FRANÇA

 

Para que a França e História continuem a ser termos correlatos

 

 

SOBRE QUE FUNDO DE QUADRO CULTURAL, social e político atua a TFP da França? Várias respostas poderiam ser dadas a esta pergunta, mas, neste ano em que o País come­mora o bicentenário da Revolução Francesa, nada melhor do que considerar a constelação de problemas que ainda hoje se mo­vem em torno do histórico acontecimento.

O processo revolucionário nascido do cataclisma de 1789-1814 encontrou – e ainda encontra em nossos dias – obstáculos de monta em seu caminho. Para avançar, e também para operar os recuos táticos que tão freqüentemente lhe têm sido necessá­rios, ele teve de se metamorfosear.

Assim, "o espírito da Revolução Francesa, em sua primei­ra fase, usou máscara e linguagem aristocrática e até eclesiásti­ca. Freqüentou a corte e sentou-se à mesa do Conselho do Rei.

"Depois, tornou-se burguês e trabalhou pela extinção in­cruenta da monarquia e da nobreza, e por uma velada e pacífi­ca supressão da Igreja Católica.

"Logo que pôde, fez-se jacobino, e se embriagou de san­gue no Terror.

"Mas os excessos praticados pela facção jacobina desperta­ram reações. Ele voltou atrás, percorrendo as mesmas etapas. De jacobino transformou-se em burguês no Diretório, com Na­poleão estendeu a mão à Igreja e abriu as portas à nobreza exila­da, e, por fim, aplaudiu a volta dos Bourbons. Terminada a Re­volução Francesa, não termina com isto o processo revolucioná­rio. Ei-lo que torna a explodir com a queda de Carlos X e a as­censão de Luís Felipe, e assim, por sucessivas metamorfoses, aproveitando seus sucessos e mesmo seus insucessos, chegou ele até o paroxismo de nossos dias. " (1)

(1) Plinio Corrêa de Oliveira, Revolução e Contra-Revolução – Ed. "Diário das Leis", São Paulo, 1982, 2' ed., p. 22.

 

* * *

Para se estudar a marcha da Revolução Francesa nos es­píritos e avaliar sua situação nos dias de hoje, viria muito a propósito comparar as celebrações do primeiro centenário dela (1889) com as do segundo centenário, já que a publica­ção do presente livro praticamente coincide com este últi­mo. É o que se procurará fazer aqui, embora em linhas mui­to gerais.

Dizem os historiadores que as coisas, há um século atrás, não corriam a contento para os adeptos da Revolu­ção, pois a mentalidade republicana tardava em se consoli­dar na sociedade francesa, e a recordação dos acontecimen­tos polarizava possantemente os espíritos. Ora, essa polari­zação, segundo a ótica revolucionária, impedia que cicatri­zasse a profunda dilaceração social aberta um século antes. Não cicatrizando tal ferida, era difícil dar novos passos ru­mo à plena realização do programa de 1789, sem causar trau­mas.

Além do mais, o ano do primeiro centenário se abriu com a eleição fulgurante do general Boulanger (janeiro). Muitos viam nele o Monk (*) francês, ou seja, o condestá­vel brilhante e quase mítico que iria recolocar no trono os Bourbons.

(*) General inglês, lugar-te­nente de Cromwell, que res­tabeleceu Carlos II no tro­no (1608-1670).

 

O próprio general se encarregou de resolver o proble­ma político que criava, precipitando-se pelo despenhadeiro do desprestígio e abandonando vergonhosamente o País (a­bril). Assim, ele atirou por terra os sonhos dourados da di­reita francesa.

Afastado o problema político, restava o das polariza­ções doutrinárias que poderiam surgir com as festividades. No centro destas últimas, estava a Exposição Internacional de Paris.

Tal Exposição comemorava a Revolução Francesa, mas debaixo de vários pontos de vista em nada lembrava aque­les trágicos acontecimentos. Ela solicitava poderosamente as atenções para as maravilhas da indústria francesa, o de­senvolvimento do comércio francês e a expansão colonial do País. Sobretudo, foi uma glorificação de todo o conjun­to do progresso moderno, na França e nas nações civilizadas.

Sem dúvida esse "progresso moderno" tinha um cer­to nexo psicológico com a Revolução Francesa. Mas as pes­soas que iam visitar os pavilhões da famosa Exposição não estavam pensando em Danton ou Napoleão. Elas pensavam nas maravilhas que viam e no mundo cheio de delícias que pressentiam para a virada do século, pouco antes de todo o mundo civilizado se decepcionar cruelmente com a primei­ra, e depois a segunda Guerras Mundiais.

A Exposição Internacional de tal maneira deixou para o segundo plano a ideologia revolucionária e colocou o foco so­bre a exaltação do nacionalismo francês, que ganhou a simpa­tia de muitos anti-revolucionários de tendência nacionalista. Além disso, atraiu a visita de pessoas da mais alta aristocracia dos países monárquicos da Europa, ou seja, da Europa intei­ra, exceção feita da Suíça e da própria França.

A inauguração da Torre Eiffel também fazia parte das festividades. Mas quem a considera hoje, ou mesmo a conside­rava no momento em que foi erguida, depois de pouco tem­po poderia se familiarizar com ela e esquecer ter sido construí­da para festejar a Revolução.

A ideologia revolucionária foi, pois, escamoteada, nas co­memorações.

O primeiro centenário da Revolução transcorreu, assim, de forma paradoxal: acontecimentos violentos e próprios a di­vidir possantemente os espíritos foram festejados sem violên­cia nem divisões realmente expressivas.

Ficava aplainado o caminho para que Leão XIII, na En­cíclica Au milieu des sollicitudes (1882), recomendasse aos ca­tólicos franceses, por razões que seria longo analisar aqui, o ralliement, ou seja, o acatamento do regime republicano.

Ao homem contemporâneo é impossível recordar esses fa­tos – diga-se de passagem – sem notar que a conduta da Ter­ceira República face às comemorações revolucionárias tinha algo de sensivelmente semelhante com a atitude atual de Gor­bachev perante as reminiscências sangrentas dos regimes de Lê­nin e Stalin.

A Revolução estava num impasse. Mas nos dias de seu primeiro centenário, conseguiu retomar a marcha e avançar consideravelmente.

* * *

Passaram-se mais cem anos, e se pode perguntar: a quantas anda, hoje, a execução do programa da Revolução Francesa?

A resposta a esta pergunta é forçosamente bivalente. Sem dúvida, o mito da Revolução vem caindo de forma considerável, graças, entre outros fatores, ao trabalho objetivo de pesquisadores de História que estão desmascarando muitas das impos­turas habilmente lançadas no século passado a propósito da­queles acontecimentos. "Cada ano – diz um autor de nossos dias – alguns historiadores franceses, americanos ou ingleses publicavam um novo livro e iam jogar nova pá de terra sobre a Revolução, esse cadáver" (2). E um amigo da Revolução Francesa se lamenta: "Se isto continuar, o aniversário da 1789 será a apologia dos vandeanos (3).

(2) Georges Suffert, "Le Figa­ro Magazine", 11-10-86.

(3) M. Mexandeau, citado por Louis Pawels, "Le Figaro Maga­zine", 11-10-86. Como se sabe, os vandeanos se levantaram em armas contra a Revolução Fran­cesa.

 

Isto, entretanto, não impede que o igualitarismo, que cons­titui a própria medula do espírito revolucionário, continue a avançar a passos largos em todo o mundo. E, portanto, tam­bém na França.

Por outro lado, a mentalidade revolucionária recebeu um golpe com o fracasso do socialismo autogestionário de Mitterrand (ver TFPs: ações conjuntas em âmbito internacio­nal n° 12). Pois, segundo afirmou Plinio Corrêa de Oliveira na célebre Mensagem difundida pelas TFPs no mundo inteiro, "a autogestão constitui, em miniatura, a implantação dos prin­cípios e da forma de governo da Revolução de 1789, na empre­sa" (4).

(4) Autogestion Socialiste: Les têtes tombent, à l'entreprise, à la maison, à l'école, Éd. Tradi­tion, Famille, Propriété, Asni­ères, 1983.

 

A autogestão momentaneamente derrotada cedeu lugar, na França contemporânea, a outra realidade relevante: é o que talvez se pudesse chamar de "coabitacionismo ".

Como se sabe, tendo o PS francês perdido as eleições em 1986, Mitterrand foi obrigado a aceitar como primeiro-mi­nistro o oposicionista Chirac. Quiseram chamar de "coabita­ção" a esse regime híbrido, no qual o presidente era socialis­ta e o prémier não o era.

No momento em que se escrevem estas linhas, a "coabita­ção" na cúpula do Estado não mais existe, embora possa vol­tar a se estabelecer a qualquer momento. Entretanto, pergun­ta-se: não estará em curso um outro tipo de "coabitação"? Não estará se operando um amálgama doutrinário e cultural de muitos dos setores que normalmente seriam adversários? Não estará tal processo conquistando, para a Revolução, ain­da mais espaços do que a "coabitação" política?

Quando a primeira "coabitação" – ou seja, a existente en­tre Mitterrand e Chirac – estava em curso, um comentarista afirmava: "Antigamente havia a direita e a esquerda, que pareciam duas matilhas inimigas, um bando de lobos contra outro ban­do de lobos". Hoje, prossegue ele, "cada um dos dois lados inte­grou lentamente as idéias do campo adverso" (5).

(5) Gilles Lapouge, "O Estado de S. Paulo", 14-2-88.

 

Terminou a "coabitação" Mitterrand-Chirac, mas o fenôme­no parece ter passado do plano político para o psicológico, cultu­ral e doutrinário.

O mesmo tom coabitacional se procura imprimir às comemo­rações do bicentenário da Revolução Francesa, que seriam tão pró­prias a levantar controvérsias acaloradas. Vejam-se alguns exemplos:

O símbolo do bicentenário: "três pombas anêmicas em azul-branco-vermelho bem desbotado", diz Jean-Sébastien Stehli (6). Para ele, "o símbolo da Revolução Francesa é o barrete frígio, a cocarda e cores fortes", e de fato assim é. Mas se preferiu um lo­gotipo aguado e inexpressivo.

(6) "L'Express", 3-6-88.

 

A divisa: Procura-se não insistir muito sobre a igualdade, nem mesmo sobre a liberdade, para evitar polêmicas. Diz o pri­meiro presidente da Missão para o bicentenário: "É preciso colo­car o projetor sobre a terceira palavra da divisa da República: Fra­ternidade" (7). Seu sucessor, Edgar Faure, insiste na necessidade de conceber "em toda a plenitude" a Fraternidade, por ocasião das celebrações (8).

(7) Michel Baroin, "Nouvel Ob­servateur", 30-1-87.

(8) "Le Figaro", 27-5-87.

 

Programa filatélico: "Nele se encontrarão Mirabeau, La Fayette, Sieyès, Drouet, Barnave e o Visconde de Noailles. Uma escolha bem centrista" (9).

(9) "La Croix", 6/7-3-88.

 

O orçamento: " preciso dizer que – barômetro do interes­se real de 1789 – os meios da Missão [de comemoração do bicen­tenário] são pelo menos limitados: apenas 18 milhões de francos". O centenário da estátua da liberdade, em 1986, contou com cem vezes mais (10).

(10) Jean-Sébatien Stehli, ibid.

 

As obras: No contexto do bicentenário estão a inaugura­ção da pirâmide do Louvre e do arco de La Défense. A primeira, em estilo extravagante e moderno, foi construída – símbolo elo­qüente da rejeitável "coabitação" cultural – precisamente na en­trada do clássico e harmonioso palácio do Louvre.

Quanto ao arco de La Défense, não menos extravagante, en­contra-se no mesmo eixo que a Avenida dos Campos Elíseos, o qual liga o Louvre ao Arco de Triunfo, passando pela Praça da Concórdia. A constituição desse eixo parece desejar integrar num mesmo amálgama o Antigo Regime (Louvre), o Terror (Praça da Concórdia, onde se erguia a guilhotina), o Bonapartismo (Arco do Triunfo) e, ao fim de tudo, uma nova ordem que não se sabe bem qual seja, e que seria simbolizada pela referida construção.

Tudo parece calculado para favorecer o clima coabitacional, cultural e doutrinário, que se deseja implantar na França.

*   *   *

O "coabitacionismo" interno, tão bem ilustrado por alguns aspectos da comemoração do bicentenário, também se estende pa­ra fora das fronteiras da França. Está em curso a tentativa de fa­zer "coabitar" o Ocidente – fascinado pela propaganda da peres­troika – com o mundo comunista.

Assim, como diz um autor, se operaria o encontro entre as duas grandes revoluções: a Revolução Francesa e a Revolução Rus­sa (11). O que deixa bem à mostra o parentesco estreito existente entre ambas.

(11) Cfr. Jean-Claude Casano­va, "L'Express", 25/31-12-87.

 

*   *   *

Qual o resultado atual, quais os eventuais resultados futuros desse onímodo "coabitacionismo" doutrinário e cultural? E que – diz um escritor – já não se sabe "onde está a vocação, onde está a mensagem, onde está a especificidade francesa" (12). A fal­ta de especificidade só poderá aumentar ainda mais com os avan­ços do "coabitacionismo", pois o pressuposto dele é justamente a dissolução de todas as tendências marcantes e todas as idéias de­finidas, em uma tisana morna e sem sal.

(12) Alain Duhamel, "Le Point", 8-8-88.

 

Talvez por isso, afirma outro autor: "Vivemos na ausência de gravidade, em cenários sucessivos e incoerentes, quase fora da História" (13).

(13) Jean-Marie Domenach, "30 Giorni", edição em português, junho de 88.

 

*    *    *

A Filha Primogênita da Igreja quase fora da História! Jus­tamente ela, nação à qual muitas vezes couberam, a justo título, os principais papéis no desenrolar dos acontecimentos humanos! Eis uma perspectiva que enche de dor todos aqueles para os quais a França é a segunda pátria de todo homem civilizado.

É para que isto não suceda nunca, e para que a nobilissima gallorum gens (*), depois do parêntese da Revolução, bri- lhe novamente como estrela de grandeza ímpar nos céus da Cristandade, que atua, cheia de convicções profundas, e estuante de esperança e de agilidade, a TFP francesa.

(*) Palavras iniciais e título de encíclica de Leão XIII, de 8-2-1884.

 

Para conhecer sua história, seus métodos, sua ação, é preciso recuar até o ano de 1974.

 

*     *     *

 

Nos anos 70, o crescimento da TFP brasileira e a multiplicação de associações afins e autônomas nos países do continente americano, na Espanha e em Portugal, começam a encontrar eco na imprensa de diversos países da Europa. Notícias chegam também por intermédio de europeus residentes na América, e de turistas que aqui estão de passagem e vêem as TFPs em ação. Assim, vários setores de opinião, tanto de esquerda como de direita, começam a se interessar por conhecer melhor as TFPs.

Tornava-se necessário que as próprias TFPs divulgassem informações a respeito de suas atividades, e para isso funda-se em Paris, em 1974, um escritório de representação: o Bureau pour l'Europe Tradition, Famille et Propriété (1974) (14).

(14) A abertura do Bureau foi tema de um artigo do "Le Monde Diplomatique" (julho de 1974).

 

O Bureau tem como objetivo distribuir, na imprensa européia, informações sobre as TFPs e, mais especificamente, estabelecer relações com todos os meios que tenham certa afinidade com essas associações, colhendo também informações de interesse para as revistas e publicações contra-revolucionárias das Américas.

 

 

1975

 

Nova entidade

JULHO – Vários jovens se interessam pelo ideal da luta pela civilização cristã e pelos métodos de ação enunciados em Revolução e Contra-Revolução (**), obra de referência dos cooperadores da TFP, e constituem, na França, a sociedade Jeunes Français pour une Civilisation Chrétienne.

(**) A publicação da célebre obra do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, em francês, editada no Brasil e difundida na França, precedeu de muitos anos a fundação da TFP. Deu-se em 1960, e contou com prefácio do Príncipe D. Pedro Henrique de Orleans e Bragança.

 

Levantam-se assim, pela primeira vez no País, os estandartes rubros com o leão dourado, emblema heráldico da combatividade, que caracteriza as TFPs. São utilizados pelos Jeunes Français pour une Civilisation Chrétienne, que os adotam como símbolo. O acontecimento tem lugar em Versalhes, diante do esplendoroso palácio dos reis da França. Em dois dias de campanha, os membros da novel sociedade vendem, somente nessa cidade, 500 exemplares do livro Allende et sa "voie chilienne"... pour la misère (1974, 69 mil exemplares).

Cerca de 200 reuniões públicas são organizadas pelos Jeunes Français pour une Civilisation Chrétienne em toda a França, com conferências e projeção de áudio-visuais.

Um boletim de informações sobre o grupo é enviado aos simpatizantes.

 

 

1976

 

Guerra psicológica revolucionária

NOVEMBRO – Sai a edição francesa do best seller da TFP chilena, A Igreja do Silêncio no Chile. Traz como subtítulo Um Cardeal precipita seu país no comunismo. O país escapa dele. O Cardeal se esforça para voltar à situação anterior. O prólogo da obra, a car- go dos Jeunes Français pour une Civilisation Chrétienne, descreve os efeitos da guerra psicológica revolucionária desencadeada pelo comunismo contra a França, e relata uma série de fatos que comprovam as analogias da atuação de um grande setor do Episcopado e do Clero francês com a postura assumida pela Hierarquia eclesiástica chilena em favor do regime comunista de Allende.

 

 

1977

 

Fundação

JANEIRO – Os Jeunes Français pour une Civilisation Chrétienne, reunidos a 21 de janeiro, dão à sua entidade o nome de Société Française pour la Défense de la Tradition, de la Famille et de la Propriété– TFP.

Programas de formação são oferecidos aos jovens desejosos de se aprofundar no conhecimento dos ideais da Sociedade: são realizadas reuniões semanais e sessões durante as férias.

 

"École Saint Benoît"

SETEMBRO – É aberta uma escola secundária, a pedido de certos pais desejosos de dar a seus filhos uma formação inspirada nos ideais da TFP: a École Saint Benoît, situada no município de Rosnay (Berry), perto de Chateauroux.

 

 

1978

 

Trama política confusa

FEVEREIRO/MARÇO – Aproximando-se as eleições legislativas, a imprensa e as sondagens anunciam uma vitória da esquerda. Esta, apresentando-se como simples alternativa econômica, silencia seu caráter profundamente ideológico. Sua concepção marxista do homem e da sociedade teria horrorizado os eleitores centristas, se estes a conhecessem.

A TFP reage contra essa manobra, publicando dois manifestos na grande imprensa: Franceses, as eleições estão falseadas de antemão! Quem está reduzindo as eleições a uma simples opção econômica? Apelo a um verdadeiro debate ideológico (15) e A França evitou o abismo no primeiro turno; é preciso que ela faça o mesmo, com energia ainda maior, no segundo. Para esse efeito, é preciso dissipar a confusão e pronunciar uma recusa inapelável (16).

(15) Cfr. "Le Figaro", Paris, 21-2-78

(16) Cfr. "L'Aurore", Paris, 17-3-78; "Le Figaro", Paris, 18-3-78.

 

A cidade de Tours, no centro da França, Orléans, libertada por Santa Joana d'Arc, Clermont Ferrand e outras, vêem flamejar os estandartes da TFP. Em Paris, são percorridas as principais ruas e lugares históricos, tais como a Catedral de Notre Dame, as Praças da Concórdia, Vendôme, de l'Opera, de Ternes etc.

Cem mil exemplares dos manifestos são distribuídos diretamente ao público, encontrando muito boa acolhida. "Le Monde" (17), ao referir-se à intenção de voto dos católicos, destaca a campanha da TFP e afirma que "a religião é um fator de conservadorismo", no espírito dos leitores.

(17) "Le Monde", Paris, 7-3-78.

 

A campanha concorre assim para um resultado inesperado: contra toda expectativa a esquerda se vê uma vez mais afastada do Poder.

 

 

1979

 

Primeira caravana

MARÇO – Organiza-se uma caravana da TFP, que percorre a região da Lorena, com excelente acolhida por parte da população, divulgando a obra de Plinio Corrêa de Oliveira A Igreja e o Estado comunista: A coexistência impossível. Grande número de jovens interessados em conhecer a TFP entram em contacto com a entidade. Entre outras, nas ruas de Tours, Orleans, Dijon, Lyon, Clermont-Ferrand, Limoges, Poitiers, Soissons, Reims, Nancy, Metz, Châlon-sur-Marne e Blois flamejam os estandartes da Sociedade.

Esta brilhante expansão da jovem TFP francesa não podia deixar de atrair vivas represálias. Uma campanha de difamação – que acabou se revelando totalmente infundada  – irrompe contra a associação nascente. Uma denúncia anônima desencadeia um processo injusto contra o encarregado do  Bureau para a representação das TFPs em Paris, terminando com uma sentença que absolve completamente o acusado (Tribunal de Grande Instância de Paris, 10-7-80) (*).

(*) Essa campanha de difamação  teve repercussão publicitária apenas no Brasil. Outros pormenores podem ser encontrados neste mesmo livro (ver Cap. III), no histórico da TFP brasileira.

 

 

1980

 

Delírio

MARÇO/ABRIL – A TFP reage vitoriosamente contra seus detratores, publicando Imbroglio, Detração, Delírio – Notas sobre um relatório concernente às TFPs (dois volumes).

Esta refutação completa do relatório-panfleto anônimo, sobre o qual se apóia a campanha de difamação lançada em 1979, deixa sem voz os  incógnitos acusadores. E permanece até hoje sem réplica.

 

 

1981-1982

A TFP francesa está no coração da campanha mundial contra o socialismo autogestionário de Mitterrand (ver TFPs: ações conjuntas em âmbito internacional 12).

 

 

1983

 

Ação estudantil

MAIO – Desde a primeira manifestação estudantil contra a lei do Ministro socialista da Educação, Alain Savary, a TFP se assinala pela distribuição de um manifesto: Pelo ritmo e não pelo caos. Sua presença ativa nas Faculdades e nas ruas traduzir-se-á também pela difusão de dois outros documentos: Reflexão no intervalo entre duas ações, e Dois limites de maio 83: uma extravagância... uma cegueira...

 

DEZEMBRO – Publicação do livro Autogestão socialista: as cabeças rolam na empresa, no lar, na escola (ver TFPs: ações conjuntas em âmbito internacional 12).

 

 

1984

 

Congressos

 No decurso desses anos, a TFP participa de vários congressos, reuniões e manifestações. Ressalte-se sua presença em particular nos Estados Gerais da Oposição (1984-1985) e na Jornada do Livro da Oposição (1984-1985).

Nessas diversas ocasiões como em outras, a Sociedade tem procurado mostrar como o caráter setorial e estanque dos movimentos de oposição amortece considera-velmente o impacto deles. Em outras pala­vras, é necessário opor-se de maneira glo­bal ao socialismo, e não de modo fragmen­tário, cada qual se concentrando apenas nos aspectos que lhe dizem respeito mais proximamente, abstraindo dos demais.

 

Em Versalhes

Os estandartes da TFP marcam sua presença na grande manifestação a favor do ensino livre, em Versalhes. Nesta opor­tunidade um volante é distribuído, sob o tí­tulo Pela liberdade do ensino, solidária de todas as liberdades ameaçadas pelo socialis­mo.

 

Oposição de consciência

De modo geral, a TFP desenvolve uma ação contínua junto aos movimentos e personalidades da Oposição, nos anos de Governo socialista. Figurando com des­taque em três edições sucessivas do Guide de l'Opposition (1982, 1984 e 1986), ela faz aparecer neste, de cada vez, uma pági­na contendo sua análise da situação do País.

 

 

1985

 

"Aperçu"

Em março, a TFP começa a publicar o boletim "Aperçu" (*), sobre temas de atualidade. Sua tiragem média é de 76 mil exemplares. Entre os que o recebem se in­cluem 700 Sacerdotes e Religiosas, 25 con­gregações religiosas masculinas, 68 femini­nas, além de um sem número de leigos, sim­patizantes da TFP.

(*) Palavra francesa que não tem correspondente ade­quado em português; indi­ca uma apreciação rápida, comentário arguto, exposi­ção sumária, ou visão de conjunto que se apresenta de determinado assunto.

 

A TFP, por meio do "Aperçu", de­senvolveu meio de ação inédito, consisten­te na difusão de idéias por correspondência. Este método foi depois retomado com êxi­to pela "Association Avenir de la Culture" (Associação Futuro da Cultura), funda­da com apoio da TFP para lutar contra a degradação moral e cultural da mídia fran­cesa.

Campanha de repúdio ao filme Je Vous salue, Marie (ver TFPs: ações conjun­tas em âmbito internacional n° 17).

 

 

 

______________________________

 

Um sinal de eficácia: as represálias

 

A posição de vanguarda da TFP no combate contra a guerra psicológica revolu­cionária regularmente lhe vale represálias.

Difamação pela Imprensa

As posições tomadas pela Socieda­de sã sempre cuidadosamente argumenta­das e documentadas. De maneira que seus adversários preferem se esquivar ao debate doutrinário e lhe opôr métodos me­nos leais.

As relações da TFP com a grande im­prensa são habitualmente marcadas por uma parcialidade desconcertante desta. As notícias que apresentam a entidade de modo favorável são boicotadas, enquan­to os artigos caluniosos têm livre curso.

Assim, um despacho da AFP (4-6-85) intitulado Cruzada de correspondência con­tra a fúria blasfematória de Jean-Luc Go­dard, que noticiava a campanha da TFP contra o filme Je vous salue, Marie, não é reproduzido em nenhum jornal francês. No entanto, outro despacho (3-3-87) tam­bém divulgado pela AFP, é reproduzido na rádio, na televisão e em mais de dez jornais regionais. Essa correspondência, in­juriosa e falsa, é objeto de desmentido da Sociedade. Este é publicado em apenas três quotidianos, e sob forma resumida.

Vexações administrativas

A TFP sofreu, nos últimos tempos, al­gumas vexações administrativas, a mais significativa das quais foi a decisão toma­da por M. Mexandeau, então ministro so­cialista dos PTT (correios e telégrafos) con­tra os envios postais da entidade relativos ao filme blasfemo Je vous salue, Marie.

Estes envios, efetuados às dezenas de milhares, se beneficiavam das tarifas re­duzidas que os Correios concedem nor­malmente aos "envios em grande quantida­de". No dia 10 de maio de 1985, no mo­mento em que a campanha começava a to­mar amplitude, chegava às agências uma palavra de ordem da Direção Geral dos Correios, para recusar os envios da entida­de, a menos que fosse paga tarifa completa.

A TFP francesa abre processo para revogar esta medida arbitrária, obtendo ganho de causa... quase dois anos de­pois, sendo a decisão da direção dos Correios e Telégrafos pura e simplesmen­te anulada (Tribunal Administrativo de Pa­ris, 3-4-86).

______________________________

 

1986

 

Pela família e pela infância

Desde dezembro do ano anterior, a TFP dá o alerta: um vasto plano intermi­nisterial do governo socialista encoraja di­versos organismos a imiscuir-se nos lares, para controlar se a educação dada às crianças está conforme aos princípios laicos.

O terceiro número do "Aperçu" é consagrado à análise de um dramático caso de crianças separadas de seus pai. Em decorrência de uma denúncia, um tribunal julgou que elas viviam numa atmosfera de religiosidade excessiva...

A TFP atrai a atenção dos meios de oposição para esta tentativa de socialização da infância. Vários deputados, senadores, ex-Ministros reconhecem o acerto desta campanha e lhe manifestam apoio.

 

"New-look"

O início de 86 é marcado pela preparação das eleições legislativas. Em suas manifestações e discursos, a propaganda socialista serve-se habitualmente de imagens e de símbolos evocando a antiga França, rica em tradições cristãs. A TFP prepara um documento intitulado O new-look de Mitterrand: mudança de direção, dentro da ambigüidade. A direção de "Le Figaro" veta a publicação da matéria, depois de aceita pelo setor de publicidade. É então muito tarde para fazê-lo conhecer pelo grande público, antes das eleições...

 

"Thérèse"

OUTUBRO – Por ocasião do lançamento do filme Thérèse, de Alain Cavalier, a TFP difunde um "Aperçu" especial pondo em evidência a inspiração freudiana e agnóstica desta produção. O "Osservatore Romano" (18) publica também vivas críticas ao filme.

(18) Cfr. "Osservatore Romano", 11-11-86.

 

Valo profundo

DEZEMBRO – Redator do "Aperçu" da TFP é convidado a visitar a sede do "Chrétiens-Média", juntamente com dois outros opositores do filme Thérèse, para terem um encontro com o seu realizador. Este declara ter sentido um "valo profundo" entre seu filme e uma parte do público católico. Felizmente, pois suas explicações não fazem senão confirmar a inteira incompatibilidade de sua filosofia com a concepção católica da santidade e da vida religiosa.

 

 

1987

 

Ano de Fátima

Por ocasião dos 70 anos das aparições de Fátima, a TFP realiza a primeira edição na França da obra do Eng. Borelli Machado Fátima: Mensagem de Tragédia ou de Esperança? Esta é a publicação de maior difusão mundial sobre o assunto (859 mil exemplares até o momento).

É lançada uma grande campanha, com um número especial do "Aperçu" (200 mil exemplares).

O "Aperçu" denunciando o filme blasfemo Je Vous salue, Marie é traduzido em várias línguas e publicado por diversas associações coirmãs na Europa, América, África e Oceania (ver TFPs: ações conjuntas em âmbito internacional 17).

 

 

1988

 

Sinal de esperança

FEVEREIRO – A TFP lança  um "Aperçu" ( 9) sobre a Medalha Milagrosa, "sinal de esperança para uma época conturbada", e sobre a terceira parte do Segredo de Fátima. 18 mil exemplares são difundidos.

 

Rememorando a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo

MARÇO – É lançada pela TFP francesa a primeira edição da Via Sacra de autoria de Plinio Corrêa de Oliveira (3 mil exemplares). Tendo se esgotado rapidamente, a TFP edita em outubro nova tiragem da obra, de 8 mil exemplares.

 

Para fazer conhecer as TFPs

MAIO – Uma edição especial do "Bulletin des 15 TFPs" (15 mil exemplares) é difundida com a finalidade de tornar conhecidas as TFPs no País.

 

As eleições na França

MAIO – A propósito das eleições francesas, que reconduziram François Mitterrand ao Poder mas ao mesmo tempo marcaram acentuado declínio ideológico do Partido Socialista Francês, a TFP lança manifesto, distribuído a toda a imprensa escrita e audiovisual, e divulgado por mala direta a 15 mil pessoas.

 

A ilusão da "perestroika"

JUNHO – É divulgado para novo público o "Aperçu" 7, desta vez acompanhado de análise da perestroika gorbacheviana. O texto recorda que o verdadeiro caminho para a conversão da Rússia está no cumprimento das promessas feitas por Nossa Senhora em Fátima, em 1917.

 

Contra a blasfêmia, ampla campanha de opinião

SETEMBRO – A TFP dirige comunicado à imprensa francesa e a todos os correspondentes da imprensa estrangeira em Paris (600 destinatários) contendo análise e crítica do filme de Scorsese A última tentação de Cristo. Ao mesmo tempo, publica o "Aperçu" 10, sobre o mesmo tema, com uma tiragem inicial de 120 mil exemplares. O sucesso da iniciativa enseja, já no mês seguinte, o lançamento de nova tiragem, desta vez de 300 mil exemplares.

 

Association Française pour la Défense de la Tradition, de la Famille et de la Propriété

Diretor: Guillaume Babinet
Tesoureiro: Benoît Bemelmans

Endereço principal: 6, Avenue Chauvard 92.600 – Asnières

 

Tópico seguinte

ÍNDICE GERAL