Chapas

“O Legionário”, N.º 155, 30 de setembro de 1934

 

As chapas dos dois grandes partidos, ou dos dois partidos grandes, já estão publicadas. Fiel à sua preocupação de se manter alheio a dissídios partidários, o “Legionário” se desinteressa totalmente do aspecto político que apresentam. Há, no entanto, certas considerações de ordem geral, que podem ser expostas sem prejuízo de nossa inflexível linha de conduta. É o que vamos fazer.

Nota-se que as correntes partidárias se empenharam em afastar, na medida do possível, os marechais da velha política liberal. Gente nova é o que reclama a opinião. E foi mister satisfazê-la.

Logo que as chapas foram dadas à publicidade, porém, houve um movimento de desgosto na opinião independente. Não havia o número suficiente de homens de valor, reclamados pela delicadeza dos assuntos confiados aos futuros legisladores. E o interesse do próximo pleito diminuiu aos olhos do público, quando viu ingressarem na arena gladiadores que ele não conhecia.

Pedia-se gente nova, e se era gente nova que se pedia, achamos francamente injusta esta apreciação.

Realmente como sair do inexorável dilema? A gente velha se acusa por ser velha. A gente nova não interessa por ser desconhecida. A quem, pois, apelar? Onde buscar o remédio que a situação reclama?

Não se espantem os leitores, se formos apontar o remédio na boa imprensa.

Vivemos em uma democracia, isto é, em um regime em que a opinião pública tem ou presume  ter o direito de governar.

Ora quem diz governo da opinião diz governo da imprensa. E é a má imprensa que é responsável pela má opinião.

É a má imprensa, que levantou o feiticismo da mocidade, como se bastasse à nação ser governada por gente moça para ser feliz.

Não é gente moça nem gente velha que o Brasil quer. O que o Brasil quer é gente boa.

Ora, esta gente boa só logra ser conhecida pela opinião, quando se filia aos clãs políticos ou financeiros que dominam a imprensa.

A única porta pela qual a “gente boa” poderá ingressar na nossa vida pública é a imprensa independente.

Se o Brasil precisa, pois, não de gente velha ou de gente nova, mas de gente boa, ele precisa de uma imprensa que não seja nova ou velha, pouco importa, mas que seja boa.