Subtração
de valores
O
“Legionário” n.º 143, 15-4-1934
Preceituam os marxistas que todos os fatos sociais,
todo progresso e toda decadência, tudo que gira em torno da religião, da moral,
da filosofia, do direito, da ciência e da arte, tudo, enfim, é conseqüência
exclusiva dos fatores econômicos. Daí a brutalidade da expressão que bem traduz
as suas concepções materialistas: o homem é um animal que come. E buscam a
felicidade na realização desse conceito.
Ser composto, porém, o homem integral tem que viver
com o espírito e com a matéria.
Utopia querer o homem ser tão somente espírito.
Aviltamento viver da matéria só.
Portanto, a economia, que se relaciona com o lado
material da vida, é uma grande parcela. Mas... PARCELA. Na complexidade da vida
humana, outras parcelas há que, reunidas à economia, vão formar a grande soma
de valores. Na harmonia e fusão desses elementos está o VALOR de um povo.
* * *
Na república dos... “animais”, não se procede por
adição, mas por subtração. É a subtração dos valores humanos.
Para alcançar ou impor o triunfo da matéria sobre o
espírito, os marxistas fazem uso da força e do terror. Disse, mesmo, Lenine:
“Só a força pode resolver os grandes problemas históricos”. E preceitua que é
moral tudo quanto for útil ao partido comunista.
Por meio do terror organizado, procuram subtrair... o
que? A religião... a família... a propriedade...
Enquanto o Cristianismo, que é o amor organizado,
ensina aos poderosos a justiça para com os direitos dos humildes; a caridade
para socorrê-los nas suas horas difíceis; enquanto ensina aos inferiores o
respeito aos superiores; a alegria dentro de sua própria condição; a aspiração
de elevar-se por merecimento real; enquanto o Cristianismo semeia a paz na
harmonia das classes e no concerto admirável resultante do domínio das paixões
egoísticas e vis; enquanto o Cristianismo acena para o Alto e promete uma
felicidade eterna depois da prova desta vida, o marxismo calca aos pés toda
dignidade humana... E prega a luta das classes. O ódio ao superior. A revolta.
O surto de todas as paixões mesquinhas. A felicidade efêmera no gozo da
matéria.
É por isso que os bolchevistas, em furiosa sanha,
congregam todos os esforços para arrancar a consciência religiosa do povo
infeliz. E investem contra a Igreja Católica - o esteio da fé, da esperança e
do amor - , a coluna mestra da moral, a guarda da família, a defensora do
direito.
Lenine manifestou certa vez que lhe parecia
indispensável selecionar trechos das obras dos escritores ateus e materialistas
da época da Revolução Francesa e que os chistes de Voltaire sobre o Catolicismo
estavam em condições de limpar o cérebro humano da névoa religiosa e das idéias
infiltradas no povo, durante centenas de anos, nas diferentes classes sociais,
pelos “bandidos religiosos” de todas as nações. Em julho de 1929, a liga dos
sem-Deus dirigiu aos trabalhadores, camponeses e soldados de todo o mundo um
manifesto em que se lia esta frase: “Somos internacionalistas contra Deus, como
contra o capital”.
* * *
Grande quantidade de templos vêm sendo transformados
em escolas (onde é intensa a atividade anti-religiosa), cinemas, teatros,
clubes, etc. Outros são demolidos.
O sangue ardoroso do martirológio
de sacerdotes e fiéis vem vivificando a esplêndida floração que irrompe das sementeiras
cristãs.
É digno de registro o martírio imposto a Mons. Budkiewicz, Bispo Auxiliar de Petrogrado.
Com o intuito satânico de reproduzir em paródia a tragédia do Gólgota, vários comunistas solicitaram do governo que lhes
sacrificasse um membro elevado da hierarquia católica.
Conduzido a Moscou, foi encarcerado, depois de levado
em passeata pelas ruas da cidade.
No Domingo de Ramos, em um teatro, teve lugar a
cerimônia do julgamento, tendo sido solenemente condenado à morte o Rev.mo Bispo que, em pé, ante a multidão, abençoou-a por
três vezes. De novo conduzido ao cárcere, foi tratado com tanta violência, que
teve uma perna fraturada. As dez horas da Sexta-Feira Santa, arrastado até o
lugar do suplício, foi morto a balas.
Não obstante, os sacerdotes católicos, feridos no mais
íntimo da alma, continuam a sua missão de caridade...
* * *
Em vão se agitam os que, escravizando as classes
trabalhadoras, implantando o terror, a miséria e a desgraça, esperam elevar o
país tão somente pela produção material.
A “questão social” não se resolve, assim, na solução
fria de um problema aritmético. Plaie d'argent n'est pas mortelle... [A chaga
produzida pelo dinheiro não é mortal]