Segundo notícia telegráfica recente, o governo
inglês deliberou por em liberdade Sir Oswald Mosley, líder fascista britânico, e sua esposa, que estavam
presos desde os primeiros anos da guerra.
Sir Oswald
Mosley é um pequeno "hitler"
inglês do figurino em que se talharam todos os "quislings"
europeus, uma edição britânica dos Degrelle, Mussert, Seyss-Inquart &
Cia., e antigo chefe de uma "milícia" civil política inglesa, os
"camisas douradas" se não nos enganamos. Sua conivência com elementos
suspeitos da alta política inglesa, que procederam perante o nazismo com uma
complacência criminosa, e sobretudo o cunho notoriamente nazistizante
de sua ideologia, tornaram indispensável seu internamento em uma casa de
detenção, logo nos primeiros anos da guerra.
Veio, depois, o "caso" Rodolph Hess que impressionou
pessimamente o público inglês, e ocasionou a suspeita de que o conhecido "leader"
nazista, herdeiro presuntivo dos poderes de Hitler, tivesse contato com os
mesmos elementos cuja amizade tornara arqui-suspeito Sir Oswald Mosley.
Até agora, nada disto foi devidamente esclarecido, e as maiores sombras pesam
sobre a reputação de sir Oswald
Mosley. Não se compreende, pois, por que motivo o
governo inglês quererá restituir a liberdade, precisamente quando o admirável
trabalho de De Gaulle e seus companheiros
de luta política põe a nu toda a gangrena moral dos elementos caloboracionistas franceses, colocando ao mesmo tempo na
ordem do dia, no mundo inteiro, o problema do expurgo dos elementos que
pactuaram com o III Reich.
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"Admirável expressão da liberdade de
pensamento", dir-se-á. "Estas são coisas que o “Legionário” não
compreende. Hoje, Mosley já não é um perigo. O
fantasma de um desembarque teuto em plagas britânicas
se dissipou. Que mal há pois, em que Mosley recobre
uma liberdade já agora inofensiva?"
"Triste expressão de ingenuidade",
retrucaria o “Legionário”. O desembarque alemão não era o único perigo que
decorria dos manejos de Mosley e de seus colegas. É
uma desgraça para um país, uma catástrofe para uma democracia, que se permita a
livre pregação de princípios diametralmente opostos ao direito natural e a
civilização cristã, como são os de Mosley.
E é um perigo para o mundo que, depois da guerra,
charlatães dessa espécie ainda possam continuar a fascinar as multidões,
arrastando-as para a realização das mais temerárias aventuras.
* * *
É preciso, com efeito, que a liberdade de pensamento
jamais seja interpretada como a liberdade de investir contra os princípios
políticos e sociais que os dados mais rudimentares da razão natural apontam
como indiscutíveis, e vinte séculos de civilização cristã consagraram como
conquistas definitivas do espírito humano. Há, em matéria moral, social,
política, verdades tão certas quanto as mais certas verdades conquistadas em
outros campos da ciência. E assim como a liberdade de pensamento jamais
justificaria que um bando de malfeitores fundasse escolas, abrisse
universidades, lançasse jornais e publicasse livros para sustentar que a água
não se compõe de hidrogênio e oxigênio, mas é mero produto dos raios lunares,
assim também a liberdade de pensamento não consiste, não pode consistir em
negar os princípios do direito natural, nem a admirável perfeição que lhes deu,
elevando-os e completando-os a Revelação cristã. Para católicos, este conceito
restritivo da liberdade é indiscutível e consta dos ensinamentos dos Pontífices
de que ninguém pode licitamente discordar.
* * *
E, exatamente por isso, também lamentamos que se
cogite tão abertamente do ingresso de elementos comunistas no Conselho Francês
que funciona junto ao General De Gaulle na África do Norte. O comunista está,
indiscutivelmente, à margem da civilização e fora da lei. Não podemos concordar
em que o representante de uma ideologia que é a desordem por excelência, sejam
admitidos a falar como expressões do genuíno pensamento francês, ao lado das
outras correntes políticas representadas em Argel.
Já que os comunistas brigam, e brigam bem com os
nazistas, deixemo-los exterminar as legiões pardas, é bom, porque cai o inimigo
máximo da humanidade, que é o III Reich, e se debilita o comunismo. Isto não
significa porém, que os católicos devam estar dispostos a dar o menor quartel
ou a mais insignificante trégua à luta contra o comunismo, luta esta que,
tombado o nazismo, deverá ser mais forte do que nunca.
* * *
Como disemos em nosso
artigo de fundo, a queda do nazismo representa o
desaparecimento do mais temível inimigo da Igreja em nossos dias. Ademais, o
Brasil está em guerra contra as potências do
"eixo", guerra justíssima, a que fomos arrastados por acintosas
provocações. É óbvio que, como brasileiros e como católicos, devemos desejar
ardentemente o esmagamento imediato do "eixo". E, neste sentido, não
podemos deixar de estimar os sucessos alcançados pelas armas russas. Isto torna
explicável que as potências contrárias ao "eixo" negociem
transitoriamente com a Rússia, para eliminar quanto antes o adversário contra o qual
lutam. Mas, logo que o nazismo caia, o que não tardará a suceder, o comunismo deverá ser
novamente isolado, combatido, perseguido e destroçado. Será esta a grande e
essencial tarefa de post-guerra.
Compreendê-la-á o mundo? É o que de coração
desejamos.
* * *
O general Ávila Camacho, presidente do México, acaba de proibir que os militares se apresentem
uniformizados às cerimônias religiosas. A razão do fato consiste especialmente
em que, segundo o Sr. Camacho, não é conforme a hombridade da carreira militar,
assistir "carolamente" as cerimônias da
Igreja.
Por experiência própria, o Sr. Ávila Camacho
deveria saber que não diz a verdade quando afirma que o heroísmo militar é
incompatível com a piedade cristã. Com efeito, a única escola verdadeira do
heroísmo completo e total é a Igreja Católica. Não há doutrina que enobreça tanto o heroísmo, não há
moral que o exija com tal assiduidade; não há fonte onde se recebam melhores
forças para o praticar. Se há uma coisa que fica bem à hombridade militar, é a
piedade cristã, praticada em toda a sua sublime austeridade, sua máscula
grandeza, sua viril e nobre ternura. É só folhear qualquer página da História,
as Cruzadas, por exemplo... Conhecerá o Sr. Camacho a história das Cruzadas?
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Não sejamos exigentes. É possível que não a
conheça. Mas deve conhecer por certo a história de seu glorioso e admirável
país, ao menos a história recente, recentíssima.
Lembra-se ele, por ventura, da resistência católica ao governo Calles? Lembra-se do heroísmo admirável, invencível, completo,
de que os católicos souberam dar mostras naquela ocasião? E, depois disto,
ainda pretenderá que piedade cristã e heroísmo são coisas incompatíveis?