Como demonstrei em meu último artigo, aos olhos da
razão não se pode justificar o agnosticismo oficial, em um país de imensa
maioria católica. Vejamos agora, nós que consideramos o agnosticismo uma das
mais notáveis inovações que nos vieram do Exterior, a diferença que há entre o
laicismo no mundo civilizado e o que entre nós, desde 1889, se tem praticado.
Para tornar palpável o grande ridículo do laicismo
brasileiro, recorramos primeiramente aos Estados Unidos, sobre cuja Constituição se tinha modelado a nossa
malograda organização política.
Nada mais irrisório do que querer aproximar, em
matéria religiosa, nossa Constituição da dos Estados Unidos, porque, como bem
observa Eduardo Prado, “um país (os
Estados Unidos) onde o Congresso, todos
os dias, antes de abrir as suas sessões, prosterna-se à voz de um capelão que
abençoa, em nome de Deus, os trabalhos legislativos; um país em que o poder público,
em solene proclamação, determina que um dia do ano deve ser de repouso e
consagrado a agradecer à Divindade as graças recebidas; um país em que, numa
grande crise da nação, o presidente decreta um dia de jejum nacional, para
obter do céu a salvação pública, não pode ter nada de comum com o ateísmo
vulgar, que é a essência mesma da República Brasileira” (Eduardo Prado, Crítica Republicana, seção “Opiniões”,
do Jornal “O Comércio de São Paulo”, de 21-11-1895).
Lição eloqüente no-la ministrou o próprio
embaixador americano junto à agnóstica República brasileira quando,
pronunciando um discurso de felicitações na presença de Floriano Peixoto, então Presidente da República, declarou que a República
norte-americana e a brasileira eram irmãs, porque ambas “temiam a Deus e amavam a liberdade” (Eduardo Prado, op. cit.).
O que de ironia, o que de censura, não se entrevê
nesta simples declaração do representante norte-americano! Que crítica ao
passado, que lição para o futuro!
Mas aí não param as públicas lições de fé que temos
recebido do povo yankee.
Enquanto uma “igreja” protestante qualquer ousou
censurar o Dr. Getúlio Vargas por ter
comparecido, em caráter oficial, a cerimônias do culto católico, o mesmo Eduardo
Prado nos informa que o presidente dos Estados Unidos compareceu pessoalmente à
inauguração da Universidade Católica de Washington (“O Comércio de São
Paulo”, 30-11-1895), embora fosse ele protestante, a despeito de ser a
Universidade mantida pelos RR. PP. Jesuítas.
No mesmo artigo, nos informa ainda Eduardo Prado
que a proteção oficial é tal, para com as idéias religiosas, que os artigos
destinados ao culto não pagam direitos alfandegários.
Aliás, a moderna orientação é, por toda parte do
mundo, inteiramente contrária ao agnosticismo. Exemplo palpitante desta
tendência universal é a Constituição da Polônia, uma das mais recentes do mundo inteiro, que exige que o
presidente, ao assumir seu cargo, preste o seguinte juramento:
“Juro perante Deus Todo-Poderoso e uno na
Santíssima Trindade, e faço um voto a ti, ó Nação polaca, que, nesta função de
Presidente da República, que ora assumo, defenderei os direitos da República, e
antes de tudo as leis constitucionais, que servirei fielmente e com todas as
minhas forças o bem geral, que considerarei uma virtude de primeira importância
a justiça para com todos os cidadãos, indistintamente; que Deus me ajude, para
cumprir este voto, assim como seu santo mártir! Amém!”
Este juramento deve ser pronunciado com a mão
direita colocada sobre um crucifixo.
Nada há de mais significativo. Nação nova, cuja
eclosão no cenário político europeu se deu com a grande guerra, cujos anseios
de liberdade, cujo espírito democrático o mundo inteiro conhece, a Polônia não quer ter por
garantia da probidade de seu chefe outra arma senão um juramento prestado em
nome de Deus!
É fato deveras curioso que enquanto a imensa
maioria ou a totalidade dos países protestantes considera oficial uma seita
protestante qualquer, nos países católicos o protestantismo erga altos brados
contra a mesma regalia concedida ao Catolicismo. E mais singular ainda é que os
católicos, longe de se indignar com a inconcebível improcedência das
reclamações protestantes, fazem muitas vezes coro com estes!
A Suécia, a Dinamarca, a Noruega, a Holanda, a Inglaterra, que são protestantes; a Bulgária, a Iugoslávia e a Grécia, que são “ortodoxas”;
e a Rússia, que é atéia,
oficializam de modo o mais claro possível as concepções religiosas dos
respectivos povos.
E, no entanto, em 1914, com exceção da Espanha, da Áustria-Hungria e da Bélgica, nenhum país católico conferia à Igreja a posição de
Religião oficial, que de direito lhe competia.
No entanto, com a guerra, muitas mudanças houve. E
do antigo bloco dos países agnósticos resta, quase isolada, a França.
É o que o Sr. Guy-Grand, laicista irredutível, declarou
em entrevista que concedeu a respeito da paz religiosa, e que se encontra no
seu livro Sur la paix religieuse, pp. 28-30: “Os partidários do laicismo percebem
perfeitamente que, até agora, a França está isolada. Ela está só: isto explica
o espanto, a incompreensão, a reprovação indignada ou triste que, a seu
respeito, as nações religiosas manifestam. O anátema mais ou menos insistente
que persegue o “ateu”, no interior da França, esta o sente pesar sobre seus
ombros, no concerto das nações... Leigo, como se pode ser leigo? Os
protestantes se unem aos católicos, para nos censurar. Somos reprovados em Roma, e não existe maior afinidade conosco nas democracias
puritanas, em Genebra, em Londres, em Washington. Nós o vimos durante a guerra... O laicismo integral é um
produto francês”.
Mas a própria muralha chinesa do laicismo francês
já começou a sofrer suas primeiras brechas. Assim é que foi o próprio deputado
que, antes da guerra, propusera a expulsão das Congregações religiosas, que
propôs, há pouco tempo ainda, leis favoráveis ao Catolicismo, sem que - fato
curioso - fosse esta mudança de atitude devida a uma conversão, pois que o
referido deputado continua perfeitamente ateu.
Quanto à Alemanha, devastada por Lutero, tenho em meu poder uma interessantíssima fotografia:
seis ministros do Reich, envergando casaca, com todas as suas condecorações,
ajoelhados em uma rua de Berlim, de velas nas mãos, e cartolas colocadas sobre o próprio
chão, assistindo, no ano passado, à passagem do Santíssimo Sacramento, em uma procissão na qual eles haviam tomado parte!!
Vemos, pois, que por toda a parte cai o
agnosticismo. E o Brasil? Continuará ele a renegar publicamente a Fé que todos
os seus membros, particularmente, professam e praticam? Se tal se der, a culpa
será nossa. Será nossa tibieza, nossa falta de idealismo, que nos impedirá de
seguir os passos de nosso glorioso Episcopado, no caminho bendito de nossas
reivindicações. Mas as perspectivas são outras. Com o auxílio de Deus, venceremos.
À LUTA!