A Santa Igreja ficará exposta a gravíssimos riscos
enquanto os filhos da luz não se compenetrarem desta grande verdade: os filhos
das trevas já não se lançam contra eles os combates de viseira erguida, de que
foi tão cheio o século passado; pelo contrário, depostas as armas, cuja
inutilidade já verificaram mais uma vez, começaram uma campanha de diluição, de
falsa confraternização, baralhamento de campos, de
confusões de fronteiras, de que esperam resultado melhor. Há uma hora de luta,
outra de vigília. Não se falta ao dever somente quando se foge do campo de
batalha. Também quando se cochila com sono pesado e indolente, a despeito da
advertência do Divino Mestre “vigiae e orae”, se deserta a
causa de Deus. A hora é de muita oração e de muita vigília. Hora de oração
significa hora de mortificação e de súplica ininterrupta. Hora de vigília
significa hora de prudência, de discernimento de espírito, de critério e de bom
senso. De muito bom senso, sobretudo. Sem isto, não conseguiremos compreender o
que há de vertiginoso e de fantástico em muitos acontecimentos contemporâneos.
E não saberemos discernir onde estão os verdadeiros interesses da Santa Igreja
Católica.
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Não é porque desejaríamos que uma coisa fosse de
determinado modo que haveremos de admitir com facilidade que ela de fato é
assim. Que dizer-se da sentinela que, no desejo de que seus irmãos de arma não
sejam atacados, chega a se iludir sobre a realidade dos fatos, e se obstina em
não ver as sombras que se esgueiram, suspeitas, confusas, indecisas, nas trevas
da noite, em demanda do campo que lhe competiria defender? Que contas pedirá
Deus a tal sentinela?
Como seria agradável que os comunistas se
convertessem todos! De que sacrifícios seríamos capazes para obter um
acontecimento tão auspicioso! Nenhum esforço, nenhum preço, nenhuma justa e
lícita concessão nos pareceriam demasiados para se chegar a tal resultado. E
que graças haveríamos de dar a Deus por isto! A conversão dos bolchevistas teria
no mundo contemporâneo um significado análogo ao que teve a conversão dos
francos. Reviveríamos os dias de Clovis e S. Remigio. Valeria a pena nascer só para presenciar um tal fato, e
cantar depois o ''nunc
dimittis'' de Simeão.
* * *
Entretanto, nem por isto deixaríamos de reconhecer
que nenhum dos sinais que prenunciaram a conversão dos francos ocorre no caso
dos comunistas: que um anjo descido do céu pode ter trazido um óleo sagrado,
para introduzir na ordem cristã um rei e uma monarquia que estava mal e então
apenas na ordem natural; mas que o comunismo e o bando dos
malfeitores internacionais que o dirigem não representam apenas uma ordem
natural pagã, mas uma violação de toda a ordem e toda lei natural; que essa
ordem não pode ser nem elevada nem sagrada, mas precisa ser desfeita até os
alicerces para depois ser reconstruída: e que nenhum anjo descerá do Céu para
ungir uma sociedade “comunista e cristã”, porque esta sociedade não seria
cristã pelo próprio fato de ser comunista, e não se ungem as coisas e
instituições comunistas pelos simples fato de que, como diz o Santo Evangelho,
''não se atiram pérolas aos porcos''.
* * *
Todas
essas considerações nos.... [erro tipográfico – recebeu em visita oficial o
chefe dos cismáticos russos....] Evidentemente este gesto prenuncia maior
liberdade religiosa na Rússia, e, ao menos nos primeiros tempos, essa liberdade também
se estenderá aos católicos. É possível que algum prelado católico seja recebido
por Stalin. É certíssimo que
nenhum prelado católico desdenhará esta oportunidade para pleitear do
sanguinário ditador russo que dê às ovelhas que a Igreja possui ao menos um
pouco de liberdade. Conforme corram as coisas, não é impossível que, para
resguardar tanto quanto possível, este mininum de liberdade o Vaticano consinta em tratar
com a Rússia soviética e para sistematizar suas negociações abra uma legação em
Moscou. Nada disto, porém,
exclui uma realidade que vamos frisar.
* * *
Erra, erra insofismavelmente, erra pesadamente quem
ouse afirmar que a oposição entre a Igreja e o comunismo está só em que este
último tem perseguido os católicos, mas que adotada uma política de liberdade
religiosa, o comunismo será compatível com o Catolicismo.
Ainda que haja a mais ampla liberdade de cultos na
Rússia, o comunismo continuará condenado, por sua estrutura social, pelo atentado
permanente que representa quer contra a família, quer contra a propriedade
individual. Assim, o comunismo, tanto quanto o protestantismo ou islamismo, só tem uma possibilidade de se reconciliar com o
Catolicismo: deixe de ser o que é, isto é, deixe de ser comunista.
* * *
Mas, objetar-se-á, é uma pequena transformação
social. E uma grande transformação social? Ainda que a Rússia evolua no sentido
de um socialismo avançado, continuará proscrito para os católicos seu regime?
Sim, perfeitamente. O socialismo, não só o ''avançado'' como todo e qualquer socialismo, é
expressamente condenado pelo Santo Padre Pio XI, que chegou a condenar a própria palavra ''socialismo''.
Assim, portanto, o regime russo não poderá ser nem comunista, nem socialista,
para ser aprovado pela Igreja. Em outros termos, deverá deixar de ser,
inteiramente, o que é. Fora disto, não há conciliação.
* * *
O “Legionário” tem sido um partidário decidido e
militante da restauração da independência da Áustria, e mesmo da reconstituição da Áustria-Hungria. Por mais graves que fossem as razões
temporais que em benefício de tal orientação se pudessem alegar, cingimos
sempre nossas observações ao único ponto que, como católicos, nos interessa: a
supremacia austro-húngara, se de um lado serve de meio de irradiação de uma influência
católica em toda bacia danubiana e nos Balcãs faz, de outro lado,
de Viena, um grande ''boulevard''
contra a influência protestante, nociva no mais alto grau de Berlim. Foi por esta razão sobretudo, que a criminosa invasão da
Áustria pelas forças do Sr. Hitler nos arrancou tão formal e caloroso protesto.
Isto posto, não podemos deixar passar sem um
protesto a enxovalhação temerária, precipitada,
inexplicável, que se pretendeu fazer em torno da pessoa do Arquiduque Felix de Habsburg, por motivo de recente visita a nosso país. Não
conhecemos, nem estamos em condições de aquilatar os fatos alegados pelos que
saíram a campo para injuriar o jovem príncipe. Entretanto, as injurias deixavam
transparecer com clareza o propósito de enxovalhar sobretudo a Casa de Habsburg, e favorecer em última análise um plano que teria por
desfecho a impossibilidade da
restauração austro-húngara. Assim, sem nos pronunciarmos sobre qualquer fato
concreto, não podemos deixar de lembrar a nossos leitores que não são esses os
verdadeiros interesses da Igreja.