Não pode O “Legionário” deixar de dizer sua palavra
orientadora a respeito da notícia publicada pela “Agência Havas”
sobre próximas alterações no quadro do Episcopado paulista.
Uma simples notícia telegráfica de uma agência, que
timbra em deter a palma da capciosidade, foi
suficiente para desencadear em nossa soi-disant [assim chamada] “grande imprensa” os mais
apaixonados comentários.
É claro que a tais jornais que, no entanto, se
dizem católicos, não interessou a nomeação possível de um Arcebispo Coadjutor
para São Paulo, a remoção de D. Gastão Pinto para nossa
Capital, a despeito da suma importância de tais fatos para nossa vida
religiosa. A única coisa que lhes mereceu a atenção foi o anunciado afastamento
de Dom Carlos Duarte da Costa da Diocese de
Botucatu. É que, em tal notícia havia o sabor particular de uma
possível exploração política a ser feita com grande proveito para o aumento da
tiragem dos jornais.
Francamente no seu afã de atrair as simpatias da
Igreja, lembram as alas rubras do P.R.P. e do P.C. ou suas respectivas imprensas, o caso das
mulheres que disputavam a maternidade de uma criança perante a justiça de Salomão.
Com esta diferença: que no caso atual, qualquer dos contendores prefere ver
rachado ao meio o menino (neste caso a Igreja), a vê-lo em mãos do adversário.
Realmente, pouco se lhes dá o prestigio moral desta
Igreja cuja influência tão vorazmente querem conquistar. Para qualquer deles,
membros do P.R.P. ou do P.C.,
é preferível ver dividida pela espada de uma publicidade escandalosa a
dignidade da Igreja, a permitir que o adversário se possa jactar de lhe ter monopolizado
o prestígio eleitoral.
Daí a irreverência com que gregos e troianos, mas
muito particularmente “A Gazeta”, se permitem comentar a nota da “Agência Havas”.
Calando nossa indignação, nada
diríamos, se o interesse partidário se mostrasse lealmente em tais comentários.
Mas o que nos indigna é que se pretenda invocar o amor aos interesses da Igreja
para justificar tão destemperadas apreciações. E é contra isso que vimos
protestar.
Vamos diretamente ao que se refere ao Sr. Bispo de
Botucatu. S. Ex.a Reverendíssima julgou oportuno para
os interesses da Igreja, aconselhar aos seus diocesanos uma determinada atitude
eleitoral. Este ato foi público, recebendo o mais amplo debate na imprensa e,
portanto, chegou certamente ao conhecimento do Sr. Arcebispo Metropolitano, de
S. Ema. o Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro e da Nunciatura
Apostólica.
Andou certo ou andou errado o Sr. Bispo de Botucatu?
A nós leigos não nos compete decidir a questão. A Igreja tem seus órgãos
informativos competentes, e a ela somente caberá resolver o problema.
Suponhamos, porém, que tenha andado errado o Sr.
Bispo de Botucatu.
Neste caso, a quem cabe proferir a sentença
condenatória? A Roma ou à “Agência Havas”? Ao Santo
Padre, ou às rubras do P.R.P. e do P.C.?
Suponha-se ainda que, a despeito de discordar da
atitude de D. Carlos D. Costa, resolva a Santa Sé, na sua grande prudência,
guardar reserva em torno do assunto. Neste caso, com que direito se julgam
jornalistas pseudo-católicos de glosar a informação da “Agência Havas” (que não é oficial e nem oficiosa) prevenindo uma eventual
manifestação da Santa Sé e tentando, por assim dizer, forçar-lhe a mão?
Finalmente, suponhamos que a Santa Sé tenha,
realmente, determinado substituir o atual Bispo de Botucatu. Podem ter todos a
certeza de que, neste caso, ela o faria de forma a respeitar o mais possível em
D. Carlos Duarte da Costa a dignidade de Bispo e homem de costumes
incontestavelmente ilibados.
Nunca, portanto, daria a Santa Sé sua aprovação a
esta revoada de jornalistas que só se dizem católicos para, com mais liberdade
e irreverência, comentar um acontecimento eclesiástico no exclusivo sabor de
seus interesses partidários.