Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

7 Dias em Revista

 

 

 

 

 

 

 

 

Legionário, Nº 745, 17 de novembro de 1946

  Bookmark and Share

 

Corre mundo em nossos dias uma teoria extravagante. Toda a ideologia, quando contrariada frontalmente, com isto mesmo se desenvolve. Assim quando queremos combater uma idéia, devemos antes de tudo não a atacar de frente. A contradição age sobre as idéias como o vento sobre a brasa. Não é com vento, mas com cinza, que as brasas se apagam. Não se extinguem os grandes erros atacando-os, mas deixando-os cair no esquecimento.

Em abono desta tese, invoca-se um exemplo: o que conseguiram contra a Igreja nascente as primeiras perseguições? Excitaram apenas as convicções dos fiéis.

* * *

Não se pode negar que, em algumas circunstâncias muito especiais, o esquecimento é o melhor modo de combater certas doutrinas. Nem por isto se há de adotar, como regra comum de prudência, o princípio de que o melhor meio de extinguir incêndios consiste em os deixar lavrar à vontade, fazendo completa abstração deles.

A esta reflexão, outra se acrescenta. Os autores de maior peso da Igreja costumam afirmar que as perseguições constituíram uma provação terrível que, humanamente falando, teria dado cabo do Catolicismo. Se este não soçobrou, seu triunfo não se deve a razões humanas, mas a motivos sobrenaturais. Visto assim o problema, segue-se que, humanamente falando, a tática dos Neros e dos Calígulas não foi má: foi excelente, e tão excelente que só por milagre não atingiu seu fim.

E é lógico. Porque, do contrário, se a Igreja é uma árvore que só cresce e frondeia a golpes de machado, os grandes benfeitores do Catolicismo seriam os Neros, os Calígulas, os Stalins ou os Hitlers.

Ninguém levaria a insânia a ponto de subscrever esta tese.

* * *

Quando censuramos a política frouxa do Partido Democrata Cristão e do Movimento Republicano Popular, na Itália e França, contra o comunismo, muito leitor ponderou que não tínhamos razão: era melhor colaborar, angariar as simpatias dos vermelhos, amortecer suas desconfianças, anestesiar suas doutrinas, e traze-los por fim para o bom caminho. A luta de viseira erguida, objetavam, só serviria para acender mais o incêndio.

Nós achamos o contrário. Esta colaboração por demais cordial desarmaria a resistência, desmoralizaria a prevenção dos bons, desarticularia a coordenação dos anticomunistas.

Qual das táticas era a verdadeira? As urnas acabam de responder: a votação comunista cresceu na França e na Itália.

* * *

Já que falamos em colaboracionismo, lembramo-nos de que, muito freqüentemente, se fala hoje na colaboração dos católicos e protestantes contra os vermelhos. Em si mesma, esta colaboração não é má. Mas pode facilmente tornar-se péssima.

Do outro lado, muitos católicos exageram as possibilidades de resistência do protestantismo contra o comunismo. No Brasil, estas possibilidades são quantitativamente insignificantes, já que 98% dos brasileiros são católicos. E qualitativamente são igualmente insignificantes no mundo inteiro, porque, em virtude do livre exame, o comunismo está penetrando torrencialmente nas fileiras protestantes.

Assim, um telegrama proveniente de Londres informou que o "reverendo" George Chambers, anglicanoinaugurou em seu templo uma imagem de N.S.J.C., tendo em uma das Mãos a foice e na outra o martelo!

Cristo-Comunista, exposto à adoração dos fiéis. É possível levar mais longe a blasfêmia e a quinta-colunagem?

* * *

Continua na Iugoslávia a perseguição religiosa. Os Franciscanos foram obrigados a abandonar o país. Bem entendido, porém, a culpa é dos Franciscanos que não tiveram o "jeitinho" necessário para colaborar com Tito e outros cordeiros do mesmo rebanho.

* * *

Também não teve este famoso "jeitinho" Mons. Theodoro Rombe, Bispo titular da Apia, e auxiliar da Diocese de Minkacz na Hungria, que acaba de ser expulso por pressão dos vermelhos.

Como o Comunismo seria bonzinho, se nossos eclesiásticos não fossem tão ruins!

* * *

Não sabemos como qualificar a deliberação das autoridades bávaras de transformar em escola pública a residência de Hitler em Berchtesgaden. Esse local se encontra aninhado no alto de inacessíveis montanhas, e só se chega ali por meio de elevadores cuja manutenção é custosíssima. Nada há de mais extravagante, do que fazer funcionar ali um grupo escolar. Do outro lado, quem não vê que será impossível evitar que este local se transforme em centro de "peregrinações" perigosas?

Berchtesgaden deveria ser dinamitada, e é conservada. Os campos de concentração deveriam ser conservados para "peregrinações" salutares, e são destruídos.

Assim vão as coisas!

 


Bookmark and Share