Plinio Corrêa de Oliveira
7 Dias em Revista
Legionário, 29 de dezembro de 1946, N. 751 |
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Registramos aqui todo o nosso contentamento pelas numerosas manifestações de desagravo de que tem sido alvo na Itália o Sumo Pontífice, por motivo da campanha anticlerical movida por certos órgãos da imprensa peninsular. Estas manifestações, amplamente noticiadas pela imprensa diária, valiosas quer pela qualidade dos manifestantes, quer por seu número, bem demonstram que a campanha anticlerical e pornográfica é produto de manobras escusas e secretas, visando fins políticos inconfessáveis: que é, em uma palavra, um movimento absolutamente artificial, que não reflete de modo algum o pensar e o sentir do povo italiano. * * * Nossas críticas ao gabinete trabalhista tem sido confirmadas, ponto por ponto, pelos discursos do Sr. Wiston Churchill. Assim já tivemos ocasião de acentuar que o gabinete Attlee está "liquidando" o Império Britânico, e que o enfraquecimento da influência colonial dos povos ocidentais e cristãos trará para as missões conseqüências incalculavelmente nocivas. Não houve pessimismo de nossa parte ao considerar o alcance funesto da ação do Sr. Attlee para o Império. Em recente discurso na Câmara dos Comuns, o Sr. Churchill teve ocasião, entre outras coisas, de afirmar que o Império Britânico parece estar sendo gasto quase tão depressa quanto o empréstimo dos Estados Unidos. Em seguida, referiu-se à "apavorante pressa" com que o Sr. Attlee está dissolvendo o Império, e acrescentou que "a palavra naufrágio é a única aplicável ao caso". Esta pressa está sendo tão grande, afirmou o preclaro "leader de guerra" inglês, que até paralisa e desmoraliza a ação dos elementos nativos que, nas várias colônias, gostariam de lutar contra os pruridos separatistas, e em favor da união na Commonwealth. * * * Segundo telegrama publicado nesta semana, também não estamos sós nas censuras que movemos a ação do Partido Democrata Cristão da Itália. Não são os adversários do Sr. De Gasperi, os monarquistas ou os elementos da direita, que o estão combatendo. Combatem-no também seus próprios partidários. Segundo informa a agência "France Press", o PDC está cindido a propósito de três questões essenciais: a colaboração com os comunistas, que é impugnada por grande número de democratas cristãos; a incompetência da direção partidária, responsabilizada pelo declínio de votos do PDC nas eleições municipais; e, por fim, uma corrente se afirma irritada com o Sr. De Gasperi, não porque colabora com os comunistas, mas porque esta colaboração não é tão estreita quanto "deveria ser". * * * Como se vê, o Sr. De Gasperi não está contentando a ninguém: é este o destino de todos os fracos, que procuram contentar a todo o mundo. A fábula do velho, do menino e do asno, é de uma atualidade perene. De tudo isto, retenhamos duas observações. A primeira é que o Sr. De Gasperi está fazendo a Itália correr sério perigo. Podendo ligar-se com os partidos da direita, para uma coligação anticomunista, não o faz. Pelo menos, poderia ele apoiar-se em elementos do centro, para constituir um governo igualmente distante da direita e da esquerda: também não o faz. E deixa vários ministérios importantíssimos em mãos de comunistas, em conseqüência da detestável coligação em que se mantém. Isto tudo, de um lado. Do outro, os comunistas não dormem. Um dos elementos mais proeminentes do PDC italiano, o conde Stefano Jacini, já desmascarou publicamente os manejos comunistas, dizendo que os vermelhos se rearmam à luz do sol, para alguma grande aventura, enquanto o PDC cochila. Tem, pois, toda a razão o conde Jacini, em exigir uma mudança de política da parte do governo. * * * Mas, de outro lado, é tão perigosa esta tendência "colaboracionista", que no próprio PDC o Sr. De Gasperi já está sendo combatido por partidários de um erro mais grave que o dele. Rampa escorregadia, o colaboracionismo nunca é estático, e leva sempre ao abismo. Causa horror ver-se que no seio de um partido de católicos pode formar-se uma corrente de tal maneira transviada, que chega a querer comprometer a causa católica na realização de uma ordem política e social que é o oposto da civilização cristã. * * * A intensidade da luta entre franceses e siameses prova bem claramente a situação em que estão, militar e psicologicamente, as nações do Oriente. Todas elas estão sendo trabalhadas por um espírito de xenofobia e de revoltas que prejudica a fundo a influência do Ocidente, e dispõem hoje de meios para vencer, ou, quando nada, para resistir longamente. Quem lucra com isto? A Rússia. Não terá ela os dedos nesta campanha nacionalista que lavra na Ásia e na África? * * * Voltemos mais uma vez ao assunto que temos deixado um pouco de lado. É a questão muçulmana. No parlamento francês, a bancada muçulmana é numericamente pequena. Mas, como ela representa as aspirações de uma imensa população, e de sua boa vontade decorre a viabilidade de solução de um dos mais agudos problemas franceses, que é o problema colonial daí decorre que a importância dessa bancada é muito grande na Câmara. Do outro lado o extremo fracionamento dos partidos pode facilmente atribuir à representação muçulmana um papel decisivo. Tudo isto somado leva à conclusão de que os muçulmanos atuam com prestígio e com grandes trunfos políticos no Parlamento da Nação que outrora se orgulhava em chamar-se la fille ainée de l'Eglise. * * * Na Palestina, os muçulmanos estão lutando vigorosamente contra os judeus, e com grande habilidade eles se aproveitam do conflito para reascender o espírito de seita e de raça, outrora adormecido entre os seus organizando assim em uma só potência todas as influências muçulmanas (aliás racialmente eclética) da Ásia Menor. [...] E o direito dos católicos aos Lugares Santos periclita a olhos vistos. * * * Na Índia, o Sr. Ali Jinnah, chefe da Liga Muçulmana, continua a vociferar. Esse Sr. foi agora aos Estados Unidos, em viagem de propaganda política. E de lá fez discursos prevendo desastres sem precedentes, se a Índia não for fragmentada em dois Estados, de sorte que os muçulmanos adquiram plena independência. Claro está que o Estado muçulmano hindu será mero satélite da Liga Muçulmana. * * * E, por fim suma desolação, também os republicanos espanhóis estão bajulando os muçulmanos para ver se chegam mais facilmente a seus desígnios. Se essa torpe aliança bolchevista-muçulmana vingar na Espanha, teremos voltado aos tempos anteriores à queda de Granada e os mouros serão novamente forças políticas nos acontecimentos ibéricos.
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