Legionário, N.º 567, 20 de junho de 1943

7 DIAS EM REVISTA

Folgamos em registrar a notícia de que o Partido Trabalhista britânico, por considerável maioria de votos, acaba de recusar a admissão, em seu grêmio, dos membros do Partido Comunista inglês. Com efeito, este salutar acontecimento contem mais de uma lição para a opinião brasileira, sempre ingênua, sempre amiga de transigências e de acomodações, e, por isto, sempre predisposta a se deixar manobrar pela diplomacia "bluffista" de nossos dias.

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Que sentido tem a incorporação dos comunistas ingleses ao Partido Trabalhista? Seria uma conseqüência direta da atitude do "camarada" Stalin. Dissolvida a III Internacional, e claramente indicado que a luta entre os partidos da esquerda deveria ser substituída por uma cooperação, o Partido Comunista da Inglaterra não tinha outra atitude a assumir, senão bater às portas do trabalhismo, assentar praça em suas fileiras.

Para o Partido Trabalhista, a incorporação destes elementos traria vantagens. Seria, em primeiro lugar, uma dilatação de suas forças, acrescida dos propagandistas hábeis, dos "meneurs" inteligentes, dos espiões eficientíssimos, de todo o aparelhamento político enfim, de que a III Internacional dotara suas sucursais nos mais importantes países.

Assim o negócio parecia viável: oferecia vantagens a ambas as partes.

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Ora o Partido Trabalhista recusou o negócio. E o recusou apesar destas vantagens. Por que? Por mais que se procure outra razão não se apresenta senão esta: o Partido Trabalhista não se fia da inocuidade de propósitos dos comunistas. Não acredita, em primeiro lugar, que a opinião comunista esteja evoluindo para o socialismo de que o trabalhismo inglês é de certa forma uma expressão. E nem se fia de que o núcleo comunista, uma vez admitido no seio do partido, se dissolva e renuncie ao propósito de assumir a direção do trabalhismo.

O que, tudo, significa em última análise que os trabalhistas ingleses acham que seus patrícios comunistas continuam absolutamente tão radicais e militantes como antes do recente gesto do Sr. Stalin. E que implicitamente o gesto do Sr. Stalin não foi tomado a sério por seus comparsas ingleses.

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Para que bem se compreenda o fato, é preciso notar que o partido Trabalhista é uma das mais importantes organizações políticas inglesas, que já tem atrás de si uma larga tradição de pugnacidade política em favor das reivindicações operárias, e que, se bem que não seja oficialmente socialista, tem socialistas de prol na direção, hoje em dia, da totalidade ou quase totalidade das atividades partidárias. Não será um Partido socialista. Mas já é quase um partido de socialistas, hoje. Ora é este partido que recusa como suspeita a aproximação comunista. E isto enquanto alguns católicos, ingênuos até o último ponto, começam a sorrir para o que chamam o ex-comunismo, e a crer na conversão do lobo.

Não lhes aproveita a lição?