Instituto Plinio Corrêa de Oliveira
A Inocência Primeva e a Contemplação Sacral do Universo no pensamento de PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA |
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Parte ICapítulo 2Inocência primeva, estadode harmonia com que aalma saiu das mãos de Deus
1. Inocência: um conceito que não é meramente negativoÉ corrente dizer que a consciência limpa traz a felicidade, e é certo. Mas é preciso ir além, e descrever a inocência primeva. Que é a inocência? Um privilégio infantil? Um estado vedado aos adultos? É simplesmente não pecar, por falta de idade ou de condições? Um estado meramente negativo, que consiste apenas em não fazer algo? Nocente é aquilo ou aquele que causa dano, que pratica o mal. Então se pergunta: inocente seria apenas o não-nocente, assim como incolor significa apenas não ter cor? É claro que a mera acepção etimológica é essa. Mas há uma inocência plena, que vai além do meramente não-nocente, vai além de não praticar o mal.
2. Inocência é a harmonia de todas as potências da alma entre siA criança ignora as leis da transmissão da vida, e por isso na linguagem corrente se diz que ela é inocente. O adulto que é acusado de um crime que não praticou, aquele que não cometeu pecado é inocente. Entretanto, pode-se tomar a expressão inocência primeva num sentido específico, que vai além da acepção usual, e que se aplica a todas as idades. Inocente é o homem de todas as idades que adere àquele estado de espírito primevo de equilíbrio e de temperança com que o homem foi criado, e por isso conserva-se aberto a todas as formas de retidão, de maravilhoso. ‘A inocência é a harmonia de todas as coisas ou de todas as potências da alma entre si. E por causa dessa harmonia, ela tem a noção fácil e imediata das coisas como elas devem ser e, portanto, do modelo ideal de todas as coisas’.[1] Esse conceito de inocência, portanto, vai muito além da acepção corrente da palavra. Não se trata apenas de não praticar o mal, mas sobretudo de aderir fortemente à harmonia do Verdadeiro, do Bom e do Belo. Inocente é quem não pecou contra aquele estado de espírito primevo de equilíbrio e harmonia, e por isso conserva-se aberto a todas as formas de maravilhoso, e apetente delas. ‘A posição de alma do inocente é como a de alguém que, por assim dizer, acabasse de sair das mãos de Deus. Às vezes tem-se a impressão de que certos aspectos da natureza são assim. Quando se chega, por exemplo, num lugar onde nunca, ou quase que nunca, esteve o homem, tem-se a sensação de que aquilo está como que saindo das mãos de Deus. Aquela inocência é quase a inocência da mão de Deus. Há aí um estado, um teor de relações da alma com Deus, que precisaria ser especialmente estudado no terreno filosófico e depois no terreno teológico’.[2] Como existe a tendência para considerar a inocência primeva como algo que diz respeito principalmente à infância, será útil analisar a expressão nas diversas fases da vida.
3. A inocência nas diversas etapas da vidaA marcha da inocência durante a vida comporta várias etapas. Há uma fase do brinquedo; depois se desperta para os charmes (e os riscos) da sociabilidade; atinge-se depois a idade adulta e vêm, por fim, o ocaso e a morte. Assim sendo, podemos adotar ‘uma designação mnemônica: a etapa do brinquedo; do meu amigo; da carreira; e do além’.[3] Primeira etapa: ‘A criança, até uma certa idade, presta muito mais atenção nos objetos que a circundam do que nas pessoas que a cercam’. Segunda etapa: ‘Em determinado momento, surgem em seu horizonte os outros, sua psicologia, sua alma. «Outro», no caso, é o menino ou a menina com quem brinca, e não o pai nem a mãe. ‘Nasce para a criança a necessidade de conhecer as outras pessoas, de estabelecer comparações e diferenças consigo mesma. ‘Em determinado momento, o companheiro diz muito mais do que o brinquedo. O brinquedo passa a ser os outros meninos e rapazes, muito mais do que a coisa com que brincam. O instinto de sociabilidade explode’. Terceira etapa: ‘Nessa fase, o que domina o indivíduo é a idéia de fazer algo nesta Terra. A pessoa começa a pensar em sua biografia, no que quer, no que vai dar, no que vai ser. É um horizonte novo que lhe dá uma idéia arquitetônica de si e do tempo que vai correr diante dele, mas que tende a dissociá-lo dos pássaros e das borboletas primeiras. ‘Por outro lado, também a inocência pode culminar em algo. Seria como a flecha da Igreja de Notre-Dame, apontando para cima’. [4] Quarta etapa: ‘Toda a existência é uma modelagem que Deus vai fazendo, com resistências ou aceitações de cada um, para que Lhe fique parecido. No último momento, Deus concede à pessoa uma última possibilidade de Lhe ser semelhante. ‘Se aceitar, vai para o Céu e é acolhida para toda a eternidade. Se recusar, é rejeitada por Deus para sempre. ‘Toda a biografia da pessoa é a modelagem a partir desta primeira imagem recebida na infância, e desenvolvida ao longo da existência, até chegar à imagem final. Entre uma imagem e outra, transcorre a vida de todas as pessoas’.[5] Apresentada esta visão de conjunto, passamos a considerar as venturas e aventuras da inocência, em cada uma das etapas acima enumeradas. Fontes de referência:
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