A
genuína nobreza romana se compõe de famílias das mais antigas e gloriosas
da Europa, que se salientam por ume fervoroso devotamento ao Santo Padre.
Quando Garibaldi invadiu Roma em 1870, essas famílias, em sua
generalidade, recusaram-se a servir a corte real italiana, continuando a
figurar na Corte Pontifícia durante o cativeiro voluntário dos Papas que
durou até o Tratado de Latrão. Só nessa ocasião a nobreza romana reabriu
seus salões, fechados desde 1870 em sinal de luto pela anexação dos
Estados Pontifícios. Os melhores elementos da nobreza romana sofreram uma
guerra tenaz do regime fascista, cuja legislação claramente socialista os
expoliou em larga escala de seus patrimônios. Nem por isto curvaram a
cabeça, e durante a ocupação nazista recusaram os cargos de "quislings"
que com ameaças e promessas lhes foram oferecidos.
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Nosso
clichê representa, da esquerda para a direita os Príncipes Colona e
Massimo e um Camareiro secreto de capa e espada "di numero", em seus
belos e tradicionais trajes de cerimônia na Corte Pontifícia. |
Em um
de nossos últimos números publicamos um breve resumo, fornecido pela
agencias telegráficas, da alocução que Nosso Santíssimo Senhor o Papa
dirigiu a membros da nobreza romana, por Ele recebidos em audiência
especial. Publicamos hoje um resumo mais completo dessa importante e atual
oração, feito pela agencia noticiosa católica N.C.
O Santo
Padre pronunciou seu discurso em resposta à saudação que Lhe dirigira o
Príncipe Marcantonio Colona.
Pio XII
afirmou que o mundo atual presencia um dos maiores transtornos de sua
história do qual há de sobrevir uma nova ordem; ao advertir contra o
perigo de ligar-se demasiado ao passado, o Soberano Pontífice também se
pronunciou contra as aventuras temerárias e contra os profetas alucinados
que falam de um falso e ilusório futuro e sublinhou ante seus ouvintes a
necessidade de sempre se orientarem segundo as verdades eternas da Igreja.
A
adequada continuação da tradição — disse Sua Santidade — exige de cada um
o comprimento valoroso da missão a que Deus o destinou, ou seja,
aperfeiçoar a nova ordem que seguirá à presente crise universal.
A
virtude da tradição
Muitos
dizem — acrescentou — que a tradição é somente um pálido vestígio de
épocas passadas que já não existem mais; em suma, lhe concedem a categoria
de algo que deve ser entregue a um museu com veneração, mas em verdade, a
tradição é o que se opõe à reação destruidora de todo progresso sólido. A
palavra em si, constitui um sinônimo de movimento e de avanço contínuo,
tranquilo, ativo, ao passo que o progresso somente evoca um movimento para
adiante, fixos os olhos num futuro incerto.
Pela
virtude da tradição, a juventude, iluminada e guiada pela experiência de
seus antecessores, avança com passo mais seguro, e então a idade pode
entregar confiadamente a mãos mais vigorosas, a continuação do arado no
sulco já aberto.
Desta
maneira — continuou o santo Padre — a tradição e o progresso integram-se
um ao outro. A tradição sem progresso é uma contradição, ao passo que o
progresso sem tradição é empresa precipitada que se lança para as trevas.
Sua
Santidade passou a assinalar a urgente necessidade de colaboradores no
progresso para um futuro sólido e feliz, exortando seus ouvintes ao
cultivo do conhecimento do passado, ao estudo da história, ao amor pelos
costumes consagrados, à incomovível lealdade aos princípios eternos; ao
mesmo tempo mostrou-lhes como função social de vital importância, a
necessidade de que se mesclem com o povo, e compreendam suas aspirações e
seus males — seguindo o exemplo de tantos espíritos nobres —, para desta
maneira difundir e criar uma ordem social cristã nos diversos campos da
atividade social. A Igreja então, terá valiosos colaboradores na sua
empresa que — mesmo no meio da agitação e conflito — não cessa de promover
o progresso espiritual dos povos.
Missão social
Ao
transtorno social e político do momento — disse Sua Santidade — está por
seguir uma nova ordem que só a Providência de Deus, que dirige os
acontecimentos humanos, conhece. O momento atual, transitório, não é um
mal em si, a menos que a destruição se espalhe e a rapina cave um abismo
entre o que foi e o que há de vir. Esta perigosa passagem da crise —
frisou ainda Pio XII —, pode ser a fonte da salvação ou a fonte da ruína
irreparável. Insistiu que a meditação do passado nos ensina que o mal
perpetrado foi um certo momento evitável, se houvesse cada um cumprido
valentemente com a missão a que, na medida das suas possibilidades e da
sua fortaleza, o destinou a Divina Providência para o progresso e a
perfeição do organismo social.
Nota:
Para aprofundar o tema, consulte a obra “Nobreza
e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à
Nobreza romana”.
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