Encerra-se hoje, em Buenos Aires, o 32º Congresso Eucarístico Internacional. Sobre os que o precederam, teve ele de especial contar
como Legado Pontifício o próprio Secretário de Estado de Sua Santidade.
Salientando esta deferência do Santo Padre para com a América Latina, quando
por nós passou o Embaixador da República vizinha junto à Santa Sé, procurou justificá-la
com as relações pacíficas que reinam, em geral, entre os povos sul-americanos.
Difícil, talvez, encontrar conseqüência entre um fato e outro, não o é entre os
Congressos Eucarísticos e a paz das nações. Guerras são sempre frutos de
paixões exacerbadas. E, como entre os indivíduos, a virtude das partes domina
os ímpetos do amor próprio, e conserva em harmonia as relações recíprocas,
também entre as nações é mister reine a virtude cristã que impeça os excessos
das paixões nacionais. Ora, para tanto, muito concorrem os Congressos
Eucarísticos. Primeiramente, porque neles há uma consagração da realeza
transcendente de Nosso Senhor Jesus Cristo. Reúnem-se representantes dos mais
diversos países para, prostrados, reconhecerem a soberania suprema do Rei dos
reis de quem procede todo o poder na Terra. Este espetáculo não pode não
impressionar os soberanos deste mundo.
Não compreenderão aquela massa enorme de homens
diante do que para eles não seja talvez mais do que um pedacinho de pão; mas
sentirão a precariedade de sua soberania, perceberão que sua autoridade não é
absoluta ou ilimitada, mas que deve curvar-se diante de outra mais excelsa a
que peça normas por que se regular. E, como o ateísmo liberal foi o maior
causador das rivalidades e conseqüente desequilíbrio entre as nações, esta
humildade por parte dos governantes, este temor de Deus é o primeiro elemento
de ordem e paz entre as mesmas; pois, na Soberania Divina encontrarão os
soberanos o limite necessário às demasias do orgulho nacional. Depois, os
Congressos Eucarísticos favorecem um conhecimento mais profundo de Nosso Senhor
Jesus Cristo. Ele já não aparece apenas como o Redentor que uma vez se
sacrificou pelos homens para merecer-lhes uma coroa de glória na vida de além
túmulo. Sua vida eucarística, perpetuando o sacrifício, convida os homens a uma reflexão sobre a
perenidade de sua Paixão, os motivos que a determinam, seu influxo diuturno nas
almas. E vem à luz a vida da graça, a vida estabelecida por Nosso Senhor, como
uma realidade que deve ser vivida e intensamente. Daí os frutos mais ocultos
que amadurecem no íntimo dos corações: a reforma dos indivíduos. Uma vida mais
cristã, mais eucarística, em comunhão contínua com Nosso Senhor, uma vida na
qual a religião não é um acréscimo acidental, mas o móvel único que dá
vitalidade sobrenatural a todas as ações do indivíduo, um revestimento de
Cristo, na frase de São Paulo. Não se diga que, todos espirituais, estes
frutos, na sociedade são valores somenos. Absolutamente. Não é possível uma
separação real entre os indivíduos e a sociedade. Não há uma sociedade abstrata
à qual se apliquem normas e reformas sem considerar os homens que a compõem.
Estes são sempre os membros daquela na qual ingressam todo inteiro, corpo e
alma, vícios e virtudes que porventura possuam. E como os vícios concorrem para
a desordem e intranqüilidade, as virtudes são elementos de ordem e de paz. A
paz social depende, pois, e muito da paz interna de seus membros. Esta só se
obterá quando se compenetrem os homens de sua finalidade extraterrena,
sobrenatural, e saibam que ela se subordina ao cumprimento exato de seus
deveres para com Deus e para com o próximo. Tal compreensão proporcionam os
ensinamentos de Nosso Senhor; executá-la facilitam os exemplos de Nosso Senhor:
uma e outra coisa se obtém nos Congressos Eucarísticos.
Há, pois, estreita relação entre os Congressos
Eucarísticos e a paz na Terra. Já o atual Pontífice gloriosamente reinante
apontava este benéfico influxo dos Congressos Eucarísticos, ao reatar a série
dos mesmos interrompidos pela Grande Guerra. E realmente a paz de Cristo só se
pode obter com o reinado de Cristo nos indivíduos e na sociedade.