelo fato de que os católicos estão, ali, crivados de problemas. Por que deixá-los assim desassistidos de um protesto que Pio XII, por exemplo, faria tão patético e vigoroso?

Sempre a mesma razão: confiança em que, à força do silêncio, resignação e recuo dos católicos, os dirigentes comunistas — bons no fundo do coração — amoleçam.

Dessa confiança não participamos. Nessa bondade não cremos. A política da confiança no comunismo nos parece pôr todos os trunfos nas mãos deste, com sumo risco para a Igreja e a Cristandade.

É o que, por ora, a TFP tem a dizer ao público. Fá-lo com profunda tristeza, renovando a expressão de seu mais entranhado respeito e amor ao Papa e à Santa Sé".