Folgamos em registrar a notícia de que o Partido
Trabalhista britânico, por considerável maioria de votos, acaba de recusar a
admissão, em seu grêmio, dos membros do Partido Comunista inglês. Com efeito, este salutar acontecimento contem mais de
uma lição para a opinião brasileira, sempre ingênua, sempre amiga de transigências e de acomodações, e, por isto, sempre
predisposta a se deixar manobrar pela diplomacia "bluffista" de nossos dias.
* * *
Que sentido tem a incorporação dos
comunistas ingleses ao Partido Trabalhista? Seria uma conseqüência direta da
atitude do "camarada" Stalin. Dissolvida a III Internacional, e
claramente indicado que a luta entre os partidos da esquerda deveria ser
substituída por uma cooperação, o Partido Comunista da Inglaterra não tinha
outra atitude a assumir, senão bater às portas do trabalhismo,
assentar praça em suas fileiras.
Para o Partido Trabalhista, a incorporação destes
elementos traria vantagens. Seria, em primeiro lugar, uma dilatação de suas
forças, acrescida dos propagandistas hábeis, dos "meneurs" inteligentes, dos
espiões eficientíssimos, de todo o aparelhamento político enfim, de que a III Internacional
dotara suas sucursais nos mais importantes países.
Assim o negócio parecia viável: oferecia vantagens
a ambas as partes.
* * *
Ora o Partido Trabalhista recusou o negócio. E o
recusou apesar destas vantagens. Por que? Por mais que se procure outra razão
não se apresenta senão esta: o Partido Trabalhista não se fia da inocuidade de propósitos dos comunistas. Não acredita, em
primeiro lugar, que a opinião comunista esteja evoluindo para o socialismo de
que o trabalhismo inglês é de certa forma uma
expressão. E nem se fia de que o núcleo comunista, uma vez admitido no seio do
partido, se dissolva e renuncie ao propósito de assumir a direção do trabalhismo.
O que, tudo, significa em última análise que os
trabalhistas ingleses acham que seus patrícios comunistas continuam
absolutamente tão radicais e militantes como antes do recente gesto do Sr.
Stalin. E que implicitamente o gesto do Sr. Stalin não foi tomado a sério
por seus comparsas ingleses.
* * *
Para que bem se compreenda o fato, é preciso notar
que o partido Trabalhista é uma das mais importantes organizações políticas
inglesas, que já tem atrás de si uma larga tradição de pugnacidade política em
favor das reivindicações operárias, e que, se bem que não seja oficialmente socialista,
tem socialistas de prol na direção, hoje em dia, da totalidade ou quase
totalidade das atividades partidárias. Não será um Partido socialista. Mas já é
quase um partido de socialistas, hoje. Ora é este partido que recusa como
suspeita a aproximação comunista. E isto enquanto alguns católicos, ingênuos
até o último ponto, começam a sorrir para o que chamam o ex-comunismo,
e a crer na conversão do lobo.
Não lhes aproveita a lição?