Plinio Corrêa de Oliveira
Os 40 mártires do Brasil
Legionário, 16 de julho de 1939, N. 357, pag. 5 |
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Passou ontem, 15 de julho, o dia em que a Igreja Católica celebra a festa litúrgica dos 40 Mártires do Brasil (atualmente, essa comemoração é no dia 17 de julho, n.d.c.). Recordando o que foi esse episódio a um tempo terrível e glorioso da nossa história, transcrevemos abaixo o relato do martírio daqueles heroicos missionários vítimas do furor calvinista, como é feito no fascículo “Os 40 Mártires do Brasil e a Obra das Vocações”, editado pelas oficinas da (Editora) “Ave Maria”: Manhã derradeira Fora na manhã de 15 de julho de 1570. A nau portuguesa “Santiago”, desprendendo-se por interesses comerciais da esquadra do novo Governador do Brasil, Dom Luiz de Vasconcellos que ficava na ilha da Madeira, bordejava a ilha da Palma, no Arquipélago das Canárias. Fretada por metade, conduzia a maior expedição missionária que naqueles tempos arrancava da Europa para aumentar o clero conquistador de Cristo Rei nas terras de além mar. Superior de todos era o Padre Ignácio de Azevedo, ex Visitador que regressara do Brasil para solucionar o premente problema das vocações e agora, Provincial, conduzia 70 jovens religiosos e muitos candidatos, ainda seculares, para serem admitidos em nossa Pátria. Dessa expedição (passante de 70 pessoas), viajavam na “Santiago” 40 religiosos com o Pe. Azevedo. Embarcados na nau capitânia do Governador Dom Luiz de Vasconcellos, ficavam no porto da ilha da Madeira mais de 20 com o Pe. Pedro Dias; em outra caravela, mais uns poucos religiosos chefiados pelo Pe. Francisco de Castro. Enfunadas as velas, estava a “Santiago” bordejando para ferrar o porto de Santa Cruz de La Palma, quando do alto da gávea grita o vigia: “Vela ao largo”. Pouco depois, pairava majestoso o “Prince”, comandado pelo famoso corsário Jacques Sourie, almirante de Joana d´Albret, rainha protestante da Navarra francesa. Sourie despeja na “Santiago” sua artilharia de bronze, aborda-a, lança lhe dentro seus marujos blindados de cotas de malha, capacetes e armas brancas. A luta entre franceses e portugueses foi rija, mas era o somenos. Havia 40 religiosos, esperança do Brasil, cujo ardor e dedicação à causa da Igreja era um escândalo irritante para os protestantes. Azevedo, com o quadro da Virgem, animava seus filhos a darem o sangue generosamente pela Fé. Os calvinistas, excitados com o espetáculo de sacerdotes e irmãos a confessarem a própria religião, a ajudarem os feridos a bem morrer, investem com furor satânico. Bento de Castro, ferido, é lançado ao mar. Azevedo, aberto o crâneo, tem ainda tempo de abraçar a seus filhos que choravam: “Filhos, não temais. Deus me fez vosso Pastor: bem é que vá o Pastor diante das ovelhas; eu vou preparar-vos as moradas”. Foi aos poucos esvaindo-se, e fitando a imagem da Virgem que sustentava no braço enérgico, placidamente expirou. Seguiram-se mais seis vítimas e a refrega suspendeu-se momentaneamente com oito mártires. O barco português estava rendido. Sobre a tarde, acalmados os ódios, quando entre franceses assaltantes e português submetidos pairava social harmonia, Sourie friamente ordenou a seus homens acabassem com os restantes missionários. O motivo era glorioso: “Não convinha que viessem pregar a fé romana no Brasil”. Consumação do sacrifício Furor satânico apoderou-se da marujada calvinista: aos mais jovens, lançaram-nos simplesmente ao mar; os outros mais adultos, partido o crâneo ou atravessados a punhaladas, foram sepultados no oceano. O fogo do martírio ardia por sorte que o Irmão Gregorio Escribano levantou-se da cama onde jazia enfermo, vestiu a batina, misturou-se aos companheiros e conquistou, nesta arrancada generosa, a palma cobiçada. Um menino de nome Joaninho, cerca de 15 anos, sobrinho do capitão da “Santiago”, alma prendada, que pedia com insistência a Azevedo o recebesse, afirmava aos hereges ser da Companhia; vendo-se descrido por falta de batina, correu, vestiu-a, apresentou-se e foi martirizado. Um a um, os jovens destinados ao Sacrifício do Altar nas terras do Brasil antecipam seu Sacerdócio, tornando-se vítimas palpitantes na ara imensa do Oceano. O dedo de Deus O desbarato da expedição missionária parecia uma catástrofe. Ruía uma soberba organização. O plano grandioso para o aumento das vocações no Brasil parecia irremediavelmente desfeito; humanamente, um fracasso. Martírio casual? Para Deus não há casualidade. Estes heróis recebiam o prêmio da fidelidade à vocação e a cena sangrenta do Atlântico se transformou em seiva para o futuro da Obra das Vocações no Brasil. |