A quem leu o manifesto da “Frente Única de Luta de todos os estudantes pela democratização do
ensino e pela democracia escolar” não hão de ter passado desapercebidos os
perigos que ameaçam a nossa juventude, e a fraqueza ou mesmo a decadência
intelectual dos que supomos falarem em nome dessa mocidade. Reconhecendo aliás
a necessidade de uma remodelação completa de nosso ensino, elevando-o e dando
possibilidades ao desenvolvimento dos verdadeiros valores espirituais, não podemos
contemplar sem tristeza a anarquia do pensamento dos moços das escolas.
Propõe o manifesto “à massa estudantina em geral, a formação de
uma ampla frente única de massas para a luta em comum...”, visa “transformar as lutas parciais de agora numa
ampla luta contra todo esse estado de coisas que sufoca e oprime os estudantes”.
Visa ainda, “através da pressão da massa
estudantil organizada, através de comícios, passeatas e demonstrações, da greve
geral dos estudantes de São Paulo a caminho da greve geral de todos os
estudantes do Brasil, levar o governo a atender às nossas justas
reivindicações, reformando de cima abaixo (sic) o nosso sistema educacional,
permitindo o seu acesso a todos os que têm sede de cultura, criando uma
verdadeira e sadia democracia escolar”. E como base para essa reforma,
verdadeiramente de “cima a baixo”,
propõe, entre outros, os seguintes pontos:
“5. Livre transferência dos estudantes de uma
escola para outra.
“6. Direito de administrar e dirigir as próprias
escolas (superiores, secundárias, profissionais e normais) em igualdade de
condições com os Conselhos Técnicos de professores, as Diretorias ou
Congregações. Idêntica representação no Conselho Universitário.
“7. Plena liberdade de freqüência, sem nenhum
empecilho para os alunos entrarem e saírem da escola quando bem entenderem.
“12. Direito dos alunos participarem na escolha de
seus professores e de revogá-los quando o desejarem.
“13. Ampla liberdade de organização, propaganda,
greve e reunião inclusive nos recintos das escolas, para a defesa de seus
interesses.
“14. Direito dos alunos de tiro de guerra
escolherem seus próprios instrutores. Abolição do ensino militar obrigatório e
introdução do ensino militar para todos que o desejarem.
“15. Contra o sistema de exames orais, pela adoção
do regime de médias.
“21. Exames de 2ª época para todos os estudantes
independentemente da escola a que pertençam ou do número de matérias.”
Não se esquecem tampouco dos passatempos, pois no
terceiro item pedem 50% de abatimento nas entradas das casas de diversões!... E
depois de tudo isso, afirmam corajosamente que, com a “conquista e aplicação” desse programa, ter-se-á “um dos meios mais poderosos para a
liquidação do analfabetismo em nosso país, para a elevação de nosso nível
cultural” (!)
Isso o que quer o comitê estudantil. Apelo às
massas e não à razão, apelos repetidos e contínuos à luta e não à cooperação; é
claramente a revolta das inferioridades, que pedem a seguir as maiores
regalias, desde a livre transferência, liberdade de freqüência e adoção do
regime de médias, até “exames de segunda
época para todos os estudantes” e para qualquer “número de matérias”! E como se não bastasse isso, querem ainda ter
direitos administrativos nas escolas, possuírem o direito de veto na escolha
dos professores e até na dos sargentos instrutores de linhas de tiro: é
exatamente o mundo às avessas, quem tem autoridade, sujeito a quem não a
possui; quem ensina, sujeito a quem aprende!
Tudo isso seria ridículo se não estivesse tão evidente
a origem do manifesto. Raros são os documentos públicos nos quais esteja tão
claramente exposta a ideologia marxista desorganizadora da sociedade. No valor
dado às massas, no ideal de luta, na inversão hierárquica que preconiza, no espirito de revolta que se nota em suas linhas, respira-se
a mais completa erudição soviética. Nesse sentido ele é um índice de grande
valor; mostra o trabalho lento de sapa a que nossa mocidade é submetida pelos
doutrinadores comunistas. Precioso sinal de alarme, pois, que não deve ser
desprezado.