O pensamento de Helena Blayatsky, russa de nascimento e portanto mais asiática que
européia, deu origem ao teosofismo. Este encontrou em Annie Besant e em Leadbeater, seus maiores propagandistas; em Rudolph
Steiner, seu primeiro reformador. Trazendo em seu corpo de
doutrinas as linhas mestras das crenças indianas e dotado de uma estrutura de
caráter nitidamente [oculto], ele se propagou mais ou menos rapidamente pelo
mundo ocidental, pretendendo ser o restaurador dos princípios espirituais da
humanidade. Oferecendo aos homens um panteísmo ateísta, consubstanciado na
definição de Deus como sendo o Pensamento Absoluto, razão pela qual não existe,
e uma imoralidade na terra, representada pela crença na reencarnação,
faltava-lhe ainda alguém que fosse, por assim dizer, a encarnação de seus
princípios doutrinários. Foi então que Annie Besant descobriu Krishnamurti, apresentando-o ao mundo como o “novo Messias”, a
“reencarnação de Buda”, o avatar da nova época.
É também conhecida a personalidade desse jovem
hindu, cuja visita ao Brasil está anunciada para o próximo ano. Universitário
de Oxford, esportista, culto e elegante, preferiu renunciar ao pomposo título
que recebera para ser apenas um filósofo. Mas, “Messias” ou apenas um filósofo,
sabe-se muito bem o que ele e os teosofistas pretendem. Na luta contra a civilização cristã,
todas as armas são boas e todos os inimigos se unem. Porque não procurar
vencê-la, substituindo-a pelo velho Buda, que abandona sua clássica posição
contemplativa e passa a viajar em aeroplano? Ele traz um pensamento tão
agradável aos homens, uma doutrina tal que ninguém deixará de o seguir. Quer
apenas que cada um pense livremente, destruídas as velhas doutrinas, porque “o
mundo já não precisa de muletas”! E assim, o Buda em sua reencarnação do século
XX, destrói e nega o Buda antigo, e o avatar, o Messias
da nova época, ao invés de traçar uma norma à humanidade, adapta-se prazenteiro
à vontade dessa mesma humanidade.
Desse modo pretende a Teosofia
substituir o Catolicismo; era esse o grande sonho de sua fundadora, que de uma
união entre [...] o ocultismo, o espiritismo, o orientalismo e o misticismo, se
propunha a fundar uma religião tão adaptada ao nosso século que seria aceita
por todos os homens. Seria essa a religião do futuro, a Teosofia,
tomando o lugar do Cristianismo. E para doutrinador dessa nova religião,
inventou um filósofo que não é filósofo, um Messias que não doutrina.
Poder-se-ia perguntar então porque motivo a Teosofia
constitui um corpo doutrinário, porque se divide em lojas e se dissemina pelo
mundo, porque publica livros onde expõe idéias que considera como suas. Se o
Buda reencarnado, ou o filósofo que seja, não traz uma nova palavra ao mundo,
por que segui-lo e por que ser teósofo? Sendo livre o
pensamento humano, por que não deixar o homem onde está, disciplinado pela
doutrina de Cristo? Mas Krishnamurti não o quer
assim. Ele quer que sejam rompidas as tradições do passado, quer, em uma
palavra, substituir-se a Cristo. O pensamento só será livre para aceitar essa
mistura confusa de Budismo e de Panteísmo que é a religião fundada por Helena Blayatsky.
Krishnamurti virá pois ao Brasil;
poderão assim os teósofos, os espiritualistas, os
orientalistas [...] beber suas palavras inócuas, contemplar, apalpar mesmo, o
Buda reencarnado! Certamente a nossa imprensa levará para suas páginas o menor
de seus gestos, e amplas discussões se estabelecerão em torno de suas doutrinas
(sic)! Suas conferências serão ouvidas religiosamente e comentadas
ardentemente. Depois ele se retirará para outras terras, levando a outros povos
sua filosofia nirvânica. Em nada porém deixará de ser
um homem como qualquer outro; inútil procurar nele a autoridade do Messias que
manda aos elementos com poder divino. Este só pertence a Jesus Cristo e com Ele à Sua Igreja; e não será um Krishnamurti que abalará seus alicerces!