Eleições Municipais

“O Legionário”, N.º 183, 27 de outubro de 1935

 

Na brilhante conferência que pronunciou sobre “O Legionário” na Semana Social Mariana, o Prof. Leonardo Van Acker salientou que a nossa nota de fundo, que se ocupa em geral com questões de política interna brasileira, tinha esclarecido os leitores a respeito do verdadeiro ponto de vista católico sobre casamento religioso, mas que não tinha dado qualquer informação sobre o que se passa na Câmara Federal a este respeito ou, em outras palavras, sobre a atuação que os deputados eleitos com votos católicos vem desenvolvendo, quer no recinto quer nos bastidores do Palácio Tiradentes, a respeito de assunto de tão grande alcance.

Circunstâncias particularíssimas nos impedem de dar ao ilustre Professor, de público, uma informação que em particular lhe daremos.

O certo, porém, no que diz respeito à bancada paulista, é o seguinte: alguns deputados federais foram eleitos em legendas que receberam inúmeros votos católicos. Mas tais deputados não responderam aos quesitos da Liga Eleitoral Católica e se recusaram assumir com esta qualquer compromisso.

Não obstante isto, a Liga Eleitoral Católica se sentiu na contingência de não se opor a que os católicos votassem em tais legendas. Com muita finura, porém, publicou ao lado de seu “nihil obstat” a relação dos candidatos que haviam assumido o compromisso de defender as reivindicações católicas. E, como a lista era pouco numerosa, qualquer eleitor de mediana inteligência poderia verificar que nem todos os candidatos peceistas e perrepistas  estavam dispostos a apoiar as reivindicações católicas. De onde se segue que qualquer católico de consciência medianamente exigente verificaria que o “nihil obstat” da Liga fora dado para evitar males maiores, mas que ela não queria, não podia e não devia querer que os nomes de candidatos que não iam trabalhar pelo programa católico fossem sufragados pelos católicos.

No entanto, um frenesi político apoderou-se de muitos católicos, que puseram suas preferências partidárias acima de suas preocupações religiosas e que votaram, apesar de tudo isto, em adversários da Igreja.

A conseqüência não se fez esperar: os deputados federais paulistas não compromissados com a Liga Eleitoral Católica estão criando obstáculos à vitória do ponto de vista católico.

E os católicos que neles votaram estão fazendo orelhas moucas e vistas gordas a esta situação, fruto diretíssimo de sua incomparável incúria.

Aproximam-se agora as eleições municipais. Vamos ver se a experiência aproveitou aos eleitores católicos...

As eleições municipais afetam muito diretamente os interesses católicos. Realmente é preciso notar que, em virtude da Constituição Estadual em vigor, todos os municípios deverão ter estabelecimentos de educação próprios, em que toda a direção será confiada à autoridade municipal. Como conseqüência, criar-se-á uma importantíssima rede de ensino municipal que será, talvez, mais extensa e mais possante do que a Estadual. Pergunta-se agora aos católicos: desejam eles que o ensino religioso em tais escolas seja também de uma magra meia hora? É-lhes indiferente que as autoridades escolares sejam protestantes, espíritas, livre-pensadoras?

Existe em São Paulo uma Confederação de Colégios Católicos, que tem mantido com a Diretoria de Ensino uma luta titânica, para defender o ensino particular católico das investidas de um certo grupo que faz das posições oficiais do Ensino Estadual um meio de perseguir os interesses religiosos. Quererão os católicos que esta luta se estenda por  todos os municípios  de São Paulo?

Se não quiserem, arregimentem-se. E a vitória será nossa...