A preocupação dominante das autoridades
eclesiásticas é, no momento, a consolidação da esplêndida vitória que obtivemos
na Constituinte da 2ª República. Devemos, atualmente, repelir uma tendência que
pode ter, no momento, conseqüências extremamente funestas.
Deriva ela do otimismo fácil, que
é um dos pecados nacionais do Brasil.
Pensam alguns que a aparente facilidade da vitória
convida as hostes católicas a crescentes conquistas no terreno legislativo,
conquistas estas que ingenuamente quereriam dilatar até a completa recristianização do Brasil.
“Ingenuamente”, dissemos nós, e estamos persuadidos
de que só a ingenuidade de um zelo irrequieto ou de uma apatia incorrigível
poderia tirar de premissas erradas, conclusão absurda.
Certamente, foi fácil a vitória para os que se
contentaram em acompanhar os acontecimentos através das notícias resumidíssimas que nossos jornais reproduziam sobre a
marcha das reivindicações católicas.
Para estes, que sentenciam sem conhecimento de
causa, e se contentam em apreciar os fatos através dos comentários de uma
imprensa rancorosamente muda em tudo que nos
concerne, a dificuldade da luta se mediu apenas pelo número dos discursos
pronunciados.
Ignoram eles por certo a luta dos bastidores, a
campanha dos cochichos, em que duas palavras habilmente sussurradas a um ouvido
destroem o efeito de uma longa e eloqüente argumentação desenvolvida da
tribuna.
Só o futuro dirá a amargura da luta que nós, os
deputados católicos do Brasil inteiro, sustentamos pela causa da Igreja.
Também nós esperávamos a guerra a peito descoberto,
o grande lance retórico em que a beleza da luta cicatriza na alma as feridas
abertas no combate.
E foi o contrário que tivemos de fazer.
Como na guerra moderna, em que o gás asfixiante e
as pulgas das trincheiras substituíram, como instrumento de tortura, o aço rijo
das lanças medievais que se chocavam contra a couraça adversária em lances
diretos tão fortes quanto leais, também na vida parlamentar de nossos dias o
trabalho dos corredores e da sala do café substituiu o combate oratório, hoje
desenvolvido principalmente para as galerias.
É cedo para falar. Manda a
prudência que calemos os nomes. Mas o Brasil saberá um dia, e se ele não
souber, sabe-os Deus, os nomes daqueles que traíram, que fugiram ou que se
calaram...
Não foi fácil, pois, a luta. E nem está ela
concluída. É preciso, agora, consolidar.
Os preceitos constitucionais inscritos em nossa
carta fundamental dependem, na sua maior parte, de regulamentação.
Há reivindicações católicas, como o casamento
religioso, que se podem transformar, graças a uma regulamentação má, em espinho
cravado na Igreja. Nas eleições que se aproximam, é pois necessário que
consolidemos a vitória obtida, exigindo dos candidatos em quem votarmos o
compromisso de regulamentar lealmente o exercício de nossos direitos
espirituais.
Não é pela conquista de um terreno novo que devemos
empenhar nossos esforços, mas pelo aproveitamento real do terreno que nos foi
restituído, à força, pela impiedade.