À margem dos fatos

“O Legionário”, N.º 187, 22 de dezembro de 1935

 

O Congresso aprovou finalmente as reformas legais necessárias à defesa do regime. Em torno do assunto, há muita coisa triste e muita coisa louvável a dizer. O povo brasileiro precisa gravar fundo na memória os nomes dos que o ampararam e dos que o traíram nas lutas e dores da hora atual.

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Merecem o reconhecimento particular da Pátria os deputados Furtado de Menezes e Polycarpo Viotti, de Minas Gerais; Magalhães de Almeida e Henrique Couto, do Maranhão; e José Augusto Ferreira de Souza e Alberto Roselli do Rio Grande do Norte. Eleitos quase todos pela Liga Eleitoral Católica, tinham no entanto compromissos políticos com a minoria. Isto não impediu que, pondo a paixão política abaixo do patriotismo e da Fé, votaram com o governo, ou melhor votaram com o Brasil contra Moscou.

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Um católico ardoroso aceitou a incumbência de representar a Ação Integralista na missa rezada na Igreja Ortodoxa pelas vítimas da lei. Com as devidas ressalvas quanto às intenções desse gesto, não podemos deixar de estranhá-lo...

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O Sr. Caio Prado Júnior é o maior herdeiro de São Paulo, plutocrata pelos quatro costados, ligado pelo nascimento e pelo casamento às mais ilustres famílias da aristo-plutocracia paulista.

Feito comunista, esse líder da jeunesse dorée nem por isso abandonou o luxo esplêndido de que sempre se cercou. E enquanto pregava a destruição da propriedade e da família dos outros, continuou a fruir todas as amenidades da sua fortuna e da sua vida doméstica.

Agora, em carta ao Deputado Ademar de Barros, o jovem milionário comunista apela para o liberalismo de nossas leis, para a generosidade de nossos sentimentos, para o apoio do burguesíssimo P. R. P., no sentido de obter mais moderação no trato que recebe.

E nós lhe perguntamos: é em nome da generosidade de sentimentos que ele e seus sequazes organizaram por toda a parte o crime e o extermínio? Que tratamento nos dispensariam eles, se fôssemos nós os vencidos e eles os vencedores?

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A polícia varejou a casa de um outro milionário comunista. Em uma de suas gavetas, encontrou cartas subversivas e a planta de um novo arranha-céu que o argentário ia construir para aumentar suas posses, enquanto conspirava contra os dos outros.

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Vai intensa no Rio a campanha contra as atividades comunistas do Sr. Pedro Ernesto. Iludem-se porém os que supõem que é só no Rio que os assalariados de Moscou se aboletaram nos mais importantes e rendosos cargos da Diretoria do Ensino. Leia-se a este propósito o excelente artigo que o Sr. Prof. Van Acker publica em nosso número de hoje sobre o valoroso sovietista Fernando Azevedo.

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Aliás, parece que o comunismo é, no Brasil, uma doutrina aristocrática. Para prová-lo, bastariam os nomes dos Srs. Caio Prado Jr. e Mangabeira, e dos magnatas burocráticos Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo.

Mas é muito mais longa, infelizmente, a lista dos comunistas ilustres. Vem em primeira plana o Sr. Danton Vampré, detido no Presídio do Paraíso. Ao lado deste, os Srs. Leonidas de Rezende e Castro Rabello, detidos no Pedro I; do Sr. Gilberto de Andrade e Silva, que levou ao presídio o nome venerando de José Bonifácio, de que descende; e da filha do ilustre Sr. Justo de Moraes, homem acatadíssimo por seu saber e que traz o nome de Prudente de Moraes, um dos fundadores da República.

Entre os deputados que votaram contra as emendas anticomunistas, figuram os Srs. Souza Leão e Rego Barros, portadores de nomes pernambucanos históricos, e o jovem plutocrata (...) Aldo Sampaio, o afidalgado representante baiano Pedro Calmon, os riquíssimos Mangabeiras, o não menos rico e elegante Henrique Dodsworth, etc., etc.

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A expressão particular de nosso pesar recai sobre os deputados paulistas Cincinato Braga, Castro Prado, Macedo Bittencourt, Dias Bueno, Alves Palma, Felix Ribas, e dos deputados Laerte Setúbal e Jorge Guedes, quase todos plutocratas, e três dentre eles particularmente favorecidos com votos católicos.

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E o que diria Jackson de Figueiredo se, levantando-se da sepultura, visse o Sr. Arthur Bernardes votando pela liberdade aos comunistas?

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Cumpre assinalar que um sacerdote acusado de cumplicidade com os comunistas, o Padre Manoel de Oliveira, há muito tempo está inteiramente desligado de qualquer atividade religiosa e privado de ordens. Assim, seu gesto não envolve, como aliás seria absolutamente evidente, qualquer responsabilidade da Santa Igreja, que já o onerou com as mais pesadas penas canônicas.

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Parece-nos que os católicos não deveriam dar crédito às denúncias contra o governador Juracy Magalhães, acusado de atividades subversivas. S. Ex.a se tem mostrado fervoroso católico, e teve, no Congresso Eucarístico Nacional, conduta exemplar.

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Há grande agitação entre os católicos norte-americanos porque o governo do seu País continua a estimular as perseguições religiosas no México.

Quando se deu a Guerra do Chaco, toda a América interveio para evitar o derramamento de sangue de nossos irmãos. Mas ninguém se incomoda com o sangue derramado no México. É sangue de católico, e para esse sangue parece não haver piedade...

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Também na Alemanha, continuam as celebrações pagãs e as prisões de Bispos. Mas “l'Eglise est une enclume qui a usé bien de marteaux[a Igreja é uma bigorna que gastou muitos martelos]. Na França, o Presidente da República acaba de entregar o Chapéu cardinalício a Monsenhor Maglione, a quem ofereceu depois soleníssimo almoço. República Francesa de Combes, de Gambetta, de Franz onde estás?

Um dia virá em que sobre os escombros do hitlerismo, do comunismo, do obregonismo mexicano, perguntaremos triunfantes: Calles, Hitler, Lenin, Stalin, Lunatcharshz, onde estais? E só nos responderá o silêncio dos túmulos.