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Seção II
N° 13
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Um homem, uma obra, uma gesta – Homenagem das TFPs
a Plinio Corrêa de Oliveira
EDIÇÕES BRASIL DE AMANHÃ |
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13. Guerra das Malvinas: a batalha das TFPs contra a interferência de Moscou
AS ILHAS FALKLANDS, ou Malvinas, juntamente com a Geórgia do Sul, constituem um conjunto insular posto no extremo do mundo, próximo à Zona Glacial Antártica. Estas ilhas, de clima inóspito e quase desabitadas, são entretanto objeto de uma disputa mais do que centenária entre Buenos Aires e Londres, acerca da soberania sobre aqueles territórios, a qual vem se arrastando desde que a Inglaterra os ocupou em 1833. No dia 2 de abril de 1982, a Argentina, em rápida operação militar, retoma as Malvinas, de lá expulsando a guarnição inglesa. A Inglaterra reage, mobilizando a Real Armada, que parte rumo ao Atlântico Sul. Ao mesmo tempo em que a frota britânica se desloca em lenta progressão pelos mares, nas mesas de negociações sucedem-se as gestões diplomáticas, num supremo esforço para evitar o confronto, o qual parece iminente. A opinião mundial segue com vivo interesse o desenrolar da crise, a qual é enfocada sobretudo do ponto de vista anglo-argentino, bem como de seus reflexos nas relações entre os blocos europeu, sul e norte-americano.
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Diversos sintomas, contudo, permitem entrever que a situação tinha uma envergadura capaz de mudar o curso da História. De um lado, tornam-se notórias e freqüentes as visitas do embaixador russo à Chancelaria argentina. Por outro lado, em Caracas e Montevidéu, alguns jornais divulgam a seguinte notícia: "A superioridade militar [inglesa] pode, eventualmente, obrigar os argentinos a solicitar ajuda à URSS. Ou, melhor dito, a aceitá-la, pois esta já foi oferecida através da embaixada russa, enquanto submarinos soviéticos se mantêm à espera no limite das águas argentinas, pondo em evidência a rapidez com que essa ajuda possa chegar" (1). Era possível, então, perceber que a Rússia tencionava obter vantagens estratégicas com o curso dos acontecimentos. De que modo? Evidentemente, não se contentaria só com as Malvinas. De acordo com seus planos expansionistas, tentaria ela estabelecer uma cabeça-de-ponte no próprio continente, estendendo-se pela Argentina e, em seguida, por toda a América do Sul. Não deixa de ser sintomático, nesse sentido, o fato de as esquerdas argentinas – inclusive os terroristas montoneros – passarem a apoiar o Governo do General Galtieri, contra o qual, até então, tinham mantido cerrada oposição.
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É nesse quadro de impasses e de ameaças que se faz ouvir a voz da TFP argentina alertando a opinião pública sobre os gravíssimos riscos que corre a Nação de ser arrastada, de modo inadvertido, pelas manipulações da diplomacia soviética. Em lúcido manifesto, a TFP denuncia aquilo que o explicável entusiasmo patriótico do momento impede de ver com clareza: o perigo que uma aliança com a Rússia representa para a sobrevivência da Argentina como nação católica e soberana. Se a Rússia intervier do lado argentino, é quase certo que os Estados Unidos farão o mesmo do lado inglês, desencadeando assim o jogo das alianças internacionais. As Malvinas terão sido causa da III Guerra Mundial... e a Argentina obrigada a combater do lado do bloco soviético! Sob o título La independencia de la Argentina católica ante la efectividad de la soberanía en un territorio insular [A independência da Argentina face à efetivação da soberania em um território insular], o documento é publicado em importantes jornais de Buenos Aires e reproduzido posteriormente em Washington, Nova York, Londres, Bogotá, Quito, Guayaquil, Caracas e Santiago do Chile (2). É difundido também na Espanha pela Sociedad Cultural Covadonga (3). No Brasil, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira envia ao Presidente da República, João Batista Figueiredo, e ao Ministro das Relações Exteriores, Chanceler Saraiva Guerreiro, a declaração da TFP argentina no mesmo dia em que é publicada em Buenos Aires. Três dias depois a TFP brasileira faz publicar, em Seção Livre, na "Folha de S. Paulo", o teor dessas mensagens e o manifesto da TFP argentina nelas transcrito. A matéria publicitária toma o título Influência russa na crise das Malvinas (4). Dias depois, o Cônsul argentino no Rio de Janeiro afirma em nota oficial que seu país não está recebendo apoio soviético, com o que pretende desfazer os argumentos de "certos setores" que induzem o público a "interpretações equívocas" (5). Contudo, não logra dissipar os temores de uma intervenção russa no conflito. Em artigo para a "Folha de S. Paulo", Plinio Corrêa de Oliveira questiona a oportunidade da operação militar argentina, justamente quando navega pelos mares do sul uma força naval russa. E se pergunta se vale a pena comprometer a soberania argentina, da Iberoamérica, e também a paz mundial, em benefício da Rússia, não para que a Argentina recupere as Malvinas – que poderiam ser reivindicadas em momento oportuno – mas para que as obtenha já (6). Nos primeiros dias de maio iniciam-se as hostilidades bélicas entre a Argentina e a Inglaterra pela posse das Malvinas. Aumentam, pois, as preocupações da TFP brasileira com os eventuais desdobramentos da crise. Plinio Corrêa de Oliveira decide então dirigir-se pela segunda vez ao Presidente da República e ao Chanceler. A missiva é publicada no dia 7 de maio na imprensa brasileira sob o título Brasil, Argentina e Inglaterra face a um inimigo comum: o poderio soviético (7). A carta analisa as conseqüências que teria para a Iberoamérica o eventual desembarque russo no território argentino e exorta o Supremo Magistrado a que contribua para manter o continente sul-americano livre das ingerências soviéticas.
Sócios e cooperadores da TFP brasileira percorrem as ruas das principais capitais para anunciar ao público, por meio de slogans e cartazes, a publicação do documento [acima, em pleno Viaduto do Chá, em São Paulo]. Na hora do almoço já não se encontram mais nas bancas os jornais que o estamparam em suas páginas. No artigo Hipóteses, hipóteses..., Plinio Corrêa de Oliveira assinala que, simultaneamente com a participação russa nas hostilidades, poderia espoucar, na América do Sul, uma série de guerras e guerrilhas, acompanhadas de crises econômicas e revoluções sociais, o que provocaria a vietnamização do continente (8). Em Só por Esequibo? comenta a perigosa tensão diplomática entre a Venezuela e a Guiana durante o conflito das Malvinas, a propósito do território de Esequibo, perguntando se Moscou não estaria por detrás disto, "a agravar, a azedar e infeccionar povos irmãos" em proveito de sua política imperialista (9). A TFP argentina, de seu lado, estende sobre uma das mais movimentadas avenidas de Buenos Aires, diante de sua sede principal, duas grandes faixas com os seguintes dizeres: "Virgem de Luján: protegei a nossa Pátria e fazei-a cristãmente grande numa Iberoamérica em paz. As Malvinas são argentinas e de ninguém mais. Vençamos os ingleses mas rechacemos a ajuda russa" (10). Também publica uma carta aberta ao Presidente da Nação intitulada Dos temas fundamentales sobre la batalla de las Malvinas [Dois temas fundamentais sobre a batalha das Malvinas], reiterando que a grande maioria do país não está de acordo em aceitar a ajuda da Rússia comunista para conservar, agora e já, a posse das Ilhas (11).
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A campanha das TFPs para alertar a opinião pública ocidental sobre o perigo que encerra a crise das Malvinas contribui decisivamente, sem dúvida, para que o conflito termine sem que Moscou possa lograr seus objetivos.
Notas: (1) "El Día", Montevidéu, 6-4-82; "El Universal", Caracas, 6-4-82. (2) Cfr. "La Nación", 13-4-82; "Clarín", 15-4-82, ambos de Buenos Aires; "The Washington Post", 30-4-82; "The New York Times", 30-4-82; "The Wanderer", 6-5-82; "Human Events", 8-5-83, todos dos Estados Unidos; na Colômbia, "El Tiempo", Bogotá, 20-4-82 e "Diario de la Costa", Cartagena, 24-4-82; no Equador, "El Comercio", Quito, 21-4-80, e "Expreso", Guayaquil, 25-4-82. No Chile, "El Mercurio", Santiago, 15-4-82. Foi publicado também na Venezuela e em jornais londrinos, bem como posto no ar pela BBC de Londres. (3) Cfr. "Covadonga Informa", nº 55-56, março-abril de 1982. (4) Cfr. "Folha de S. Paulo", 16-4-82; "Última Hora", Rio de Janeiro, 19-4-82; "Jornal Pequeno", São Luis, maio de 1982 e "Letras em Marcha", Rio de Janeiro, maio de 1982. (5) "O Dia", Rio de Janeiro, 21-4-82. (6) Cfr. Já, Já, Já, "Folha de S. Paulo", 29-4-82. (7) Cfr. "Catolicismo", nº 377, maio de 1982; "Folha de S. Paulo", 7-5-82 e em 13 jornais das principais capitais de Estado. (8) Cfr. "Folha de S. Paulo", 22-5-82. (9) Cfr. "Folha de S. Paulo", 1-7-82. (10) "Pregón de la TFP", Buenos Aires, nº 73, 1ª quinzena de julho de 1982. (11) Cfr. "La Nación" e "Clarín", 20-5-82, ambos de Buenos Aires.
Nota DESTE site: A fim de procurar facilitar para o nosso prezado visitante o enriquecimento de conhecimentos sobre o assunto, registramos quanto segue: - Diante do público, o ditador Fidel Castro e o regime militar argentino (1976 a 1983) se comportaram como inimigos declarados... mas a portas fechadas, as duas ditaduras de linhas "opostas" trabalhavam em sintonia, unidas pelo pacto de não agressão para avançar interesses estratégicos. A notícia vem confirmada por uma leva de documentos (são 5.800 que estavam guardados há décadas) disponibilizados em novembro de 2014 para consulta do público pelo Ministério das Relações Exteriores da Argentina (cfr. matéria em português do dia 23 de novembro de 2014 "Fidel e a junta argentina"; ou em castelhano "Archivos oficiales confirman la complicidad de Fidel Castro con la dictadura de Videla"). Dado o eixo URSS-Cuba, fica muito mais óbvio os interesses soviéticos na questão das Malvinas.
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