6. Ameaça vermelha no Caribe: as TFPs em ação

 

NO DIA 1º de maio de 1961, Fidel Castro declarou Cuba oficialmente um Estado socialista, desvendando assim aos olhos do mundo a verdadeira natureza da revolução que fizera em seu País. Logo depois, a comunidade americana excluiu a antiga "Pérola das Antilhas" de seu convívio, porque o ditador cubano, não contente de ter instalado um governo marxista na Ilha, exportava a subversão para todos os países do continente. Todas as nações pertencentes à Organização dos Estados Americanos (OEA), à uma – exceção feita do México, que se recusou a aderir à medida – tomaram essa atitude na reunião de Punta del Este, no Uruguai, em 1962. Ficou também acertado, nessa reunião, um bloqueio econômico em relação àquele País.

Passaram-se os tempos. As "barreiras ideológicas" – e também as psicológicas – contra Fidel Castro foram sofrendo aos poucos a erosão da ardilosa guerra psicológica revolucionária levada a cabo por Moscou. Com a conseqüente deterioração das mentes e das vontades, essas barreiras se adelgaçaram. E se transformaram em gelatina, quando Paulo VI e Nixon inauguraram a détente em relação aos regimes comunistas. A tal ponto que houve clima propício, no ano de 1974, para que as chancelarias da Venezuela, Colômbia e Costa Rica promovessem uma ofensiva diplomática de larga envergadura, com o fim de reintroduzir a serpente fidel-castrista no convívio pacífico das nações americanas.

Desde que tais manobras pró-Fidel começaram a se delinear, a TFP brasileira procurou imunizar contra elas a opinião pública, promovendo a distribuição de uma série de artigos escritos pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira para a imprensa diária (1). Esses artigos mostravam que a suspensão do embargo contra Cuba representaria não só um perigo para todo o continente, como, sobretudo, importaria em favorecer a permanência do regime marxista na Ilha-prisão.

(1) O sangue que não pode ser negociado, em 17-3-74; Sobre Cuba, em 22-9-74; Não, para Cuba, em 27-10-74; Cuba: suspendendo o véu, em 17-11-74, todos na "Folha de S. Paulo".

 

A partir de agosto de 1974, várias TFPs sul-americanas passaram a divulgar um estudo que recapitulava os antecedentes da revolução castrista, as manobras que conduziram Fidel Castro ao poder e os meios pelos quais nele se mantém. O texto, da lavra do cooperador da TFP brasileira, Eng. Péricles Capanema Ferreira e Melo, compendiava as razões pelas quais Cuba não deveria retornar ao convívio das Américas: o regime castrista só se mantém pela violência; a integração da Cuba comunista não seria a integração da Cuba autêntica, mas de uma pseudo-Cuba, ou melhor, de uma anti-Cuba. Desse modo, seria aceito no convívio continental, não o irmão verdadeiro, mas o opressor e inimigo mortal deste.

Além disso, a matéria divulgada continha a entrevista concedida a enviados de "Catolicismo" por Mons. Eduardo Tomás Boza Masvidal, ex-Bispo Auxiliar de Havana, exilado até pouco tempo atrás na Venezuela. Na entrevista, aquele Prelado denunciava a ausência de verdadeira liberdade religiosa na Ilha, apesar de permanecerem abertas ao culto algumas igrejas. E aduzia também uma série de fatos sintomáticos que mostravam como o regime cubano continuava despótico como sempre fora.

As TFPs e entidades afins do Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Estados Unidos e Venezuela reproduziram em seus respectivos órgãos de difusão o artigo do Eng. Péricles Capanema e os demais estudos acima mencionados (2).

(2) Cfr. "Catolicismo", nº 284 (edição especial de agosto de 1974); "Covadonga", da TFP venezuelana (nº 7, julho de 1974); "Reconquista", da TFP equatoriana (nº 7, agosto/setembro de 1974); "Crusade for a Christian Civilization", da TFP norte-americana (nº 3, setembro de 1974); "Cruzada", da TFP colombiana (nº 5, outubro/novembro de 1974). "Cristiandad", dos Jóvenes Bolivianos pro Civilización Cristiana (nº 3, novembro/dezembro de 1974).

 

Causou especial impacto a difusão, em seu País, da revista "Reconquista", editada pela TFP equatoriana. Pois a Conferência da OEA que se realizaria em Quito, em novembro de 1974, deveria tratar especificamente do assunto.

Nessa Conferência, houve de início certo clima de euforia, pela generalizada convicção de que a suspensão do bloqueio a Cuba seria aprovada. Contudo, mais ou menos do meio para o fim, a atmosfera se modificou inesperadamente, sendo finalmente derrotada a moção pró-castrista apresentada pela Venezuela, Colômbia e Costa Rica.

É legítimo supor que o trabalho de divulgação dos argumentos contrários à readmissão de Cuba, feito pelas TFPs e entidades afins, teve seu peso no resultado dessa reunião da OEA.

 

* * *

 

Entre a Nicarágua e a Costa Rica encontra-se a chamada "cerca da amargura". Ela separa parentes e amigos. No vão entre os arames farpados, passam-se todo tipo de artigos hoje em escassez na república sandinista: alimentos, roupas, até dentifrícios

 

 

Em 1979 triunfa na Nicarágua a revolução sandinista com o apoio decisivo da esquerda católica, inspirada na Teologia da Libertação.

 Instala-se, assim, ao lado de Cuba, um novo foco de comunismo, pronto para exportar a ideologia marxista e a subversão para nosso continente.

Em fevereiro do ano seguinte, os sandinistas realizaram, no Brasil, uma sessão no auditório da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, na qual efetuaram claro incitamento à luta armada.

Como se viu acima (cfr. Capítulo IV), as TFPs do Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Uruguai, e a Sociedade Cultural Covadonga, na Espanha, lançaram em seus respectivos países uma denúncia sobre o que sucedeu nessa sessão, em estudo sob o título: Na noite sandinista: o incitamento à guerrilha dirigido por sandinistas `cristãos' à esquerda católica no Brasil e na América Espanhola.

Em 1982, "Catolicismo" publica duas reportagens especiais sobre a América Central, que repercutem em nosso País e fora de nossas fronteiras (Gregorio Lopes, Um fato bomba na Guatemala, nº 380, agosto de 1982; e América Central: futura URSS no Caribe? pelo enviado especial Alfredo MacHale Espinosa, nº 382, outubro de 1982).

 Esta última reportagem descreve a ofensiva comunista para a conquista do continente, valendo-se da guerrilha e da subversão como também da infiltração nos meios católicos. Foi publicada na Colômbia por "Inconformidad" (agosto de 1984). Teve três edições e foi difundida em mais de 20 cidades pelos caravanistas da TFP colombiana.

 Em 1983, em El Salvador, a Comissão Social Paz: la tranquilidad en el orden publica um manifesto da TFP colombiana intitulado A despreocupação vem sendo a maior aliada da guerrilha – apelo da TFP aos despreocupados: preocupem-se por fim! ("El Diario de Hoy", 4-5-83). O manifesto foi divulgado na Argentina, Bolívia, Equador, Espanha, Peru, e, na América Central, também em San José da Costa Rica ("La Nación", 31-5-83; "Eco Católico", 26-6-83).

Em julho do mesmo ano, as TFPs telegrafam a Reagan, protestando pela nomeação de Kissinger como assessor especial para a América Central (ver TFPs: ações conjuntas em âmbito internacional nº 14).

Em setembro, na Colômbia, um jornalista da TFP colombiana interpela, em entrevista coletiva, o Pe. Miguel D'Escoto, Ministro das Relações Exteriores do Governo sandinista, o mesmo acontecendo, no Equador, com o Chefe de Governo nicaragüense, Daniel Ortega (ver matéria na página seguinte).

Entrementes, o Bureau para a representação das TFPs sediado em San José da Costa Rica – instalado em 1983 – intensifica sua atuação, promovendo numerosos contatos, conferências e projeções audiovisuais naquela Capital, bem como no interior e em outros países do Caribe. O Bureau passa a publicar regularmente o boletim "TFP informa". Vários artigos de Plinio Corrêa de Oliveira são estampados em San José e na Cidade do Panamá.

Na qualidade de correspondentes da Agência Boa Imprensa, dois cooperadores do Bureau entrevistam Mons. Bismark Carvalho, ex-porta-voz da Arquidiocese de Manágua, que acabava de ser expulso da Nicarágua pelo regime sandinista.

Coube às TFPs divulgar amplamente um fato quase sempre ocultado pela mídia internacional. Trata-se da existência, na Nicarágua, de um Muro da Vergonha semelhante ao de Berlim. Com efeito, entre este infortunado País e a Costa Rica, soldados sandinistas impedem o livre trânsito na estrada panamericana. Ao longo de um alambrado, que tem sido qualificado de cerca da amargura, realizam-se encontros entre parentes e amigos, e os nicaragüenses recebem, através do arame, manteiga, desodorante, creme dental, remédios, roupas etc, correndo o risco de perder tudo no primeiro posto alfandegário...

"Catolicismo" denuncia esta situação no artigo intitulado A `cerca da amargura' na Nicarágua (nº 434, fevereiro de 1987), em reportagem bastante documentada e fartamente ilustrada. Mas a situação permanece inalterada na fronteira, sem que os adeptos da Teologia da Libertação se preocupem pela situação destes verdadeiros oprimidos.

 

 

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Dirigentes nicaragüenses em apuros

 

Quando, em setembro de 1983, o Pe. Miguel D'Escoto, Ministro das Relações Exteriores do Governo sandinista, convocou a imprensa para uma entrevista coletiva no Hotel Hilton de Bogotá, certamente não imaginava que encontraria um jornalista da TFP colombiana, a cujas perguntas não saberia responder a contento...

TFP: – "Quais foram os frutos da visita de João Paulo II à Nicarágua? Esses frutos estão servindo para conter a onda esquerdista ou, pelo contrário, para estimulá-la?"

Pe. D'Escoto: "Olha, eu não posso dizer, de momento, quais foram esses frutos, sobre a visita do Santo Padre à Nicarágua. Declaro-me incompetente".

TFP: – "Em relação à Missa celebrada por João Paulo II em Manágua, o Governo nicaragüense mandou depois um comunicado de pesar ao Papa?"  [partidários do sandinismo haviam provocado tumultos durante a mesma].

Pe. D'Escoto: [interrompendo abruptamente a pergunta]: "Não há repórteres sérios? Que façam outras perguntas!".

TFP: – "Assim que são tratados os jornalistas na Nicarágua, Sr. Chanceler?"

Pe. D'Escoto: "Não, mas as pessoas como a que me acaba de fazer a pergunta..."

Ante a insistência cortês do jornalista da TFP, o Pe. D'Escoto, visivelmente desagradado, acaba dizendo que o Governo nicaragüense não havia enviado nenhuma palavra de explicação ou pesar a João Paulo II.

A TFP colombiana julgou oportuno dirigir carta ao Núncio Apostólico em Bogotá, Mons. Angelo Accerbi, relatando todo o ocorrido (cfr. "Pregón de la TFP", Buenos Aires, nº 101, 1ª quinzena de setembro de 1983).

 

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Em entrevista de imprensa realizada em dezembro de 1983, em Quito, Equador, as perguntas da TFP local vão para Daniel Ortega, Chefe do Governo nicaragüense. Contrastando com as indagações anódinas dos jornalistas presentes, o correspondente de "Catolicismo" lhe pede que diga se o objetivo dos sandinistas é exportar o modelo da Nicarágua para outros países, promovendo revoluções sociais. Fazendo caso omisso do papel que lhe coube na célebre Noite Sandinista em São Paulo (ver Capítulo IV da presente obra), o comandante Ortega responde: – "Gostaria de dizer que esta é uma acusação que temos sofrido por parte dos Estados Unidos..."

E assim procura elidir a questão. Perguntado em seguida se pode enumerar as vantagens trazidas pela vitória sandinista em matéria de liberdade e prosperidade econômica, baseando-se em estatísticas controladas por organizações internacionais, o Chefe de Governo comunista refere-se aos êxitos da campanha de alfabetização (notoriamente tisnada pela doutrinação marxista) e ao fato de que já não morreriam mais meninos de poliomielite... (cfr. "Covadonga Informa", nºs 77-78, janeiro-fevereiro de 1984).

É o caso de perguntar se Ortega desconhece o que se passa não muito longe de Manágua, ali na "cerca da amargura"...

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