Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

O triunfo de Cristo Rei nas escolas

 

 

Legionário, N° 79, 10 de maio de 1931

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É com o coração transbordando de alegria que recebemos o decreto instituindo o ensino religioso nas escolas públicas brasileiras. Os próprios ataques que a insensatez dos laicistas tem arremessado contra o ato do Ministro Francisco Campos denotam que o agnosticismo, vitorioso em 1891, não passa hoje de doutrina desacreditada, pobre em argumentos e em adeptos, e vigorosamente rejeitada pela imensa maioria da nação brasileira.

Não compreendo como se possa ser, ainda hoje, agnosticista sincero.

Se não bastassem as fragorosas derrotas que tem sofrido no campo científico a famosa moral leiga, se não fossem suficientes os numerosos repúdios que tal doutrina tem sofrido de seus próprios partidários, o exemplo, o triste e doloroso exemplo do Brasil hodierno seria suficiente para evidenciar o que de falso, o que de cruel se encerra nas vãs ideologias do agnosticismo.

O espetáculo que atualmente oferece o Brasil, pobre país que se examina a si próprio com pavor, assustado pela deficiência de caráter de tantos de seus filhos; a incerteza angustiosa que se lê em todos os olhares, que procuram por todo o País, ansiosamente, elementos numerosos, fortes e moralizados que sejam capazes de  fornecer ao país os enormes contingentes para o imenso exército de funcionários honestos de que precisa para viver; a instabilidade da nação, que oscila até em seus mais profundos fundamentos; e a causa de todos estes males, isto é, uma crise de caráter tremenda, deveriam constituir para os agnosticistas impenitentes uma prova suficiente do absoluto fracasso da moral leiga.

Se expusermos à ação do ar um vidro de perfume, este se evaporará dentro de algum tempo. E, muito tempo ainda depois de completamente evaporado, continuará a sala impregnada pela suavidade de seu aroma. Ao cabo de mais algum tempo, o próprio odor terá desaparecido, e do delicioso perfume só ficará a lembrança.

Logo que a vitória dos cristãos abriu para a humanidade o frasco de essências morais preciosíssimas que é a Igreja Católica, o bom odor das virtudes evangélicas se começou a alastrar dia a dia pelo mundo, vencendo o cheiro acre da barbárie franca ou germânica, e as exalações insalubres da civilização romana, já então em franca decomposição. E o bálsamo da sabedoria evangélica, fundindo raças, erguendo nações, foi a seiva fecundíssima que alimentou e fez crescer uma nova e magnífica civilização.

Irrompeu depois a Reforma protestante, golfada de orgulho de um monge apóstata, que lançou a humanidade no caminho da perdição. E a fúria anticatólica de Lutero, que engendrou o rancor ateísta e anticristão de Voltaire, ligou-se a este para impedir que a Igreja continuasse a espalhar sobre o mundo, com a profusão de outrora, o mesmo perfume moral salvador, do qual ela é fonte inesgotável.

Durante muitos anos, no entanto, o bom odor evangélico continuou a embalsamar parcialmente o mundo paganizado, “como o vaso que conserva por algum tempo o perfume das flores que dele tiraram”.

Aos poucos, porém, o perfume se foi diluindo completamente, cedendo lugar à fermentação crescente de paixões malsãs, suscitadas pelas heresias que o mundo não soube nem quis dominar.

Só agora, porém, quando a civilização ameaça ruína, é que sentimos, num terrível despertar, a falta das virtudes católicas que aromatizavam amenamente a vida de nossos maiores; agora, que o americanismo cinematográfico invadiu, como onda de lodo, a família, o clube, as escolas e a sociedade, começamos a perceber que desapareceu completamente aquela doce honestidade de nossos avós; que nossos chefes de família não são mais o patriarca venerável de outrora, mas apenas o mais velho dos companheiros de “rapaziadas” de seus filhos; que as mães das últimas gerações já não são, em geral, os anjos de dedicação e amor que a Providência colocava como protetora de nossos berços, mas sim educadoras implacáveis e indiferentes de seus filhos, aos quais querem sacrificar a menor parcela possível de suas comodidades e gozos pessoais; que os filhos só vêem nos pais meros administradores da fortuna, e nas mães simples governantes de casa que se arrogam atribuições julgadas verdadeiramente desmedidas, que é preciso, a todo o custo, restringir; que a Pátria nada mais é do que um aglomerado de cidades que o acaso agrupou sob uma mesma autoridade política, e que as vantagens financeiras ou outras poderão, a qualquer momento, desagregar sem inconveniente algum de ordem moral; que a humanidade, enfim, é constituída exclusivamente por concorrentes nocivos do uso e gozo da natureza, que é necessário, a todo o custo, afastar como vizinhos incômodos e demasiadamente numerosos.

Dir-nos-ão que exageramos. Mas tome cada qual o trabalho de arranhar um pouco o verniz das convenções, e verifique se, na grande maioria das pessoas, não predominam exatamente os conceitos que enumeramos, dos quais um só é suficiente, quando generalizado, para prostrar por terra uma nação.

E que muitos também arranhem corajosamente o verniz, incomparavelmente mais sensível, com que se cobrem aos olhos da própria consciência, e que vejam, que tenham a coragem de ver sincera e virilmente, se não se poderiam muito bem espelhar no retrato que acabo de fazer.

Ora, com o predomínio de tais princípios, que sociedade pode viver? Que país pode ser honesto na administração pública, quando não existe patriotismo corajoso na guerra, quando não existe idealismo exemplar na família, quando filhos e pais nada mais são do que indivíduos que se disputam as partes mais aproveitáveis do patrimônio comum?

E agora mudem-se os quadros. Suponha-se um país em que, desde o chefe da nação até o mais modesto contínuo, desde o pai até os filhos, desde o patrão até os operários, predomine a prática rigorosa dos princípios católicos.

E imediatamente surgirão, a nossos olhos, estadistas abnegados e diligentes, funcionários probos e esforçados, pais moralizados e respeitáveis, generais valentes e disciplinados, filhos obedientes e amorosos, mães dedicadas e respeitadas.

Comunismo ou Catolicismo, eis o dilema a que não se pode fugir. Ou a dissolução atual continua sua marcha, e nos arrasta ao comunismo pelo apodrecimento de toda a organização política e social do país, ou voltamos atrás e, recorrendo à seiva do Catolicismo, que já uma vez salvou uma civilização que também estava podre, pomos Deus nas escolas, nas constituições, nos lares, nos clubes e principalmente nos caracteres.

Pelos frutos se conhecem as árvores. Compare-se o fruto amaríssimo da fase de agnosticismo que atravessamos, com o fruto dulcíssimo, cheio de suavidade, de uma nação radicalmente católica. E quem tiver a coragem de optar ainda pelo agnosticismo, que tenha ao menos a hombridade de defender também suas funestas conseqüências!! Que não nos fale em moral leiga, mas sim em imoralidade leiga.

Por isto, felicitamos calorosamente ao Dr. Francisco Campos e ao Governo Provisório, que com um simples decreto acabam de encerrar o período mais triste de nossa História. E que o Dr. Francisco Campos seja indiferente a seus inimigos.

O característico dos grandes homens é de suscitar, simultaneamente, amizades ardentes e ódios implacáveis. Porque todo homem de bem, além da amizade fervorosa dos bons, tem de lutar contra o ódio rancoroso dos maus.

Felicitamos, portanto, o Dr. Francisco Campos, pelos inimigos que acaba de adquirir, assegurando-lhe também que seus amigos saberão ser, se necessário, tão ou mais implacáveis que seus próprios inimigos.


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