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TFPs: ações conjuntas
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8. "A Igreja do Silêncio no Chile", uma denúncia que sensibiliza o país e transpõe os Andes
Entre Salvador Allende e o Cardeal Silva Henriquez, Arcebispo de Santiago, as relações foram muito além de uma cordialidade diplomática. O Prelado e uma parte ponderável do clero tudo fizeram para manter no cargo o Presidente marxista
O DIA 12 DE FEVEREIRO DE 1976 é, sem dúvida, uma data que ficará registrada na História do Chile, neste último quartel do século XX. Nele se dá o lançamento do livro La Iglesia del Silencio en Chile – La TFP proclama la verdad entera (1). A obra abrange duas décadas da História civil e eclesiástica chilena. Respaldado em 220 documentos, o estudo relata a atuação da quase totalidade dos Bispos chilenos que, com o Cardeal Silva Henriquez à testa, e seguido por parte ponderável do Clero, apoiaram decididamente as reformas socialistas realizadas durante o governo Frei, ao mesmo tempo que favoreceram de diversas maneiras a ascensão de Allende à Suprema Magistratura. Os referidos Bispos e Sacerdotes tudo fizeram para a manutenção no cargo do presidente marxista, inclusive quando as forças vivas da nação se dispunham a varrê-lo do poder. O livro demonstra que depois da derrocada do regime allendista a maioria do Episcopado e a parte do Clero que o seguia se transformaram na ponta de lança da esquerda derrotada, para permitir a volta desta ao Poder. Ante fatos tão notórios e surpreendentes, foi-se formando no país uma maioria desconcertada e silenciosa de fiéis, quase tão numerosa como o próprio povo chileno, que o livro denomina de Igreja do Silêncio, à semelhança do que sucede com os católicos de além cortina de ferro, com a diferença, porém, que neste caso foram os Pastores que impuseram ao rebanho esta dolorosa situação, pela confusão que semeavam e as ameaças de sanções canônicas que brandiam. O livro, em sua conclusão, constata que, à luz da Sagrada Teologia e da legislação canônica, não há para os católicos o dever de seguir a orientação errônea de tais Bispos e Sacerdotes. E faz um apelo aos eclesiásticos e teólogos andinos que não aplaudem esse processo demolidor da Igreja e da Pátria – mas que mantêm diante dele um relativo silêncio – a que se pronunciem publicamente sobre os aspectos morais e canônicos do delicado assunto que os autores do livro expõem. * * * A obra causa enorme impacto nacional. A imprensa do país inteiro dá ampla cobertura à difusão do livro, que logo se constituiu em "tema obrigatório de comentário", segundo a revista "Que Pasa?" (26-2-76). Um jornalista vaticina que a obra "seria o assunto do ano" (Hernán Díaz Arieta (Alone), o maior crítico literário chileno, dedica-lhe um comentário laudatório em sua coluna dominical no "El Mercurio", 29-2-76, de Santiago). Em menos de um mês são lançadas três edições do livro (10 mil exemplares), sem dúvida, no gênero, um dos maiores best-sellers da história editorial chilena. Coarctada a TFP em seu legítimo direito de difundi-la em via pública – por decisão governamental que agradou muito ao Episcopado – a obra é vendida nas livrarias de todo o país. As seções de correspondência dos leitores de vários jornais registram durante meses cartas à redação, umas elogiando e outras criticando o livro (Nota: merece destaque a carta de apoio dos Comités Femininos Nacionales em "La Segunda", de 20-3-76.). As agências de notícias enviam despachos ao exterior, que são publicados por jornais da América Latina, Estados Unidos e Europa, transpondo inclusive a cortina de ferro (cfr. "Tygodnik Powszechny" de Cracóvia, 28-3-76 "Slowo Powszechne", 2, 3 e 4-4-76 e "Kierunki", 2-5-76, ambos de Varsóvia). As TFPs e entidades congêneres publicam edições com o texto integral ou grandes resumos do livro, com prefácios que apontam a analogia entre a situação chilena e dos respectivos países. Assim: na Argentina, uma edição completa e um resumo, difundidos também no Uruguai e no Paraguai; na Colômbia, uma edição, divulgada também na Venezuela e no Equador; nos Estados Unidos, Espanha e França, uma edição. Um resumo é também publicado na Bolívia. No Brasil, corno está narrado em outro lugar deste livro, um resumo do estudo acompanha a obra de Prof. Plinio Corrêa de Oliveira A Igreja ante a escalada da ameaça comunista – Apelo aos Bispos Silenciosos (1976). No total, são publicados pelas TFPs 82.000 exemplares, entre edições e resumos.
A escandalosa colaboração entre influentes elementos do Clero e a esquerda terrorista traumatizou a opinião pública
No dia 26 de fevereiro, o Departamento de Opinião Pública do Arcebispado de Santiago difunde pelos jornais confusa declaração na qual, esquivando o mérito do assunto, deplora que o país tivesse de ocupar-se do tema de La Iglesia del Silencio (2). Em comunicado sereno – Respuesta de la TFP al Arzobispado de Santiago – a Sociedade replica com dignidade e firmeza afirmando que aquela declaração parece ignorar o profundo conflito interior que aflige a nação. Assevera ainda que o documento não apresenta nenhuma refutação da obra, nem prova que fossem falsas quaisquer das imputações que nela se fizeram (3). Dias depois o Comitê Permanente do Episcopado acusa publicamente os autores de La Iglesia del Silencio en Chile, como também os que colaboraram em sua difusão, de se terem afastado, por sua própria atuação, da Igreja Católica (4). A resposta da TFP, publicada nos principais jornais do país, é a declaração À falta de argumentos, sanciones y amenazas, na qual pergunta aos Srs. Bispos se os fatos expostos no livro são ou não verídicos, se estão ou não bem documentados, e se a análise correspondente é ou não objetiva. E ressalta ainda que os Srs. Bispos, tão ciosos de se mostrarem aggiornati, respondem tão-só com o argumento de autoridade (5). A opinião pública estava ainda traumatizada pelo asilo dado pela Nunciatura Apostólica a dirigentes do Movimiento de Izquierda Revolucionaria (MIR), quando o Sr. Núncio D. Sótero Sanz Villalba difundiu uma declaração sobre o já famoso best-seller, o que, segundo o órgão do Partido Comunista italiano "L'Unità" (21-3-76), fez "depois de ter consultado a Santa Sé". Nela o Núncio "rechaça com energia" as acusações do livro, afirmando que a versão dos documentos citados é parcial (6). A entidade publica então o comunicado La TFP ante la Nunciatura Apostólica – Respeto, firmeza, pedido de esclarecimiento, no qual afirma sua inteira e amorosa obediência ao Soberano Pontífice e o profundo acatamento a quem exerce sua representação. Enfatizando que o respeito à autoridade é um dever, como também o é a franqueza, a entidade manifesta a dor que sente pelo fato de que, sem ouvi-la ou admoestá-la previamente, o Sr. Núncio faça pronunciamento público tão categórico: "As portas da Nunciatura Apostólica, que recentemente se abriram com tanto desvelo e cordialidade para asilar elementos miristas [do "Movimiento de Izquierda Revolucionaria", terrorista], estiveram fechadas para nós" (7).
O Cardeal Silva Henriquez recebe com alegria Fidel Castro... Mas omite qualquer alusão às torturas, crimes e violações à lei natural e divina do regime cubano Sintomaticamente, a reação comunista é imediata. A partir de 23 de fevereiro, a Rádio Moscou – em quatro sessões de seu programa Escucha Chile – desfere ataques furiosos contra o livro, ao mesmo tempo em que, surpreendentemente, defende o Clero esquerdista do país. A propósito, a TFP publica o comunicado de imprensa Verdugos de los católicos rusos se levantan en favor de la Jerarquia eclesiástica chilena, mostrando como o lobo uivava em defesa dos pastores... (8). No mês de junho, a Conferência Episcopal difunde nos jornais a carta a ela enviada pelo Cardeal Villot, Prefeito do Conselho para Assuntos Públicos da Santa Sé, declarando que o livro La Iglesia del Silencio havia causado profundo desagrado a Paulo VI, que teria visto nele "graves e inadmissíveis acusações" (9). A TFP, em comunicado de imprensa, reconhece que, de fato, as acusações do livro são "graves". Que fossem "inadmissíveis", é o que devia ser provado. Contudo, diante dos fatos perfeitamente documentados do mesmo, a única coisa que a nação ouvia baixar das sagradas alturas do Vaticano era o "quia nominor leo" (porque me chamo leão), que caracterizou também as respostas do Episcopado chileno em relação ao livro (10). Tanto o Cardeal quanto o Episcopado chileno não se pronunciam a respeito deste comunicado da Sociedade. Ainda no mesmo mês, em comunicado intitulado 32 Sacerdotes declaram: la TFP tiene razón, a Sociedade informa à opinião pública, pela imprensa, o apoio recebido por escrito desses valorosos Sacerdotes que, enfrentando prováveis sanções, se solidarizam com o livro (11). E no final do ano, em documento que trazia o título Chile, paradigma de los debates sobre los problemas y las soluciones contemporaneas, a TFP comunicava ao público chileno a solidariedade e o aplauso de 1.000 Sacerdotes espanhóis às teses do referido livro (12).
Notas: (1) Cfr. “El Cronista”, Santiago, 17-2-76; “La Tercera", Santiago, 18 e 22-2-76. (2) Cfr. “El Mercurio”, Santiago, 27-2-76. (3) Cfr. “El Mercurio”, Santiago, 4-3-76. (4) Cfr. “El Mercurio”, Santiago, 11-3-76. (5) Cfr. “El Mercurio”, Santiago, 12-3-76. (6) “El Mercurio”, Santiago, 12-3-76. (7) "La Tercera", Santiago, 14-3-76. (8) Cfr. "Las Ultimas Noticias", Santiago, 28-2-76. (9) "La Tercera", Santiago, 3-6-76. (10) Cfr. "La Tercera", 8-6-76. (11) Cfr. "La Tercera", 9-6-76. (12) Cfr. "El Mercurio", 22-12-76; "ABC", de Madrid (12-12-76) e outros 27 jornais espanhóis (apud Medio Siglo de Epopeya Anticomunista, Edit. Fernando III el Santo, Madrid, 1983, p. 82). |