Legionário, N.º 589, 21 de novembro de 1943

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Segundo notícia telegráfica recente, o governo inglês deliberou por em liberdade Sir Oswald Mosley, líder fascista britânico, e sua esposa, que estavam presos desde os primeiros anos da guerra.

Sir Oswald Mosley é um pequeno "hitler" inglês do figurino em que se talharam todos os "quislings" europeus, uma edição britânica dos Degrelle, Mussert, Seyss-Inquart & Cia., e antigo chefe de uma "milícia" civil política inglesa, os "camisas douradas" se não nos enganamos. Sua conivência com elementos suspeitos da alta política inglesa, que procederam perante o nazismo com uma complacência criminosa, e sobretudo o cunho notoriamente nazistizante de sua ideologia, tornaram indispensável seu internamento em uma casa de detenção, logo nos primeiros anos da guerra.

Veio, depois, o "caso" Rodolph Hess que impressionou pessimamente o público inglês, e ocasionou a suspeita de que o conhecido "leader" nazista, herdeiro presuntivo dos poderes de Hitler, tivesse contato com os mesmos elementos cuja amizade tornara arqui-suspeito Sir Oswald Mosley. Até agora, nada disto foi devidamente esclarecido, e as maiores sombras pesam sobre a reputação de sir Oswald Mosley. Não se compreende, pois, por que motivo o governo inglês quererá restituir a liberdade, precisamente quando o admirável trabalho de De Gaulle e seus companheiros de luta política põe a nu toda a gangrena moral dos elementos caloboracionistas franceses, colocando ao mesmo tempo na ordem do dia, no mundo inteiro, o problema do expurgo dos elementos que pactuaram com o III Reich.

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"Admirável expressão da liberdade de pensamento", dir-se-á. "Estas são coisas que o “Legionário” não compreende. Hoje, Mosley já não é um perigo. O fantasma de um desembarque teuto em plagas britânicas se dissipou. Que mal há pois, em que Mosley recobre uma liberdade já agora inofensiva?"

"Triste expressão de ingenuidade", retrucaria o “Legionário”. O desembarque alemão não era o único perigo que decorria dos manejos de Mosley e de seus colegas. É uma desgraça para um país, uma catástrofe para uma democracia, que se permita a livre pregação de princípios diametralmente opostos ao direito natural e a civilização cristã, como são os de Mosley.

E é um perigo para o mundo que, depois da guerra, charlatães dessa espécie ainda possam continuar a fascinar as multidões, arrastando-as para a realização das mais temerárias aventuras.

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É preciso, com efeito, que a liberdade de pensamento jamais seja interpretada como a liberdade de investir contra os princípios políticos e sociais que os dados mais rudimentares da razão natural apontam como indiscutíveis, e vinte séculos de civilização cristã consagraram como conquistas definitivas do espírito humano. Há, em matéria moral, social, política, verdades tão certas quanto as mais certas verdades conquistadas em outros campos da ciência. E assim como a liberdade de pensamento jamais justificaria que um bando de malfeitores fundasse escolas, abrisse universidades, lançasse jornais e publicasse livros para sustentar que a água não se compõe de hidrogênio e oxigênio, mas é mero produto dos raios lunares, assim também a liberdade de pensamento não consiste, não pode consistir em negar os princípios do direito natural, nem a admirável perfeição que lhes deu, elevando-os e completando-os a Revelação cristã. Para católicos, este conceito restritivo da liberdade é indiscutível e consta dos ensinamentos dos Pontífices de que ninguém pode licitamente discordar.

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E, exatamente por isso, também lamentamos que se cogite tão abertamente do ingresso de elementos comunistas no Conselho Francês que funciona junto ao General De Gaulle na África do Norte. O comunista está, indiscutivelmente, à margem da civilização e fora da lei. Não podemos concordar em que o representante de uma ideologia que é a desordem por excelência, sejam admitidos a falar como expressões do genuíno pensamento francês, ao lado das outras correntes políticas representadas em Argel.

Já que os comunistas brigam, e brigam bem com os nazistas, deixemo-los exterminar as legiões pardas, é bom, porque cai o inimigo máximo da humanidade, que é o III Reich, e se debilita o comunismo. Isto não significa porém, que os católicos devam estar dispostos a dar o menor quartel ou a mais insignificante trégua à luta contra o comunismo, luta esta que, tombado o nazismo, deverá ser mais forte do que nunca.

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Como disemos em nosso artigo de fundo, a queda do nazismo representa o desaparecimento do mais temível inimigo da Igreja em nossos dias. Ademais, o Brasil está em guerra contra as potências do "eixo", guerra justíssima, a que fomos arrastados por acintosas provocações. É óbvio que, como brasileiros e como católicos, devemos desejar ardentemente o esmagamento imediato do "eixo". E, neste sentido, não podemos deixar de estimar os sucessos alcançados pelas armas russas. Isto torna explicável que as potências contrárias ao "eixo" negociem transitoriamente com a Rússia, para eliminar quanto antes o adversário contra o qual lutam. Mas, logo que o nazismo caia, o que não tardará a suceder, o comunismo deverá ser novamente isolado, combatido, perseguido e destroçado. Será esta a grande e essencial tarefa de post-guerra.

Compreendê-la-á o mundo? É o que de coração desejamos.

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O general Ávila Camacho, presidente do México, acaba de proibir que os militares se apresentem uniformizados às cerimônias religiosas. A razão do fato consiste especialmente em que, segundo o Sr. Camacho, não é conforme a hombridade da carreira militar, assistir "carolamente" as cerimônias da Igreja.

Por experiência própria, o Sr. Ávila Camacho deveria saber que não diz a verdade quando afirma que o heroísmo militar é incompatível com a piedade cristã. Com efeito, a única escola verdadeira do heroísmo completo e total é a Igreja Católica. Não há doutrina que enobreça tanto o heroísmo, não há moral que o exija com tal assiduidade; não há fonte onde se recebam melhores forças para o praticar. Se há uma coisa que fica bem à hombridade militar, é a piedade cristã, praticada em toda a sua sublime austeridade, sua máscula grandeza, sua viril e nobre ternura. É só folhear qualquer página da História, as Cruzadas, por exemplo... Conhecerá o Sr. Camacho a história das Cruzadas?

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Não sejamos exigentes. É possível que não a conheça. Mas deve conhecer por certo a história de seu glorioso e admirável país, ao menos a história recente, recentíssima. Lembra-se ele, por ventura, da resistência católica ao governo Calles? Lembra-se do heroísmo admirável, invencível, completo, de que os católicos souberam dar mostras naquela ocasião? E, depois disto, ainda pretenderá que piedade cristã e heroísmo são coisas incompatíveis?